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História I know he's married - Quer se casar comigo?


Escrita por: mydarlingzayn

Notas do Autor


HOLA MIS AMORES! Demorei uns dias a mais do planejado, mas aqui está um capítulo fresquinho, CHEIO DE REVIRAVOLTAS E NOVIDADES! Novamente, obrigada por todos os comentários, mensagens, favorito e principalmente por não desistir da história! Sou muito grata e feliz por ter leitores tão maravilhosos!
Espero que gostem!!

PS: PREPAREM OS LENCINHOS!!

Capítulo 43 - Quer se casar comigo?


 

Acenei e o carro disparou para fora do Centro de Treinamento do Real Madrid. E com um longo suspiro me virei para a entrada. 

Hora de trabalhar Mia!  

Mas assim que entrei na recepção vi Marco parado ao lado na bancada dos recepcionistas. Ele olhou nos meus olhos e por segundos achei ter visto algo...mas não.

— Bom dia Ana! — falei com a recepcionista que sorriu. 

— Bom dia Mia! 

— Bom dia Marco, estava mesmo querendo falar com você — disse já caminhando na direção do corredor.

— Bom dia, pode dizer — ele veio comigo. 

— Marcos, o documento! — Ana falou alto para que ele ouvisse já alguns passos de distância. 

— Ah! — O camisa 20 girou e foi pegar o tal documento. 

Esperei de ele voltasse para continuar a falar. 

— Quando pode deixar o Rome lá em casa? 

— Final da tarde está bom pra você? Tem algum compromisso? — Internamente me perguntei se ele estava querendo ser gentil mesmo ou sarcástico pelo meu atraso. 

Mas eu não ia me estressar com isso, o avisei ontem antes mesmo do horário combinado. Não havia motivo para sarcasmos. 

— Está ótimo, e desculpe por ontem surgiram... compromissos — vi sua sobrancelha arquear levemente. 

— É eu vi, está por toda internet — comprimi os lábios escondendo um sorriso. 

Que ótimo!

— Pois é — chegamos ao ponto da bifurcação e percebi que aquele silêncio constrangedor iria se formar. — A gente se vê mais tarde então. 

Virei para os corredores que dariam na ala médica o deixando seguir seu caminho ao vestiário. 

 

Os meses se passaram rapidamente, foi uma loucura. Os jogos da Champions e da La Liga exigiam muito mais dos jogadores, clubes mais fortes, com marcação maior e que precisavam de uma marcação maior também. Houveram várias lesões, pequenas, mas que tomavam um tempo precioso de jogadores preciosos. Inclusive tive a honra de cuidar de um probleminha no joelho de Cris, e ele como titular convicto era tratado apenas pelos melhores dos melhores, até mesmo traziam os melhores fisioterapeutas  e eu tive esse privilégio. Não era uma lesão difícil de ser tratada, na realidade era um tipo bem comum. Mas aquilo agitava a torcida e seus fãs, afinal Cristiano é um jogador decisivo, e embora o time possa ir sem ele, saber que ele estava ali era um ponto de segurança a todos, principalmente da torcida. Foram 2 jogos, um da Champions e um da La Liga, graças ao bom Deus o Real foi bem em todos os três, porque eu sabia que se então fosse a culpa cairia sobre sua ausência. No entanto eu não me deixei levar por toda a pressão que existia, eu sabia que era boa no que fazia porque estudei para isso e também sabia que Cris era um paciente igual a qualquer outro. Por isso deu certo.

Apesar de ter deixado minha vida pessoal um pouco de lado nesse tempo, minha mãe finalmente veio me visitar. Apenas uma semana, mas foi incrível. Depois do tratamento de Cris ela ficou lá em casa. Fomos a vários pontos turísticos de Madrid, inclusive no fim de semana deu para puxar uma viagem para Barcelona, que segundo minha mãe era muito mais bonito ( jamais contarei isso aos meninos ) que a capital. Sarah saiu conosco várias vezes, ela foi minha guia no início e sabia que adoraria fazer de novo. Nos divertimos muito juntas e fiquei feliz demais em recebê-la na minha casa, principalmente de ela ter gostado. Mas odiei quando ela foi embora, infelizmente minha mãe não podia ficar para sempre, tinha sua vida no Brasil, seu trabalho. Passamos uns 8 minutos abraçadas no aeroporto antes de deixá-la embarcar. 

Quanto a Lewis, nós nos falávamos as vezes, mas assim como eu ele estava ocupado com seu trabalho então não nos vimos mais. Ainda sim eu estava feliz por ele, da última vez que nós falamos ele tinha ganho a corrida de Paris, e eu estava prestes a começar a tratar Cris. Foram horas de ligação e eu ameacei mandar a conta nomes celular pela tarifa internacional na operadora. Depois disso só fico sabendo de suas vitórias e de como está trilhando o caminho para se tornar o maior do mundo. Wis só me dava orgulho assim como meus meninos.

O Real brilhava na Champions, derrotando quem via pela frente, acho que estávamos em uma fase incrível, o departamento médico com toda a força e os jogadores em ótimas condições físicas preparados para os jogos mais difíceis. Até assisti alguns jogos com as wags um dia desses, da La Liga no Bernabeu contra o Atlético de Madrid. Aliás o Griez fez 2 gols me fazendo o xingar muito mais do que naquele dia dentro do carro. O placar foi apertado, mas saímos vencendo graças a uma linda atuação do trio, Bale, Benzema e Cris. Foi emocionantemente tenso.   

 

— Mia preciso falar com você — Santamaría disse ao passar pelo meu consultório. 

Fiquei tensa, da última vez que ele disse isso eu parei na 4 vezes por semana na casa de James. 

Me levantei e fui até sua sala. Não precisei bater na porta pois ela estava aberta. 

— Entra e fecha a porta, por favor — pediu ele com os olhos nos papéis. 

O fiz e então me sentei nas cadeiras diante de sua mesa. 

— Houve alguma coisa doutor? — O homem ergueu os olhos abaixando os papeis. 

— Sim, Mia — ele tirou os óculos de leitura e uniu as mãos ante do queixo. 

Deus! O que eu fiz de errado? 

— Você deve saber que nos jogos a equipe médica é composta por um médico, um fisioterapeuta e um auxiliar. 

Anui. 

— Desde que finalizou o tratamento de James eu e Mihic estamos de observando para o cargo de auxiliar — cerrei o maxilar, os dentes tão apertados que rangiam. — E o procedimento com Cristiano foi um teste para ver se aguentava a pressão de cuidar de uma das maiores estrelas do time — ele humedeceu os lábios e pegou um dos papéis na pilha. — Você foi uma exímia profissional, assim como esperamos e então formalizo hoje a proposta: você aceitar ser auxiliar de recuperação nos jogos? 

Um sorriso brotou nos meus lábios. 

 

 

P.O.V Marco

 

Rome dormia ao meu lado enquanto eu assistia a Liga ABC, o jogo entre Saski Basksonia e Basket Zaragoza 2002 estava bem monótono. 60 à 35, o Zaragoza estava péssimo. Bufei pegando o celular e rolando a timeline. Marcelo com os filhos, meu irmão com a namorada na Disney de Paris...até que vi uma foto de Mia na garupa de uma moto, suas mãos em volta do corpo do piloto. Lewis Hamilton era o piloto. 

Ela estava com ele. 

Deslizei para ver a legenda. 

" Mia Saton, a famosa fisioterapeuta do Real Madrid, e Lewis Hamilton tiveram um final de semana agitado. Depois de uma corrida históricas uma saída estilo filme de ação, os dois foram vistos essa segunda-feira na Marina de Monte Carlo abraçadinhos. Será um possível casal? Já podemos shippar? Arraste para o lado e veja algumas fotos deles ( mais fotos dos dois no perfil ). "

Então foi por isso que ela não pode pegar Rome, estava passeando de barco com Lewis. Ainda bem que não me fez perder tempo de ir levar na sua casa e dar de cara com a porta. 

Curioso fui inventar de ver as tal fotos. A segunda era em um píer de dia, eles andavam de mãos dadas. Ela com um vestido solto branco e ele de óculos escuros, bermuda e uma camisa larga. Deslizei para a próxima e os vi abraçados, já era de noite e eles faziam o caminho de volta do píer. 

Pareciam um casal. Será que eram? Ela viajou com ele, parece coisa de casal. 

Entro nos comentários. 

" Essa tem bom gosto pra homem hein! Marco depois Lewis " 

" Formariam um casal lindo, espero que estejam juntos." 

" Já shippo." 

" Aí gente! Nada haver essa mulher fica com todo mundo." 

Apertei para ler as respostas desse. 

" Deixa de ser invejosa, certa ta ela." 

" Eles super combinam, você é que é ridícula." 

Fiquei feliz de terem dado um fora na mulher, admito. E tinham mais comentários como:

" Quando vão assumir?!" 

" Ta na hora do Lewis namorar mesmo." 

" Own! Meu bebê, Mia parece um amor, espero que tenha um coração bom como o dele." 

" Para com isso Lewis! Você sabe que é meu." 

Instintivamente sai e fui ver as outras fotos do perfil. Eles saindo de mãos dadas de um restaurante, não dava para ver o rosto de Mia pois seu cabelo escondia e ela estava de cabeça baixa, mas eu a reconheci na hora. A outra era deles chegando no prêmio de Mônaco, ela se escodeia atrás do capacete. E por fim os dois na moto ao sair da sede automobilística de Monte Carlo. 

Li alguns comentários. Estavam todos divididos entre apenas amizade e romance. Já que Lewis foi visto com as uma turma de modelos das quais se especula que alguma delas já foi ou é seu caso. 

Mas quem se importa, não é? Mia pode ficar com quem ela quiser, é uma mulher livre e ele um homem livre. Se eles estiverem juntos ótimo, se não...ótimo também. Não é problema meu e nem de ninguém. 

Bloqueei a tela do celular e o joguei para o lado voltando a ver o jogo. Era o melhor a se fazer. Olhei para os jogadores correndo pela quadra, e o Saski fez mais uma cesta. 

Que ela seja feliz, não é? Ela merece. Somos amigos e eu só quero que ela seja feliz. Lewis também é um cara legal, um dos caras mais legais que eu conheço. Humilde, parceiro, confiável, gente boa, engraçado, fora a parte do bonito, charmoso, milionário, piloto de fórmula 1 e campeão mundial...porra! Será que ele tem algum defeito? Enfim, ele ia ser bom para ela. Não ia? 

Quer dizer, ninguém sabe se eles estão juntos mesmo. Mas se estiverem ótimo! Que sejam felizes. 

Rome roncou ao meu lado e eu o fitei dormir com a boca aberta. 

 

… 

 

 

No dia seguinte fui pro treino cedo, mas antes de me trocar no vestiário uma mensagem chegou no meu celular. 

" Os documentos foram entregues na recepção." 

— Aonde vai? — Nacho perguntei quando mencionei deixar o cômodo. 

— Na recepção, pegar os documentos de patrocínio — ele levantou as sobrancelhas sabendo do que se tratava.

Sorri animado e segui meu caminho. 

Mas assim que cheguei na recepção e passei os olhos pela parede de vidro da entrada vi Mia e Lewis se beijando diante do que imaginei ser o carro dele. 

E não era um beijinho rápido, era um beijo de despedida, com fogo, saudade. Ele apertava a cintura dela com uma mão e outra estava na sua nuca, enquanto ela segurava em sua camisa. Havia desejo e mais que isso...sentimento. 

Eles estavam juntos mesmo. Ela estava com ele. 

Ambos se afastavam devagar e manteram as testas unidas sussurrando algo um para o outro e então o piloto beijo o alto da testa dela que sorriu. Aos poucos eles foram se afastando, e enquanto ele seguiu para o carro ela pegou a mala vindo para dentro. 

Eu virei para a bancada da recepção, Ana sorriu para mim. 

— Vim pegar um documento entregue a pouco. 

— Ah sim! — Ela começou a procurar em cima da sua mesa e inconscientemente olhei para trás. 

Meu olhar se encontrou com o dela por segundos. E merda! Meu coração hesitou uma batida só de olhar nos seus olhos, assim como hesitou no momento que a vi nos braços dele. Desviei. 

E assim que Mia sumiu no seu caminho para a ala médica eu grunhi. Idiota! Porque tive que falar aquilo? Porque não consegui me segurar? Parecia que eu estava com raiva, que eu estava com ciúmes. 

Mas eu não estava. É óbvio que não.  

Voltei ao vestiário, lá me troquei rapidamente e quando mencionei seguir até o campo Vazquez me parou. 

— Ta tudo bem muelas? — Engoli seco, olhei para o chão e depois para a saída. 

— Tudo ótimo — forcei um sorriso de canto e segui para o treino. 

Cheguei no campo esperando as instruções de Mallo, ele nos mandou aquecer. 

— Está desconcentrado Marco — o preparador berrou do outro lado do campo. 

Respirei fundo buscando me manter 100% ali. Me manter focado. 

— Onde sua cabeça está? Porque no treino que não é! — Ele disse próximo os suficiente para apenas eu ouvir. 

Puxei o ar novamente. Eu queria me concentrar. Queria mesmo, mas não conseguia parar de pensar na porra daquele beijo. Nela, nela com ele...de como parecia feliz, de como parecia entregue e...apaixonada. 

Chutei a bola e ela foi longe. 

Carajo! 

— Não é futebol americano Marco — Mallo cantarolou novamente. 

Parei, levei as mãos ao rosto e grunhi voltando ao final da fila. 

Eu não sei o que estava havendo. Porque eu não conseguia tirar aqueles pensamentos da minha cabeça? Porque não conseguia me focar?

Na fila de outro exercício Lucas olhava preocupado para mim, desviei. 

Eu não sentia nada por ela. Eu não me importava. Eu devia focar aqui. Deixar isso para trás. 

Olhei para o céu e tentei esvaziar minha mente, mas quando foi minha vez de jogar novamente a bola foi para fora batendo na trave. Um total de 0/5 acertos. Nunca fui tão mal falta.

Bufei. 

— Vai para o vestiário Asensio e toma uma ducha — o preparador físico falou e deu tapinhas na minha nuca. 

Respirei fundo e anui. 

Voltei ao vestiário e me sentei no banco. 

— Merda! Merda! — Apoiei os braços nos joelhos e coloquei as mãos no rosto. 

Lembrei de nós dois juntos, de como começou, de como éramos e de como terminou. 

"Demais para uma relação meramente sexual." 

O que ele tem que eu não tive? O que ele fez que eu não fiz? O que faltou para ela...para ela sentir mais? 

Eu fiz meu melhor, mas se nem isso a conquistou...não foi o suficiente. Eu não era o suficiente. 

Porque estou pensando nisso? Porque meu coração está apertado e há um nó crescente na garganta? 

Eu não me importo. Nossa relação era de fato meramente sexual. E ela está com Lewis, assim como eu estou Marina. O que aconteceu entre nós acabou há muito tempo. Ela está feliz e eu...óbvio que eu estou feliz. Marina é a mulher perfeita, inteligente, carinhosa, companheira e linda. Eu sou sortudo por te-la. 

Isso! 

Fitei o chão, minhas chuteiras, as meias. Lembrei do dia que ela dormia abraçada com Rome da minha cama e eu a observei por quase uma hora. Lembro de imaginar como seria se todos os dias fossem daquele jeito, acordar e ver aquela cena. Pareceu tão tangível, tão sublime e doce. Fiquei tão feliz na época, eu estava tão feliz naquela época. A sensação meio veio como um frio no estômago, aquele que você sente quando está prestes a fazer algo incrível. 

— Marco, o que... — passei a manga da camisa rapidamente nos olhos e me levantei virando de costas para o preparador. Não queria que ninguém visse. — Está acontecendo alguma coisa? — Sua voz foi mais cautelosa. 

— Não, nada importante — coloquei as mãos na cintura e fitei o teto branco fungando um pouco. 

Ele ficou um tempo em silêncio, acho que procurando algo para dizer. 

— Está dispensado do treino de hoje. 

Eu queria argumentar, queria dizer que eu tinha plenas condições de cumprir tudo, mas seria mentira. 

Assim que ouvi a porta bater no trinco apoiei a cabeça na parede e bati o punho contra a cerâmica irritado por não me controlar. 

E se eu tivesse dito, se eu tivesse falado que não era só sexo, se eu tivesse...

Devia esquecer isso, seguir em frente. 

É idiotice pensar nisso e lembrar disso agora porque é óbvio que mesmo assim nada mudaria. 

Eu estou com Marina e estamos em uma relação firme e muito boa. Mia devia fazer parte do passado morto, e eu não posso deixar que seja reavivado, não posso deixar.

 

...

 

P.O.V Narrador 

 

O time estava comendo para ir para a academia e todos riam ao redor da mesa do restaurante após mais uma história contada por Marcelo. 

— Isso é ridículo! — Kroos falou rindo.

— Ta duvidando galego? — Marcelo cruzou os braços. 

Todos bateram na mesa criando um suspense. 

Mas enquanto os caras prestavam atenção na pseudo-discussão entre Marcelo e Kroos os  olhos do camisa 20 "involuntariamente" seguiram para a única membro da equipe médica sentada na nossa mesa. Mia ria de tudo, observando os dois com atenção. E infelizmente para Marco não era primeira vez que seus olhos decaiam sobre a doutora. 

Semanas se passaram desde que ela voltara de Mônaco, a vida correu para os dois. Ela se focou no trabalho e o jogador também, mas sempre que ela estava lá, sempre que a via seus olhos involuntariamente guiavam-se para ela. Não era algo controlável e ele mesmo tentou menosprezar esse ato, dizendo a si mesmo que era besteira. No entanto seu amigo Isco já havia percebido, a uma semana acompanhava o olhar do meia para Mia. Há uma semana percebeu que havia mais que apenas uma observação aleatória e sem segundas intenções ali.  

Isco sabia sobre a situação, sabia como eles acabaram e sobre a condição atual de Marco. Achou que o amigo havia esquecido a fisioterapeuta, mas ele sabia que um homem que olha daquele jeito para uma mulher não a esqueceu completamente. E por mais que Marco dissesse que amava Marina, por mais que estivessem juntos a muito tempo e que estivesse feliz com ela, havia um vácuo ali. Esse vácuo era Mia, e pelo seu olhar esse lugar nunca foi preenchido. Não como ele achou que fosse acontecer quando voltou com a ex.

Por isso no dia que eles estavam fazendo o tradicional pós-treino na casa de Marco e todos foram embora ficando apenas o camisa 22 e o dono da casa nas espreguiçadeiras da piscina com algumas garrafas para esvaziar ainda, Isco tocou no assunto. 

— Você esqueceu a Mia? 

Asensio fitou o céu cheio de estrelas e seu maxilar travou por um instante. Não esperava essa pergunta. Mas ele virou para o amigo com um sorriso e o cenho franzido.  

— Porque está perguntando isso Bro? — Isco suspirou. 

— Só responde Marco. 

O jogador suspirou. 

— Eu estou com Marina... 

— Não foi isso que eu perguntei. Quero saber se ainda tem algum sentimento pela Mia — interrompeu Francisco. 

Marco o olhou por segundos atônito. Ele não entendi o porquê desse pergunta. 

— Cara, você sabe que o que rolou entre eu e a Mia já passou a muito tempo, além do mais não teve sentimento era apenas pele — deu um gole da cerveja dando de ombros. 

— O que eu sei é que você está tentando se convencer disso desde aquele dia no bar. 

— O que você ta...

— Faz uma semana que eu te vejo olhar pra Mia Marco. 

O camisa 20 revira os olhos. 

— E o que é que tem? Eu olho pra todo mundo. 

Isco riu. 

— Não se faça de idiota, sabe o que eu to dizendo — o meia estalou a língua virando o rosto.

— Eu não to entendo o que você quer com isso Isco.

— Marco a gente se conhece a um bom tempo, você acompanhou a minha separação da mãe de Isquito e ta acompanhando meu relacionamento com a Amanda. Você me ajudou nesse tempo e eu quero te ajudar também — Marco ficou calado. — E cara, você estava tão feliz quando estava com Mia, como não ficava a muito tempo, seus olhos brilhavam e as vezes chegava a ser irritante te ver sorrindo o tempo todo. Vocês juntos pareciam ter algo além de apenas sexo, tinha amizade, parceria, vocês combinavam. — Isco suspirou. — Você pode ter se enganado quando disse que ficou bem depois de terminar com Mia, mas sinceramente ninguém caiu nessa, ainda mais quando você passou um mês dormindo nas boates de Madrid.

— Isco... 

— Eu achei que tivesse esquecido ela depois que voltou com Marina, mas ta na cara que não. E não invente de dizer que sim, porque você está estranho desde que saiu na imprensa que ela supostamente estaria com Lewis. 

— Não é suposição, eu vi eles juntos na frente do CT — ele murmurou, mas Isco ouviu.

— Então você admite que ainda sente algo por ela? — Marco bufou e não respondeu.

Ele não queria falar sobre isso, não queria se quer pensar sobre isso. 

Isco sabia que Marco era teimoso, mas ele estava passando dos limites. Para o camisa 20 era irritante ver algo óbvio e a pessoa ainda relutar para admitir o que ta na cara. "Porra! Nós somos amigos, não seria nada de mais trocarmos confidências, quantas vezes já troquei com eles?" 

Levemente irritado o espanhol se levantou pegando as garrafas vazias entre os dedos. 

— Onde você vai? — Indagou Asensio.

— Você já perdeu ela uma vez por orgulho, vai perder de novo? — O amigo começou a caminhar para dentro da casa. Marco suspirou encarando o céu, ele não queria que o amigo fosse embora, mas se fosse para continuar com esse papo era melhor que fosse mesmo. — Ah, e Marco... — ele parou no meio do caminho chamando atenção do outro. — Tudo bem sentir isso e não querer falar comigo, mas não é justo com Marina que você continue com ela gostando de outra. 

No fundo o coração de Marco deu uma hesitada, mas ele apenas virou o rosto voltando a olhar para cima. 

 

P.O.V Mia

 

Fechei a mala em cima da cama sem dificuldade e olhei para o relógio. Faltava apenas uma hora e meia. Amanhã o time iria para Mancherster, para jogar na tarde do dia seguinte pela Champions. Mas para que ia acontecesse toda a equipe teria que dormir na concentração para sairmos juntos pela manhã. 

Eu admito, estava um pouco nervosa. Minha primeira viagem com o time como auxiliar fisioterapeuta seria em um jogo da Champions Ligue, na casa do adversário, o Mancherster United. Um jogo decisivo, que levaria o time para os últimos jogos do campeonato. Esperava torcendo mesmo para ser apenas o primeiro, não tenho problemas em controlar o coração na beira do campo se formos até a final e ganharmos o a orelhuda. 

Meu celular começou a tocar e eu o fitei vendo a foto de Am acordando com os cabelos para cima. 

— Eai vagabunda! — Falei ao atender. 

— Hi little bitch! — Cantarolou. — Como estão os preparativos para vir me ver? 

Ah! Sim, amanhã após o treino iríamos ao espetáculo de Am que coincidentemente estaria fazendo sua última apresentação lá. Foi toda uma burocracia para nós liberarem uma noite antes do jogo, mas deixaram contanto que batêssemos o ponto no máximo as onze da noite ( até a Cinderela tinha mais liberdade ) já que o treino seria as nove da manhã do dia seguinte. Ainda sim iria ser incrível, primeiro porque eu estava louca pra ver minha amiga encenando Bela Adormecida, e segundo porque eu ia presenciar dois dos momentos mais especial da vida dela. A conclusão de uma turnê e um pedido de casamento. 

SIM! Isco está planejando isso a cerca de três semanas, e eu estou ajudando ele junto com Marco. Tem sido difícil guardar o segredo e a ansiedade, quero muito mesmo ver a cara dela. Depois de tudo o que eles passaram em um relacionamento a distância, acho maior declaração não poderia haver. 

Era muita emoção para um final de semana só. 

— Estou chamando o uber pra ir para o trabalho, malas prontas.  

— Ah! Vai ser demais amiga, to morrendo de saudade. 

— Eu também, a gente não se vê desde que você veio pra cá no ano passado. 

— Pois é, mas amanhã vai ser demais. — Você não faz ideia querida. — Ver você e Francisco na plateia na última apresentação, vai ser como voltar para casa. 

Sorri. 

— Para, que já to quase chorando — ela riu. 

Peguei as malas e fechei a casa enquanto nós falávamos pelo fone de ouvido, o carro esperava lá em baixo. Levou meia hora para chegar ao CT. E foi meia hora de conversa com Am, até eu ter que desligar para trabalhar. Tive uma sessão com Casemiro e outra com Carvajal, coisa rápida, nada grave que os impedisse de jogar. Casa sentia um desconforto no ombro e por isso coloquei bandadas para o alívio, quanto a Carvajal, foi apenas uma câimbra na perna direita durante o treino na academia. 

— Queria ir com vocês para Manchester — Sarah bufou se sentando na maca, onde segundos atrás Carvajal estava. 

Fiz bico apertando o recipiente de álcool gel.

— Também queria que você fosse, seria ainda mais incrível com nós 3 juntas. 

— Se você não gravar eu juro que te mato — seus olhos castanhos semi-cerraram e ela apontou uma daquelas unhas enormes pra mim. — Mas meu pai precisa de mim e você sabe como ele é. 

Sorri de canto. 

— Oh sei. Aliás, mande o beijo para ele. E amanhã assim que rolar tudo o vídeo vai estar nas suas mãos. 

— Acho bom mesmo, tenho certeza que vou chorar — ela abanou lágrimas de mentira. 

— Somos duas, agora se levante. Vamos comer! — Ela o fez e juntas seguimos para o restaurante.

— Mas também tem outro motivo para querer ir. Queria te ver no seu primeiro dia. To tão orgulhosa de você Mia! — Sorri e nos abraçamos de lado.

— To muito feliz com isso tudo, nervosa. Mas feliz, sei que vai ser trabalho em dobro e que as folgas vão ser mais escassas, embora vá ganhar mais por isso. 

— Tenho certeza que você vai dar conta, e vai ser muito feliz fazendo tudo isso. 

Meu sorriso aumentou.

O almoço foi breve, logo os depois o time inteiro foi treinar no campo algumas jogadas boladas por Zidane e seu assistente técnico. Enquanto isso Mihic e Santamaria me passaram algumas dicas, macetes e ensinamentos do regulamento. Claro que eu já vinha estudando as regras da UEFA desde que aceitei o trabalho, mas eles me falaram coisas que não conseguiria achar um livros ou na internet.  

Terminamos final da tarde e juntos seguimos para os alojamentos. 

— O jantar é servido as 7:30 — avisou Javier antes de rumar ao quarto. As vantagens de ser a única mulher da equipe é que eu era única a ter um quarto só para mim. 

Eu mereci amores...

Assim que entrei no quarto me joguei na cama, minha única mala despachada no canto. Voltar a aquele quarto era como voltar meses atrás, quando eu morei em um. Só sinto falta do serviço de quarto, mas estou muito feliz com minha casinha. 

Depois de passar uns 20 minutos na cama olhando aleatoriedades na internet decidi que devia tomar um banho. Como estava em um ambiente de trabalho optei pelo conforto e discrição, vesti uma calça daquelas folgadinhas da adidas, uma camisa preta do real usada pela comissão técnica ( ganhei várias, maior realização da vida trabalhar em um time patrocinado pela adidas ) e chinelos. Prendi os cabelos em um rabo de cavalo e estava pronta para voltar para cama e assistir algo na televisão quando meu celular vibrou em várias mensagens: 

Cupuaçu: Cadê você doutora? — Marcelo falou no grupo. 

Sim, temos um grupo. "Ela e os caras", eu e mais todo o plantel de jogadores do Real Madrid. 

Iscorrega: Mia, preciso da sua ajuda!

3º Melhor: Você vai descer quando hein? — Esse era Cris e ele simplesmente odiava como seu número estava salvo no meu celular, mas eu sou brasileira e pra mim existe dois Ronaldos na sua frente. O bruxo e o fenômeno, ninguém me fará mudar de ideia. 

Toni, o alemão bom ( esse foi ele que salvou ): Ela deve ta dormindo já. 

Eu: Deus! O que vocês querem hein? 

Casão: Olha ela aí!

Benzebaby: Já era pra você ter decido mocinha! 

Eu: Achei que vocês iriam descansar para amanhã. 

Cupuaçu: Mané descansar! 

Nacho: Uma coisa que você vai perceber com o tempo é que nós dificilmente descansamos pré-jogo. 

Eu: Nem se for uma ordem? 

3º Melhor: Dificilmente, Miacita. 

Eu: Até você Cris? O mundo está perdido! 

Eles riram de mim. 

Little Zidane: Mia anda logo! 

Revirei os olhos e levantei da cama. 

 

Todos estavam no salão de estar do CT, lugar que se fui duas vezes foi muito. Eles jogavam vídeo game, sinuca, poker ou só conversavam. Até mesmo Zizou estava lá, do jeito dele sentado atrás do computador, mas estava. 

Assim que cheguei os rapazes me chamaram para participar de cada jogo, mas Isco foi mais incisivo ao me puxar pelo braço para um lugar mais afastado. 

— Eu estou apavorado! Acho que vai dar tudo errado, quer dizer... e se ela não aceitar? Eu sei que aceitar vai implicar uma grande decisão para ela, porque eu não posso deixar o time e ela...eu não posso pedir que deixe a companhia. Ela ama dançar. E se parecer que estou a forçando a isso? Eu não quero que pareça... — ele falava sem parar para respirar. 

— Meu Deus Francisco! Pare com isso! Parece que nunca pediu uma mulher em casamento na vida! — Esbravejei o fazendo parar. 

— O que deu nele agora? — Marco indagou chegando próximo de nós dois. 

— Ele está nervoso com o pedido amanhã — Expliquei.

Isco respirou fundo. 

— E-eu nunca pedi, a mãe de Isquito foi mais...a gente só foi morar junto — o olhei nos seus olhos mel e suspirei. 

— É normal ficar nervoso, eu também ficaria se fosse pedir alguém em casamento, mas Isco a Amanda ama você e ela sabe que você jamais a pediria para abandonar algo que ela ama. Ela entenderá que esse pedido não será uma forma de obriga-la a nada, apenas uma declaração. Uma forma de dizer que é com ela que você quer passar e dividir sua vida, seja lá como ela for. Afinal, o casamento é uma forma que a gente encontra de simbolizar o amor que a gente sente, de deixar marcado aquilo. É muito mais que assinar um papel, dizer sim e depois beber até cair na festa, é dizer pra todo mundo e mais importante, pra aquela pessoa que é ela com quem você quer tudo, os momentos bons, ruins, as glórias, as derrotas, as dores, as doenças, as aventuras... — segurei suas mãos, um silêncio havia se formado entre os dois, ambos prestaram atenção, embora eu sinta que de formas diferentes. 

— Tenho certeza que ela vai entender que é sobre isso que o seu pedido fala, bro — Marco completou um passo a frente, bem ao meu lado. — Vamos estar ao seu lado amanhã caso não aconteça 

Isco riu e olhou para nós dois. 

— Obrigado, vocês são as melhores pessoas que podia ter perto de mim agora — eu e Marco sorrimos ao mesmo tempo. 

 

Voltamos mais para perto da galera, e se engana quem pensar que depois do jantar foram todos dormir. Fizemos um campeonato de FIFA e me senti no meio de um clube de meninos na época da escola. Uma forma de lhe dar um grupo de meninos é agir como um deles. Então la estava eu, xingando, batendo...só faltou coçar o saco. 

Mas antes que pudesse me vingar de Vazquez o relógio marcou dez horas da noite e eu como única membro da comissão técnica/médica presente tive que parar a diversão e mandar todos pra cama. 

— Ah! Estraga prazeres! — Nacho reclamou como uma criança birrenta. Mas a maioria dos homens são quando contrariados.

— Ta com medo de perder de novo, né? — Lucas me cutucou e eu ri. 

— Morrendo de medo, Vazquez. 

Estávamos voltando para os alojamentos quando o olhar de James cruzou com o meu. Nós obviamente não nos falávamos mais e eu passei um bom tempo para ter coragem de olhar na sua cara depois do que eu fiz. Eu odeio colocar a culpa do álcool, mas sei que sóbria e totalmente capaz de controlar as minhas emoções jamais faria aquilo, jamais me passaria por isso. Marcelo veio conversar sobre isso pouco tempo depois, ele não pediu justificativas, muito menos desejou entender, apenas falou que não contaria a ninguém, que não queria se envolver nisso e como amigo, me aconselhou a me afastar do camisa 10. Eu ouvi seu conselho, jamais dirigi minha palavra a James desde então, visto que depois de ter pedido para sair do caso nem Javier me deixava cuidar mais do meia. 

Naquela noite eu apenas tomei um banho, me joguei na cama e dormi pesado. 

 

… 

 

As sete da manhã já estávamos todos no refeitório tomando café para partir. Não comi muito, estava levemente ansiosa com tantos acontecimentos importantes que uma vez ou outra sentia um frio da boca do estômago afastando qualquer sentimento de gula de mim. 

Estava entregando a minha mala para colocarem no bagageiro do ônibus que nos levaria ao aeroporto quando Isco apare com uma criança ao seu lado. Pela expressão em seu rosto estava desesperado e levemente puto.

Era o filho dele, Isco Junior. 

— O que houve? — Perguntei sem conseguir esconder minha surpresa, atrás de mim senti alguns pares de olhares se verterem a mesma direção. 

Isco apenas sorriu de canto, carregava uma mochila com desenhos infantis nos ombros. 

— A mãe dele teve uma emergência de trabalho e não tinha com quem deixá-lo de imediato — falou ao parar diante de mim. 

Conheci o menino a um mês atrás quando ele estava passando parte que cabia a Isco da guarda. 

Suspirei, e trocamos um olhar significativo. Ele estava focado no pedido e no jogo, mas agora sua listando prioridades mudou por completo. Fora o fato de ser tão ensina da hora que teríamos que arrumar uma forma dele ir conosco no avião, de fazer o pedido no espetáculo e saber quem ficará com o menino durante o jogo. 

— Eai, Isquito! — Me abaixei para falar com o menino. Ele parecia demais com Isco. 

— Oi tia! — Sorriu para mim. — Como o Rome está? 

Nós havíamos saído para levar Rome e Isco Jr para o parque em um sábado.

— Ah! Ele está bem, mas sente falta das pipocas que dava a ele — seu sorriso se alargou.

— Cara, o que... — Marco chegou ao meu lado, mas a voz dele foi interrompida pela de Zidane, direta e categórica ( como sempre ) : 

— Isco o que está acontecendo? — O camisa 20 olhou para mim e Marco por segundos de puro desespero. 

— Vem Isquito, deixa o papai conversar um pouco com o técnico — estendi a mão para o menino que olhou para o pai antes de aceitar. — Você vem comigo também — falei entre dentes para Marco ao virar o rosto discretamente em sua direção. O meia anuiu entendendo o recado.

— Eai Tio Zizou! — O garoto falou arrancando um sorriso do francês. 

— Eai pequeno! — Ele ofereceu a mãos em punho para Isco Jr socar, o filho de Francisco o fez. 

Deixamos Isco explicar tudo a Zidane a sós, mas assim que voltamos ao aglomerado de jogadores a lado do ônibus houve várias perguntas, que só tinham uma resposta. Falei o que aconteceu enquanto alguns dos meninos brincava com Isquito. 

— E agora? — Indagou Vinicius Jr. 

— Eu não sei, mas vamos dar um jeito — garanti tentando ser positiva quanto todos me olhavam apreensivos e começaram a cochichar formas resolver o problema em seguida. 

Senti uma mão no eu ombro e virei o rosto, era Marco e ele parecia mais preocupado ainda: 

— Agora, eu te pergunto Mia: e agora? — Era uma pergunta apenas para mim. 

Comprimi os lábios e respirei fundo: 

— Você gosta de balé Isquito? 

O garoto apenas fez uma careta. 

 

 

Olhei para Isquito dormindo no colo de Isco durante o voo, era uma viagem curta de duas horas e graças a Deus tudo foi resolvido. Como o clube tinha o próprio avião cedido pela Emirates não tivemos problemas em levá-lo junto, conversei com Isco e Marco e nós decidimos que o levaríamos ao espetáculo, antes de embarcar mesmo o jogador mandou uma mensagem para Am explicando tudo e ela falou que ia dar um jeito de conseguir o ingresso, mesmo esgotado, que ninguém se preocupasse. Quanto ao jogo no domingo Am iria assistir então ela ficaria com seu estiado ( já posso chamar assim e vou chamar ). 

Isco que já estava nervoso ficou três vezes mais, por isso Marco foi ao seu lado no avião para conversar com ele e acalma-lo. 

Suspirei me aconchegando melhor na cadeira para ver o dia sobre as nuvens lá fora. Imaginei que teríamos muitas emoções em um só final de semana, mas porra...

Chegando em Manchester fomos direto para o hotel, obviamente passando por um corredor de fotógrafos, repórteres e torcedores antes de entrar no ônibus. Os rapares deram autografo e tiraram fotos antes de seguirmos viagem. 

O hotel ficava perto do Old Trafford ( o estádio deles ), onde por sinal iríamos treinar após o almoço. Ao chegar no quarto tive tempo apenas para tomar um banho, trocar de roupa e dar uma olhada nas redes sociais, logo desci para o restaurante do hotel. Por incrível que pareça vi madridistas na porta do hotel, achei que na Inglaterra pelo seu nacionalismo fosse mais difícil termos torcida. Estava errada. Mesmo sendo primavera o clima da Grã-Betanha era naturalmente mais frio e nublado. Por tanto vesti um casaco antes de rumarmos ao estádio. 

O treino foi com uma garoa fria e fraca, me protegi com Isquito nos bancos cobertos enquanto os meninos corriam pelo gramado do teatro dos sonhos ( era assim chamado pela torcida do United ). Como foi um treino aberto para a imprensa e na casa do rival nada de treinar as jogadas de ontem, apenas um bom aquecimento e jogo com um time titular contra reservas. Zizou não fez questão nenhuma de esconder quem seriam os titulares, não era esse tipo de trunfo que faria diferença amanhã segundo o mesmo. 

Graças a Deus ninguém sentiu nada durante o treino e tanto eu quanto Santamaria não fomos requisitados após aquecimento. Então aproveitei para brincar com Isquito, jogamos no iPad, brincamos com os filtros do instagram. No intervalo Isco o levou para brincar no campo com a bola, Marco, Lucas e Marcelo foram também. Eles correndo pelo campo rendeu lindas fotos e vídeos bem engraçados. 

Vi Marco acelerar na corrida, pegar Isco Jr pela cintura com um dos braços e ergue-lo fazendo cócegas com a mão livre. 

— Olha esse sorrisinho bobo aí — Tomas cantarolou ao meu lado. 

Como um estalo minha face relaxou. Eu estava sorrindo? 

— Risada de criança é muito gostoso, né? 

O fotógrafo sorriu, negando sabendo que eu estava desconversando qualquer que fosse sua insinuação. 

— É sim — concordou voltando colocar a máquina ante ao olho. 

É cada uma que me aparece viu! 

 

… 

 

Após o treino fizemos uma rodada de recuperação física e voltamos ao hotel. E enquanto a maioria da equipe estava com ordena expressas para descansar para o jogo, eu, Marco, Isco e o pequeno Isco Junior estávamos nos arrumando. No meu quarto ajeitei os cabelos com o secador do próprio hotel, fiz uma maquiagem simples, com um botão vermelho para disfarçar minha preguiça de criar olhos muito elaborados. Por último vesti um conjunto tweed branco com saia curta branca e casaquinho, por baixo uma camisa de gola alta da mesma cor. Nos pés botas creme de cano curto e salto fino, que deixo claro só usei por insistência e coesão de Sarah. 

Ao me olhar no espelho novamente decidir prender os cabelos em um coque baixo e deixando que os fios mais curtos da frente caíssem.  

Estava me olhando uma última vez quando bateram na porta do quarto, peguei a bolsa e o celular já imaginando quem seria. 

Assim que abri vi apenas Marco todo arrumado. Ele me olhou de baixo a cima bem devagar mesmo quando eu me virei para fechar a porta. Tentei agir com normalidade ainda sim.

— Onde estão os meninos? — Houve alguns segundos deley para ele responder finalmente assim que me virei de volta colocando a chave na bolsa. 

— Eles estão no carro, Isco desceu logo para colocar Isquito no banquinho. 

— Ah! — Sorri de canto. Nem lembrava que crianças precisavam disso. — Bom, vamos logo. 

Começamos a caminhar na direção do elevador. 

— Ele está mais calmo? — Indaguei e o jogador riu com as mãos nos bolsos da calça. Usava calça sarja bege, camisa social azul claro, tênis branco e um sobretudo cinza por cima, para completar o look ainda havia o cachecol azul marinho. Parecia que tinha pego umas dicas fashion de Carvajal ou de Ramos. Bom, admito que esse estilo caiu muito bem nele.  

— Uma pilha e olha que não acho Am uma das mulheres mais bravas — eu ri. 

— Ela tem seus momentos — ele riu também. 

Aquele silêncio constrangedor começou a crescer como uma parede de gelo entre nós dois, de alguma forma eu tinha receio de interagir com Marco, pode parecer idiotice afinal já se passou muito tempo que brigamos, mas sei lá...eu, no fundo, ainda me sentia um pouco culpada, irritada e temerosa. 

Descemos pelo elevador e na frente do hotel o taxi nos esperava. 

— Trouxe o anel? — Foi a primeira coisa que perguntei antes mesmo de entrar no veiculo. 

Isco puxou a caixinha de veludo de dentro do bolso me mostrando. 

— Buque? — Marco perguntou atrás de mim. O amigo ergueu o buque do banco, 40 tulipas cor de rosa. As flores favoritas de Am.

Sorri. 

— Você ta um gato, ela vai pirar — comentei finalmente adentrando o taxi. 

Isco sorriu também, seus cabelos estavam cortados mais baixo atrás e das laterais e em cima fios maiores bem penteados para o lado. Vestia calça alfaiataria apertadinha azul escuro, camisa social branca com gravata preta, um suster cinza por cima e então uma jaqueta azul escuro.  

— Valeu Mia! 

— Eu casaria com você cara — Marco falou se sentando ao meu lado gerando risadas no amigo. 

— Isquito você também está um gatinho — falei para o menino sentado no banquinho ao lado do pai. Ele sorriu erguendo a cabeça do seu joguinho. Usava calça de sarja bege, camisa polo e sueter azul royal como o pai, além dos pequenos tênis da adidas. A coisa mais fofa do mundo. 

— Obrigada tia! 

— Você é tão gay e eu te amo pisha — respondeu o camisa 22.

— Oh bro! Eu também te amo — olhei para os dois melosos com o cenho franzido. 

— Se Isco não fosse pedir minha amiga hoje eu juraria que ele iria te pedir Asensio — eles riram e depois se olharam com malícia. 

— Eu até aceitaria, mas estou em um relacionamento sério... 

Com a Marina. É, todo mundo já sab... 

— Com o Nacho — suspirou jogando o corpo contra o encosto. — Bigamia é crime, infelizmente — disse pesaroso.

Rimos. 

— Can I go? — O taxista perguntou em inglês. 

— Yes, please — respondi. 

O carro acelerou. 

 

P.O.V Narrador 

 

O carro se encaminhava para o Palace Theatre Manchester na rua mais conhecida da cidade, a Oxford Street. Lá dentro Isco esfregava as mãos, de instante e instante jogando o o dorso para frente e para trás contra o banco, impaciente e ansioso. Sua cabeça estava um turbilhão, ele iria pedir a mulher que amava em casamento sendo que eles passaram a maior parte do namoro separados, a quilômetros de distância e agora que queria mais, queria Amanda perto, queria conviver com ela, ter um dia a dia com ela, mas não podia pedir que saísse da Rússia. Não podia pedir para ela desistir de algo por ele, de seu trabalho por ele e ela também jamais cogitou a possibilidade para ele, embora o mesmo tenha pensado nisso algumas vezes. E depois me meses pensando sobre isso, sobre se aquela mulher era a certa mesmo ele percebeu que passou meses sozinho por ela, que aturou um relacionamento a distância por ela e que aquilo só fortaleceu os dois, só o fez ver que até mesmo uma imagem dela pela tela do celular, uma mensagem era melhor do que muito beijo por aí, que muito sexo sem compromisso. Então decidiu que por mais que eles ficassem afastados muito tempo, Amanda valia todo o esforço, era ela que ele queria, que ele amava. E era por ela que ele iria enfrentar todas as dificuldades. Mas o que o deixava nervoso era: será que ela acha que vale a pena fazer isso por ele?

Marco acompanhou o amigo por um mês, o ajudou em cada insegurança, cada medo, em todo o plano, até mesmo a escolher o anel ( com ajuda de Mia ). E isso tudo o fez refletir muito sofre o amor que leva alguém a fazer o que Isco estava fazendo. O amor grande o suficiente para fazer alguém enfrentar barreiras, mesmo as mais dolorosas. Ele admirou o amor de Isco por Am, porque em sua cabeça ele sempre quis um amor prático, fácil, sem dores, sofrimento, sem riscos. Um amor suave. E era isso que tinha com Marina, algo firme, fácil até certo ponto. Era fácil amar Marina, ela era a escolha mais óbvia desde o início, todos diziam que eles eram o casal perfeito. O jogador e a Miss, o casal de Mallorca. A família de ambos já se conheciam a tempos e o casamento pareceu sempre uma coisa certa. Até mesmo quando se separaram, todos acreditavam que iriam voltar uma hora ou outra. Então ele jamais experimentou esse amor intenso, esse que parece mais história de filme, que rasga o peito. Para ele era algo distante, mas ao ver o amigo viver aquilo e presenciar aquele tipo de sentimento Marco se perguntou se não devia haver algo mais entre ele e Marina, se um amor calmo era o tipo de amor que ele queria para sua vida toda e como seria sentir algo tão intenso por alguém. E naquele momento ali no carro ele pensava exatamente sobre isso ao olhar o amigo visivelmente ansioso. 

Mia por outro lado pensava na amiga e um filme se passava na sua cabeça. Desde quando elas se conheceram, todas as coisas que passaram juntas, as festas, o balé, as dores, os momentos mais felizes e as desilusões amorosas principalmente. E agora ela vai ser pedida em casamento, tendo em mente que Am aceitará ela está novamente participando de um momento especial com a amiga. Um momento que ela vai lembrar para o resto da vida e contará aos seus filhos. 

A doutora olhou para janela vendo a noite cair em Manchester, as luzes amarelas acendendo na cidade antiga, as pessoas encasacadas nas ruas. 

 

 

Uma construção do final do século XIX se erguia na esquina da Oxford St, os traçados mais retos e a ausência de decoração na fachada era indicativo de uma arquitetura mais moderna. Fitas led e luzes amareladas iluminavam, e no letreiro o nome do espetáculo assim como a companhia passavam, também logo acima um cartas anunciava com a foto promocional dos papéis principais, entre eles estava Am vestida de fada lilás. 

Eles desceram do carro já se deparando um multidão organizada na entrada, como era uma apresentação única no Norte da Inglaterra era uma noite de casa cheia. Mia ficou feliz pela amiga e pelos outros bailarinos, ver a plateia cheia era sempre incrível.

Apesar do burburinho na entrada do teatro eles não demoraram muito para conseguir entrar, apenas parando na porta para mostrar o ingresso a um dos funcionários, todos convidados pela companhia, inclusive o pequeno Francisco. 

— Cadeiras 13, 14, 15 e 16 da fileira D — avisou o homem alto com uniforme bordô. — Bom espetáculo. 

— Obrigado! — Agradeceram em uníssono. 

Dentro o teatro era o oposto do lado de fora, enquanto o exterior era austero, liso e um tanto frio o interior era decoração com painéis de mateira, lustres, paredes pintadas em tons  mais quente, vasos e até mesmo estátuas de pedra. Mas o que era de cair o queixo era mesmo o auditório. Madeira banhada a ouro ou simplesmente em sua cor original tanto dos parapeitos dos balcões laterais quanto nos balcões superiores, todos talhados em desenhos detalhados e no teto, com uma bela abobada central. As cortinas e cadeiras eram de veludo vermelho, havia mil delas. Exatamente 1.995 lugares, era enorme e magnífico. 

Caminharam pelo corredor até a composição central de cadeiras do primeiro andar, a fileira D era quinta, seguindo a sequência AA, A, B, C e D, a poucos metros do palco agora fechado. As suas cadeiras ficavam bem no meio, Isco pegando a 13, Isquito na 14, Marco na 15 e Mia na 16. O teatro foi enchendo aos poucos, porque muita gente deixava para entrar apenas minutos antes do espetáculo já que os lugares eram marcados. Enquanto isso cada um procurava formas de distração, Isco conversava com Isco Jr, ele queria que o filho se sentisse confortável e se divertisse também, Marco olhava o celular e Mia tirava fotos do ambiente. 

Dentro da pontualidade inglesa do Prólogo chamado de "O batizado" foi anunciado as oito em ponto, as luzes da plateia apagaram e as do palco se acenderam para então as cortinas pesadas de veludo abrirem. 

O cenário inicial era do batizado oferecido pelos pais de Aurora, o rei e a rainha. A música começou a soar, Tchaikovsky escreverá cada partitura em uma sinfonia perfeita para a peça. Altos membros da realeza, nobres altivos, cavaleiros do século XVII todos dançando uma contradança sincronizada. Ao redor outros dançarinos atuavam, formando grupos de conversa, brindando com taças em bebida cenografia. E ao fundo centralizado entre os tronos estava o berço da pequena princesa Aurora. A dança era linda e o cenário impecável. 

Houve uma pequena pausa na música causada pelo soar de um trompete e das laterais o rei e a rainha entraram no palco, ela carregando a princesa nos braços. Os monarcas foram recebidos por um silêncio respeitoso e o caminho se abriu para que seguissem até os tronos. 

Os quatro observavam tudo encantados, ainda mais quando as fadas madrinhas entraram para presentear a recém nascida. Eram ao todas sete fadas, cada um iria conceder um benção a princesa. Elas dançavam todas juntas o Grand Pas de Six, passos delicados, sutil, graciosos e simetricamente calculados. Giros, jetés, battements, adágios. Até que finalmente uma a uma foi se apresentando. Primeiro a Fada Candide ( pureza ), e toda de branco ela dança pelo palco com uma sutileza extremamente harmônica com a flauta e a harpa, como em um sonho. A próxima era Fada Migue ( encanto ), trajada em rosa ela exibia todo seu charme da dança, distribuindo a todos os monarcas isso. Em seguida a Fada Miolo de Pão ( fartura ) em amarelo, a Fada Canário ( alegria ) de laranja, a Fada dos Dedos ( energia ) de verde. Em cada uma Mia ia explicando a ele seus significados, Marco até perguntou a ela como era possível passar tanto tempo sobre a ponta dos dedos. A doutora sorriu, dizendo que era incrivelmente difícil, mas que com o tempo você começava a se acostumar. Até que finalmente a Fada Lilás ( sabedoria ) começou sua variação. 

Am começou a dançar com uma elegância e sutileza impecável, ela parecia flutuar sobre o palco girando nas trocas de um passo a outro. 

— Papai olha a tia Am! — Isquito apontou.

— Ela está linda não está filho? — Isco olhava para sua namorada com uma mistura de orgulho e encantamento. 

— Parece uma princesa — Mia sorriu com o comentário do garotinho. 

Ela realmente parecia uma princesa, dançando pelo palco infinitamente bela em seus movimentos languidos, delicados como se os braços fossem leves o suficiente para serem movidos pelo vento, como se ela fosse leve o suficiente. 

E assim que a Fada lilás finalizou seu solo sob aplausos assim como as demais a Coda se formou. As bailarinas que formavam uma meia lua ao redor do palco o preencheram, dançando em conjunto harmônico. As vezes em uma fileira de 8, as vezes em duplas até darem espaço as fada novamente, mas sem parar de dançar. Candide e Canário entraram nas pontas dos pés, dando saltos ao cruzarem de posição e depois girando para dar espaço a Migue e Miolo de Pão que mais dar abriram espaço para a Lilás sozinha fazer grand battements perfeitos entremeados por giros. Então a Fada dos Dedos entrou, girando ao redor da Lilás até que todas juntas concluíram a Coda.  

Aplausos tomaram conta do salão até o rei e a rainha erguerem-se do trono de mãos dadas e saudarem as fadas, mas o clima de harmonia é interrompido pelo estampido de um trovão que causa alvoroço. 

— É a Fada Carabosse — explica Mia. 

— Tipo a Malévola? — Isco indaga levemente confuso e a doutora meneara com a cabeça. 

— A malévola da versão original— disse. 

O rei vai falar com o mestre de cerimônia e descobre que a terrível fada não está na lista de convidados, ele se irrita com o homem e o manda embora sabendo o que isso pode causar na fada. Carabosse adentra o salão em um manto espesso e negro carregada pelo séquito de corvos. Ultrajada ela aponta o dedo para o Rei, alegando que no reino todo foi a única a não ser convidada. Desesperados, os monarcas tentam explicar, mas ela serpenteando pelo salão com o manto como uma calda diz que também quer dar um presente a Aurora. 

Devagar a fada se aproxima do berço, tal qual uma cobra rasteja até a presa. 

Quando o bebê completar 16 anos espetará o dedo em uma agulha e assim cairá em um sono eterno. 

A música irrompe alto, violinos, violoncelos e piano para transmitir a agonia da cena. Espanto corre pelos rostos de todos, o rei e a rainha imploram de joelhos para ela tirar o feitiço, mas ela nega com gestos dramáticos para dinamizar a encenação. As fadas dançam ao seu redor, tentando convence-la, mas os corvos as espantam protegendo Carabosse. Há uma dança  dos corvos, a fada mostrando seu poder no centro deixando todos aterrorizados. Até que a fada Lilás se aproxima e sozinha tenta pedir que a fada retire o feitiço. Ela dança delicadamente ao redor da Fada de preto, os gestos imitando uma súplica. Carabosse ergue o manto sobre os olhos como se doesse leva, ver sua bondade. Mas ela estava irredutível. Encorajadas pela Fada da Sabedoria as demais voltam, mas agora para enxotar a fada má que amaldiçoou a pequena princesa. Dançam com uma delicadeza letal, e o dobro de energia expulsando enfim a fada má. 

Todos comemoram, mas logo o clima pesaroso volta. A rainha corre para perto do berço da filha e o rei fica atrás dela a consolando. E novamente a Fada Lilás toma posição. Ela vai caminha suavemente até o berço. 

— A fada lilás ainda não deu o seu presente — a doutora falou baixinho. 

Os braços delicados ondulam e ela dança como uma bailarina em uma caixinha de música, tão doce e serena até descer a mão para dentro no berço. 

Contra Carabosse era diz que Aurora não caíra em um sono eterno, mas dormirá até receber o beijo de um príncipe. 

O rei perdoa o mestre de cerimônia e então proíbe todos os objetos afiados do reino.

 

Mia tinha lágrimas dos olhos quando o ultimo ato aconteceu. A linda imagem do Príncipe Désiré dançando com Aurora, as fadas flutuando ao redor abençoando a união fazem todos aplaudirem se erguendo das cadeiras. Marco olhou ao redor e viu o teatro inteiro de pé, até mesmo ele que nunca tinha ido a um espetáculo de balé achou fantástico. Isquito pulava animado e aplaudindo ao mesmo tempo, ele tinha adorado. 

O espetáculo foi lindo do início ao fim, as danças e a atuação junto com as musicas de Tchaikovsky mostrou que todo os meses de preparo árduo valeram a pena. Mia e Isco sabiam o quanto Am se esforçou, o quanto ela treinou por horas, todos os dias da semana, eles sentiam orgulho e felicidade pelo êxito dela. 

A doutora até passou as mãos abaixo dos olhos para não deixar as lágrimas caírem, mas não teve muito tempo para degustar suas emoções. Teria muito mais pela frente. 

A cortina ameaçava fechar quando os quatro se esgueiraram pela fileira até chegar ao corredor. Isco com o buque na mão e as alianças no bolso, Marco carregando Isquito e Mia na frente os guiando para fazer tudo como planejado. 

Pegaram o corredor lateral até o palco, ou melhor até uma pontinha que dava acesso a coxia. Batem na porta e a segurança abriu, estava prestes a dizer que o acesso só era permitido a pessoal autorizado quando dia falou apressada e direta:

— O pedido, viemos pelo pedido — a mulher anuiu. 

A mais de uma semana que Mia falou com a companhia sobre o que queriam fazer, precisavam da permissão antes de tudo. Mas felizmente deu tudo certo.

— Tudo bem, entrem. 

Entraram rapidamente subindo as escadas até as laterais que davam acesso ao palco. Nesse exato momento ouviram aplausos e os bailarinos coadjuvantes que preenchiam parte daquele espaço entraram no palco. Mia olhou pela entrada lateral vendo as cortinas abertas e as fileiras de bailarinos, dos com menos atuação aos principais. Cada um agradecendo com uma mensura conjunta. 

Acompanharam tudo ali do lado, escondidos. Marco olhou para Isco, ele batia o pé contra o chão ansioso. 

— Vai dar tudo certo cara — afirmou passando a mão no ombro do amigo, Isco olhou para ele e sorriu de canto. — O que você acha Isquito? A Am vai aceitar seu pai? 

— Ela é uma fada papai, ela é boazinha, vai aceitar porque o senhor também é bom — a lógica do pequeno fez os três sorrirem. 

— Ele tem razão — Mia falou. 

Isco suspirou olhando para a fileira onde Am esperava para tomar a frente e agradecer pelas palmas com todas as fadas. 

" Ela estava tão linda e minhas mãos suavam de nervoso com a eminência do que eu estava prestes a fazer. " 

Primeiro a fila com as fadas normais, depois a do chefe de cerimônias, o seu assistente cavaleiro e nobres até que enfim foi a vez da fila dos protagonistas. As fadas madrinhas, o rei a rainha, Carabosse, o príncipe e Aurora. 

O público em pé aplaudiu enquanto todos se abaixaram em uma mensura sincronizada. Depois os demais deram um passo atrás para apenas a primeira bailarina da companhia, a que fez Aurora tivesse seus aplausos, recebendo um buque do diretor como era de prache tanto na estreia como na última apresentação. 

— Pode ir — a segurança falou com o camisa 22 e ele anuiu respirando fundo antes de dar o primeiro paço para o palco. 

As mãos de Mia suavam segurando o celular pronta para gravar tudo, Marco por dentro estava também muito ansioso. Ambos se empoleirando da coxia para ver a cena. Até o próprio Isquito estava curioso.

Isco caminhou ao lado das fileiras de bailarinos que a medida que ele passava iam reagindo de formas diferentes, faces com sorrisos, outras surpresas demais para o fazer apenas levavam as mãos a boca. Até que ele chegou na frente do palco e Am finalmente descobriu o motivo dos cochichos atrás de si. 

Ela olhou para ele inteiro diante de si, a meses que não se viam e só de vê-lo tão de perto as lágrimas encheram seus olhos. 

Ele também tinha lágrimas nos olhos e ambos sorriram um para o outro.  

A primeira bailarina e o diretor com sorrisos recuaram para o jogador se aproximar. E por um momento para os dois o mundo pareceu estar em câmera lenta. 

E assim que ele começou a andar na direção dela, com os olhos nos seus ele pensou que jamais sentiu tanta certeza na vida antes. 

Am tremendo sobre pernas o viu se aproximar com aquele buque lindo de tulipas cor de rosa claro, suas favoritas. Toda a atenção do teatro estavam sobre eles naquele momento, celulares, olhos, câmeras.

— Eu senti tanto sua falta — ela disse deixando uma lágrima cair ao receber o buquê, ele sorriu alisando seu rosto e limpando a lágrima. 

— Eu também — sussurrou, também deixando uma lágrima escorrer. — Sabe desde que eu te vi pela primeira vez algo dentro de mim sabia que esse dia chegaria. 

Mas se a bailarina já estava com o coração acelerado ele quase parou quando o galáctico se colocou de joelhos diante dela. 

— E hoje aqui diante de você eu sei que seria o homem mais feliz do mundo se você me desse a honra de dividir essa vida com você — fora totalmente improvisado, mais foi o que veio no seu coração naquele momento. 

Os lábios dela tremeram, na realidade o corpo todo tremeu como uma vareta contra um vento de tempestade. 

— Por isso — Isco sorriu levando uma das mãos ao bolso de onde tirou uma pequena caixinha. Am levou a mão livre aos lábios, mais lágrimas deslizando pelas suas bochechas, e um sorriso nervoso por trás dos dedos. Ele abriu a caixinha relevando um anel de ouro com um diamante no meio e dois menores de cada lado. — Amanda Moraes, aceita se casar comigo? 

Ela ao menos conseguia emitir algum som, mas apenas anuiu fazendo o jogador sorrir de alívio e felicidade. Tirando a mão diante da boca ela deu esta a ele tremendo tanto que Isco alisava ( embora também tremesse ) para acalma-la enquanto colocava o anel no dedo médio. Eles sorriram um para o outro, ele se ergueu e Amanda já o puxou para um beijo cheio de saudade, paixão e carinho.

Mais aplausos tomaram o teatro, todos aplaudindo até mesmo a equipe de som, luz, produção, maquiagem e o próprio elenco do espetáculo. 

Sorriram ainda com as testas coladas e se abraçaram com a força de toda a falta causou, um coração disparado contra o outro, unidos. 

Mia e Marco já haviam saído de trás da coxía e a poucos metros viam a cena emocionados. A doutora parou de gravar, porque havia tantas lágrimas nos seus olhos que não conseguia enxergar as imagens no celular, já o jogador estava apenas mareados, porque não era muito de chorar. Isquito estava animado, comemorou com um " Uhull" que fez quem estava por perto rir.  

Eles agradeceram ao público pelos aplausos e as cortinas se fecharam.   

Isco vira para trás e vê Marco e Mia ao lado da primeira bailarina e do diretor, o jogador sorri para eles e ergue o braço como se bradasse: Consegui! Am olhou na mesma direção e seu sorriso aumentou ao ver os três. O casal seguiu até o trio. 

Isquito se jogou para os braços do pai o abraçando com força, Isco o apertou contra si e depois recebeu os comprimidos do amigo.  

Tapinhas na cara com a frase: 

— Agora não tem como voltar atrás hein?! — Eles riram. — To muito orgulhoso e muito feliz por você, irmão. 

Am e Mia se jogaram nos braços uma da outra, ambas com lágrimas dos olhos novamente. 

— Sua vaca você sabia de tudo — gemeu baixinho. — Planejou tudo pelas minhas costas.

Mia sorriu. 

— Obrigada — sussurrou. 

A doutora apertou a amiga com força contra si e depois a pegou pelos ombros afastando-se um pouco. 

— Você vai casal! — Ela berrou. 

— Meu Deus! Eu vou casar! — Berrou a bailarina. 

Todos os colegas de trabalho quiseram cumprimentar os noivos então um círculo se formou ao redor deles para que o fizessem. 

 

… 

 

 

— Não tem problema, cara. Eu cuido dele e você vai aproveitar a noite com sua futura esposa — Marco insistiu. 

Tudo havia sido planejado de forma que Isco e Am tinham uma reserva em um restaurante bem chic de Manchester. Mas a vinda de Isco Jr dificultou a situação. 

Isco olhou para Marco um pouco hesitante. Tudo o que ele mais queria era ficar mais tempo com Amanda depois de tudo, mas o filho era responsabilidade dele e... 

— Relaxa Isco, eu ajudo Marco. 

O jogador ponderou por segundos, então olhou para os dois novamente. Mia anuiu como forma de assegurar que não tinha problema. Ele sorriu de canto.

— Vocês são demais sabia, eu nem sei como agradecer — ambos sorriram. 

Mia pegou a bolsa. 

— Você me agradece — a vasculhou e pegou o cartão/chave do seu quarto. — Tendo a noite que vocês merecem — e entregou a ele. 

Isco pegou aquilo sem saber o que dizer. 

— Só não deixem ninguém saber disso ta? Ou eu vou ser despedida — falou ela. 

O camisa 22 sorriu e abraçou a fisioterapeuta. 

— Obrigado — ela sorriu também. 

Am surgiu no corredor sem a maquiagem do espetáculo e com um vestido curto vermelho, meia calça, sobretudo e botas pretas. Parecia um boneca com seus cabelos loiros, cílios bem negros pelo rímel e delineador de gatinho. 

Isco ergueu a chave do quarto para ela assim que chegou perto. 

— Parece que vamos ter uma noite — ela sorriu maliciosa. — Marco e Mia vão cuidar de Isquito e Mia também nos cedeu seu quarto. 

Os olhos da brasileira brilharam. 

— Vocês poderiam fazer isso mesmo? — Nós anuímos. — Quer dizer podemos levar Isco conosc...

— Claro que sim, nem se preocupe que o pequeno Francisco está em boas mãos — Marco falou puxando o menino para perto de si. — Não é Isquito? — O garoto olhou para o tio e depois para o pai e Am anuindo em seguida. 

— Obrigada, vocês são amigos incríveis — Am disse com um sorriso de gratidão. 

 

… 

 

Assim que chegaram no quarto que Marco e Isco dividiam com Isquito Mia foi tirando a bota para ficar mais a vontade. A noite seria longa e ela queria ter o mínimo de conforto. 

Marco tirou o sobre tudo e o cachecol os colocando no armário embutido no corredor. 

— Isco disse que ele dorme as 9:00, então já deve estar com sono essa hora — ele disse olhando para o pequeno menino sentado na cama assistindo televisão. 

Ela anuiu e depois falou.

— Bom, damos banho e depois colocamos para dormir. Não vai ser difícil — olhava para Isquito e depois fitou Marco buscando confirmação. 

— É claro que não, ele é tão pequeno, não pode dar trabalho. 

Parados um do lado do outro estavam dois adultos que não sabiam muito bem o que fazer.

— Você dá banho e eu visto — Mia não o deixou responder seguindo até a cama onde estava Isquito. — Tio Marco vai te ajudar no banho. 

O camisa 29 arqueou as sobrancelhas, não tinha muita experiência cuidando de crianças. Embora todos seus amigos tivessem filhos pequenos nenhum deles ficou sobre seus cuidados. Mas isso ia acabar começando uma hora. 

Respirou fundo e caminhou até eles.

— Bora tomar banho cara! — Soou animado.

Isquito fez careta gemendo em desagrado. 

— É! Quando eu tinha sua idade não gostava de tomar banho também — Marco sentou ao lado do menino. Mia o olhou com o cenho contraído. — Mas quando a gente crescer percebe que é algo importante. Evitamos muitas doenças com o banho, sabia? 

Isquito tinha a postura relaxada, a coluna curvada e os braços entre as pernas e apesar de sua desanimação ele prestava atenção.

Mia observava a situação querendo ver até onde Asensio ia.

— Você não quer ficar doente, não é? — O jogador inclinou a cabeça par o lado querendo uma resposta. 

O garoto suspirou. 

— Quando eu fico doente eu não posso brincar — seus pés tamborilaram na beira da cama e depois pulou dela. 

Marco sorriu de canto e passou a mão na cabeça dele.

Os dois seguiram para o banheiro juntos, Marco conversando com Isquito. Mia se sentou na cama fitando a televisão, desenho passava, mas à tanto tempo que ela não via isso que não fazia ideia de qual era. 

Alguns segundos se passaram e o aquecedor começou a fazer efeito a fazendo retirar o casaco. Outra coisa que também fez efeito foi o tempo sem comer.

A doutora caminhou até o banheiro e abriu a porta devagar, mas a cena a fez parar. Marco com a camisa dobrada até os cotovelos ensaboava a cabeça do menino na banheira, ambos cantando uma música em espanhol ( que ela não conhecia ) animadamente. Um sorriso de canto nasceu no rosto de Mia que ficou observando por uma fresta com pena de interromper aquele momento. 

— Hora do mergulho! — Bradou o jogador e o filho do amigo afundou na banheira com tudo. Água esboroou da banheira, gerando respingos na calça de Marco, mas ele já estava acostumado.

Quando Isquito voltou a espuma dos dos cabelos escorriam pelo seu corpo. Ele manteve os olhos apertados até Marco passar os dedos sobre eles. 

— Pronto garoto! — Isco Jr abriu os olhinhos piscando um pouco. — Até que não foi tão ruim, foi? 

Isquito sorriu negando. 

Mia percebeu que eles iriam sair a qualquer momento e ensaiou novamente sua entrada. Dessa vez os meninos a notaram. 

— O que acham de serviço de quarto?

O sorriso de Isquito aumentou, Marco e eles trocaram olhares.

— Pizza! — Falaram juntos erguendo os braços em comemoração. 

A doutora sorriu. 

— Vou pedir.

Ela voltou para o quarto para pedir. Marco e Isco chegaram depois, Isquito enrolado na toalha. 

— Onde ta a mala dele? — A doutora perguntou.

— Vou pegar — ele rumou até o armário e voltou com uma mochila com desenhos. 

Mia pegou a mochila em colocou em cima da cama, a abriu e vasculhou até achar tudo o que precisava. Isquito sentado na beira da cama esperou enrolado na toalha tamborilando as pernas. 

A brasileira pegou um pijama, calça comprida e camisa de mangas longas. Também uma colônia e uma escova. 

— Deixa eu tentar — pediu o menino já vestido. 

Mia o entregou a escova e Isquito pulou da cama parando diante do espelho para começar seu trabalho. 

Ela e Marco observaram ele passar as cerdas da escova pelos cabelos de maneira engraçada, rápida demais. Quando ele parou, ficou se olhando por alguns segundos.

— Olha só, Marco. Que garoto independente! — Chamou atenção fazendo o menino virar sorridente. 

Marco sorriu. 

— É um rapaz já! 

— Vem cá, passar perfume —Isquito voltou com um sorriso animado e os cabelos estavam até bem penteados. 

Derramando um pouco de colônia na mãos ela foi passando dos cabelos, nas roupas até que bateram na porta. 

— Eu atendo — Marco saltou da cama. 

— Pizza! — Mia e Isco comemoraram.  

O cheiro da pizza incensou o cômodo conforme o jogador foi passando para depositá-la sobre mesinha próxima a janela. Os três se sentaram ao redor com os olhos brilhando diante do queijo derretido, a massa... 

— Pedi quatro queijos — Mia falou, ela lembrava bem que era o sabor favorito de Marco e um dos que mais gostava bem. — Você gosta, não é Isquito? 

O menino anuiu com os olhos fixos na comida. 

Marco notou o sabor e sorriu para a fisioterapeuta. 

— Tanto tempo que eu não comia pizza de quatro queijos— comentou ele enquanto servia Isquito que nem falava de tão ansioso para comer. 

— É, a dieta do clube tem sido bem rígida — Marco colocou um pegado para ela. — Aliás, eu sinto que você não deveria estar comendo isso...pelo que eu lembre bem o jantar era caldo verde e omelete. 

O camisa 20 fez careta. 

— Se você não contar eu não conto — se serviu por último. A doutora estreitou os olhos e ele uniu as mãos com aquele olhar de pedinte de piedade. 

Ela suspirou. 

— Tudo bem, será nosso segredo — receosa de que tivesse soado estranho ela acrescentou: 

— Está ouvindo Isquito? — O menino ergueu os olhos do prato, usava a faça e o garfo de forma atrapalhada. — Nosso segredo a pizza, tudo bem? 

Ele anuiu, os olhinhos esverdeados como os do pai. Marco sorriu de lábios colados devido a sua boca cheia.

— Bom garoto! — Disse após engolir piscando para o pequeno.

— Deixa eu cortar pra você. 

A verdade é que não era a dieta do clube que não o fazia comer pizza a muito tempo, Marina ela detestava quatro queijos e quando pediam pizza o máximo que ela conseguia comer era uma mussarela então...não eram culpa apenas do clube. 

Mas ele não ia falar sobre minúcias do seu relacionamento com Mia, primeiro que ela não deveria estar interessada, segundo que não tinha nada haver. 

Os três comeram toda a pizza enquanto assistiam desenho, mas ao contrário do que Mia e Marco pensavam Isquito não pareceu cansado, ou com sono. 

— Precisa dormir Isquito! — Marco falou. 

— Mas eu não to com sono — ele gemeu fazendo bico. 

— Amanhã vamos ter que acordar cedo e não vai ter onde dormir — era mentira, porque elas podiam dormir pelo menos até a hora do almoço, mas Isco disse que ele dormia as nove não parecia certo burlar as regras. 

— Eu não posso ficar com você no banco? — Olhou para a doutora com aqueles olhinhos brilhantes.

— Eu vou estar trabalhando, então não — ele fez uma carinha triste de partir o coração. 

Mia olhou para Marco pedindo ajuda. Ele engoliu seco, fitando os dois. 

— Que tal a gente brincar de pique esconde no corredor? 

— É! — Isquito se levantou animado esticando os braços acima da cabeça. Mia virou a cabeça fuzilou o jogador deitado em sua cama. Ele sorriu amarelo. 

— Vamos brincar! 

Os dois se levantaram e seguiram com Isquito para fora do quarto. 

— Você é um péssimo babá — grunhiu Mia entre dentes. Marco fingiu estar ofendido. 

— Ah! Qual é?! Aposto que estava louca pra brincar — ele piscou indo na frente dela.

Mia prendeu o riso. 

— Você conta! — A doutora diz passando por ele e indo até a criança bem a frente deles. 

Marco resmungou. 

Os corredores estavam vazios àquela hora da noite, sem hóspedes seria mais fácil fazer a brincadeira. 

Marco parou diante da parede entre os quartos 1022 e 1024.

— Até 50 Marcos! — Cantarolou Mja, o fazendo virar para com os olhos cerrados.

— Você vai ser a primeira — apontou. 

Ela virou-se andando de costas. 

— Ta me ameaçando Marco? — Havia um sorriso pretensioso nos seus lábios. 

— Ah! To sim — ele sorriu também. 

Mia negou girando de volta.

— To morrendo de medo! — Cantarolou novamente. 

— Devia estar mesmo. 

Isso instigou o jogador que tinha um sorriso nos lábios enquanto se virava para contar. Por instantes pareceu que jamais tivessem brigado e ele se sentiu feliz por estar ali com ela, com eles. 

— Um, dois... — sua voz soou alta para que ouvissem a contagem. Tanto Mia quanto Isquito começaram a correr pelo corredor buscando lugares bons para não serem descobertos. 

Para o garoto era mais fácil, ele era pequeno e conseguiu achar no roll um aparador maior que ele para se esconder atrás. 

Mia olhou ao redor, o corredor seguia depois do roll, mas eram apenas dezenas de portas fechadas sem nenhum buraco para se enfiar. 

— 40! — Marco berrou.

— Aí que merda! — Xingou em um sussurro buscando desesperadamente um lugar, qualquer que fosse.  

Ela começou a caminhar na direção do corredor, talvez houvesse outro roll, uma alcova...de qualquer forma não podia ficar ali. Seria fácil demais. 

— 45! 

Passos apressados pelo corredor, seus olhos caçando, o coração acelerado, a adrenalina correndo pelas veias. 

— 50! Aí vou eu! — A voz de Marco ecoou. 

— Porra! — Rosnou acelerando. 

O jogador começou a andar pelo corredor, os olhos examinando tudo ao redor. Ao chegar no roll buscou nos lugares mais óbvios, viu os pés do pequeno Isco na parte de baixo vazada do parador, mas decidiu que não o pegaria. Não agora. 

Ele seguiu a diante. 

Ela quase corria pelo corredor, dobrando na esquina até que... 

Uma mão envolveu seu braço a puxando para trás. 

— Te peguei! 

Talvez pela surpresa, ou pela adrenalina Mia soltou um gritinho no susto. Marco sorria vitorioso, os seus corpos a poucos centímetros um do outro em um corredor vazio, iluminação amarelada suave. 

— Eu avisei — a voz soou rouca e cheia de satisfação. 

Mia, embora frustrada, sentiu o corpo reagir imediatamente a todas as condições. O coração disparou, o corpo estremeceu, até mesmo a respiração saiu um pouco do controle. 

Marco percebeu toda a situação com alguns segundos de atraso, seus corpos próximos demais, os olhos castanhos claro dela nos dele, a boca entre aberta puxando o ar devagar. 

— Mas que merda vocês estão fazendo? — Os dois se viraram na direção da voz. 

Mallo estava parado só pijama na porta do seu quarto. Havia acordado com o grito de Mia e achou que era algo sério. Só não imaginou que seria a fisioterapeuta e o jogador juntos no meio da noite em um corredor de hotel. 

Marco e Mia se afastaram de imediato. 

— N-nós... — ela olhou para Marco procurando o que dizer. 

Mas nem mesmo o jogador sabia que desculpa dar. Não pode dizer que estavam cuidando de Isquito, porque isso o faria perguntar onde Isco estava. Então não poderiam dizer a verdade. 

Mallo olhava para os dois em uma desaprovação mais por serem tão indiscretos do que pelo o que poderiam estar fazendo. 

— A gente só esta... — Marco tentou, mas Mallo negou balançando a mão. 

— Esqueçam, ta bem? — Suspirou. Não queria explicações, não ligava se estavam juntos, apenas queria um jogador pronto, com pelo menos oito horas de sono amanhã. — Só não durmam muito tarde e não façam barulho demais. O resto do corredor precisa dormir.

Ambos coraram veementemente, mas anuíram. 

Mallo fechou a porta, os deixando sozinhos novamente. 

Um clima estranho se formou por alguns segundos até Marco falar: 

— Você viu o pijama de Fronzen dele? — Mia até tentou conter a risada, mas não conseguiu. 

Os dois tapavam a boca tentando abafar as risadas que saiam cada vez que lembravam no pijama de Mallo assim que abriu a porta. Eles caminhavam pelo corredor de volta ao ponto de contagem. Lágrimas enchiam seus olhos. 

— Seu idiota! Me deu um susto! — Ela o empurrou limpando abaixo dos olhos. 

Marco sorriu. 

— Desculpa, mas foi engraçado. 

Ela negou.

— Eu conto então — disse assim que chegaram no ponto de contagem. 

— Mas eu bati salve todos — A vozinha de Isquito soou atrás deles. 

Mia sorriu largamente e correu até o menino o abraçando. 

— Ae Isquito! Você arrasou! — Ele riu batendo a palma com a dela. 

— Você não me pegou tio Marco! — Zombou o menino. 

Marco bufou. 

— De novo não — gemeu. 

— De novo sim! 

"Agora que a brincadeira estava ficando boa." — Pensou Mia com um sorriso malicioso. 

 

...

 

Foram algumas rodadas de pique esconde, outras de pega pega. E chegou um momento que não era mais apenas para cansar Isquito, porque os três estavam se divertindo tanto que nem viram o tempo passar. Correndo pelos corredores, desviando dos raros hóspedes que apareciam ou das camareiras e consierges. Isso durou até uma e meia da manhã, saindo totalmente do planejado já que o horário do menino era nove e o deles meia noite. Mas nenhum deles estava se importando, não mais.

Isquito bocejou coçando os olhos assim que tinham finalizado mais uma rodada. 

— To com sono tia Mia! — A doutora sorriu de canto, achou tão fofo a vozinha de criança manhosa com pijama e tudo. 

— Tudo bem, vem! — Ela ofereceu os braços e o menino deu um passo para frente esticando os braços para cima. 

Mia o pegou no colo e no exato instante Marco apareceu atrás dos dois. 

— Ue? Já cansou Isquito? — Indagou o jogador. 

— Uhum — falou abraçando o pescoço da doutora e deitando a cabeça no ombro dela. 

 Marco sorriu de canto. 

— Acho que ta na hora de voltarmos para o quarto — falou e assim eles o fizeram. 

No caminho de volta o menino já havia dormido pesadamente. 

— Parece que acabamos com ele — a doutora sorriu. 

— Quase um dardo tranquilidade, ele capotou mesmo — Marco sorriu também. 

— É, pelo menos agora já sabemos forma mais cansativa de colocar uma criança para dormir. 

Eles riram. 

— Quer ajuda? Ele é meio pesado — ela negou. 

— Relaxa, ta tudo bem! 

No quarto Mia o colocou na cama de Isquito, o menino se encolheu contra os travesseiros então ela o cobriu. A médica naquele momento se perguntou como seria ter uma família e colocar seu filho na cama toda noite. Será que ela parecido com o que ela sentia agora? 

Com os olhos na cena Marco sentiu o coração esquentar no peito, foi uma sensação estranha, remetia a lar, carinho e família. 

Devagar a doutora se afastou do garotinho e com um suspiro se virou para o jogador. 

— Melhor eu descer, você precisa dormir e descansar — ela disse já indo pegar o terninho. 

— Não — ele falou rápido demais e se puniu por isso mentalmente. 

Mia parou no meio do caminho e olhou nos olhos do meia. 

— Espera eles aqui, pelo menos está em um quarto. O saguão não pareceu muito confortável — acrescentou com medo do que podia ter parecido. 

Ela ponderou um pouco. 

— Eu não quero te deixar desconfortável — falou fazendo com que silêncio se fizesse por alguns poucos segundos. 

— Não vai, relaxa — a resposta veio de um Marco mais sério. 

Mia comprimiu os lábios e então assentiu. 

— Tudo bem — ela se sentou na cama de Isco. 

O espanhol sorriu fraco. 

— Vou tomar um banho, ta bom? 

— Fica a vontade, por favor. 

— Você também — ele manteve os olhos nos dela e o olhar que trocavam pareceu intenso demais por alguns segundos, pelo menos até ele formular um sorriso e se virar. 

Mia virou-se para a televisão e a ligou, teria que arrumar uma forma de passar o tempo. 

Minutos mais tarde Marco saiu do banheiro com uma nuvem de vapor ao seu redor. Vestia uma calça de moletom cinza e uma camisa branca simples e secava os cabelos unidos com a toalha. 

A doutora, da cama, espiou de canto de olho. 

"Ele continuava bem sexy." 

O pensamento a fez chacoalhar a cabeça voltando o olhar para onde não devia ter saído. 

Com a toalha no pescoço Marco se jogou na sua cama e pegou o celular, deslizando o dedo sem buscar algo em específico. 

Para ambos era estranho estar em um cômodo praticamente sozinhos. Estranho porque já tiveram intimidade, porque se isso acontecesse meses atrás eles estariam na mesma cama juntos, mas agora pareciam estranhos. 

"E o momento que tivemos minutos atrás não passou de um momento." — Ela pensou. 

Minutos se passaram e o silêncio dominava o quarto até que um gritinho e um movimento brusco faz ambos olharem para o mesmo ponto. 

O menino tinha o corpo trêmulo, as mãos apertando o cobertor, os olhos espremidos. 

— Ei! Ei! — Mia balançou levemente o ombro de Isquito até que ele acordasse. 

Marco se colocou do outro lado da cama, o cenho franzido em preocupação. 

Ele acordou, os olhos esbugalhados de medo. 

— Ta tudo bem agora! Ta tudo bem! — A doutora assegurou alisando seu rostinho angustiado. 

— Foi horrível! — Choramingou abraçando o corpo de Mia. 

Ela o apertou contra si, afagando seus cabelos e então olhou para Marco. 

— Foi um pesadelo, cara — o jogador falou esfregando as costas do menino. — Estamos com você — afirmou. 

Devagar Isquito foi se afastando, os olhinhos mareados foram limpos por Mia. 

— E-era um mostro muito feio, ele estava atrás da cortina — apontou. 

Mia e Marco olharam-se e o jogador se levantou indo na direção da cortina. 

— Não tem nada atrás da cortina — falou de forma calma e carinhosa. 

Isquito se encolheu um pouco, mas Mia sabia que era necessário. 

— Não era real — ela sussurro e então Marco abriu a cortina devagar mostrando que atrás dela só havia a parede. 

— Ta vendo? Ta tudo bem — Garantiu. 

Isquito relaxou. 

— Quer voltar a dormir? — Perguntou a médica. 

— E se eu tiver outro pesadelo? 

Marco voltou para a cama e se sentou ao lado dele. 

— Não vai ter — ele disse. 

— Como sabe que não? — Um sorriso de canto se formou no rosto do jogador.

— Você é um garoto forte, se existisse um monstro, ele não seria páreo pra você — falou fazendo um sorriso nascer nos lábios de Isquito. — Mas mais que do que forte você é esperto, e garotos espetos vêem o mostro e percebem que ele não é real. 

Foi a vez de Mia sorrir. 

— Já sabe como enfrentar o mostro se ele aparecer. 

— Só dizer que ele não é real — Isquito afirmou bocejando logo em seguida. 

— Isso aí garoto! — Marco aprovou. 

— Agora se ajeita, ta na hora de voltar a dormir — o menino o fez puxando a coberta pra cima e se aconchegando. 

— Obrigado tio Marco e tia Mia — falou em um suspiro de sono já fechando os olhinhos. — Boa noite. 

— Boa noite Isquito — os dois falaram juntos. 

Eles ficaram ali, um de cada lado do menino como se sentissem que aquele lugar era o certo. O lugar perfeito. 

Em suas cabeças a desculpa era que estavam cuidado do filho de Isco e que era melhor estar perto caso ele tivesse outro pesadelo, mas no fundo não era apenas isso. 

— Ta animada com sua estreia? — A voz de Marco soou em meio ao silêncio, a não ser pelo barulho baixo da televisão. 

Ele virou os olhos para ela buscando a resposta em além de suas palavras. 

Mia ergueu os olhos para ele um pouco surpresa com a interação, mas estranhamente agradecida por ela.

— Sim e nervosa também. — O canto do lábio de Marco se ergueu. 

— Não precisa ficar, vai perceber que é mais difícil estar naquela sala e cuidar da gente diariamente do que ficar na beira do campo e no vestiário. 

Um suspiro seguido de um sorriso fraco. 

— Espero que você esteja certo. 

— Já passou coisas piores, mas eu tenho certeza que vai adorar — o sorriso dela aumentou. 

— Cris disse que é viciante a adrenalina do campo — Asensio concordou com a cabeça. Mia parecia empolgada e ele estava feliz por ela e sua conquista.  

— Totalmente, não vai querer estar em outro lugar — sorrindo ela fitou a parede creme. 

Sentiu vontade de conversar com ele, de falar sobre tudo, como era antigamente. 

— Fui uma surpresa enorme, sabe? Tudo isso. 

— Só se for pra você, eu sempre soube que você ia crescer na equipe — ele foi completamente sincero e o que disse fez um sorriso bobo nascer nos lábios da doutora. 

— Ainda sim, eu não esperava. Depois que Javier fez a proposta sai da sala literalmente pulando.

Os dois riram. 

— Eu daria tudo para ver essa cena. 

— Pra me zoar? — Ela arqueou uma das sobrancelhas. 

— Não poderia, reagi muito pior quando soube que ia entrar para o time. 

Mia ficou curiosa, Marco nunca lhe contou de fato essa história.

— E como foi? 

O jogador fez uma careta. 

— Vamos pular essa parte — ela sorriu só de imaginar o que poderia ser.

— Ah! Vamos lá! — Insistiu a médica. 

Marco suspirou e a direcionou um olhar receoso. 

— Foram 3 dias de reações bem diferentes até eu me normalizar. No primeiro — sinalizou o número 1 com o dedo. —... eu sai gritando pela rua abraçando quem vinha pela frente até beijei a careca de um senhor — Mia riu. — No segundo eu passei o dia pensando que tudo foi um sonho, que não era real e eu alucinei sei lá. E no terceiro eu chorei como uma criança. 

A doutora sorriu com carinho. 

— Alguns dos melhores dias da sua vida, não é? 

Marco assentiu. 

— Com certeza, está no primeiro lugar. 

— Ta animado com amanhã? 

— Eu to, é um jogo importante e eu quero muito outra Champions. Espero que joguemos bem e que possa entrar no jogo fazendo a diferença. 

— Nervoso? 

— Eu sempre fico você sabe e principalmente em final de campeonato, mas na hora de entra em campo isso tem que desaparecer. 

O "você sabe" não foi proposital, saiu naturalmente dele, mas trouxe de volta a realidade de que já foram íntimos e que essa barreira de desconforto era realmente algo ridículo. 

Os dois conversaram por um bom tempo, as horas se passando e ao menos sentiam o tempo da espera. Parecia que finalmente haviam quebrado a barreira, que o desconforto havia ido embora. Era apenas Marco e Mia, duas pessoas com um passado sim e não dois estranhos. 

Com o passar das horas apesar de o papo estar bom Mia foi sentindo os efeitos do cansaço, entre a conversa bocejava e os olhos lacrimejavam, até se deitou mantendo a cabeça apoiava no próprio braço. Marco percebeu e tentava fazer da conversa interessante para que ela não dormisse por um tempo, mas ficou com pena ficou com pena. Ela pescava de vez enquanto e em uma dessas pescadas o jogador a deixou cair no sono. Ele mesmo estava tão cansado quanto, mas o papo estava tão bom, a energia entre eles que não queria que acabasse. 

Marco ficou ali, Isquito dormindo encolhido e Mia ao lado dele da mesma forma. Seus olhos passaram um por tempo naquela cena, e ele sentiu um tipo de paz e satisfação que jamais tinha experimentado antes. Por um segundo quis negar a si mesmo, mas aquilo era mais forte. Deitado ali ele se deixou imaginar como seria ter uma família dele, imaginou-se com um filho, o colocando para dormir, dando banho, ensinando, estando lá quando ele tivesse um pesadelo...imaginou-se com sua mulher, a mãe de seus filhos, mas a única pessoa que o vinha a mente era Mia. Ela cuidando da criança em seus braços. 

Em sua cabeça ele tentou entender porque, porque ela e não Marina. 

" Talvez porque eu passei o dia com ela, porque a vi cuidar de Isquito. Era apenas circunstancial. Nada demais" 

 

 

 

Isco abriu a porta do quarto por volta das quatro da manhã, entrou devagar pelo corredor vendo a televisão ligada e em poucos passos viu na sua cama Marco, Isquito e Mia dormindo juntos. Ele não pode deixar de sorrir com a cena, parece que seu filho os cansou. Queria saber de tudo o que aconteceu amanhã. Os olhando ia até ficou com pena de acordar a doutora, mas ela precisava estar no seu quarto quando acordasse, caso contrário poderiam descobrir sobre a quebra de regras deles. Isco jamais prejudicaria quem o ajudou tanto.  E ele mesmo não poderia estar mais feliz, foi perfeito melhor do que sonhou. 

Com cuidado Isco se aproximou da cama e passou a mão pelo ombro dela, balando-o devagar. 

— Mia! — A voz foi suave. 

Mia despertou de um sono profundo e sem sonhos e virou para a voz que a chamava. 

— Meu Deus! — Falou baixo levando as mãos os rosto. — Eu cai no sono — Isco riu e ela olhou para o lado vendo Marco dormir placidamente assim como Isquito. 

Não lembrava se quer o momento que dormira. 

Devagar para não acordar ninguém deslizou para fora da cama. 

— Amanhã eu quero saber de tudo Francisco! — Sussurrou para o jogador que sorriu. 

— Digo o mesmo. Ele se comportou? — A doutora anuiu. 

— Nos divertimos muito. 

— Ah que bom! — Eles começaram a caminhar na direção da porta. — Obrigado mesmo por tudo Mia — ela sorriu e piscou. 

— Vocês merecem — a fisioterapeuta abriu a porta e deu um passo para fora. 

Sorrindo grato Isco segurou a porta e disse: 

— Boa noite doutora. 

— Boa noite Iscorregador, até mais tarde. 

 

"Engraçado, achei que ia ter problema para dormir pela ansiedade, mas assim que tomei um banho e deitei dormi em menos de 3 segundos." 

 

… 

 

O teatro dos sonhos estava lotado hoje, os diabos vermelhos enchendo as arquibancadas pontilhados por brancos merengues. Era seis da noite e o sol se punha no horizonte, mas suas belas cores quentes estavam anuviadas pelas nuvens que insistiam em permanecer no céu da Grã-Betanha. 

Dentro do vestiário toda a equipe blanca se uniu em um círculo para concentração. As palavras foram de Zidane, dizendo as palavras chaves da partida e traçando o perfil básico do Manchester. A roda se partiu assim que Sergio gritou: 

— Hala Madrid! 

— Y nada más! — Todos responderam em uníssono, seguido de gritos animados e palavras de motivação. 

Mia ficou até um pouco emocionada, jamais imaginou participar desse momento, da concentração deles e beira de uma partida, a energia era tão forte que eletrizava seus pelos. 

Tom sorriu para a doutora enquanto deixavam o vestiário na direção dos bancos, antes mesmo dos jogadores. 

— É muito foda né? — Ela sorriu assentindo. 

— Fiquei toda arrepiada — o sorriso ele aumentou. 

— Espera só a final! 

— Aí eu tenho uma síncope — eles riram. 

Quando saiu pelo túnel e viu a dimensão daquele lugar cheio a doutora sentiu o coração hesitar uma batida. Quase 75 mil pessoas ali. Era lindamente intimidante.  

Ela se encaminhou junto a Mihic, Santamaría e Mallo aos seus lugares no banco, o médico colocou as o culer com os géis, sprays e utensílios médicos para uma vistoria rápida  em um canto, assim como Mallo deixou a sua cheia de isotonico e água em outro. Ambas já tinham cores diferentes, mas ainda sim podiam ser pegas sem querer da pressa causando um atraso operacional. 

Eles ficaram sentados e logo Zidane chegou, passando pelo túnel rapidamente. Tom com seu colete azul de áudio imagem já foi logo em busca de fotos da torcida merengue presente, mas assim que os jogadores ficaram apostos no túnel voltou. 

Todos perfilados de acordo com uma ordem pré estabelecida ( capitão, número 1 e por aí vai ) eles cumprimentaram os jogadores conhecidos do time rival, ou apenas se alongavam, se concentravam. Mas a partir do momento ultrapassassem a linha não existia mais amizade, era jogo, cada um por seu time. 

As posições corretas, crianças em mãos, os árbitros tomaram a posição frontal e todos começaram a andar. Anunciados pelos telões e pelo locutor a torcida já gritava quando eles começavam a sair do túnel. O hino dos Campeões começou a tocar enquanto os jogadores entravam. Os do Real Madrid com os casacos verde escuro do time, os do Manchester de casaco vermelho. 

Era arrepiante. 

O primeiro árbitro pegou a bola estrelada da liga dos campeões e caminhou na frente com os outros, parando a uns 3 metros da beira do campo. Os times seguiram o percurso, parando um de lado lado da equipe de árbitros. Cada jogador seguindo seu ritual ao pisar no gramado, se benzer, entrar com o pé direito, dar pulinhos. 

Eles formaram uma fila única bem a diante do túnel, a beira dos bancos e paralela a arquibancada. Uma barreira de fotógrafos e câmeras se formou de ambos dos lados da passarela de entrada, flashes e mais flashes eram disparados em segundos. 

Os 36 jogadores focados adiante, o hino tocando e torcida entoando. Mia se esgueirava para ver tudo do banco, era muito louco para ela ver o que já tinha visto tantas vezes pela televisão e pelas arquibancadas, do próprio campo. 

Assim que o hino acabou houve aplausos de todos, as crianças se retiraram, e os jogadores começaram os cumprimentos tradicionais antes da partida. Quem já ia saindo e era titular tirava os casacos e entregava ao assistente de equipe já se posicionando para a foto oficial. Tom já muito bem localizado entre os fotógrafos da imprensa disparou vários cliques. Os sete reservas seguiram para o banco. 

Sergio, como capitão, e o capitão do Manchester se encaminharam até o primeiro árbitro para tirar o lado do campo e a posse de bola. O árbitro explicou o sistema como era de prache e mostrou a moeda para provar que não estava adulterada. Real Madrid ficou com o esquerdo e o time da casa com o lado direito e a posse inicial.

Eles tiraram uma foto com o time de árbitros, o brasão do em nas mãos e assim havia acabado a burocracia pré-jogo. 

Os titulares de cada time se posicionaram em seus lugares. Um 4-4-2 do Real Madrid, contra um 3-5-2 do Manchester. Um jogo bem balanceado visto de cima. Um Real Madrid respeitosamente ofensivo com 4 defensores, Sergio, Nacho, Varane, Marcelo, 4 meio campistas, Casemiro atrasado, Kroos lateral direita, Modric lateral esquerda e James adiantado de volante para a dupla de atacantes Cristiano e Benzemá. Nas redes sempre o grande Navas. 

Mia esfregou as mãos devido ao frio e abraçou o próprio corpo. Ela mesmo vestia um casaco igual ao dos jogadores com suas iniciáveis, MS, bordadas abaixo do emblema do clube. Ela observou o posicionamento dos árbitros até o principal se locomover para o centro do campo e olhando o relógio com a bola dos pés e o apito entre os lábios. Parecia que todo o estádio respirava em conjunto até o apitar do início do jogo. 

Foi um primeiro tempo equiparado, a maioria as jogadas acabava antes de chegar a grande área e as que chegavam não eram bem executadas, ou muito bem defendidas. Em si foram 45 minutos bem cansativos para o um meio um campo um pouco congestionado, alguns escanteios e laterais. Mia assistia tudo ansiosa, os meninos do banco sempre comentando tudo entre si e com ela, nas chances de gol quase pulando juntos, levando as mãos ao rosto quando a bola não entrava. Zidane ficava a beira do campo observando tudo, as vezes gritando ou chamando um jogador para um papo rápido enquanto o jogador se enchia de isotonico. 

Não houve houve gols de nenhum lado no primeiro tempo. Os times seguiram direto para os respectivos vestiários e enquanto isso Mia, Mihic e Santamaria já montavam tudo para um rápido atendimento. Navas precisou de uma massagem na lombar, Nacho sentiu a coxa e precisou passar o spray assim como uma massagem na região, Modric reclamou do ombro por causa de uma colisão com um dos zagueiros dos diabos vermelhos e foi mais um que recebeu tratamento. 

— Sente-se melhor? — Perguntou Mia ao croata. 

Ele moveu o ombro para frente e para trás e sorriu ao não sentir o músculo duro de dor como antes. 

— Bem melhor, doutora — ela sorriu batendo a palma com a dele. — Valeu Miacita! 

A mulher piscou para ele esperando o próximo paciente tomar seu lugar. Nachoa deitou-se bruços já com o calção erguido para ela ter acesso a toda a coxa. 

— Onde é a dor especificamente Nacho? — Indagou-o e o zagueiro apontou o músculo central posterior da coxa.   

— Ele arde quando eu ando.

— Tudo bem, vire-se. 

O jogador o fez. 

— Preciso que contraia o músculo 10 vezes. Vai doer, mas eu vou passar o spray depois. Tudo bem? 

Nacho anuiu, ele não tinha muitas opções. 

Mia o ajudou nos movimentos. 

— Segure a perna — mandou. — Isso! — O zagueiro fez careta de dor. — Relaxa! — Suspirou aliviado, mas não deu 4 segundos para Mia falar: 

— De novo! 

Nacho terminou as dez e ela colocou o spray movimentando os dedos pela região para aliviar a área.

— Isso foi falta de alongamento nesse perna, gerou tensão — ela explicou. 

— Vou poder voltar? — Indagou. 

— Se sente melhor? 

Ele tentou andar com a perna.

— Sim.

— Então vai voltar — ele sorriu para a doutora. 

— Você é demais, valeu Mia! — deu um beijo na sua bochecha e voltou ao centro do vestiário.  

— Eai Dra.Mia? Tudo certo? — Santamaria perguntou com um sorriso de quem amava o que fazia, amava a adrenalina e a bagunça. 

— Tudo sim, doutor! — Ela não percebeu, mas exibia o mesmo sorriso e brilho nos olhos dele.

Ainda bem que todos os problemas eram momentâneos, sem riscos para agora ou para o futuro. Nenhum dos jogadores precisava ser subistituiado, a não ser que sentisse mais dor na região magoada, o que seria difícil. 

Os fisioterapeutas e o médico cuidaram de forma rápida e eficiente de todos os jogadores em macas no vestiário. Os demais descansavam, reclamavam de alguns lances, bolavam formas de melhorar as jogadas conversando com Zidane e o assistente técnico. 

O vestiário do intervalo era definitivamente algo caótico. Muita testosterona, muito gente, suor, agitação, vozes que se misturavam. 

Sergio Ramos andava com seu meião rasgado de um lado para o outro, o típico zagueiro raiz, falando com todos. James estava frustrado com sua atuação, todos seus chutes a gol mal finalizados e seria substituído por Isco no segundo tempo. Embora seus passes tenham sido muito bons o time precisava de mais ataque, mais agressividade. Marco queria muito entrar, mas o meio campo estava bem, ainda mais nas mãos de Mia, então ele tentou se satisfazer em torcer para que o time jogasse bem e ganhasse mais essa. 

Dez minutos antes de voltar o time se reuniu no centro só vestiário novamente, Zidane falou sobre as mudanças e como alguns jogadores em específico deveriam agir. No final Sergio puxou o lema do clube com força 3 novamente todos responderam juntos mais forte ainda. 

Eles voltaram para o campo sem a mesma burocracia de antes e já se posicionavam em seus lugares. Mia, do banco, observou o levantar da placa para as mudanças nos times. O Real trocou James 10 por Isco 22 e Manchester colocou colocou mais um atacante tirando um meia. 

— Vai ser um segundo tempo de fortes emoções — Cavarjal suspirou. 

— Eles abriram mais o meio, e colocaram um atacante a mais isso pede o dobro de atenção da zaga nos contra ataques — James fez a leitura do jogo do time oposto. 

— Aposto que vai rolar alguma falta na beira da grande área — Vazquez cruzou os braços, os meninos o xingaram. — Calma! Eu não disse de qual lado — sorriu orejas. 

O 2º tempo já começou com um chute fora da grande área para o gol de Navas, passou longe, mas assustou alguns. 

— Bem que você disse — Mia falou para Cavarjal. 

O início foi de forte marcação dos merengues, Marcelo tirando a bola do atacante do Manchester em uma linda caneta, Modric jogando a bola para escanteio em uma saída perigosissima dos vermelhos. A torcida ia a loucura, cantando, urrando por mais pressão, mais jogo. No banco os reservas estavam em silêncio, tensos pela maior posse de bola dos ingleses. 

— Melhor se aquecerem — Santamaria falou, pelo frio que fazia os músculos ficam rígidos mais rápido e caso Zidane precisasse eles tinham que estar bem.

Os jogadores fizeram uma fila saindo do banco. Mallo já havia montado um pequeno circuito ao lado beira campo para que correrem atravessando pequenos obstáculos. Os jogadores começaram o aquecimento, corrida lateral com contração de perna, corrida frontal com obstáculos ao mesmo tempo e em fila. Mallo coordenava sobre os olhos de Javier, Mia ao lado como assistente. 

Até de de repente a um levante na torcida. Todos param e olham para o campo. Modric corre pela lateral direita como um raio e joga a bola alta para Isco no meio da grande área, mas o camisa 22 estava bem marcado. O que ele fez? Jogou a bola para Marcelo do outro lado. 

— A jogada ensaiada — Mia reconheceu na hora. 

O brasileiro jogou para Cristiano um pouco mais a frente, na grande área. Foi tão rápido que por mais que os jogadores do Manchester pulassem chegaram atrasados demais. A  bola entrou no canto oposto do gol.

A torcida merengue gritou, os jogadores reservas pularam aos berros, no campo os titulares iam atrás de Criatiano para comemorar. E lá em cima, nos acentos de frente da arquibancada Am e Isquito saltaram em euforia. 

— Papai fez o passe. O papai fez o passe! — Apontava Isquito feliz. 

Os 20 minutos que se seguiram foram mais calmos do que se era de esperar, parece que os Blancos só precisavam do animo de um gol para não deixar o Manchester assustar mais. As poucas vezes que o Manchester chegou foram muito bem defendidas por Navas, e o mesmo poderia ser dito do goleiro vermelho, este trabalhando muito mais para manter o placar. 

Mas os últimos minutos guardaram mais emoções. Uma falta na beira da área de Sergio em um meia os diabos vermelhos fez o gol se empate sair. Foi um gol lindo de cabeça e muito sofrido também. Tensão voltou a se formar no banco, no campo Sergio xingava. Para ele e a maioria dos jogadores do real Madrid não tinha sido falta, mas o árbitro negou e deu a falta sim. 

— Carajo! — Marco xingou. — Que boca de praga! — Virou para Lucas. 

— Quanto tempo falta para terminar? — Mia indagou. 

— 3 minutos mais os acréscimos — Bale falou. 

— No máximo 3 minutos a mais — James cruzou os braços diante do peito visivelmente desgostoso. 

Mas nos 47 do segundo tempo em uma brecha grande dos ingleses Benzema chutou a bola com força para o gol, ela passou raspando nas luvas do goleiro e entrou balançando as redes. 

O banco se levantou gritando, comemorando e no meio dessa euforia toda Mia abraçou Marco. Pareceu algo tão natural na hora, mas ambos se separaram um pouco sem jeito. O jogador sorriu fraco e foi comemorar com os titulares a beira do banco onde todos estavam. 

 

… 

 

 

Isco e Am conversavam apoiados na parede de frente ao vestiário, e assim que Am viu a amiga sair deu um pulo. 

— Amiga, tenho uma coisa para te falar! — Ela seguiu em sua direção segurando suas mãos.

A fisioterapeuta ficou curiosa e um pouco tensa. Amanda direcionou em olhar por cima do ombro para Isco que sorriu, a bailarina virou-se com um sorriso maior ainda.

— Nós queremos que você e Marco sejam nossos padrinhos — falou animada dando um gritinho no final, mas Mia ficou atônita. Não estava nem pensando nisso, ser madrinha ainda mais ao lado de...

— Padrinho? Eu? — O camisa 20 surgiu ao lado da doutora também saindo do vestiário. 

Aquilo pegou ambos totalmente de surpresa. 

— É! Vocês ajudaram tanto a gente que achamos não havia ninguém que merecesse mais — Isco disse colocando as mãos sobre os ombros de Am. Eles sorriram um para o outro. 

— Por favor, aceitem! — A bailarina pediu com as mão unidas. 

Marco e Mia se olharam. 

 

 

Eles voltaram para Madrid naquela madrugada mesmo. Quase todos dormiram durante a viagem, cansados demais depois do jogo puxado. Isco e Am se despediram, mas seria a última despedida. A bailarina decidiu sair do balé russo e ingressar em alguma companhia espanhola, depois de tanto tempo sofrendo com a distância ela decidiu que não queria mais isso. Isco pedi-la em casamento só a fez ficar mais segura para tomar essa decisão. Isco ficou tão feliz, mas isso depois de Am assegurar com toda a certeza que morar em Madrid não a prejudicaria. 

O dia foi de folga para todos os jogadores e equipe, Mia aproveitou para descansar um pouco, dormir. E de tarde quando acordou foi direto para um restaurante almoçar com Sarah e contar tudo o que já não tinham contato ( ela e Am ) pela chamava de vídeo no dia anterior. As amigas conversaram por horas, Mia contou não somente sobre o pedido, mas sobre o tempo cuidando de Isquito com Marco e sobre eles agora serem padrinhos do casal. Sarah deu sorrisinho sentindo no fundo onde isso ia terminar. 

No dia seguinte a doutora acordou cedo para trabalhar, como todo treino pós jogo seria um dia para recuperar os titulares. Consequentemente, um dia cheio.

— Bom dia Ana! — Mia cantarolou acenando para a recepcionista. 

— Bom dia doutora! — Ana respondeu sorrindo. 

Ela caminhou até seu consultório animada com o que viria pela frente, mas hesitou ao ver a porta ao lado da sua aberta. Devagar ela se aproximou e viu um consultório vazio, apenas com os instrumentos e móveis cedidos pelo clube. Franziu o cenho se perguntando o porquê daquilo. 

Sua pergunta é respondida por uma voz fracamente conhecida. 

— Olá vizinha — ela se vira dando com Dr.Lopes e seu topete castanho impecável.

— O que faz aqui? 

— Eu trabalho aqui agora — falou o fisioterapeuta com um sorrisinho satisfeito. Mia franziu o cenho, totalmente confusa. 

— Como assim? 

— Sou o segundo auxiliar — ela poderia ter suspirado de alívio ao saber de não foi demitida, mas estava com mais raiva por agora ter que dividir os seus dias com esse ser. — Não te disseram que alguém teria de ficar no seu lugar agora que está indo para os jogos? 

Ele riu da cara de total ignorância dela e se aproximou com uma caixa a baixo do braço. 

— Não se preocupe queridinha, não pretendo ficar muito tempo aqui — entrou na sala, sua sala. — Logo estarei na sala aí lado — havia um sorriso maldoso nos seus lábios. 

Mia sentiu a cabeça esquentar e pulsar forte, mas não ia demostrar o quanto aquilo a deixou irritada para ele. Lopes era o tipo de pessoa que se alimentava das reações impulsivas que causava.  

— Continue sonhando — falou simplesmente exigindo um sorriso superior e piscando para o segundo auxiliar antes de seguir para o seu consultório. 

Por dentro ela estava queimando, espumando. Precisava falar com Javier sobre isso o mais rápido. Não havia necessidade de um segundo assistente. Ela dava conta perfeitamente. Ou se precisasse pelo menos que não fosse ele. 

"Justamente esse estrume? Porque?" 

 

 

P.O.V Marco 

 

Desde que cheguei em Madrid eu não consegui tirar tudo o que aconteceu da cabeça, por mais que tentasse aquele pensamento que tive de madrugada no quarto quando vi Mia e Isquito dormindo sempre voltava e martelava. Uma semana passou se passou e nada disso parar, até mesmo memórias mais antigas me vinham a mente, memórias nossas quando nos conhecemos, quando era tudo incrível. Era tão aleatório, estava assistindo TV,  comendo ou até mesmo no meio na noite e lembrava de algo ficando minutos perdido nisso tentando lutar comigo mesmo no final e ameaçando meu próprio cérebro a parar. Chegou até a acontecer quando eu estava com Marina, nós dois no restaurante e do nada lembrei do dia que eu e Mia achamos Rome. Minha namorada passou bons segundos tentando chamar minha atenção para uma pergunta que se ter havia ouvido. Me senti péssimo. 

E Deus, o pior foi quando encontrei Mia no corredor do vestiário, ela parecia tão focada nos papéis em suas mãos que não me viu logo, mas meu coração ele atropelou uma batida ao vê-la. Puxei o ar tentando acalma-lo e quando ela ergueu os olhos apenas sorri. 

— Eai! — Ela sorriu de volta. 

— Asensio. 

Quando saímos do campo de visão um do outro eu suspirei de alívio por não ter gaguejado ou pior. Me senti ridículo logo em seguida. 

Que merda está acontecendo comigo? Porque quando estávamos no mesmo cômodo algo me pedia para ficar mais perto dela, para puxar assunto, para nos aproximarmos novamente? Porque eu não parava de pensar nela, em nós? Porque isso voltou agora? Quer dizer, eu já tinha superado tão bem nosso "rompimento". 

Passei dias com essas perguntas na cabeça, buscando uma resposta que não fosse a mais óbvia. Eu não podia...não. 

 

 

 

Marina e eu estávamos em no coquetel de abertura da exposição fotográfica de um amigo dela. Fotografias sobre os povos ao redor do mundo, trabalho que vem fazendo a anos. As fotos eram de fato muito bonitas, era interessante ver pessoas tão diferentes e até mesmo tão iguais em lugares extremos do mundo. Éramos abordados de vez enquanto para tirar fotos pelos fotógrafos dos jornais, revistas e sites tanto especializados como os de fofoca. Minha namorada adorava, me puxando para as fotos, sorrindo para as lentes. As vezes isso me deixava impaciente, muitas coisas em Marina tem me deixado impacientes ultimamente, mas ela gostava então e não custava nada. 

Segurei sua cintura enquanto ela sorria, posando para a imprensa. Eles pediam mais poses, e ela os dava, fiz algumas também, forcei sorrisos, nos beijamos. Mas enquanto os flashes disparavam eu lembrei do Isco me disse: 

"Você estava tão feliz quando estava com Mia, como não ficava a muito tempo, seus olhos brilhavam e as vezes chegava a ser irritante te ver sorrindo o tempo todo.

Puxei na memória o tempo a que ele remeteu. Isco não estava errado, eu realmente estava feliz naquela época, todas minhas memórias eram tão boas, cheias de risadas, sorrisos, momentos para recordar ( muitos dos quais eu quis esquecer por um tempo ) e ela estava em todos eles. Só de pensar que se passaram enquanto eu estava machucado, era para ser a pior fase da minha vida. Mas ela salvou minhas lembranças e tornou os piores dias, os melhores que podiam ser. 

Os flashes continuaram disparando e eu me esforcei para manter o sorriso. 

" Vocês juntos pareciam ter algo além de apenas sexo, tinha amizade, parceria, vocês combinavam." 

Lembrei do final de semana na Inglaterra. Por mais que as vezes tivesse se formado uma barreira entre nós, quando a ignorávamos era único. As risadas soam na minha cabeça, gritos de surpresa, os passos apressados pelo corredor. As cenas também, Mallo nos pegando no flagra, ela e Isquito dançando em comemoração, quando o colocou para dormir e quando ele acordou do pesadelo. Os pensamentos daquele momento também vieram a tona. 

Talvez eu tenha cometido um erro, talvez eu...

Abaixei o rosto no ouvido de Marina e sussurrei: 

— Eu vou no pegar uma bebida — ela virou o rosto para mim e assentiu, voltando a posar assim que me afastei. 

Em uma varanda da galeria eu me vi andando de um lado para o outro enquanto a ficha caía. Minhas mãos suavam e meu coração...ele estava parecido entre meus pulmões. 

Eu não sentia meu coração acelerar, minhas mais suarem ou simplesmente não me sentia completo com Marina. Quer dizer, eu insisti, porque ela foi por muito tempo a mulher que eu amei, a primeira mulher que levei para conhecer minha família, a única que me conhecia até minhas fraquezas, a única que eu deixei ser mais intima. Todo mundo a adorava, parecia tão óbvio que íamos terminar juntos, apesar de eu nunca se quer ter imaginado uma família com ela.

Mas com Mia...era diferente. Eu jurei que não era nada demais, que era amizade, tesão...mas eu menti pra todo mundo e pra mim mesmo. No fundo eu me permiti ter sentimentos por ela, eu deixei meu coração me dominar, porque eu jamais tinha conhecido alguém assim. Não ligava para minha fama, minha carreira ( no mal sentido ), pelo contrário nunca quis entrar nesse mundo, estava se lixando para ele. Ela era leve e me fazia sentir leve, me fazia querer fazer loucuras, me fazia sentir falta da sua companhia a cada minuto que passávamos longe. Nós combinávamos em tanta coisa, era fácil conviver, tão fácil que quando estávamos juntos parecia que nos conhecíamos a anos, era harmônico, suave, feliz, intenso. Eu gostava do homem que era ao seu lado, mas ela me deixou. 

Mia não sentia o mesmo que eu, ou se sentia algo simplesmente odiava o fazer. E ela me fez odiar também, odiar até mesmo o dia que nos conhecemos. Odiar todos os momentos que tivemos. Eu me senti um idiota, porque mesmo depois de ter tido na minha cara que eu não passava de sexo casual eu não tive coragem de acabar com tudo. E Deus! O tempo que demorei para tomar essa decisão foi o torturante, porque enquanto minha cabeça dizia para para eu me valorizar, meu coração apertava com a ideia de me afastar, de beija-la, não abraçá-la, de não toca-la mais, de não sermos apenas nós na minha cama em pleno domingo. 

Eu acabei por orgulho, mas me enfiei na bebida para esquecer que eu tinha me apaixonado pela minha amiga. 

E por isso Marina pareceu ser o certo, a melhor atitude, a melhor escolha. Ela me amava, nós tivemos uma história, algo correspondido, seguro, firme, com emoções transparentes e confiável.

Mas vale a pena ser tudo isso e não ter paixão? Vale a pena viver a vida toda na zona de conforto por medo de arriscar? 

As imagens de Isco e Am juntos passam na minha cabeça. Eles despertaram em mim um tipo de vontade que não sabia que tinha. A vontade de viver algo como o amor deles. E eu sei que não é com Marina que vou viver isso, porque ela nunca foi uma paixão. Mas e com Mia? 

Me apoiei no parapeito e respirei fundo.

Eu sei que eu consigo, mas e ela? 

Talvez não valha a pena. Quem garante que ela também sinta isso? 

Talvez eu não devesse arriscar. Eu ainda podia viver um amor calmo com Marina eu... 

"Tudo bem sentir isso e não querer falar comigo, mas não é justo com Marina que você continue com ela gostando de outra. " — A voz de Isco veio na minha cabeça. 

Bufei. Eu me encontrava entre a cruz e a espada. 

O que eu faço meu Deus? 

Olhei para o céu procurando respostas, talvez elas caíssem do céu só pelo meu desespero. 

Não, isso não aconteceu. 

Mas meu amigo tinha razão, se eu estivesse sentindo mesmo o que eu acho que estou sentindo por Mia, eu não posso continuar com Marina. Não que eu ache que vamos ficar juntos, mas só o fato de eu sentir algo por outra pessoa é sinal de que devemos parar. Não é certo a enganar, não é certo estar em um relacionamento pela metade. Eu não sou esse tipo de homem. 

Respiro fundo. 

Como eu ia dizer isso para ela? Parece terrível. 

Eu não sei quanto tempo ali naquela varanda tomando coragem, mas meu tempo foi interrompido pela voz dela atrás de mim. 

— Pelo amor de Deus! Eu estava te procurando a meia hora! — Me virei. 

— A gente precisa conversar — seu sorriso murchou. 

 

Minutos depois Marina pediu para ficar sozinha e eu ouvi seus soluços enquanto deixava a varanda. Naquele momento eu senti culpa pelo o que tinha acabado de fazer. 

Sem cabeça para nada sai da festa sem falar com ninguém, peguei o carro e só dirigi. 

 

 

Isco abriu a porta como cenho franzido. Eu nem o deixei perguntar o que diabo eu estava fazendo na sua casa as onze da noite em uma quarta-feira e entrei falando: 

— Eu acabei de terminar com Marina — seus olhos pequenos de sono se arregalaram. — Preciso de álcool.

E como eu já era de casa fui caminhando na direção da cozinha. Isco fechou a porta e veio atrás de mim. 

— Não tem nada alcoólico, mas tem o leite fermentado de Isquito — o camisa 22 disse ao entráramos na cozinha. 

Suspirei. 

— Serve! 

Os dois sentaram na sala de Isco com uma grade leite fermentado em cima da mesa de centro. 

— Respira fundo e me explica essa história. 

E eu o fiz. Contei tudo, desde o dia do pedido de casamento até agora, para que ele entendesse a complexidade da decisão. 

— É isso. E eu acho que estou apaixonado pela Mia — concluí tomando de virote o fraquinho de leite fermentado. 

Isco ficou me olhando por cerca de 10 segundos até explodir na gargalhada. O olho serio. 

— Porra Isco! É sério isso — ele virou um enorme sorriso para mim. 

— Faz uns sete meses que você está e só agora que você percebeu — reviro os olhos. — Só podia ser você mesmo pisha. 

— É, eu demorei sete meses e resolvi descobrir justamente quando ela está com outro —  jogando o corpo contra o encosto eu bufei.

Isco respirou fundo. 

— Antes tarde do que nunca — passou a mão no ombro do meia, um afago carinhoso. — Além do mais a gente não sabe se ela está com Lewis mesmo. 

Olhei para ele. 

— Mas mesmo se não estiver, ela terminou comigo. As pessoas não costumam terminar relacionamentos com quem gostam. 

A verdade caiu como um peso do meu colo, levando-me ao fundo do poço. 

— Deus! Onde eu fui me meter? — Coloquei as mãos no rosto. 

Não é possível que eu só faça merda! 

— Porque eu não podia gostar de quem gosta de mim? 

— Ei! Ei, cara! — Isco me segurou pelos ombros e me sacudiu. — Você disse que sentiu inspirado por mim e Am. E eu te digo que se estivesse do mesmo lugar de você, sentindo o que eu sinto por Amanda, eu enfrentaria qualquer coisa para tê-la e faria tudo para conquista-la. 

Suspirei. 

— Mas se ela estiver com ele...o cara é perfeito Isco! — Ele estalou a língua. 

— Seja o melhor que pode ser, se for para acontecer vai acontecer — sorri fraco. 

Será que meu melhor seria melhor do que ele? Será que u tinha chance? 

— Além do mais, meu pisha é perfeito — meu sorriso se alargou e Isco me puxou pelos ombros para um abraço de lado. — Eu sinto que vai dar certo, mas não pode perder a chance dessa vez. 

Respirei fundo. 

Não importa se ela ta com Lewis, se ela não me vê assim. Eu vou lutar por ela, vou ser o melhor de mim, o melhor homem que posso ser. E quem sabe ela comece a gostar de mim também? 

Se eu não arriscar jamais vou conseguir.


Notas Finais


EAI? O que acharam? Aposto que assustei vocês com o título, mas FINALMENTE NOSSO BEBÊ ASENSIO ADMITIU O ÓBVIO! Será que ele tem chance? O que será que vem por aí? Um casamento, tretas com o novo "colega" de trabalho já podem ir pra lista com certeza. Mas também podem adicionar A COPA DO MUNDO! Ah sim bebês, vai ter a copa de 2018 com tudo que temos direito. Prontas para reviver as emoções daquele ano? Me contem o que acham que vai acontecer? Alguma teoria? Masensio? Jamia? Ou nosso novo ship, Wia?
Besitos amores, até o próximo 😘💁


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