[Yayoi]
Contei as horas que faltavam para que eu pudesse embarcar para a Tailândia novamente. Eu queria vê-la, queria poder carregar ela junto comigo de volta pra Osaka e queria poder dizer que estaria ao lado dela pra tudo.
- Você tem certeza disso?
- Não mudei de ideia depois dos últimos cinco minutos que você me perguntou isso.
- É que... eu sei. Tudo bem, já me meti demais na sua história com ela. Mas você sabe o que aconteceu. Sabe como as coisas... aconteceram depois que você começou a se envolver com ela e eu me recuso a acreditar que seja tudo coincidência.
Sorri brevemente para Hibiki. Não meu amigo, não era coincidência. E o pior de tudo é que mesmo ciente de todos os riscos... eu queria me dar o direito de tentar mais uma vez.
- Eu só não quero que você fique pensando que a Yuk é algum tipo de criminosa ou coisa assim. Por favor.
- Eu não acho isso. Eu só acho estranho as coisas na sua vida terem virado do avesso depois que vocês se conheceram.
- Olha... Hibiki... ela tem um cara... um cara que é psicótico por ela... que acaba trazendo algum tipo de problema, mas nada... nada grave.
- E porque ela não denuncia esse cara pra polícia?
- É algum tipo de gratidão familiar que a impede.
- Familiar?
- Sim.
- Eu não vou tentar entender. Tá ficando confuso demais.
- É melhor assim. Acredite. Cuida da Chill pra mim?
- Claro. Tatsuya ainda está... bravo com você?
- Não fala comigo nada além do necessário desde que eu trouxe Yuk pra cá.
- É de se entender.
- Ele me disse que era melhor sermos apenas amigos, o que ele queria que eu fizesse? Eu tentei conversar mas ele não aceitou, não posso fazer nada a respeito. Ele escolheu assim. Por nós dois.
- Eu acho que ele estava um pouco... confuso.
O rapaz de cabelos castanhos me dizia isso enquanto brincava com a chave do carro entre os dedos. Ele e Tatsuya eram ótimos amigos, mas ele não poderia fazer mais nada a respeito do meu relacionamento com Tatsuya. Ele o extinguiu por vontade própria. Agora eu não o queria mais.
- Eu não poderia parar a minha vida pra esperar por ele. De qualquer forma... obrigado Hibiki. Obrigado por se preocupar comigo.
Segui para minha casa, e de lá para o aeroporto. O voo sairia em pouco tempo, e logo eu estava em Bangkok novamente. Fiz o caminho que já havia decorado, do aeroporto até o hotel, do hotel até a casa da Yuk. De lá novamente para o hotel, pegar minhas malas e levar pro pequeno refúgio onde a morena morava.
- Eu não sei porque você insiste em ir pro hotel antes de vir pra cá.
- Eu não sei se você vai querer que eu fique aqui com você.
- E porque não ia querer?
Ela me sorriu e me deu um beijo terno e um abraço apertado. Eu ficaria até o fim da semana, e depois voltaria para Osaka. Com ela. A levaria comigo para o meu apartamento e para a minha vida, sem me importar com o tipo de problema que eu iria encontrar pela frente. No terceiro dia, a vi pegar o celular e discar um número. Não demorou para que a outra pessoa atendesse e ela falasse com seu professor da academia.
- Não mestre. Não. Precisamos conversar. Amanhã. Sim. Até amanhã.
Conversar. Sim, ela diria a ele que deixaria de frequentar os treinos. Diria a ele que se mudaria para Osaka. Desligou o telefone e veio até mim, sorrindo de uma forma discreta e segurando a minha mão.
- Kuroda... eu... preciso falar com você.
- Claro. Nós... eu... bom... você sabe que eu vim aqui pra te buscar. Eu... você sabe... não sabe?
Ela se sentou no pequeno sofá, me puxando pela mão e me fazendo sentar ao lado dela. Ela parecia preocupada. E aquilo começou a me apavorar.
- Eu quero... antes de mais nada eu quero que você saiba, que você me responda... você sabe que eu te amo não sabe?
- O que aconteceu?
- Me responda. Você sabe que eu te amo, não sabe?
- Sei. Eu sei. O que aconteceu Yuk?
Ela mordeu o lábio inferior como se procurasse as palavras certas para iniciar a conversa.
- Desde que eu comecei a treinar... a... lutar... eu dediquei meu tempo e minha vida a isso.
- Sim...
- Eu... no fim da semana passada... eu... um... eu consegui um patrocinador pra entrar no circuito profissional.
Pisquei algumas vezes para assimilar a notícia que havia recebido. Então eu sorri.
- Isso é ótimo Yuk. Você... no Japão nós podemos ter melhores condições de treino e tendo um patrocinador você vai poder...
- Não. Kuroda. Não. Esse é o problema. Eu não posso ir. Eu tenho que ficar. Tenho que ficar aqui. Pelo menos por um tempo.
- Mas...
- As exigências de um patrocínio são de que enquanto seu contrato for vigente você tem que morar na cidade onde treina. O patrocínio envolve a academia também, e se eu trocar de academia, perco essa chance.
- Isso quer dizer que...
- Me perdoe.
- Você não vai comigo.
- Me perdoe.
- Perdoar. Claro. Eu corri riscos. Eu menti pra polícia. Eu tomei um tiro, eu fui ameaçado. Mas eu achei que tudo isso valeria a pena porque você estaria comigo.
- Eu vou estar eu...
- Ah... claro. Vai estar. Quando? Quantas vezes por mês vamos ter que fazer uma ponte aérea Osaka/Bangkok pra eu poder ficar junto com a minha namorada?
- Eu só preciso de um tempo.
- Tempo.
Me levantei do sofá onde estava e comecei a juntar as minhas coisas pela casa, jogando-as dentro da mala.
- O que você está fazendo?
- O que você não tem coragem de me pedir. Estou indo embora.
- Kuroda, por favor... é apenas até as coisas...
- ATÉ AS COISAS SE AJEITAREM! CLARO! PORQUE EU NÃO IMAGINEI ISSO? EU JÁ PASSEI POR ISSO UMA VEZ, DEVIA IMAGINAR QUE ERA ESSA FRASE QUE VIRIA DEPOIS DE TUDO!
- O que? Não! Kuroda eu quero ficar com você!
- ENTÃO VAI COMIGO! Mas não fica arrumando desculpas pra eu não me sentir pior. Você não é a primeira pessoa que faz isso Yuk. Acredite, vai passar.
Fechei a mala, pegando minhas coisas e indo até a porta. Parei, me lembrando de tirar uma chave específica do meu chaveiro, enquanto a via chorando tentando falar comigo.
- Aqui. A sua chave. Acho que eu não vou precisar mais dela.
- Kuroda... por favor... entenda.
- Eu entendo Yuk. Entendo que eu vou sempre ser a segunda opção de alguém. Vai passar. Eu sei que vai. Eu já passei por isso antes.
- Kuroda.
Fechei a porta e desci as escadas, rumo ao ponto de táxi mais próximo para o aeroporto. Eu não queria ficar em Bangkok nem mais um segundo. Eu não queria voltar pra essa cidade nunca mais.
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