História I Feel You - Hana

Ser um alfa não é tão bom assim como as pessoas dizem ser óbvio que tem seus privilégios. Afinal com apenas uma intonação a mais na voz são capazes de fazer um ômega se calar e sentir medo.

Intimidação.

Jungkook odiava isso. Em alguns momentos chega a  ser bom, mas em outros não.

Jeon poderia jurar que seu pai era algum tipo de vidente pois toda vez que o ômega lhe dizia algo aquilo realmente acontecia, mas de vidente o loiro não tinha nada. Só tinha um senso de proteção pelo seu pequeno — nem tanto assim — filhote.

Antes de sair de casa Seokjin avisou-lhe para pegar um agasalho e um guarda-chuva. Se o garoto não conhecesse seu pai tão bem poderia dizer que ele estava tendo algum tipo de alucinação porque não havia chuva, nem ao menos nenhum sinal que iria chover. No dia anterior tudo estava muito quente então era improvável que caísse ao menos uma gota d'água do céu, mas não era o que estava acontecendo.

Bastou o acastanhado pisar os pés dentro do campus, que a chuva se fez presente. Chovia tanto que Jeon poderia jurar que daqui mais algumas horas, o céu estaria sendo iluminado pelos raios e fazendo seus devidos estrondos causados pelos trovões.

Jungkook detestava trovões.

— Pai, o que são essas coisas? — questionou o garotinho apontando seu pequeno dedo para o céu através da janela do quarto de seus pais.

— São raios e trovões, meu anjo. — era visivelmente nítido o medo nos olhos do seu filhote e isso de certa forma o assustou.

— Eu não gosto disso, pai. — Jeon se encolheu entre os braços do seu pai a fim de se proteger da tempestade lá de fora. Ela fazia seu lobo fica agoniado e consequentemente seu peito doía; tanto que ele chegava a aperta-lo, como se assim pudesse aliviar um pouco a dor, mas de nada adiantava.

— Jeon. — virou o corpo trêmulo do garoto para ficar de frente para si. — Olha para mim, meu anjinho. — o garoto abriu minimamente seus olhos um tanto quanto relutante por causa da dor. — O que houve, hm?

— Dói, pai. — se contorceu na cama, quando mais uma pontada lhe atingiu. — Dói muito.

E naquele dia veio o primeiro urro de dor, deixando Seokjin extremamente preocupado. Seu marido infelizmente passaria a noite fora por causa do trabalho, então não tinha a quem recorrer.

Chega a ser hilário, um alfa lúpus que não deveria ter medo de nada, e sim ser temido não só por ômegas e betas, mas também por outros alfas comuns. Ter medo de trovões! Se bem que não era medo, mas sim uma angústia em seu peito. O alfa detestava ouvir aquele barulho irritante.

Havia acabado de tocar o sinal liberando os universitários para que houvesse uma troca de professores.

Introdução à gravura.

Jeon adorava essa matéria; era uma de suas favoritas. Porém infelizmente a professora não havia ido para o campus, possibilitando o garoto a passar mais tempo com seu hyung. Min Yoongi, o alfa cursava psicologia e talvez por isso tinha uma aura assustadora em torno de si, mas a fundo o garoto era quase um amor quanto o mais novo.

Jungkook andava pelo corredor em direção às escadarias para o segundo pavilhão com seus fones no ouvido. Por causa das aulas havia uma fraca movimentação de estudantes ali, alguns de sua sala e outros rostos apenas conhecidos visualmente por passar tantas vezes pelo mesmo caminho.

Uma garota de sua sala passou ao seu lado. Uma ômega baixinha, cabelos escuros com uma tonalidade rosadas nas pontas. A garota trajava um vestido um pouco acima de seus joelhos, rosa com detalhes em azul bebê, um salto de mesma cor e um celular em mãos. Piscou para Jeon quando viu que ele a fitava e formou um pequeno sorriso com seus lábios, o garoto retribuiu por educação e seguiu seu caminho para a sala de psicologia.

Não vamos ser hipócritas e dizer que Jungkook era considerado o alfa mais bonito do campus, porque isso não era verdade. De fato o garoto era muito bonito, mas não era o mais bonito. Talvez o mais desejado por ser um lúpus, mas não por ser o mais bonito. Nem mesmo ele queria isso, já não gostava de ser um lúpus por chamar tanta atenção.

— Sem aula de novo, Jeon? — Yoongi esperava o garoto sentado ao lado da porta de sua sala. Havia uma espécie de banco feito de concreto onde os estudantes se sentavam em alguma aula vaga ou nos intervalos. — Já é a quinta vez só essa semana.

— Disseram que a professora passou mal. — retirou seus fones do ouvido e então se sentou para poder descansar suas pernas. — Sua sala poderia ser mais perto.

— São apenas dois lances de escadas, Kook. — o garoto revirou os olhos com o drama feito pelo mais novo. Como alguém poderia se cansar com apenas vinte e cinco degraus? — Deixe de ser sedentário. Isso não lhe faz bem.

— Eu venho aqui ver meu hyung favorito e você me chama de sedentário? Eu poderia estar na minha sala sabe? — de fato Jeon Jungkook era um dramático em tudo.

— Primeiro: até onde eu sei eu sou seu único hyung e melhor amigo. Segundo... — o loiro levantou o dedo quando percebeu que o mais novo iria se pronunciar. — Quem te deu a liberdade de colocar sua cabeça em cima de mim?

— Primeiro: quem te disse que você é meu único hyung? Seu iludido. — Yoongi o fitou indignado. Jungkook havia feito mais algum amigo e não lhe contou? O garoto não costumava guardar segredos quando era com ele. — Segundo: essas escadas matam um. Você já pensou em mudar de psicologia para educação física? Porque você se daria bem e terceiro...Você sempre me permitiu fazer isso, então não reclame agora.

— Cadê o Jungkook e o que fez com ele? — o mais velho estava impressionado. Afinal, o garoto costuma ser sempre um amor de pessoa. Ainda mais consigo.

— Hyung, você tem algo para fazer hoje a noite? — Yoongi acariciou os cabelos castanhos do garoto e viu o mesmo fechar os olhos e relaxar o corpo sobre o banco. Havia lembrado o porquê do pequeno aborrecimentos do mais novo.

— Sinto muito, Jeon. Não poderei ir à sua casa hoje. — suspirou frustrado consigo mesmo. — Tenho uma prova muito importante amanhã e tenho que estudar.

Ele detestava ter que deixar o amigo sozinho quando chovia. Sabia o quão assustado e agoniado ele ficava quando ouvia os barulhos dos trovões, porém a prova era muito importante e o garoto havia faltado algumas aulas da matéria. Teria que se dobrar em dois para poder absorver uma grande quantidade de assuntos.

Yoongi tentou puxar outros assuntos que não envolvesse o tempo, para que o mais novo pudesse ao menos esquecer por alguns minutos que havia uma forte chuva caindo lá fora e que pelo menos enquanto ele estava ali; não precisaria ficar angustiado com nada. Porém assim como o loiro, Jungkook também ainda teria mais algumas aulas. Então assim que o sinal tocou se despediram e seguiram para suas devidas salas.

Apesar de seu um pouco conhecido, ainda mais em sua sala, o garoto não tinha muitos amigos e quando Yoongi disse que ele era seu único hyung e melhor amigo, de um todo ele não estava mentindo. Ele era realmente seu único melhor amigo, mas não seu único hyung.

Jeon tinha dois colegas de sala denominados como: Kim Taehyung e Jung Hoseok.

Os garotos eram bem próximos e através de um trabalho. A qual, Tae, um ômega ruivo bem extrovertido, tivera que fazer dupla consigo. Jeon acabou se aproximando do mais velho e consequentemente mais próximo de Hoseok, um ômega moreno, igualmente agitado assim como o ruivo.

As aulas seguintes foram bem tranquilas e por serem de materias de fácil entendimento para o acastanhado, o tempo passou aparentemente mais rápido.

Jeon saiu da sala assim que o sinal tocou liberando os alunos, ajeitou sua mochila sobre as costas e seguiu para a portaria do campus. O loiro estava a sua espera ao portão,  já que não poderia passar a noite em sua casa pelo menos até o meio do caminho eles poderiam ir juntos. Assim que alcançou o mais velho, Jeon abriu seu guarda-chuva e se pôs a caminhar ao seu lado.

O campus era um meio termo entre sua casa; nem muito longe, nem tão perto, porém o suficiente para aguentarem uma caminhada. Yoongi morava um pouco mais longe, mas nada que o fizessem ir de carro. O garoto já estava acostumado a ir caminhando.

A chuva havia engrossado mais e felizmente o acastanhado estava devidamente agasalhado. Do contrário estaria agora ensopado de água. O guarda-chuva preto que seu pai o entregou mais cedo ajudava, mas não o suficiente para se proteger da tempestade que havia se formado e tudo piorou quando sentiu seu corpo se chocar em algo.

O mais velho até tentou alertar o garoto ou ao menos lhe puxar do caminho, mas tudo aconteceu tão rápido que ele não teve reação.

Jeon se levantou rapidamente do chão,  agradecendo aos céus por seu guarda-chuva não ter voado com o vento forte e tentou fitar o garoto a sua frente.

— M-Me desculpe. — o garoto se curvou várias vezes após se arrumar rapidamente de frente ao castanho, impossibilitando-o de ver seu rosto.

Seu peito doeu, doeu muito. Uma dor tão insuportável que teve que fechar seus olhos quando sentiu seu corpo cambalear um pouco para trás, com sua mão apoiada no mesmo. Sentiu as mãos de seu amigo segurarem seu corpo para que ele não fosse ao chão e lhe agradeceu mentalmente por isso.

Algo não estava bem consigo. Seu lobo estava agoniado e ele podia sentir isso.

Novamente a dor em seu peito se fez presente. Jungkook apertou sua mão ali e abriu os olhos sentindo sua respiração se acelerar. Apesar de ouvir o loiro lhe chamar perguntando se ele estava bem e o que estava acontecendo, ele não foi a capaz de responder. Apenas apertou mais sua mão em seu peito enquanto via o corpo do garoto sumir a sua frente.

Assim que a dor em se amenizou ao ponto dele poder respirar normalmente, o garoto se ajeitou e cobriu seu corpo com seu guarda-chuva.

— O que houve? Você está querendo me matar do coração? — o loiro havia se assustado com o ato repentino do mais novo e pensou tanta coisa até vê-lo se acalmar, que suspirou sentindo a tensão em seu corpo se dissipar aos poucos.

— E-Eu não sei. — apesar de conseguir respirar normalmente. Ainda sentia uma dor fina em seu peito.

— Acho melhor irmos logo para casa. — Yoongi começou a andar mais rapidamente ao lado de Jeon para que eles chegasse mais rápido em casa, a fim de evitar a chuva.

O caminho para casa foi silencioso. Não era nada constrangedor, pois o mais novo precisava de um tempo para si mesmo. Seu lobo havia ficado extremamente agitado dentro de si, seus caninos saíram e tivera que se controlar ao máximo para que ele não o dominasse, por isso sentiu a tontura tomar conta de seu corpo.

Não era à primeira vez que o acastanhado sentirá essa dor e agonia no peito, mas foi a primeira vez que a sentiu tão forte e que seu lobo quase o dominou.

I Feel You

— Filho! — Seokjin correu em direção ao seu filhote quando o viu entrar em casa e jogar a mochila ao lado da porta. — O que houve com você, meu bebê?

— Estou bem. Só tomei uma pouco de chuva. — o mais velho nem mesmo ouviu o que seu garoto falava, apenas segurou por seus ombros e o guiou até o banheiro próximo a entrada da cozinha.

— Um pouco, Jeon Jungkook? Você está encharcado. — Jin odiava quando seu filho pegava chuva. Jeon quando criança tinha a saúde bem fragilizada, por isso sempre que isso acontecia ficava extremamente doente, por causa dessa fragilidade o mais velho havia desenvolvido uma super proteção com seu pequeno.

Mesmo relutante Jeon levantou os braços para que seu pai retira-se seu agasalho, o jogando no cesto de roupas sujas. Ligou o chuveiro no quente e saiu do banheiro após dizer que traria uma toalha para o garoto. Retirou sua calça,  junto a sua cueca box e caminhou para debaixo da água.

Seu peito ainda doía muito, mas a dor já não era tão incômoda assim. Inspirou profundamente, depois deixou que o ar saísse por sua boca enquanto a água quente corria por todo seu corpo. Alguns minutos depois o garoto desligou o chuveiro e caminhou até onde seu pai havia deixado uma toalha e uma peça de roupa para si.

Após se enxugar devidamente, incluindo os seu cabelos, o mais novo colocou um calça de moletom branca, uma camisa de mesma cor e o agasalho azul que seu pai trouxera, Jeon saiu do banheiro.

— Como foi a aula? — seu appa lhe abordou assim que o viu adentrar a cozinha. O mais velho estava sentado a cadeira na ponta da mesa e ao seu lado estava seu pai.

— O mesmo de sempre. — caminhou até a mesa e sentou-se à frente de Jin, onde estava seu prato.

Apesar de Namjoon ser um advogado e querer muito que seu único filho seguisse seus passos, ele respeitava a escolha do garoto e lhe apoiava em tudo que fazia. Claro que em alguns momentos ele o privada de algumas coisas, mas era para seu próprio bem e Jungkook não era rebelde ao ponto de estar sempre ouvindo bronca do pai, nem da mãe.

Nam e Jin eram um casal perfeito. Tinham seus momentos de brigas, mas depois tudo se resolvia entre si. Esse era um dos motivos do garoto não ser tão durão, nem arrogante. Sua família era tão carinhosa consigo, tão amorosa que isso tudo acabou influenciando na personalidade do acastanhado. Se bem que desde pequeno sempre teve um jeitinho mais fofo, tanto que muitas das vezes era confundido com um ômega, até sentirem seu cheiro.

A tarde se passou bem tranquila, Jin resolveu  reunir sua família na sala para uma sessão de cinema afim de não deixar que seu filhote fosse para seu quarto e visse a terrível tempestade que caía lá fora. E conseguiu por bastante tempo, até a hora que o garoto sentiu seus olhos pesar, pois a noite havia chegado e tiveram que ir para cama.

Seokjin como um pai super protetor que é, foi ao quarto de Jeon e fechou as cortinas, cobrindo a grande janela no quarto do filho para que ele não visse a chuva. Mesmo com o coração apertado Jin depositou alguns beijos na bochecha do acastanhado, disse que lhe amava e desejou uma boa noite para o mesmo antes de sair fechando a porta do quarto, depois de olhar mais uma vez para sua criança sobre a cama. Odiava ver o medo em seu filho, mas tinha que ensiná-lo a superar.

Jeon havia passado a tarde com pequenas dores, mas nada que pudesse lhe deixar tão preocupado ou desconfortável e por algumas horas até mesmo se esqueceu da chuva e que teria que enfrentá-la a noite, sozinho em seu quarto.

O que estava acontecendo agora.

O acastanhado estava completamente enrolado da cabeça aos pés em seu cobertor, com dois tampões em seus ouvidos para que não ouvisse os barulhos dos trovões lá fora.

— Espero que acabe logo. — murmurou baixinho, se encolhendo mais em sua cama e fechou os olhos fortemente. Implorando mentalmente, ainda mais, para que acordasse pela manhã logo.