- Nunca mais faça esse tipo de coisa. – Mats advertia como se eu realmente fosse uma criança.
- Hummels, cale a boca. - exaspero enquanto caminho rapidamente por aquela rua que não parece ter um fim.
- Ui, ela ta de mau humor... – ele corre até ficar ao meu lado. Sigo minha caminhada, silenciosamente. – Íris! Íris! Íris! Íris! Íris! Íris!
- O QUE FOI MATS? – paro e ponho as mãos sob a cintura.
- Eu amo você. – ele ri. Eu também.
- Vamos embora. – deixo que ele entrelace nossos dedos. Mantemos uma conversa equilibrada até a casa de seus pais.
***
- MATS FAÇA O FAVOR DE SAIR, POR FAVOR? – grito pela milésima vez. Há exatos 63 minutos (exatos mesmo. Jonas cronometrou) Hummels havia entrado naquele banheiro. – COMO VOCÊ QUER QUE EU FIQUE PRONTA RÁPIDO?
- Acabei, Íris. Você não sabe esperar? – ele sai arrumando o cabelo. Todos sabem que ele é sempre muito bonito, mas preciso destacar aquele smoking preto. Aquele. Ele nunca usou algo tão bonito. – Ta me olhando assim por quê? Tem alguma coisa na minha cara?
- Mano, se você não fosse da família, eu não hesitaria em te dar uns pegas. – Jonas fala, seguido de um assovio e risadinhas irônicas.
- Você não iria pegar ele. Eu pego ele. – encaro-o. – Então fique quieto. – junto minhas coisas de direciono-me à porta.
Entro no banheiro e ponho as roupas sobre uma pequena mesa ao lado da pia. Deixo meu celular cair. Vejo uma mensagem.
Mãe: “quando puder me ligue. Assuntos importantes a serem tratados.” – Recebida às 15:21.
Nenhuma hipótese realmente importante fora cogitada, uma vez que minha mãe enviava uma dessas mensagens a cada vez que relia O Exército De Um Homem Só. E acredite, isso já acontecera muitas vezes.
- Alô. – digo prendendo o cabelo. Eu não pretendia prolongar demasiadamente a ligação.
- Filha, ta tudo bem contigo? – ela fala em português.
- Sim, e por aí? – respondo no mesmo idioma.
- Tudo bom. Tu ainda queres voltar pro Brasil? – hesito em responder. Um filme das ultimas semanas começa a reproduzir-se na minha cabeça. Todas as lembranças. Mats. Dez anos. Quanto tempo, Brasil...
- Quero. – digo antes de ser tarde.
- Ta abrindo vaga pra lecionar e fazer pesquisas aqui na PUC. Se tu quiser eu te inscrevo. Só me manda os dados direitinho. Daqui a dois meses eles chamam pra entrevista. – ninguém da minha família sabia do meu envolvimento com Mats. Eu achei melhor esperar pra contar. Esperar até quando? O preço que se paga às vezes é alto demais.
- Okay, mãe. Tenho que desligar agora. Te passo tudo pelo email depois. Beijo em ti, no pai e em todo mundo aí. Vocês tão no sul, né?
- Sim, acho que a gente fica até o fim do mês. Mas vai fazer tuas coisas. Não quero te atrapalhar. Boa tarde pra ti.
- Boa noite, mãe. Fuso horário. Lembra?
- Ah, claro. Boa noite. – ela desliga antes de qualquer chance de resposta.
Sento-me no chão e fico pensando durante algum tempo. Eu não deveria desfazer-me de meu sonho por ele. Sim, eu deveria. O problema é que, desde sempre, ao mesmo tempo, eu sou disposta a morrer por um amor e abandoná-lo por um sonho. É terrível.
Lord Henry disse que “a única diferença entre um capricho e uma paixão pra vida inteira é que um capricho dura um pouco mais”. Bem, ele foi o responsável por deixar Dorian Gray na situação em que o eterno garoto viveu e morreu. Não merece créditos.
Por outro lado, Demian, um homem nem um pouco egoísta, mencionou que “Aquele que verdadeiramente só quer seu destino já não tem semelhantes e se ergue solitário sobre a terra, tendo ao seu lado somente os gélidos espaços infinitos”.
Bem, a minha única certeza estava caminhando lado a lado com as do Jovem Werther. “Somente o túmulo poderá libertar-me desses tormentos”. Que fase, Iris.
- ÍRIS VOCÊ AINDA NÃO ENTROU NO BANHO? EU NÃO ACREDITO! E PARE DE FALAR SOZINHA. PARECE UMA LOUCA! – Mats grita da porta, fazendo-me levantar em um pulo.
- Vai se catar, Mats. Você demorou. Eu tenho esse direito também.
- 20 minutos, Iris. Você tem 20 minutos.
Reviro os olhos e volto aos meus pensamentos. Acho melhor deixar o assunto quieto, enquanto for possível.
- Pensei que fosse impossível você ficar mais bonita. – Hummels encara-me com um enorme sorriso.
- Nada é impossível. – pisco.
- Sou mais o Mats. – Jonas deposita um tapa abaixo das costas de seu irmão. Este vira as costas e pega um chinelo qualquer do chão.
- Jonas, sai daqui. Agora. – ele exclama sério, com o sapato pronto para ser arremessado contra o menor.
- Ninguém mais tem senso de humor. Credo! – Jonas exclama enquanto desce as escadas correndo para desviar da sandália, que a esta hora, já estava no andar debaixo da casa.
- Eu adoraria dizer mais alguma coisa sobre você, mas estamos atrasados. Podemos ir? – Mats volta e me dirige a palavra, como se nada tivesse acontecido.
- Vamos.
Era certo que talvez a noite não terminasse bem, mas eu não aceitei o pedido de Hummels em vão. Não comprei um vestido preto de mangas longas, sapatos bege e uma bolsa caríssima, pra desperdiçar o que seria um dos melhores momentos da minha vida. O futuro a Deus pertence.
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