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História I Dont Wanna Fall in Love - Se alguma vez fizesse isso


Escrita por: Tati-Uchiha-GD

Notas do Autor


Oláá, meu povo!

Saindo o terceiro e bombástico capítulo dessa fanfic que estou amando escrever. Estou torcendo bastante para que gostem e fico muito feliz com todos os favoritos na história, assim como quem reservou um tempinho para vir conferir os capítulos. ♥

Hoje, preparem-se, apertem os cintos e venham conferir as angústias de Mitsashi Tenten.

Espero que façam uma boa leitura, é o que esta autora com dor de cabeça lhes deseja, após algumas horas de escrita incessante =P.

Capítulo 3 - Se alguma vez fizesse isso


 

Mal pregou os olhos durante a noite. Revirou na cama, sentindo o cansaço começar a bater, mas já eram seis horas. Após bombardear Sakura de mensagens e o print da postagem de Kiba, Tenten enviou um áudio desesperado, confessando o impacto que aquela informação havia causado. Aguardou ansiosa pelo que sua amiga diria. Largou o celular sobre o criado-mudo e fechou os olhos, permitindo-se cochilar por, pelo menos, quinze minutos.

Acordou sobressaltada, com Sakura ligando. Pegou o celular em modo automático e atendeu.

 

— Alô…

Tenten, como assim? Acabei de ouvir seu áudio!

— Eu só… não aguentava mais guardar esse fardo só para mim.

Você está com ciúme do Hyuuga mesmo? É isso?

— Não precisa repetir. Eu não sei nem como vou encarar aquela criatura hoje — choramingou, encarando o teto.

Olha, antes da aula, podemos tomar um café? Aí você me conta melhor tudo isso.

— Ai, vamos… — Assentiu com a cabeça, como se Sakura estivesse ali.

Então se apresse, aí teremos mais tempo. Espero você na cafeteria da universidade.

 

Desligaram. Era bom saber que mais alguém além dela dividiria seu segredo. Estava muito difícil não pensar em sua cama, não havia conseguido descansar da cervejada e a cabeça incomodava, imaginou que fosse por conta das bebidas e do desgaste acumulado.

Sua única motivação era encontrar Sakura. Caprichou na maquiagem, pois seu semblante era de quem não dormia há dias, mas, ainda assim, usaria seus óculos escuros para ajudar. O batom rosa antigo deu um toque final, a maquiagem realmente podia tirar pessoas de ciladas enormes.

De óculos e capuz, saiu disfarçadamente, rezando para não encontrar Neji na rua. O lado bom de sair bem mais cedo era que dificilmente isso aconteceria.

 

Entrou no ônibus o mais rápido que pôde, torcendo para que não desse tempo dele entrar, caso estivesse a caminho. Colocou os fones de ouvido e escolheu Jack Johnson para remediar um poucos os seus problemas, naquela manhã. O estômago roncou, tímido. Ele reconhecia que, naquele horário, Tenten já deveria ter começado a se alimentar.

 

—-

 

A visão que Sakura teve de dentro do café foi de uma mulher camuflada entrando e procurando por alguém — que no caso era ela — e quando encontrou, correu ao seu encontro, como se não houvesse mais nada no mundo. Sakura se apressou em levantar para receber o abraço tão ansioso.

 

— Tenten, amiga… que b.o. — Balançou a cabeça, em negação.

 

Pedido feito, as duas voltaram ao foco. Tenten olhou para os lados, cautelosa, antes de começar.

 

— Sakura, pode zombar, mas eu acho que me apaixonei pelo beijo do kiss game. — Apertou a borrachinha do fone de ouvido.

 

Sakura apoiou os cotovelos na mesa, as mãos apoiando o rosto.

 

— Tenten, calma. Desde quando isso realmente começou a incomodar?

 

Tenten suspirou. Achou melhor contar tudo, pois se era para compartilhar, dividiria todas as suas angústias de uma vez. Estava saturada de passar por tudo calada. Relatou tudo desde o início, o quanto estava com dificuldade de ficar perto de seu melhor amigo, o quanto as coisas estavam diferentes, como se houvesse acordado em um dia sentindo todas aquelas coisas estranhas, que se acumulavam a cada dia. Confessou que fora na cervejada da noite anterior disposta a apostar sua última ficha.

 

— E aí, para fechar a noite, essa foto — concluiu Sakura, batendo as unhas na mesa, como quem procura uma solução.

 

Observou a amiga, pensativa. Seus pedidos haviam sido entregues durante o relato de Tenten. Deu um gole em seu chocolate quente.

 

— Você beijou diversos caras ontem, mas sentiu ciúmes do Neji, mesmo depois de todo esse esforço. — Sorriu, como quem não sabe se sua notícia será boa ou ruim. — Tenten… se você precisava de uma confirmação, eis aqui. Você está apaixonada.

 

Tenten encarou Sakura, como se nada daquilo fosse mais uma surpresa, mas de alguma forma, ter suas suspeitas confirmadas por uma segunda pessoa tornava tudo mais claro. Forçou-se a comer, seu estômago parecia abrigar borboletas, que disputavam espaço com o alimento.

 

— Eu só não queria que fosse assim… e não queria que fosse o Neji. Cara, faz tanto tempo que não sinto isso, que chega a ser insano um beijo idiota tirar a minha paz.

— Será que foi só o beijo? Talvez ele só tenha ajudado a ascender uma admiração que você já sentia. — Sakura limpou o canto da boca com o guardanapo. — Sempre se identificaram. Ele sempre foi chuchuzinho e você só não notou, porque provavelmente já viu demais dele. Mas aí…

— Inclusive, sinto muita falta dessa naturalidade das coisas. — Mexeu o copo de café, distraída. — De a gente se abrir um para o outro e falar livremente sobre qualquer assunto. — Ficou um momento em silêncio, voltando a falar num rompante. — Sakura, eu agitei garotas para ele!

— Mistérios do amor. — Sakura apertou os olhos, pensando no impacto do que diria a seguir. — Você não acha melhor contar para ele, em vez de fugir? Porque pensa comigo, vocês dormem e acordam se falando, praticamente. Um certo dia, misteriosamente, você acorda e decide não falar mais com ele direito.

 

Tenten negou veementemente com a cabeça.

 

— Sem condições, Sakura! Eu não tenho estruturas para uma conversa dessas.

— Você só vai se torturar mais…

— Não.

— E pode estragar essa amizade tão legal. — Os lábios de Sakura se retorceram em uma expressão de desânimo.

 

Pela primeira vez, Tenten mudou o semblante, como se ouvisse algo realmente novo em dias.

 

— Não, não pode acontecer. Até porque, são anos de amizade comparados a um mês em que eu preciso de um pouco de distância.

— Mas amiga, você tipo sumiu do nada! Com certeza ele percebeu. E agora você entendeu o que está sentindo. Como vai fazer para resolver?

— Eu não vou fazer, simplesmente.  — Deu de ombros, derrotada.

 

Sakura suspirou, pesarosa.

 

— Bom, sabe que tem meu apoio, independente do que escolher. Mas pense nos meus conselhos, podem ser uma libertação.

 

Tenten segurou a mão da amiga.

 

— Obrigada! Estou me sentindo melhor, depois de ter compartilhado essa angústia.

 

Aos poucos, os assuntos foram mudando e Tenten se acalmou um pouco, embora continuasse remoendo a imagem da foto na cabeça.

Ambas foram para suas respectivas aulas, pois logo mais o primeiro horário começaria.

O café conseguiu despertar Tenten, ela sabia que o cansaço continuaria ali, porém mais controlado. Ao se aproximar da sala, o que viu foi muito pior do que as dezenove vezes em que olhara para a foto de Kiba.

Gelou.

Tentou desviar os olhos, mas eles pareciam ter vida própria.

Neji sorria educado, os cabelos cobrindo uma parte do rosto — do ângulo que Tenten olhava — conversando muito de perto justamente com a garota da foto, que abraçava o fichário, sentindo-se aparentemente à vontade, com um dos pés apoiados na parede. “O que eu faço?”, pensou. Não poderia passar reto, pois os dois conversavam do lado da porta da sala. E se ele a chamasse, quando fosse entrar? Apertou o skate debaixo do braço, um suor inesperado brotou de suas têmporas. Ligou para Sakura, torcendo para que atendesse. Após três longas chamadas, ela finalmente atendeu.

 

Tenten?

— Me ajuda, apenas me ouça.

O quê?

— Certo Iruka, pode deixar. — Chegando como um raio até a porta da sala, não pôde passar despercebida por Neji, que lhe sorriu, conforme se aproximava.

 

Continuou falando ao telefone, sorrindo para os dois e fazendo um sinal de “depois nos falamos” para Neji.

Entrou em segurança na sala. Tão logo sentou em seu lugar, sentiu-se uma idiota por conta daquele papelão, esquecendo por um momento que Sakura, coitada, continuava na linha.

 

— Ai amiga, me desculpa! Foi uma ligação de emergência.

O que houve?

— A garota da foto. Aqui. Na porta da sala.

Que odisseia!

— Nem me fale… obrigada de novo, preciso desligar.

 

A aula estava prestes a começar quando Neji voltou à sala e subiu os degraus. Tenten só notou quando ele já estava perto demais para que ela pudesse pensar em qualquer coisa.

 

— Oi.

 

Ela sabia que isso destruiria sua manhã, mas olhou-o nos olhos, tentando demonstrar alguma naturalidade. Sem pedir permissão, seus olhos desceram para os lábios. Estavam avermelhados demais para que ela pudesse nutrir esperanças de que ele não havia acabado de beijar. O estômago pareceu revirar do avesso.

 

— Oi Neji. E aí, como foi ontem? — perguntou, mesmo com medo do que ouviria em resposta, já que precisaria disfarçar muito bem.

— Ah, a gente ficou no bar mesmo, foi bem legal. Conheci uma galera legal... — Passou os dedos por entre os cabelos, jogando-os para trás. — Faltou você lá.

 

"Para quê? Pra sofrer ainda mais, vendo você flertar?", pensou Tenten, sorrindo amarelo.

Neji apertou o nariz dela, que sorriu, tímida.

 

— O que foi?

— Nada, é que você é uma figura né… eu vi a foto do Kiba… deve ter sido bem legal mesmo.

 

Neji a avaliou, pensativo.

 

— Por que você está murchinha?

— Impressão sua. É que eu estou meio ocupada agora, eu não terminei o trabalho dessa aula.

— Ah.

 

Tenten notou que Neji não acreditou naquilo. Seus olhos tentavam penetrar nos dela, que pensou seriamente que fosse derreter. Seu coração batia descompassadamente, como se estivesse prestes a chutar seu peito e sair correndo. Um nó se formou na garganta, o qual ela tratou de engolir bem engolido, jamais passaria pelo constrangimento de perder o controle e trazer tudo à tona.

Pegou rapidamente uma mecha farta de cabelo e observou as pontas, tentando parecer normal.

 

— Vamos almoçar juntos hoje?

 

Com todo o esforço que fora capaz de reunir, tentou tratá-lo como a verdadeira Tenten o faria.

 

— Olha, eu adoraria viu… mas o Iruka me ligou hoje, aquela hora que entrei, sabe. Vou precisar sair correndo daqui, parece que ele fez uma compra grande e o estoque vai estar uma festa da uva. — Sorriu, divertida. — Você sabe que eu sou a quebradora de galhos, né.

 

E foi ali que Tenten viu o sorriso matinal de Neji falhar levemente, com seus lábios miseravelmente vermelhos por ter beijado antes da aula. Eram muitos corações para que ela pudesse dar conta. Só o dela a estava matando, além da própria curiosidade e incômodo, que a lembravam o tempo todo sobre a garota da foto e agora do corredor também. Se Neji soubesse…

 

— Tá! Melhor eu ir sentar, a professora chegou.

— Boa aula, meu bem. — Tenten afagou os cabelos de Neji, enquanto lidava com o autocontrole.

 

Neji sorriu, passando a língua rapidamente pelo piercing de argola — posicionado no canto do lábio inferior —, como uma ação automática, em seguida. Tenten sentiu calafrios ao lembrar daquele metal roçando seus lábios.

 

— Até daqui a pouco.

 

Neji se sentava dois degraus abaixo, logo Tenten teria de se concentrar mais do que os outros dias para não ficar olhando. Seu coração ainda não voltara ao ritmo normal, a lembrança dele conversando na porta, somado à conversa que haviam acabado de ter.

Durante o dia, Neji voltou a conversar com ela mais algumas vezes, queria comentar sobre a noite anterior, ao que Tenten precisou se controlar muito para não perguntar sobre a garota da foto. Pelo visto, ele não achou pertinente comentar sobre isso, o que a deixou ainda mais desconfortável.

 

Neji estava tentando quebrar o gelo, pois se ontem já tinha estranhado a conversa que tiveram no ônibus, hoje parecia mais estranho ainda. Estava na cara que vinha sendo evitado por ela.

Alguma coisa havia acontecido e ele temia que a culpa fosse sua. Mas o que teria feito, que pudesse tê-la afetado?

Sentia mais falta de sua companhia do que havia imaginado, pois pudera, eles não tinham o costume de ficar longe. Dividiam aquele tipo de amizade em que um olhar trocado dizia tudo, assim como sabiam exatamente quais os costumes um do outro, preferências e alergias, entre outros detalhes.

Foi quando tomou uma decisão. Conversaria com Tenten, para entender o que estava acontecendo. Não queria ser inconveniente, já que toda vez que se aproximava, notava um certo desconforto em sua amiga, mas precisava pelo menos esclarecer tudo aquilo, até mesmo para que se ela precisasse de distância e privacidade, não seria ele que atrapalharia isso.

Aproveitou que passaria na loja para engordar sua coleção de vinis do U2 e chamaria Tenten para andar de skate mais tarde.

 

—-

 

Tenten saiu rapidamente da universidade, tão logo a aula acabou. Preferiu não abrir mais brechas, pois aquela manhã fora emocionante até demais. Imersa em seus pensamentos, não notou que havia uma pequena poça à sua frente e acabou caindo do skate. Mortificada, aceitou a ajuda de um pedestre que muito solícito, perguntou se havia machucado algo.

 

— Acho que ralei os cotovelos... — constatou, enquanto esquadrinhava o próprio corpo. — Mas logo passa. Obrigada, moço.

 

Terminou o trajeto para o trabalho andando toda retesada. Caíra de bunda na calçada e seu corpo inteiro doía. Com certeza devia ter ralado alguma parte das nádegas. Aquele dia tinha como ficar pior? Naquele momento, sentia-se a pessoa mais encrencada do mundo.

 

—-

 

A primeira coisa que Sasuke notou quando Tenten voltou do segundo andar foi um par de curativos cor-de-rosa chamativos, acoplados aos seus cotovelos. Juntou-se a ele atrás do balcão, discreta. Novamente, quieta.

No decorrer da tarde, Tenten se atrapalhou pelo menos três vezes com clientes no caixa, ao que Sasuke observou tudo em silêncio. Por que será que estava tão aérea? Seria a queda do skate, a qual contara a ele em um dos momentos em que finalmente falou alguma coisa? Sentia que em algum momento sobraria para ele, era uma intuição quase palpável.

Não entendia como as pessoas eram tão emocionais. Não que ele não tivesse sentimentos, é lógico que tinha, era de carne e osso como todo mundo. Todavia, sabia administrar muito bem suas emoções, não era de grandes demonstrações ou descontrole.

 

Tenten se apegou à dor física, para não pensar em seu íntimo. Acabou puxando assunto com Sasuke, enquanto etiquetavam alguns produtos. Instigá-lo a falar sobre ele a divertia e distraía de suas próprias preocupações. Estava se saindo bem, até deu risada, mas o momento foi rápido como um raio. Ao olhar para a janela, avistou ninguém mais, ninguém menos do que o próprio, Hyuuga. E ela mesma não ficaria ali para passar por mais um constrangimento.

 

— Sasuke! Eu vou lá pra cima.

— Hum? — Sasuke a olhou, confuso.

— Segura as pontas aqui, eu não quero ver o Neji. Se ele pedir para falar comigo, diga que estou ocupada!

 

Antes mesmo que Sasuke pudesse reagir, Tenten já havia sumido, escadas acima. Suspirou, confirmando toda a sua intuição anterior. Sobrara para ele.

Dirigiu-se até o balcão para atender Neji, que já era seu conhecido por ir à loja pelo menos uma vez ao mês, adquirir novos itens para a sua coleção.

 

Neji entrou na loja com seu skate debaixo do braço, anunciado pelo som familiar do sinalizador de clientes. Apenas Sasuke se encontrava atrás do balcão, com um semblante sério.

 

— Boa tarde, Sasuke.

— Boa tarde.

— A Tenten está por aí? — indagou, olhando ao redor. 

 

Sasuke coçou a testa, sob a franja.

 

— Ela foi no estoque.

— Sabe se ela…

— Não sei, subiu faz pouco tempo. — Cortou-o, sem cerimônia.

 

Irritou-se com Tenten, trabalhar com ela era sinal de emoções diárias. Neji, confuso com a resposta seca, preferiu não incomodar.

 

— Certo. — Levou uma das mãos ao balcão, batucando. — Chegou coisa do U2?

— Chegou sim — respondeu Sasuke, prontamente. — Se não encontrar algo, me avise.

 

Neji assentiu com a cabeça, em seguida desapareceu atrás da prateleira. Estava ávido por encontrar seus discos, U2 era a sua banda favorita.

 

Algum tempo depois, Tenten imaginou que ele já tivesse ido embora. Não podia nem perguntar a Sasuke, pois esquecera o celular atrás do balcão. Seu coração voltou a pulsar velozmente, indo e voltando sem qualquer misericórdia. Os olhos avermelharam, querendo expulsar em lágrimas o seu sentimento de frustração. Tenten só queria a sua vida de volta. Num rompante, sentiu uma necessidade absurda de conversar com alguém. Sasuke teria de ouvir seu desabafo, ou enlouqueceria. Desceu tão veloz quanto pôde, pois seu corpo ainda reclamava e muito da queda de horas antes. Como imaginou, Neji não estava mais lá. Sabia que ele não seria inconveniente a ponto de ficar esperando por ela. 

Assustou Sasuke, pela maneira súbita com que apareceu.

 

— Sasuke, eu não aguento mais!

— Tenten… — Sasuke tentou interrompê-la, mas foi vetado firmemente.

— Não! Eu preciso falar! — Levou a mão à franja, jogando-a para trás da cabeça. — Eu não aguento mais fugir, Sasuke. O Neji é tipo o meu melhor amigo e eu estraguei tudo me apaixonando miseravelmente. Tudo por causa de um beijo inocente em uma brincadeira. Me desculpa se eu estou parecendo louca agora, mas essa dor é mais confusa do que vale realmente estar apaixonada. Pra piorar, quando ele se aproxima eu sinto que vou ter um ataque cardíaco a qualquer momento!

 

Respirou, ofegante, na tentativa de conter o nó que se formava novamente na garganta. Havia desabafado com a segunda pessoa no dia e aquilo realmente foi como gritar, de cima de um penhasco. Sasuke a olhava, branco como papel, as sobrancelhas unidas.

Já ia pedir desculpas, quando percebeu uma presença na loja e olhou para o lado. E foi aí que seu mundo caiu.

Neji saiu de trás da prateleira, aparentemente querendo sumir. Chegou ao caixa, segurando seus discos e fitando Tenten, com um olhar enigmático.

Tenten se preparou para o verdadeiro ataque cardíaco, que a julgar pelos batimentos de seu coração, não tardaria a acontecer. Neji estava sério. Olhou dele para Sasuke, sem a menor ideia do que faria a seguir. Sasuke simplesmente virou para o computador, assim que notou o clima. Ela precisava se explicar.

 

— Neji…

— Tem troco para essas notas maiores? — desconversou, retirando de sua carteira as tais cédulas.

 

Aquilo doeu mais em Tenten do que se Neji perguntasse em sua cara se aquilo tudo era verdade. Mas preferiu não piorar a situação já caótica, respondendo então apenas a sua pergunta e se limitando a embalar os discos.

O silêncio sepulcral era protagonizado apenas pelo som das sacolas plásticas. Entregou-lhe as compras e o troco, sentindo o rosto queimar por inteiro, as nádegas reclamando no momento errado, da dor da queda.

 

— Obrigado.

 

Tenten o observou sair, posicionar o skate no chão, subir e desaparecer como se houvesse sido teletransportado para outra dimensão. Quem dera isso acontecesse mesmo, assim ela não precisaria procurar um buraco para se enfiar, ou chamar uma ambulância para si mesma.

Olhou para Sasuke, que voltou a encarar seu rosto, fazendo um esforço desumano para não julgar, ela sentia isso.

 

— Sasuke… eu estraguei tudo. E agora? — indagou, desesperada, agradecendo internamente por não haver cliente algum naquele momento.

— Eu tentei avisar… — Sasuke respondeu, com sua usual sensibilidade.

— Desculpa! — bradou. — Mas eu achei que ele já tinha se mandado daqui, estava com tudo isso entalado. E tem mais! Não adianta dizer que me avisou, isso só me deixa mais arrependida.

 

Sem dizer nada, Sasuke retirou a tampa de sua garrafa térmica e despejou um pouco de água em um copo de plástico, entregando-o a Tenten. Naquele momento, ele estava atestando que lhe oferecia os ouvidos e a complacência. Ela captou a mensagem.

Era isso que Tenten mais gostava em Sasuke. Por mais insensível que parecesse, ela sabia que podia contar com seu colega. E, pela segunda vez em seu dia, relatou seu inferno pessoal a alguém.

 

—-

 

O sentimento de estar arruinada pulsava junto à dor muscular, que com o passar das horas só piorou. Optou por voltar para casa de transporte público, não conseguiria andar no skate.

No caminho, seus fones reproduziam em um bom volume, as frustrações de sua playlist intitulada fossa.

Ao chegar em casa, sua mãe parecia ter lido seus pensamentos e havia preparado sua sopa favorita. Era tudo o que ela precisava no mundo, além de um banho.

A água bateu e fez ardeu seus arranhões, fazendo Tenten retesar o corpo, que reclamava, dolorido. A água se misturou às lágrimas e à coriza do nariz, levando consigo um pouco do peso daquele dia.

Como pudera ser descuidada a ponto de não imaginar algo daquele gênero, sinceramente não sabia dizer. Em um repente, tudo o que pairou foi o seu impulso, a necessidade de tirar aquilo do peito. O olhar incrédulo de Neji não saía de sua memória, assim como o corte direto que lhe dera. Sabia muito bem que aqueles olhos podiam machucar, se decepcionados, assim como podiam ser lindos e penetrantes.

Ao menos o banho havia lhe devolvido a limpeza e alguma paz, nada que um pouco de água quente e um momento a sós não resolvesse, pelo menos um pouco. Até seus músculos relaxaram, no decorrer.

De pijama — um macacão de unicórnio felpudo e colorido —, tomou a sopa e foi mimada por seus pais, que pensaram que sua tristeza provinha da queda. E se fosse apenas isso, Tenten seria eternamente grata e não reclamaria se precisasse cair de novo. A dor física era mais fácil de cuidar.

Horas depois, deitada na cama, acariciava o gato e conversava ao telefone com Sakura. Contou tudo o lhe acometeu, inclusive seu receio de haver estragado uma relação antiga de amizade sincera. Precisou compartilhar com Sakura que, não bastasse seu sentimento de insatisfação consigo, estava triste por tê-lo chateado.

Após ouvir algumas palavras consoladoras de Sakura, desligaram. Deu uma última olhada nas redes sociais, antes de dormir definitivamente. Os olhos já reclamavam, querendo fechar. E naquele momento, a caixinha de mensagem indicou o nome que tanto evitara no último mês, seguido da mensagem.

 

Enviado agora:

“Então era isso…”

 

Os olhos quase saltaram das órbitas. Começaria tudo novamente. Tudo o que Tenten sabia era que de modo algum poderia utilizar o silêncio como resposta. Já que não tinha saída, preferiu enviar logo, antes que se arrependesse.

 

Você enviou:

“Me desculpe.”

 

Alguns minutos depois, o celular vibrou em resposta, atingindo todo o seu sistema nervoso.

 

“Nós podemos conversar?”

“Sem coragem” — Inseriu ao lado um caractere de carinha triste, quase que imediatamente após a mensagem de Neji.

“Tudo bem, não se preocupe. Estarei aqui, quando se sentir pronta.”

 

Apenas Azuki e o travesseiro foram testemunhas do quanto aquelas palavras reverberaram em Tenten.

 

—-

 

Neji apagou a luz do abajur. A lembrança da confissão se repetiu inúmeras vezes em sua cabeça. Logo após, pensou na origem daquela confusão e se deixou levar pela memória até o dia em questão. A angústia que sentia era por parte não saber como lidar com a avalanche de sentimentos acerca da lembrança do beijo e de tudo aquilo — agora vendo pelo viés das novas informações —, parte por conhecê-la o bastante para imaginar sua aflição. Mas talvez não conhecesse o bastante, pois não fora capaz de ligar o acontecimento ao comportamento posterior de Tenten. Agora estava tudo tão claro quanto água. Virou na cama, fitando a escuridão acima de sua cabeça. O afago dela em seus cabelos se juntou ao conjunto de memórias, sobrepondo-se à frustração que sentiu mais cedo, dentro da loja.

Ela fazia falta.

 

 

x-x-x-x

 

Continua…


Notas Finais


Tenten está encrencada ou encrencada? O que vocês fariam no lugar dessa pobre mulher apaixonada? rs.

Obrigada pela leitura, até o próximo! :*


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