Eu morava à cerca de duas quadras depois da de Jean, meu amigo.
Foi nesse dia que eu tropecei com Levi.
Estava prestes à passar em um beco umas três casas depois da de Jean, mas eu confesso que estava com um pouco de medo. Todo mundo tem, eu acho. Ainda mais por que estava um breu, as estrelas pareciam não iluminar e as luzes da rua piscavam, igual naquele filme que eu esqueci o nome.
Continuei caminhando, apenas ouvindo a melodia desagradável das folhas balançando e meus próprios passos, cantarolando mentalmente pela calçada. Foi quando eu levei um susto e quase infartei na mesma hora.
Exatamente no momento em que passei em frente ao beco, um borrão veio correndo em minha direção, mas pareceu se assustar com a minha presença e fugiu de volta para o corredor escuro.
"Merda, eu vou morrer aqui, mesmo?" pensei, com a mão na boca para silenciar minha respiração, os olhos arregalados e o corpo petrificado, algumas vezes tremendo que nem um joão bobo.
— Hey? — Gritei em direção ao beco, querendo me matar mentalmente por ser tão estúpido. Porra, quem grita pelo assassino? Eu, claro, é sempre importante saber se ele está mesmo lá, se ele vai querer te matar...
Nada.
Ótimo, menos mal.
Ou não. Quando coloquei o pé para frente para correr daquele lugar, ouvi um soluço baixinho.
Tinha alguém chorando ali dentro, eu tinha certeza.
Dei um passo para trás e encarei o beco, estreitando a vista para tentar enxergar, mas estava realmente escuro e impossível. Peguei o meu celular no bolso de trás da calça e liguei a lanterna, apontando para o corredor, e arqueando as sobrancelhas ao observar o garoto encolhido chorando.
— Acho que nós dois nos assustamos! — Ri de leve, ainda apontando a luz para ele, que apenas levantou a vista com os olhos azuis acinzentados, agora vermelhos e inchados — Qual é seu nome? — Ele apenas me encarou, tremendo.
Caminhei em sua direção, me agachando à sua frente e acariciando seu ombro.
— Ei, quantos anos você tem?
Nada.
— Alguém te machucou?
Ele levantou a cabeça, fazendo que não, hesitantemente. Provavelmente escondendo um sim.
— Você tem nome?
Ele fez que sim.
— Onde você mora?
Nada.
O garoto deu à entender que não sabia falar, mas podia entender-me. Dei um suspiro e afaguei seus cabelos, franzindo as sobrancelhas ao sentir um volume diferente ali.
— O que é isso? — Perguntei, afagando a região felpuda de sua cabeça.
O garoto me encarou, sem entender.
— Isso aqui — Cutuquei.
Ele pareceu confuso, levando a mão pequena até o local onde eu estava encostando, em seguida levantando-as.
Eram orelhas.
Orelhas de gato.
Sim, orelhas.
Eu arregalei os olhos, abrindo a boca sem palavras, surpreso.
— E-Eu... Isso! Como?!? — Disse, talvez mais alto do que o necessário, já que o garoto se encolheu e se arrastou para longe de mim, assustado — Você é um gato?!?
Ele pareceu indeciso sobre o que dizer, e eu acabei por desistir. Não iria forçar a barra, ele parecia muito confuso e assustado.
— Certo, eu... Está tudo bem, eu vou te levar para minha casa, venha — Estendi a mão para o garoto, que parecia com dificuldades para levantar. Dei um suspiro e um sorriso de canto, me agachando e colocando uma mão em suas costas e outra por trás de seus joelhos, pedindo que colocasse o braço por trás de meu pescoço, e assim o fez. Levantei-me com ele em meus braços e continuei o caminho para casa, arrancando um olhar curioso do porteiro, que por sorte estava quase dormindo e provavelmente não se lembraria disso no dia seguinte, e subi até meu apartamento.
Entrei no meu quarto e deixei o garoto em minha cama, cobrindo-o e afagando seus cabelos negros e macios.
— Amanhã nós conversamos melhor, gatinho — Disse suavemente e ri com seu ronronado e revirada de olhos para mim. Ele apenas virou para o lado e pareceu domir.
Peguei meu celular na cômoda próxima à cama e disquei o número de Jean.
"Alô? Eren? Aconteceu alguma coisa? Eu estava dormindo, seu bastardo!" — Ele riu do outro lado da linha.
— Passe aqui amanhã cedo, preciso te mostrar algo! Bye — Desliguei, antes que ele pudesse dizer algo.
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