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História I gotta be a Bad Boy - Saturday Memories


Escrita por: storkia

Notas do Autor


[♡]

Capítulo 4 - Saturday Memories


Fanfic / Fanfiction I gotta be a Bad Boy - Saturday Memories

Saturday Night’s Memories.

 

[Sábado, 6:17 a.m.]

Meus olhos tentavam se acostumar com os fracos raios de sol que timidamente iniciavam a manhã. Mirava o céu, antes estrelado, agora querendo mostrar-me as nuvens e seus lindos tons de cores ora alaranjadas ora arroxeadas. Talvez eu esteja sob efeito de um soro da verdade, talvez me arrependa, talvez minha dor de cabeça fique insuportavelmente mais forte, mas irei afastar esses pensamentos ansiosos enquanto estou aqui. Quero que siga percebendo essa realidade como um sonho extremamente lúcido. Me sinto extremamente acordada, mesmo que meu cérebro esteja me punindo por passar uma noite sem dormir, afetando minhas decisões, alguns sentidos e até mesmo está me dando uns raciocínios interessantes estilo “por que falamos ‘bota’ como um verbo e como o nome do que está nos meus pés?” 

 

Não faz o menor sentido.

 

Mas nada faz sentido, essa é a graça. 

 

Sem trocar muitas palavras com o garoto a minha frente, desço da motocicleta, tomando um cuidado extra para não encostar nos metais ferventes perto de minhas canelas e devolvo o capacete para o banco igualmente preto, focada no que via logo a minha frente. Ao mesmo tempo, meus braços, antes acostumados e aquecidos por sua cintura, começam a reclamar sua falta para mim. Era cedo da manhã e estávamos na praia, naturalmente eu sentiria frio, mas aquilo me deixou mais gelada ainda, acompanhado de uma sensação esquisita nos antebraços, que pareciam dormentes. Nem dois passos dados, voltei para perto do garoto enquanto ele se levantava do mesmo lugar, enroscando meus braços por seu pescoço. 

— Conseguiu parar de me odiar, princesa? — ele se levanta mesmo com meu aperto, deixando um resquício de perfume perto da clavícula direita ficar mais aparente para mim, enterrada nele com a lateral do rosto. 

— Não, idiota, está frio! — seu peito salta quando ri, logo me abraçando fortemente para me aquecer. Naquela posição, poderia dormir em pé sem qualquer problema. Eu estava reparando em algumas coisas a mais, provavelmente porque admiti para mim mesma o fato de gostar dele. Uma delas era como seu abraço era dado com todo o corpo, tão gostoso quanto deitar-se sem mais nada para fazer após um dia cansativo. Ele quer me fazer confortável enquanto estou em seus braços e, pela primeira vez, aceitarei isso com todo meu coração. 

— Eu disse que precisaria da minha jaqueta. — diz, apoiando o queixo no topo da minha cabeça e subindo uma de suas mãos para minha cervical. Meus olhos momentaneamente cerram em segurança. 

— Como você consegue estar tão quentinho? Chega a ser injusto! — minha voz parece abafada.

—  Eu não vejo problema algum, afinal, o frio te trouxe pra mim, não foi? — olho para ele, agora quebrando um pouco nosso enlace. Ele está com o sorrisinho debochado típico enfeitando seus lábios rosados. 

— É um saco quando você não cai nas minhas manhas, seu engraçadinho. — me afasto, fazendo menção de virar-lhe as costas e andar mais a fundo na areia fofinha. — Mas foi o frio sim, nada além disso. E eu estou aquecida agora, obrigada. 

— Ah é? — escuto-o dizer em um tom desconfiado, agora realmente andando de costas para ele. 

— Claro que sim! — dou de ombros e me foco em tentar andar sem ficar presa na areia macia. 

— Se esse é o caso... — desprevinida, sinto seu agarrar em minhas pernas e tronco, me tirando completamente do chão. — ... não vai morrer de hipotermia tão rápido se entrarmos no mar! 

— Peraí que? Namjoon, nem fodendo! — começo a me debater e levantar a voz, só aumentando aquele sorriso cínico. Ele caminha comigo no colo em passos largos, ignorando totalmente minhas ameaças sem fundo, do tipo “eu vou te matar mais tarde!” ou “nunca mais falo com você!”, nos aproximando do mar. Essas frases saem de mim em tons de raiva obviamente falsos, afinal, logo me vi rindo junto com ele, imersa em sua risada que agora parecia se alastrar por meu corpo sem deixar um canto se quer de fora. Mesmo assim, aperto veementemente seu pescoço entre meus braços, escondendo meu rosto na sinuosidade entre ele e seu ombro.  

— Impressão minha ou você me mordeu? — a fala foi antecedida pelo som de ar entre seus dentes, de forma súbita. Eu o tinha feito, sem muito motivo. — Se bem que, canibalismo está na moda mesmo... — ironiza. 

— Não foi com força, foi? — digo preocupada, questionando a capacidade da minha mandíbula em machucá-lo, dito que eu não estava exatamente controlando meu corpo com precisão, tirando a mão direita do abraço para massagear a área. Não está nem com a marca dos meus dentes! — E está na moda mesmo com a refeitura daquele filme que a gente viu ano passado! 

— Qual deles, princesa? — Ele vira seu rosto na minha direção, erguendo uma das sobrancelhas. Seus passos até o oceano lentificaram-se.

— Ah, aquele do cara com a máscara! Michael Leather, ou algo assim. — Respondo sem fazer muito esforço para lembrar do nome do tal personagem, primeiro porque minha cabeça estava levemente cansada e doendo, segundo pois estava mais interessada em traçar com a ponta dos dedos a tatuagem na curva do pescoço de Namjoon. Me entretia ver a pele daquela região não demonstrar sinais ao ser exposta ao frio, mas arrepiar com meu toque leve. Acho que senti um pouco do meu ego inflado por isso. 

— Ah não, puta merda! — o som arranha sua garganta, logo dando espaço a uma risada que embala seu sorriso genuíno enquanto as covinhas saltam espontaneamente dos cantos da boca. Imediatamente olho para ele, hipnotizando-me por aquele traço por alguns instantes, até que ele faz um movimento de cabeça exagerado para os lados, fechando os olhos e curvando as sobrancelhas para baixo, demonstrando um misto entre vergonha alheia, pena e incômodo. — Mesmo sem álcool no corpo, você é uma negação nos filmes de terror, nem sei o que esperava agora!

— Por que você não vai se foder? — finjo estar extremamente ofendida e arqueio uma sobrancelha, afrouxando meus braços. 

— Porque já me mandou tantas vezes que não tem mais o que fazer lá! — Ele olha para mim novamente, ainda escancarando o sorriso, especialmente quando eu reviro os olhos para ele. Algumas cenas de nossa adolescência passam por mim como um monte de fotografias fugazes, mas muito vívidas. Constantemente minha versão mais nova e inocente aparecia na casa dele para fazermos trabalhos, deveres de casa, reclamar das provas e forçadamente estudar ou simplesmente para vê-lo. O vejo da mesma forma, com o cabelo mais curto, mais baixo e ainda sem as tatuagens cobrindo mais de um terço do corpo. Até aroma de sua casa consegue ficar aceso na minha memória. Lembro perfeitamente de sempre sentarmos na mesa de centro da sala, onde uma pilha de livros, cadernos e resquícios de borrachas cercavam nossas visões. Eu sempre reclamava de dores nas costas por estar curvada como todo estudante, enquanto ele sugeria uma “pausa rápida”. Sabia que era uma deixa para assistirmos algum filme e esquecermos sem culpa de que o conceito de “semana de provas” algum dia foi aprovado pela sociedade humana. Foi em um desses dias que ele me contou sobre a primeira tatuagem que tinha feito, enquanto assistíamos alguma parte de Sexta-feira 13 durante a noite e eu estrangulava meu medo atrás de uma almofada. Esse dia se aconchegou na minha mente, talvez porque ele simplesmente soltou a informação como se apenas tivesse avistado minha caneta turquesa no piso, em uma cena crítica do filme. Eu devo dizer que as trilhas sonoras dessas obras de matança fazem toda a diferença, lembro de ter ficado traumatizada pela orquestra de instrumentos de som fino e pelas batidas precisamente colocadas antes do jumpscare. Arregalei os olhos em dúvida, mirando-o mostrar o peito tatuado com uma pequena flor logo abaixo da clavícula esquerda. Me dei conta alguns dias depois de que era a flor do meu mês de nascimento, estrategicamente próxima ao coração. 

Essa foi uma das primeiras vezes que senti meu coração errar batidas por causa dele. O negar do sentimento que crescia era inerente à situação. 

 

“Apenas amigos”. 

 

Volto para nossa realidade ao focar nos batimentos que retumbavam pelo peito dentre todos os outros sons ao meu redor.

— Escuta aqui, para de rir da minha falta de interesse nos filmes de terror, você é a mesma coisa nos romances e animes que te mostro. Se eu perguntar qualquer coisa sobre eles, por exemplo, quais meus favoritos, vai dizer algum título que nem existe ainda! — olho para nossa frente, percebendo agora que estamos tão próximos do deságue das ondas que consigo ver as pequenas conchas na areia molhada. Algumas estão balançando com a água, outras estão dando cor ao azul e ao marrom. O céu segue o mesmo, indeciso se permite o nascer do sol ou se permanece escuro por mais tempo. 

— Talvez eu possa prever o futuro, sabia? — me volto para ele novamente que dá de ombros. 

— Claro, Doutor Estranho. Me diz um título corretamente e eu acreditarei em você! — Ele ergue os olhos para cima e faz um biquinho, demonstrando seu pensar, estalando a língua no céu da boca quando finalmente encontra uma resposta. Sinto ser colocada de volta no chão, de novo, aquela sensação de frio atingindo a pele febril por suas mãos. Estava de lado para o mar, minha audição se dividia entre ouvir o quebrar das ondas e a brisa balançando meus cabelos. Namjoon se coloca de frente para mim, assim meu olhar sobe da gola de sua camiseta preta ao seu rosto. Quando tento tirar meu abraço de seu pescoço, ele segura meus pulsos no lugar, me encarando de pertinho e depois desviando o olhar para baixo. Seus olhos ficavam ainda mais lindos sob a luz baixa, refletindo uma cor marrom mais clara. 

— “Como eu era antes de você”, ou melhor, como tudo era antes de você. — Suas mãos acariciam meus pulsos, enquanto assisto suas sobrancelhas cerrarem pouco, entregando sua dificuldade em assumir para si mesmo e dizer em voz alta. — Tá vendo? Eu presto sim atenção nas coisas que você gosta, marrentinha! — Ele retorna a encontrar minhas órbitas, com os lábios fortemente colabados um contra o outro. Uma risada escapa de mim, sorrindo com o coração aquecido e vergonha simultâneos, mas logo torno a ficar séria, me dando conta da situação. Me aproximo mais de seu rosto, colando nossas frontes e meu nariz acarinha o dele, sentindo nossas respirações baterem no septo do lábio e competir pelas mesmas porções de oxigênio.

— E depois de você? E depois de mim? — pergunto aos sussuros. Meus pulsos escapam de suas mãos apenas para repousarem na lateral de sua mandíbula marcada, acalentando a região e acarinhando-a com os polegares. Ele envolve minha cintura delicadamente, me prendendo em si, engatinhando delas uma para o meio das minhas costas por baixo da jaqueta, um pouco mais frias  as pelo decote quadrado do vestido preto. Sua mão ali causou um choque térmico que eu não esperava, fazendo minhas escápulas se moverem sem comando. Sinto como se estivesse apreensivo, ele estava realmente me puxando para perto, tentando garantir que eu não esvaísse entre seus dedos aos poucos feito açúcar sob pingos de chuva. 

 

Ele exala fortemente, recrutando forças para empurrar as palavras para fora. 

 

— Essa realidade eu não posso prever, ainda.

 

[Mais cedo, naquele mesmo dia] 

[Sábado, 02:13 a.m.]

Eventualmente, tudo ao meu redor foi engolido por um portal de viagem no tempo, regredindo àquelas épocas em que músicas como YMCA, do Village People, e as polainas coloridas faziam o maior sucesso, embalando as festas de garagem com o globo espelhado bem no centro. Meus olhos permaneciam cerrados enquanto eu saltitava no mesmo lugar, tombando a cabeça para trás como se fosse levantar vôo. Quem sabe a força do pensamento possa me levar para uma realidade diferente? Após todo aglomerado de gente, onde eu estava incluída, terminar de rebolar estranhamente para disfarçar que não sabia metade da letra da música, fazer os mesmos símbolos e gritar junto quando a parte “YMCA” era cantada, outra melodia retrô logo iniciou a tocar. Contive a vontade de permanecer na pista de dança por minha garganta estar tão seca que nem o ar mais gélido a afetava. Me movi pelas frestas da multidão, as vezes topando com rostos familiares, mas que não se lembrariam sequer da roupa que vestiam na manhã seguinte, muito menos de mim quase engatinhando entre suas pernas. 

 

“Look at me now, will I ever learn?” 

 

As batidas da nova música retumbavam no chão de madeira mais límpida que vidro, invadindo meu corpo de todas as direções. Parecia um headset tão bom que nos imergia em uma verdade paralela, com a diferença de que todos podiam ver e ouvir. Meus músculos da coxa sofreram um pouco mais quando finalmente consegui ultrapassar todo o algomerado e ergui o tronco devagar, apoiando minhas mãos em uma banqueta a minha frente para não cair por sua falha. Por estar ofegante de euforia, meu organismo em chamas agradecia ao poder respirar um pouco de ar puro. 

 

“There’s a fire within my soul”

 

Nesse ponto, nem sei qual reação é a mais poderosa: o álcool correndo em minhas veias ou a descarga de dopamina que me levava pelos braços, quase flutuando.

 

Ambas estavam bagunçando minha cabeça. 

 

Me escoro na mesma cadeira alta, dessa vez apoiando uma das mãos na superfície de vidro logo em frente. Qualquer material em contato com minhas mãos fervendo parecia gelado como neve, o cristalino logo se protegendo do calor com uma névoa no contorno de meus dedos. Inspiro e expiro brevemente várias vezes, a tentativa de fazer a garganta parar de doer e o peito se acalmar. Inferno, a sensação das palpitações é estranhamente desconfortável. 

 

“My, my, how can I resist you?”

 

Estou entretida por meu corpo e a batida alegre, então nem percebo quando simplesmente chego ao bar-man. Entre uma piscada e outra, uma jarra ornamentada derrete igual minha pele e uma taça translúcida de textura parecida aparecem na minha frente. Tento controlar o instinto primitivo de querer virar a água gelada nas minhas costas, simplesmente servindo-a na taça e levando a boca logo após. Por que a água parece tão doce em momentos assim?

 

“Yes I’ve been brokenhearted, blue since the day we parted” 

 

Minha garganta cessa de incomodar enquanto minha temperatura corporal diminui, me permitindo sentir até meus poros da pele voltando ao estado normal. Estou de costas para o bar, minhas escápulas pouco acima de seu balcão de vidro, uma das pernas dobradas com o solado do coturno em contato com a estrutura, e meu braço esquerdo repousa o cotovelo sobre o mesmo, despojadamente. Alguns minutos se passam assim, acalmando-me, respirando profundamente. Perdida em meio as luzes coloridas e as pessoas pulando como uma massa só, minha visão periférica percebe um rosto que conhecia desde criança, olhando para mim na mesma posição. A blusa de mais cedo conseguiu ficar ainda mais justa em seus ombros largos, sem falar as mangas puxadas para cima e seus antebraços cruzados. Um sulco de músculo saltava aos olhos, mesmo com várias tatuagens no caminho. 

 

Fazia um tempo desde que Seokjin me encarou pela última vez. 

 

Vou até ele, nunca quebrando nosso olhar. Ele diminui o aperto nos braços quando me aproximo, sabendo mais do que ninguém que não era meu perfil temer sua encarada esquisita. 

— Perdeu alguma coisa no meu corpo? — Digo assim que me aproximo o suficiente para que possa me ouvir. 

Easy tiger... — responde, sua voz simplesmente inalterada — Esse tom vai me fazer te mandar longe rapidamente... 

— Conta outra, Seokjin! — Rio em descrença, acostumada com seu jeito de me ameçar e nunca cumprir. Ele deixa escapar um sorrisinho, seus lábios perfeitamente desenhados curvando-se para cima. — Então, para que precisa de mim? 

— Só quero conversar com uma velha amiga. — concluo que ele erguiu uma das sobrancelhas, não posso dizer com certeza pois sua franja comprida mal me dá a visão de seus olhos. Desconfio de sua guarda ainda alta.

— E resolveu fazer isso logo aqui, do nada? — me afasto um pouco, cruzando os braços feito ele. — Podia ter me chamado ao invés de encarar como se quisesse pular em mim! 

— Inoportuno eu sei. — ele dá de ombos, afastando sua franja com um movimento curto do rosto para o lado. Ele deixa de se recostar na parede, colocando os dois pés no chão e ajeitando a postura. 

— Eu usaria outro termo, mas não quero te desrespeitar. — ele fecha os olhos ao rir, seus ombros levemente se mexem. — Devemos ir pra um lugar mais reservado?

— O que você sugere? — faço um movimento com a cabeça e o mais velho passa a andar ao meu lado. 

Ansiosa pelo que ele queria falar, nos guio para caminhar ao longo na praia, acompanhando toda vez que a espuma beijava a areia úmida. Relembro de algumas coisas enquanto buscamos uma parte mais silenciosa, especialmente sobre como o conheci e como nos afastamos em pouco tempo. Em uma manhã de outono, meus sonhos foram atrapalhados precocemente por ruídos extremamente altos e vozes misturadas. Quando um estrondo se assemelha a um elefante caindo no chão ou simplesmente uma porta batendo com tanta força que a casa inteira sente, corro para a janela do meu quarto, averiguando a cena de um caminhão de mudanças algumas casas ao lado e a provável matriarca com medo de que alguma cerâmica milenar encontrasse o chão. Mesmo não a vendo com nitidez, reconheço sua beleza singular ao passar a mão pela cabeça de um garoto agora agarrado em suas costas. Ambos eram bem parecidos. A partir daí, Seokjin frequentou a mesma escola que Namjoon e eu, cerca de dois anos a frente, naquela época chata em que meninos e meninas se separavam, logo se tornando bons amigos. Ele estava com Nam quando fizeram as primeiras tatuagens realmente extensas, a modelo do dragão nas costas. De qualquer forma, ele nunca foi muito comunicativo, mas compartilhava o básico de educação comigo e uma chuva de piadas sem graça. 

— A noite está tão bonita... — digo, fitando o céu ao caminhar. 

— Não mais do que eu... — sua risada característica ecoa em meus ouvidos por poucos segundos assim que faço uma careta para ele. 

— Engraçadinho... Nunca muda esse jeito, não é? Nem mesmo agora que está metido a figurante de Grease... — O observo.

— A aparência, o estilo... Nada afeta a personalidade de alguém. Pode ser só uma forma de expressar como se sente. — ele coloca as mãos no bolso da calça, olhando para mim de volta.

— Existem sempre exceções. Aqui não é diferente. — encaro ao longe, vendo Tae no mesmo lugar de antes, vidrado no celular. Jin dá de ombros e segue a reta dos meus olhos, o moreno com tatuagens coloridas entrando em seu campo de visão. Ele percebe os pares de orbes encarando-o, focando especialmente em mim, passando a língua pelos lábios de novo. Com isso, um resquício de seu gosto se acentua na boca e sou transportada para aquela cena novamente, quase sentindo-o inebriado em mim. E eu nele. 

— Vocês dois estão interessados um no outro? — Jin fita a areia ainda não marcada por nossas pegadas, estreitando os olhos ao olhar para baixo. 

— Ficamos agora pouco, nada mais. — tento parecer tão inafetada quanto ele ao longe.  Seokjin balança a cabeça, soltando o ar pela boca como se estivesse contrariado. 

— Engraçado, mesmo antes, sempre achei que  a tensão entre vocês eventualmente iria explodir em raiva ou paixão, mas eu creio estar enganado. — meu corpo reage a afirmação sem mais nem menos, me dando um soco no estômago e colocando qualquer porção de epiderme para cima. Paraliso no lugar, deixando Jin seguir um passo a frente. Por que tinha que perguntar justo agora? Eu estava realizando um ótimo trabalho esquecendo da existência dele e da sua ceninha de mais cedo!

— Entre mim e Taehyung? — Rezo para que seja, para Jin caia na minha suposta inocência. Entretanto, eu que sei perfeitamente de quem estava falando. 

— Eu preciso mesmo responder essa pergunta?  — ele me encara de perfil. 

— Não tenho bola de cristal. — cruzo os braços, tentando me proteger de uma verdade eminente. 

— Está bem, princesa perdida. — Ele se aproxima de mim novamente, quase conseguindo me intimidar com sua figura alta. — Estou falando de você e Namjoon. 

 

Meu corpo despenca da montanha russa.

 

— Você ficou maluco? Não rolou e não vai rolar algo entre nós, nem hoje, nem amanhã, nunca! — levanto a voz e balanço as mãos, um movimento frenético na esperança de deixar meu argumento convincente.

— É mesmo? Por que não? — Eu começo a ficar verdadeiramente irritada. 

— Porque eu não gosto dele! — Meu ego parece concordar com meu id, lançando uma voz paralela chata na minha mente: sim, você gosta dele. Contraio os lábios um no outro. — Todo mundo está com essa mania de meter o nariz onde não é chamado, que ódio! O que tem de errado em sermos apenas amigos? 

— Mas que porra... O problema é que vocês são duas crianças birrentas, sabia? Me dão dor de cabeça! — Leva uma mão a testa, driblando os fios castanho-escuros. — Nada existe de errado na amizade de vocês, mas não aguento Namjoon me enchendo o saco igual arara, repetindo milhares de vezes a mesma coisa! 

 

Aquilo respondeu a pergunta de mais cedo, a que eu evitei perguntar a Taehyung. 

 

— Se me chamou pra isso, faço questão de voltar lá para dentro, não quero discutir com você. E sua cadeira em Expressões Faciais está te fazendo bem, acha consegue interpretar todo mundo! — Bato os braços dramaticamente ao longo do corpo. 

— Vocês são ambos extremamente fáceis de ler, sempre foi assim. — Dou as costas para ele, me movendo em passos rápidos para longe. — E se eu disser que ele se sente do mesmo jeito?

Meu cérebro agitado parece entregue ao branco, todo pensamento é bruscamente cortado. Paro minha caminhada, girando meu corpo. 

— Nada mudaria! — É claro que mudaria. 

Quando nossa conversa acalorada chega ao fim, Jin bagunça o topo da minha cabeça antes de sumir da minha vista. Esses garotos metidos a Bad Boys vão me enlouquecer. Ainda tendo muito a ponderar, sento meu corpo cansado na areia ali por perto, abraçando os joelhos perto do tronco e escondendo meus lábios ali. Queria seguir vendo o mar se mover e procrastinar na interpretação dos meus sentimentos. 

Eu gosto dele, estou apaixonada pelo meu melhor amigo. — Finalmente digo para mim mesma em voz alta, resguardando como um segredo pertencente apenas àquela noite. Só admitiria aqui e agora, nessa noite de sábado, nessa porra de festa. A pior parte é a obsolescência depois de tantos sentimentos compartilhados, algo tão explosivo será lembrado como apenas mais um rumor de faculdade. — Eu odeio isso

Meu monólogo se encerra ao perceber que não estou exatamente sozinha. A luz da casa de Lisa estava forte quando comparada à da lua, fazendo com que qualquer corpo em seu caminho produzisse uma grande sombra na areia fofa. Meus sentidos voltam a perceber a brisa da praia e seu aroma característico, passando por mim uma, duas vezes. Na terceira, ela vem acompanhada de um perfume marcante e que eu conhecia muito bem. Me sinto na sua garupa mais uma vez, levada por aquele cheiro que possuía memória. 

 

Merda.

 

Eu não preciso me virar para dizer quem é, então apenas ajeito a postura e sigo encarando o longe, ouvindo as folhas das palmeiras novamente baterem umas nas outras. 

 

Respiro fundo.

 

 

— Namjoon.

 

 

 

 

 

[3,5/5]

 


Notas Finais


[Voltei mais rápido dessa vez! Espero do fundo do coração que tenham curtido mais esse capítulo! Se sim, interajam comigo nos comentários🖤]





[Fiz referências às músicas “Mamma Mia”, do Abba e YMCA, do Village People]


✖️


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