História I Believe In a Thing Called Love - Capítulo 27

Eu estava na cozinha me matando para espremer todas as laranjas que encontrei par fazer um suco. Isso seria mais fácil se eu soubesse onde está meu espremedor automático.

Depois que consegui quase acabar com meu braço o suco estava pronto. Fui voltando para sala e lembrei então que o Anthony estava ali. Eu realmente havia esquecido isso no tempo que fiquei na cozinha. Ele estava em pé ao lado da poltrona onde estava sua mochila. Ele estava no celular então eu voltei ao sofá e me deitei depois de tomar meu suco.

Desde a hora que ele chegou estamos vendo um filme. Na verdade ele chegou bem na hora que o filme começou e como eu queria muito ver não deixei ele ficar atrapalhando, ai ele viu que não tinha outro jeito sem ser assistir.

- Nossa você demorou lá na cozinha.

Ele disse assim que desligou o celular.

- Eu resolvi fazer um suco. – disse ainda olhando para a TV

Ele veio e se deitou em cima de mim como quem não queria nada a principio. Olhou pro copo que estava sobre a mesa de centro e então voltou sua atenção a mim.

- Laranja?

- Uhum. – concordei ainda sem olhar para ele.

Ele então na maior cara de pau, sabendo que eu não gosto quando ele faz isso deitou a cabeça no meu colo.

- Você não vai ver o filme não?

- Vou sim.

- Ah. E não quer fazer isso ali do outro sofá? – perguntei

Ele levantou a cabeça de volta e me encarou dessa vez eu também olhava para ele.

- To incomodando?

- Você sabe que sim.

- Por que?

- Eu não gosto de tanta proximidade assim...

- Você tem medo que eu me apaixone por você?

- Quase... É que você tem cara de quem se apega a todo mundo.

Ele então pareceu ofendido com isso.

- E você que tem cara de quem nunca amou alguém ou alguma coisa de verdade.

Se ele soubesse da minha vida por completo ele não falaria isso. Mas deixei quieto. O filme tinha voltado do intervalo e eu voltei meu olhar pra lá ignorando ele.

- O que foi? – perguntou

- Nada. O filme voltou, eu quero ver.

- Não você fez uma cara feia quando eu disse isso.

- Eu não fiz não.

- Mas você lembrou de alguma coisa. Me fala.

- Para de doideira Anthony. Assiste o filme.

- Não, agora eu to curioso. Você nunca me falou nada sobre você. Eu sei quem é sua mãe e seu irmão, mas você nunca me contou nada. E com esse comentário eu percebi que toquei num assunto delicado.

- E qual a diferença de você saber ou não? Já faz mais de um mês e você não sabe de nada.

- Porque eu quero saber, Esther. Você sabe um monte de coisa sobre mim, já te contei mais coisa do que conto pra muita gente mais próxima.

- Mas eu não perguntei, você contou por que quis. – e de novo voltei meu olhar para a TV.

- Mas você sabe que se você me perguntar qualquer coisa eu vou te responder.

Eu sei disso, mas pra que ele quer tanta saber da minha vida. Não quero que ele pense que e conhece melhor e que seja um motivo para ele achar que essa relação que temos é algo mais fundo. Mas to vendo que ele não vai parar de me incomodar.

- Quem foi seu último namorado? – era isso que ele queria saber? To achando que ele não quer saber da minha vida e só desses detalhes.

- Jack.

- Como assim só Jack?

- Você perguntou quem foi meu ultimo namorado,foi o Jack.

- Tá, o que ele fazia?

- Ele é designer.

-Quanto tempo ficaram juntos?

- 8 anos.

- Nossa! 8 anos?!Vocês namoraram por oito anos?

- Na verdade a gente se casou.

- Você tá falando sério. Você era casada?

- Uhum.

- Eu nunca ia imaginar isso. Mas, por que vocês se separaram?

- É uma longa história, Anthony. – disse tentando fazer ele parar de me perguntar, eu não quero falar sobre isso agora.

- Me conta, por favor.

Fiz uma careta para ele e decidi contar pra ver se ele sossega.

- A gente se conheceu muito jovem, mas depois as coisas começaram a não dar certo e a gente preferiu não continuar mais.

- Eu não vou me contentar só com isso. Quando vocês se conheceram?

- Quando a gente terminou o colegial, Anthony. Exatamente no ultimo ano. Eu não entendo por que você quer tanto saber.

- Porque eu to vendo que isso mexe com você. Você sempre foi tão indiferente e nunca mostrou emoção nenhuma pra mim a não ser quando você tá nervosa comigo, mas eu to vendo que você ainda sente algo ruim com isso. Você gostava muito dele não é?

- Muito. A gente se gostava muito. Quando terminamos a escola ele começou a fazer designer gráfico na faculdade e eu eventos.  Éramos muito unidos sabe, ele me ajuda muito e eu a ele. Foi a época que nos casamos também, acho que estávamos terminando a faculdade então começamos a morar juntos.

- Você namorou com alguém antes dele? Por que você conheceu ele tão nova...

- Namorar de verdade não, ele foi o primeiro que eu gostei.

- Tá, e por que deu errado?

Ele insistia em saber mesmo vendo que eu não queria falar sobre isso.

- Ele foi crescendo na profissão e deixou a cabeça subir junto. Eu trabalhava com pequenos eventos e ele crescia de agencia em agencia. Ele estava no mundo da publicidade Anthony, conhecia gente do mundo todo.

- Ele foi mudando com você?

- Muito. No começo ele ainda era legal comigo, mas só sabia falar do trabalho e trabalho... Mas a gente ainda estava bem, eu entendia que ele estava deslumbrado com tudo e torcia para que passasse logo.

- Por que você não falou pra ele que ele estava sendo um idiota.

- Eu falei. Mas ai ele achava que eu não dava apoio, que eu não queria que ele crescesse. Justo eu que estava com ele desde que ele era um bostinha do colegial.

- Tosco. Mas se vocês estavam bem ainda quando começou a desmoronar as coisas?

- Foi acontecendo com os anos na verdade... – eu falava e ao mesmo tempo pensava se eu deveria contar tudo a ele, mas agora que comecei não tem mais jeito. – Ele entrou na maior agencia que tinha por aqui, uma das maiores do país. Começou a conhecer gente muito grande e a se espelhar neles, os gostos foram mudando. Nossos simples hábitos de antes ele começou a desprezar sabe. E eu vinha percebendo isso aos poucos. As roupas de grifes, o que ele assistia o que ele queria comer.

- Nisso começaram as brigas?

- Sim. Por que ele queria que eu mudasse junto, ele comprava roupas para mim que eu nunca usaria e queria que eu fosse em eventos e fingisse ser quem eu não era. Anthony vê bem se eu tenho cara de quem faz isso? Ele começou até a implicar com meu peso querendo que eu emagrecesse, há anos eu estou pesando a mesma coisa.

- Ah, mas isso eu sei bem que você não faria as coisas assim e outra você não precisa perder nem ganhar nada, Esther. Esse cara tem problema.

- Pois então, eu não ia aos lugares e ele ficava puto. Eu dizia não e ele não se conformava por eu gostar de levar minha vida simples, meu trabalho tranquilo. Ele achava que se eu fazia eventos eu tinha que ser a mais poderosa e ter minha própria agencia de eventos.

- Ah serio que ele começou a fazer isso? Mas o que tinha a ver, ele não estava com você desde o começo pelo que você era.

- Ai que tá. Ele começou a ver as mulheres ao redor dele, as mulheres que as pessoas a volta dele cobiçavam. Todas modelos ou pelo menos com o aspecto de modelo, magras altas com roupas de grifes. Ai eu entendi porque ele queria que eu mudasse daquele jeito.

- Mas Esther, você quebra muita modelo de 18 anos, se ele tinha você pra que ele queria uma modelo.

- Anthony, ai que está, ele queria por que era o top, era o que todos tinham. Mais o carro do ano, mas a casa em Malibu, e os jogos de golfe e tudo mais.

- Você não fazia nada?

- Eu assistia o babaca que ele estava se tornando e procurava um novo emprego ai consegui entrar na produção de vocês.

- Ele achou ruim?

- Nem comentou nada, ele apenas disse que agora eu ia me tornar mais escrava do que era sendo que não era isso, eu não era um pau mandado, eu estudei para fazer o que eu fazia ali dentro, para organizar e administrar, mas ele não via assim. Eu comecei a viajar e nesse tempo que eu ficava fora ele começou a me trair.

- Sério, ele chegou a esse ponto?

- Você não sabe de metade...  Eu na época não sabia né. Mas isso até que demorou para acontecer, porque já que ele conheceu todas aquelas mulheres porque ele já não dormiu com ela antes? E a gente foi levando isso por anos, Anthony. Nosso relacionamento era frio, mas eu sempre achava que um dia ele ia cair na real e ia voltar a ser o mesmo menino engraçado que eu gostava de ter como companhia.

- Como você aguentou isso por anos? Eu teria ficado maluco.

- Foi estabilizando, ele era distante e eu acabava sendo distante, eu ainda não sabia das traições, ele já tinha parado de mandar eu mudar meu jeito sabe. Mas eu via o babaca que ele era. Do menino que eu conheci até esse que corria atrás de todas as meninas, e realmente eram meninas muito mais novas do que ele o que me dava até nojo, ele começou a desprezar pessoas mais baixas que ele e se tem uma coisa que eu odeio é falta de humildade em alguém.

- Meu Deus, Esther. Eu não acredito que ele chegou a tanto, que coisa horrível.

- Depois de uns anos, ele começou a sair e voltar bem tarde, bêbado, sem saber nem o nome. Ele me chamava de outros nomes.

- De mulheres?

- Uhum. As prováveis da noite já que ele chegava cheio de marca de batom.

- E por que você não largou ele nessa hora?

- Não sei, acho que eu tive esperança até o ultimo minuto ou eu estava meio cega, não pode ele, mas de esperança mesmo, de acreditar que um dia as coisas podiam voltar como eram.

Nessa época eu estava quase de férias, vocês estavam terminando Stadium Arcadium.  Eu ficava mais tempo em casa, a gente brigava mais. Eu jogava na cara dele o estúpido que ele tinha se tornado. Eu via mensagens nojentas no celular dele, foi um inferno, então eu resolvi pedir o divórcio, caiu a ficha que eu tinha me casado com um idiota e que ele nunca ia mudar. Naquele dia eu esperei ele chegar para tentar conversar, ele chegou tarde e bêbado outra vez o que resultou em outra briga, uma feia mesmo. Ele pegou algumas roupas e saiu, eu estava tremendo de tanto ódio acabei não falando nada.

- E ele se foi?

- Sim, esse tempo que ele ficou fora foi um tempo de alivio sabe que eu comecei a ficar em paz, ao mesmo tempo que ainda me sentia mal por ter uma ligação com ele, mas eu estava decidida a pedir o divorcio quando ele voltasse.

- Mas algo aconteceu não? Pelo jeito que você está falando e a sua cara alguma coisa apareceu.

- Você é bom em perceber as coisas - ri comigo mesma - Eu tava grávida.

- Grávida? – perguntou surpreso.

- Imagine a minha surpresa também, eu não estava mais com ele, assim fisicamente. Anthony, pelo amor de Deus. Acho que se duas pessoas da minha família sabem disso é demais. Não sei nem porque estou te contando.

- Mas porque o que aconteceu depois?

- Calma. Eu descobri sem querer, fui fazer uns exames por causa de uma fraqueza e então me falaram que eu estava no terceiro mês para mais, ai fez um pouco de sentido. Mas eu não tinha sintomas e muito menos barriga porque não era uma gravidez saudável, mas o médico disse que eu ainda podia mudar o caso se eu me cuidasse mais. Então foi o que eu resolvi, aproveitar que ele não estava por perto e dar mais atenção a minha saúde e a do bebê.

- E você se recuperou?

- Um pouco, fui indo bem, eu estava me dedicando totalmente a isso, eu estava feliz pela ideia de ser mãe.

- E você pretendia contar pra ele?

- Sim, no dia que ele voltasse, ou eu ligaria, eu estava adiando isso porque eu ia contar e pedir o divórcio. Pouco tempo depois me ligaram falando da volta de vocês que ia demorar, mas que eu ia ser chamada para a próxima turnê. Eu pensei poxa agora eu vou ser mãe, mas tenho que trabalhar então decidi me atualizar na área. Eu fui para São Francisco por duas semanas estudar, eu estava tão feliz que finalmente eu tinha um pouquinho de barriga. Quando eu voltei para casa era uma quinta a noite eu achei estranho chegar e a luz estar acessa. Quando eu entrei ele estava no sofá com uma garota. Eu sabia que eu era traída, mas ver aquilo foi horrível, eu fui dominada por uma ira que nem eu sei de onde veio, mas me controlei, não agi como doida, a única coisa que fiz foi tacar um vaso de vidro nele e ele só assim percebeu que eu estava ali. A menina saiu correndo atrás das roupas e depois não sei para onde ela foi.

- E então? – perguntou curioso

- Eu consegui demonstrar calma e até frieza, por mais que eu estava furiosa por dentro, avisei que eu já tinha dado entrada nos papeis do divórcio também. Ele parecia querer começar um briga, mas aquele dia eu consegui me mostrar muito superior e não caí na dele.

- Você contou que estava grávida?

- Não, meu filho não precisava daquele pai e eu não tinha motivo para contar. Então deixei ele ir embora.

- E o que aconteceu? Com você e o bebê?

- Naquele dia quando eles sumiram da minha frente eu me sentei analisando tudo o que tinha acontecido, fui tomar banho, tentar esquecer, mas comecei a sentir uma dor muito forte, mais forte que qualquer cólica em seus piores dias. Eu consegui chegar até o hospital, mas não tinha mais o que fazer, eu estava tendo um sangramento interno.

- Eu sinto muito. – ele disse e eu realmente vi que ele se importava com isso. Fiquei feliz por não ter contado a toa. – De verdade Esther, eu não sabia nada sobre você eu não deveria ter dito aquilo. 

- Tudo bem, hoje eu realmente sou assim mais fechada. Eu era um idiota antes e quando tudo acabou mesmo eu estando arrasada por ter perdido meu filho eu disse a mim mesma que eu nunca mais ia me envolver com alguém desse tipo. Alguma estrelinha esnobe. Falei que não me envolveria com nenhum babaca. Por isso tenho tanta raiva de mim por ter cedido a você.

- Ah então é por isso? Você vê ele em mim?

- Em partes. Eu trabalhei muitos anos com você sem você saber, eu vi como você trata as pessoas. Muitas vezes nem olha na cara, os fãs é só quando você está com vontade.

- Eu não vou negar que as vezes ignoro, mas não é porque eu me acho melhor que alguém ali não, eu só as vezes tento fugir, não sei explicar.

- Eu não me importo mais com ele, nos separamos e eu vim morar nessa casa e levar minha vida e eu tenho feito isso muito bem. Não sinto falta de nada dele. Mas olho para você e me lembro dele.

- Esther, eu não sou assim. Olha a história que você acabou de me contar, eu nunca faria isso!

- Eu sei, você não chegaria a tanto, mas muitas coisas vocês se parecem.

- E todo esse tempo você ainda não percebeu que eu sou diferente?

- Um pouco, mas é o jeito que você me trata, não muda quem você é. Eu sempre te vi fazendo o que faz com uma garota a cada dia.

Ele pareceu ficar quieto sabendo que eu estava certa.

- Acho que você me odeio pelo que ele é e não pelo que eu sou já que você vê ele em mim.

- Eu sei quem ele é e sei quem você é, não gosto do seu jeito, mas não estou confundindo ninguém. Eu entendo que por você eu sinto atração, coisa que por ele nem isso eu tenho, mas não consigo gostar de você por te achar farinha do mesmo saco.

- Você ainda o ama?

- Não. isso é algo que eu tenho certeza, eu não o amo há muito tempo. Que eu não vou com a sua cara você já sabe a muito tempo e no fundo eu aprendi a conviver mais com você. Você pediu para eu te contar a história eu não queria falar então não fique chateado.

- Eu já sabia que você me achava isso, mas nunca ia imaginar que tinha uma história assim por trás. Eu sempre quis saber porque você me achava tão fútil, achei que você simplesmente tinha deduzido. Eu não estou chateado, eu estou chocado por tudo que você me contou. Você é tão nova e já passou por isso, acho que acima de tudo estou chocado por você ter engravidado e abortado, eu de verdade sinto muito por isso Esther.

- Eu entendo, eu aprendi a não deixar transparecer essa merda toda. Mas a gente pode parar de falar nisso agora, você já sabe de tudo.

- Tudo bem. Obrigado por ter me contado.

Eu virei meu rosto de volta para a TV e ele deitou a cabeça de volta no meu colo, eu sabia que ele estava pensando em tudo que eu disse e eu também estava. Só espero não me arrepender mais tarde.

Anthony’s POV

Olhei no relógio e já era muito tarde, eu estava meio dolorido por estar segurando parte do meu peso para que eu não a esmagasse. Ergui a cabeça e a olhei, estava dormindo profundamente.

Eu estou impressionado com tudo que ela disse, tudo isso que ela passou e eu julgando que ela mal sabia o que era gostar de alguém de verdade, acho que eu é quem não sei.

Eu sei que ela não está tão errada, eu não sou e nunca fui igual aquele cara, mas já fiz coisas ruins e não devo tirar a razão dela, só me sinto mal por lembrar a ela alguém que fez tão mal a ela.

Esse pensamento começou a me incomodar muito. Eu me levantei e a peguei no colo a levando para o quarto. Eu a via tão frágil, queria ficar segurando ela assim, por mais que ela não demonstrasse estar mal.

Coloquei ela na cama com cuidado e me deitei ao lado dela. Isso explica por que ela gosta tanto de crianças e é tão atenciosa. Mas o que realmente me incomoda é saber o que eu represento.

Céus, e eu pensando em me vingar dela, de fazer ela se aproximar e então a deixar. Eu seria o mesmo que ele, um babaca maior ainda. Nunca que eu faria isso com ela. Na verdade eu quero que ela pare de me associar aquele cara, eu quero que ela veja que eu sou diferente e que me importo com ela.

Ignorei o fato dela não gostar de dormir junto e fiquei perto dela, não seria a primeira vez, pois dormimos juntos na minha casa, só que eu levantei antes que ela.

Eu custei a pegar no sono pensando em tudo e sobretudo no que ela disse de ver aquele cara em mim, eu não quero isso, eu preciso mais que tudo agora fazer ela me ver de verdade, mas isso vai ser difícil, pois eu achava que eu já estava sendo natural com ela, acho que na verdade ela tem que ver o lado que não se parece com o ex dela.