-Eu era...apenas uma orfã...não sei quem é o meu pai e, a minha mãe morreu quando nasci.
Juliette olhou nos olhos de Ellie sem dizer uma única palavra. Apenas se limitou a ouvir, mas o sentimento de pena não deixou de alcançar o seu coração.
-Fui criada por desconhecidos, pela melhor amiga da minha mãe...chamava-se Marlene. Ela fazia parte de um grupo chamado os Pirilampos ...ou seja...onde estamos agora pretence à continuação dessa comunidade. Toda a gente pensava que eles estavam extintos mas pelos vistos não.
-O que aconteceu?
-Bom...eu tinha uma melhor amiga que estava prestes a entrar para o grupo...a Riley e eu não queria que ela fosse...numa noite estávamos a...explorar um shopping e a ver todas as coisas divertidas que ainda funcionavam...- Ellie riu ao lembrar essa memória.
-Deixa-me adivinhar - Juliette sorriu- tu não podias estar ali.
-Exato! - Ellie riu mais, mas logo esse sentimento de alegria desapareceu quando se lembrou de como terminou essa noite - eu gostava dela...não apenas como amiga...
-Oh...mas...o que lhe aconteceu?
-Nessa noite...eu confessei os meus sentimentos por ela e disse-lhe que não queria ficar sozinha...ela até ponderou em abandonar tudo por minha causa...mas...fizemos barulho e um grupo ds infetados apareceu. Fomos ambas mordidas e...a Riley morreu...
Juliette levanta a sobrancelha.
-Como é que tu...
Ellie levanta o braço com a tatuagem e mostra -lhe o que aparenta ser uma queimadura.
-Foi aqui....acabou por cicatrizar e fiz a tatuagem para cobrir...pelo menos tentar camuflar ...
-Ellie...o que estás a tentar dizer?
Ellie voltou a olhar para ela.
-Eu sempre fui imune e isso trouxe muitos problemas para mim e para todos em meu redor...
Juliette arregalou um pouco os olhos.
-Como? Como podes ser imune?
-Eu não sei...mas até hoje nunca apareceu ninguém igual a mim...o que é um pouco estranho...mais tarde, os Pirilampos souberam do acontecimento e pediram à Marlene para me levar até ao hospital deles. Queriam me fazer testes para verificar as circunstâncias.
-Sim...normal...era uma potencial para terminar com esta praga de vez...
-Exato...havia possibilidade de uma vacina...a Marlene conhecia uns tipos...uns contrabandistas...o Joel e a Tess...eles regatearam com ela pois precisavam de armas e suprimentos...ela disse lhes que se me levassem ate ao hospital sã e salva tinha um carregamento prontinho para pagar...
-Eles aceitaram?
-Sim...eram apenas dois estúpidos de quase meia idade - Ellie olhou para o teto - eles não sabiam o motivo pelo qual queriam que eu chegasse até lá sem um arranhão, mas claro que acabaram por descobrir.
-Como é que reagiram?
-Bom, ficaram obviamente impressionados e não contaram a ninguém. Foram respeitosos apesar de viverem do contrabando. Não deixavam de ser humanos...- suspira- infelizmente a Tess morreu a meio do caminho e eu fiquei apenas com o Joel...
-Oh...
-Ele atravessou o país todo comigo...suportou a minhas piadas de merda e as minhas perguntas de uma adolescente que não conhecia o mundo...por incrível que pareça...criei laços com ele...- mordeu o lábio e uma lágrima caiu do seu olho- ele tornou-se como um pai...o pai que eu nunca tive...pela primeira vez soube o que era amor familiar...
-O que lhe aconteceu?
Ellie limpou a lágrima e conteu o choro.
-Quando chegamos ao hospital, ele esperou por uma resposta dos Pirilampos e...havia de facto a máxima probabilidade do cirurgião conseguir uma vacina, só que havia um senão...
-Qual?
-Eu teria de me sacrificar por isso...- Ellie olhou para ela - eu teria de morrer para salvar o mundo...
Juliette ficou incrédula.
-Quando o Joel soube...não aceitou...ele agiu de cabeça quente e começou a correr pelo hospital todo ...matando e matando todos os que se meteram no caminho dele...até chegar à pediatria onde eu estava prestes a ser operada...
-Ele...matou...o..
-Sim...ele matou todos...incluindo o médico ...tudo para me poder ver viva. Escondeu-me isso durante muito tempo e disse que uma vacina era impossível. Quando descobri a verdade chateei-me com ele e...tratei-o mal...fui injusta...
-O que aconteceu com o Joel?
Ellie suspirou e engoliu a seco.
-Lembraste de há pouco eu ter perguntado ao miúdo sobre uma Abby?
-Sim...
-A Abby é filha do medico cirurgião que o Joel matou. Ela descobriu quem matou o pai e procurou vingança...encontrou o Joel e...fez o que queria...
-Oh meu deus...
Ellie cerra os olhos e não consegue mais conter toda a saudade e mágoa.
-Eu fiz o mesmo...eu fui atrás dela...durante imenso tempo...andamos atrás uma da outra sempre com sede de vingança...eu matei os amigos dela . No final, acabamos por nos poupar mas eu fiquei como mais temia...abandonei a minha namorada e o nosso filho...eu..fiquei sozinha....
Juliette não sabe como responder àquilo tudo. Apenas suspira e abraça Ellie numa tentativa de a confortar com o pouco que pode. Passou os braços em volta dela e deslizou a mão pelas costas da maior lentamente.
-Desculpa...
-Shh...fui eu que pedi para contares...não sabia que era tão...profundo e pesado para ti...eu é que peço desculpa...
Ellie limpou os olhos com a manga e deixou -se estar nos braços da menina.
-Eu tentei procurar a Dina mas...nunca mais consegui merecer o amor dela...penso que está com alguém que a faz feliz e eu fico aliviada por isso...
-Tu não mereces estar sozinha, Ellie...és boa pessoa...apenas...querias vingar quem majs amavas...
-O Joel não ia querer que eu o fizesse...ele não me iria querer ver seguir o caminho do ódio e da vingança...eu fiz merda atrás de merda e isso teve um preço ...muito caro...
Juliette arrumou os cabelos dela atrás da orelha e sorriu.
-Continuo a achar que és boa pessoa...tu salvaste a minha vida e acho que Deus te deu mais uma oportunidade....
-Não acredito em Deus...
Juliette riu.
-Eu acredito...e acredito que ele é bom...acredito que ele foi bom para nós as duas...
Ellie deu agora um pequeno sorriso e um suspiro de calma e alívio. Juliette tinha um pingo de razão. Mesmo que não fosse Deus o responsável, havia sempre uma luz ao fundo do túnel...havia sempre uma maneira de encontrar esperança outra vez...
-Obrigada...- Ellie olhou-a nos olhos - por tudo...
-Não me agradeças...- Juliette sussurrou e fechou os olhos aproximando o seu rosto do rosto de Ellie. Esta sorriu e os seus fechou também não hesitando nem evitando nada. Havia um caminho para seguir. Havia felicidade para encontrar e não era suposto olhar para trás. Se Dina estava feliz, Ellie estava feliz por ela...se Joel e Jesse estavam em paz, ela estava em paz também....se Abby havia renunciado à vingança, Ellie finalmente fez o mesmo...
Os lábios de Juliette eram quentes e carnudos. Um toque que ela já não sentia há muito tempo. Um toque de afeto e amor... Ellie precisava de isso e mesmo que estivesse insegura, não se sentiu mal...era bom beijar alguém tanto tempo depois...
Juliette sorriu nos lábios de Ellie e quebrou o momento nem lentamente acariciando a bochecha dela.
-Boa noite, Ellie...espero que te sintas melhor agora depois de teres falado...
-Eu sinto... imensamente melhor....
As duas sorriram e se abraçaram mais. Não tinham a certeza se eram sentimentos verdadeiros ou apenas o calor e a emoção do momento, mas naquela noite, as duas jovens finalmente dormiram quentes e em paz...
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