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História I know he's married - Descobertas de uma noite de verão


Escrita por: mydarlingzayn

Notas do Autor


HOLA MIS AMORES! Demorei muito mais do que o previsto, mas como expliquei para alguns de vocês tive uma sobrecaega com os trabalhos da faculdade e fiquei tão atolada que não pude nem tocar no iPad para escrever. No entanto, corri e consegui finalizar agora para vocês. Estava tão agoniada para postar que ao menos revisei, então espero que perdoem meus erros e que gostem.
E AHHHHHHHHHH! Muito obrigada pelos 912 COMENTARIOS INCRIVEIS E 400 FAVORITOS!!! Fiquei tão feliz quando vi, muito, muito obrigada por tudo. Vocês são incríveis, incríveis mesmo. 🙌🙏❤️
Ps: Esse capítulo é dedicado a James Rodríguez pelo seu aniversário! Feliz 29 aninhos neném, na vida real a gente te ama kkkk ❤️😈
Agora aproveitem ✌️☺️

Capítulo 52 - Descobertas de uma noite de verão


P.O.V Narrador

 

Mia se jogou na cama após o passeio pela capital russa, fora um dia cansativo, mas incrível. Am fez questão de mostrar todos os lugares, principalmente seus pontos favoritos, afinal já foi uma moradora de Moscou. 

— Eu só quero uma bacia quente para fundar meus pés — Sarahmos suspirou tirando as botas  de salto, as meias e massageando os pés.

— Andar no frio com salto 15 não é fácil — Am cantarolou exibindo suas botas de salto baixo e a ruiva revirou os olhos. 

— Estilo é para poucos — cantarolou. 

A doutora riu das amigas e enfiou a mão na bolsa pegando o celular, vendo as fotos que tinha postado. Tinha imagens delas ontem, dia 3, em um bar assistindo ao jogo do Brasil, que aconteceu em Samara. Foi o único jogo que não foram porque seria muito apertado e sem sentido sair e voltar para Moscou em um curto espaço de tempo. Brasil se classificou contra o México em uma partida muito boa e divertida se você olhassem pelo lado das torcidas. Os médicas e brasileiros juntos eram iconicos. No final foi uma festa, tanto em Samara quanto no bar cheio de brasileiros. A única coisa que desanimou Mia foi o fato de não poder beber com as amigas para comemorar, mas festejaram ainda sim.  

A médica riu dos vídeos gritando gol, pulando com todos, sorriu com as fotos engraçadas com as meninas e torcedores aleatórios. E depois vieram as fotos de hoje, o café da manhã no hotel, os passeios pelos pontos turísticos de Moscou, a cidade era linda, não encantadora como São Petersburgo, mas ainda sim linda. A praça vermelha, o belíssimo Mausoléu de Lênin, a Catedral de São Basílio, o Kremlin, foram as paradas do dia e as fotos ficaram incríveis. 

Estava sendo demais ficar com as amigas, "turistar", mas ela sentia que uma parte faltava. Marco fora embora ontem, um dia depois da eliminação, e a doutora pensou em ir com ele, o dar apoio, porque sabia que isso tudo ia perder um pouco a graça. Mas o jogador não deixou, insistiu para que ficasse com as amigas, aproveitasse a viagem e torcesse para seu país. Ele não ia tirar a oportunidade de ela poder ver um título de sua seleção por egoísmo, além do mais ficaria bem com a família em Palma de Mallorca, fazia um tempo que não voltava a sua cidade. Então ficou combinado que enquanto ela estivesse na Rússia ele ficaria em Mallorca, e quando acabasse eles viajariam juntos. Por enquanto estava tudo certo até o dia 6, quando o Brasil enfrentaria a Bélgica.   

— A Inglaterra eliminou a Colômbia — Sarah comenta olhando o celular. 

Mia ergue os olhos para ela, no fundo da sua mente James vem, flashes da eliminação de 2014, de quando ele bateu em sua porta todo molhado, quando chorou nos seus braços, quando...mas ela trata de afasta-los. 

"Agora ele tem sua esposa para consola-lo." — Pensou.

— Até agora sobrou França, Uruguai, Brasil, Bélgica, Rússia, Croácia — enumerou. 

— Rússia, Bélgica e Croácia as zebras — Am resmunga. 

— Croácia pegou um grupo fraco — a doutora tamborila os dedos nas bochechas. — Se eu tivesse que apostar em um seria a França ou Inglaterra, mas eu não duvido que uma zebra ganhe não. 

— Ai! Bate na boca que a gente vai pegar uma zebra também — a ruiva estala a língua. 

— Os belgas estão jogando bem, não vai ser um jogo fácil e eles nem são tão zebras. 

— Eu to com medo, não vou mentir. A gente ta indo bem, os meninos estão jogando muito, mas vendo os outros resultados...grandes seleções indo embora. 

— Argentina, Portugal, Espanha... — a morena suspira. 

— Não! Não! Eu já perdi a minha Espanha, não vou perder meu Brasil não! Tratem de parar de serem pessimistas. 

Am respirou fundo. 

— Tem razão, aliás — ela pega o celular e dá play na paródia de ritmo mexicano. 

— Alissinho, me responde: quantos braços você tem?

— Dois? Não acredito. Me parece que são cem — Cantam subindo na cama e dançando. 

Logo elas já estão animadas, pedem comida e decidem ver filmes juntas. Mas antes que começassem a médica interrompe:

— Pera! Eu preciso tomar um banho e colocar uma roupa confortável antes de tudo. 

As duas a olharam com cara de tédio. 

— Então vai logo vaca.

Mia manda beijos de ar e ruma para o banheiro. A melhor coisa seria um banho bem quente, uma comidinha leve, um filme bom e depois um soninho gostoso. 

Dentro do cômodo ela se despe, prende os cabelos em um coque alto, liga o chuveiro e deixa a água quente descer pelo corpo, o relaxando todo. 

— Acho que vou tomar um depois também, meu corpo merece — Sarah fala para a loira, mas de repente algo começava vibrar na cama que elas estavam. 

As duas franzem o cenho e começam a tatear entre as cobertas um pouco bagunçadas procurando o aparelho que tocava. Até que Am acha o celular de Mia, mas sua satisfação some quando vê o nome na tela. 

— Porque ela ainda tem o número desse capiroto salvo? — Sarah pergunta ao ver que James quem ligava. 

— Eu não sei. 

A loira e a ruiva olhavam para o celular vibrando silencioso, ambas pensando se deixavam tocar ou avisavam a amiga.  

— Eu não podemos deixar ele atrapalhar a vida dela — Sarah diz.

— Não quando ela está tão feliz, com alguém que a ama — Am completa e após um suspiro pesado aperta o botão vermelho. 

— Melhor apagar do histórico também. 

Minutos depois Mia volta para o quarto enrolada na toalha. 

— A comida ainda não chegou? — Indaga colocando as mãos na cintura. 

— Não — Am faz careta.

— Ta demorando mesmo. 

 

 

P.O.V James 

 

 

Porque ela atenderia? Porque ela falaria comigo depois de tudo? 

Deixei o celular cair do meu ouvido com aquele "tu tu tu" soando. 

Da ultima vez que tivemos algo ela me humilhou naquela festa. Ela me seduziu, me deixou louco, me fez mostrar o quanto a desejava, só para me deixar depois. Nunca imaginei que pudesse ser cruel àquele ponto, a minha Mia era pura demais para algo como aquilo. Mas ainda lembro da sensação ao vê-la nos braços daquele cara, eu me senti traído, vulgarmente trocado, tive ódio...

Vi vingança nos seus olhos, vingança fria. Busquei-a, busquei a Mia que cuidou de mim, que disse que não se arrependia da nossa noite, que me olhava com tanta paixão e carinho, mas ela não estava lá. Então minha raiva dela sumiu e se transformou em raiva de mim mesmo. Eu a fiz me odiar, eu a fiz ser aquele tipo de pessoa, eu a humilhei, eu a machuquei demais, mais do que qualquer um aguentaria. 

Porque ela me ajudaria? 

Me apoio na parede do corredor, olho para o teto. Me sinto ridículo, me arrependo, me martirizo. 

No que eu estava pensando? Que ela me atenderia e que íamos conversar normalmente? Dios! Minha mulher e minha filha estão dormindo no quarto. Que tipo de pessoa eu sou? A que ponto o desespero me levou? 

Levo as mãos ao rosto. 

Eu só posso estar ficando louco. 

Decido voltar para o quarto, precisava dormir afinal teríamos uma longa viagem amanhã. Mas quando deito a cabeça no travesseiro preciso de horas para me fazer cair no sono.

 

 

P.O.V Mia

 

O dia do Brasil e Bélgica chegou, quartas de final tensa, embora a festa brasileira mascarasse isso. Sentadas na mesma tribuna que a família de Ney nós observamos os times surgirem do túnel, cantamos o hino à capela com força e vimos os titulares tomarem seu lugar no campo. Mas dessa vez havia um dos titulares faltando, Casemiro por um terceiro cartão no jogo contra o México estava impedido de jogar, então Fernandinho ficou no seu lugar. Não vou mentir, a ausência de um jogador tão forte num jogo como esse me preocupava, mas ao menos Douglas Costa voltou. Eu estava rezando para que desse tudo certo, confiava que os meninos iam mandar bem, sabia do seu esforço, da vontade, do sonho do título e eles mereciam tanto. Não digo só porque os conheço, e não acho que seja por isso, mas realmente me apaguei a esses meninos, a essa equipe. Fora que já faz tanto tempo desde o ultimo título, já estava com saudade de  ver Brasil levantar a taça. 

As três da tarde a bola começou a rolar pela Arena Kazan, a torcida brasileira em maioria cantava, fazia barulho empurrando os canarinhos. Até houve um momento Ney mexeu os braços chamando a torcida e o Brasil estava muito bem, embora a Bélgica pressionasse muito. Em um momento Fellaini chegou forte em Neymar e ouvi seu pai xingar, Bruna e Rafa ficaram tensas quando ele rolava no gramado, mas felizmente não foi nada demais e a falta foi marcada (mesmo sobre as reclamações do belga). O camisa 10 manda, a bola bate em Miranda depois na coxa de Thiago Silva, e então para na trave.

— Uhhhh! — Gememos.

Thiago ruge pelo gol perdido, sabia que alguns centímetros e estaríamos na frente. 

A Bélgica tenta o contra-ataque em seguida, Hazard corta o campo para receber uma bela bola na nossa área, ele chuta, mas a zaga barra. Suspiro de alívio na minha cadeira.

Era um jogo digno, nenhum dos times se esquivava, ambos queriam aquilo, buscando o gol a foda hora sem tempo para cacimbas. E eu acredito, realmente acredito, que quem sair daqui e conseguir passar pela França será campeão.  

O Brasil vai pra cima, tão trabalho para zaga belga, mas conseguem o escanteio. Willian cobra, os defensores não cortam, um momento de apatia talvez, mas Paulinho, infelizmente o único na área, não consegue mandar para o gol. 

— Porra! — Xinga o pai de Neymar. 

— Tinha muito espaço — Jota reclama, eu suspiro. 

Mais uma chance perdida.

— Ainda temos tempo, são só 12 minutos — Sarah diz. 

— Verdade — Bruna concorda. 

Aos 13 minutos De Bruyne faz um ótimo passe para Fellaini, que arrisca da entrada da área mesmo, o chute é ruim, mas como desvia em um jogador brasileiro, eles ganham escanteio.

E foi a partir daquele momento que tudo começou a ir por água a baixo.

Na cobrança de escanteio todos sobem, defesa e ataque, vermelho e amarelo, em um emaranhado. Kompany salta alto, mas não é ele quem desvia e sim Fernandinho. O brasileiro subiu para desviar a bola para longe do gol de Alisson, mas fez o contrário. A bola bate no seu ombro antes de atingir com velocidade o fundo das redes, um fato que só consegui ver pelo telão com replay.

Os belgas correm para comemorar juntos no canto do campo enquanto o time brasileiro disperso no gramado se reorganiza cabisbaixo. Juro que senti meus ombros caírem, e meu rosto murchar.

— Merda! — Bruna xingou. 

— Podemos virar, tem tempo — Am animou tal qual Miranda fazia em campo com seu time. Era o que um capitão fazia.

— Vamos para cima! — Rafa bateu palmas. 

Bem atrás do gol de Alisson era possível ouvir o setor cantar as famosas musicas que ouvíamos nas ruas, e logo boa parte da torcida canta também. A alegria volta aos poucos, precisávamos apoia-los, empurra-los para cima. 

Na tribuna nós alegramos também, cantamos, batemos palmas, gritamos. Ney faz uma boa jogada e cruza para Gabriel, mas o nove não consegue atingir o gol. Ouço um torcedor abaixo reclamar do jogador, era uma pena ele não estar conseguindo ir bem logo agora. O pior é que estava o massacrando por isso, eu as vezes detesto como os torcedores brasileiro podem ser cruéis. 

— Bom, até a agora o histórico é relativamente bom com Tite, quando ficamos atrás do placar com o Uruguai viramos de 4x1, já com a Argentina...perdemos de 1x0 — Jota comenta. 

— Vamos torcer pra que a primeira versão se repita então — falo. 

O jogo mais ficando mais acirrado, disputas de bola e pressão. Aos 18 minutos Coutinho recebe na intermediária, leva a bola até a entrada e chuta, mas Courtois via na defesa. Mais "Uhs" da torcida.  

Os belgas não ficam atrás, Hazad fez tudo sozinho, dribla Fernandinho, dispara até a intermediária para deixar Meunier sozinho da área. Ele chuta, mas a bola acerta Marcelo. Um minuto depois é a vez de Lukaku, o camisa 9, passa a bola entre as pernas de Miranda na área e cabe a Thiago Silva cortar, evitando o pior.

Balando o pé ansiosa, vejo os vermelhos se fechando bem depois do gol, forçando o Brasil a tocar a bola na própria área em busca de espaço.

Aos 25 Marcelo recebe de peito a bola diapasão pela lateral, de la mesmo ele chuta, mas o goleiro agarra em uma deseja muito boa.

É um verdadeiro tomá-la da cá, logo depois de Marcelo o ruivo, De Bruyne, fica sozinho na área e é o nosso camisa 4 que salva tirando o perigo de cabeça. 

Aos 25 percebo Bruna ficar tensa, assim como a Nadine, Rafa e toda a torcida. Ney precisa atendimento médico depois de uma pancada na perna esquerda, mas pela graça do bom Deus, não foi nada demais e ele retorna rapidamente. 

29 minutos e Willian cobra falta, Fellaini tira de cabeça, Fernandinho vai pra cima no rebote, mas manda na zaga.

Era quase impossível não roer as unhas, eu beliscava das carnes ao lado olhando para o campo com total atenção, ouvindo anuvidamente ao meu redor os comentários murmurados na tribuna e o barulho da torcida. 

Mas um momento houve um rompante da torcida vermelha, Lukaku driblou Fernandinho  ultrapassando o campo de defesa e avançando. Estática o observei chutar a bola para De Bruyne na área. Foi rápido o suficiente para a zaga brasileira não conseguir se recuperar, o meia mandou uma bolada no canto do gol e Alisson não consegui alcançar. 

Os belgas urraram calando a maioria, vermelho explodindo salpicado pelas arquibancadas, o silêncio da torcida brasileira, silêncio de todos nós.

— Eu não acredito — Rafa olhava para o gol com os olhos vítreos, imersa em seu estupor assim como eu, Am, Bruna e Sarah. 

— Puta merda! — Jota rosna.  

Os meninos cabisbaixos no gramado, alguns xingavam, Tite com as mãos na cintura fitava o chão visivelmente decepcionado, o banco tão estático quanto nós. Era a primeira vez que o time enfrentaria uma desvantagem de dois gols, se eu não me engano na copa nenhum time virou depois do segundo gol. 

Naquele instante a torcida que gritava ainda incentivando sentiu o gol, mas o time se une. Há uma movimentação no banco, os reservas se lavandas do banco e vão para área técnica, ouço seus gritos, eles batem palmas, chamam o time, animam os colegas. Dentro de campo Miranda vê o ato e puxa o time para cima. Eles tentam, mas estava difícil, os belgas se sentiam muito a vontade e ganharam velocidade, fora que tinham construído uma boa linha de defesa que se fechava a qualquer sinal de contra ataque. 

O apoio do banco surte efeitos, aos 35 Marcelo cruza lindamente, o zagueiro belga perde ao saltar e é o camisa 9 que recebe, e ele vai de cabeça. Mas a bola vai para fora. 

Um minuto mais tarde o lateral novamente recebe na área, mas a bola desvia no meia belga direto para as mãos de Courtois.

Levo as mãos a cabeça, no entanto não tenho muito tempo para respirar porque Coutinho solta uma bomba de fora da área segundos depois, obrigando o goleiro a se esticar todo para defender. 

— Uhhhhhh! — Solta a torcida. 

O jogo é rápido, e logo em seguida a Bélgica puxa um contra-ataque de velocidade, Lukaku tentando calcanhar, mas graças a Deus perde. 

Suspiro de alívio. 

— Já não basta dois gols de vantagem não? — Rosna Rafa.

Nos minutos que se passam a Bélgica consegue ser superior, eles dominam e deixam o Brasil acuado a sua própria área de defesa. Alisson faz sua primeira deseja aos 40 do primeiro tempo, e a segunda vem um minuto depois em uma cobrança de escanteio de Kompany.

— Ae porra! — Berro como os demais torcedores pelas defesas em sequência.

— Isso Alisson! — Bruna grita. 

Essa hora meu coração estava disparado como a bateria de uma escola de samba. Vi a hora a bola entrar e tudo desmoronar de vez.

— De novo cara!? — Medina estala a língua quando Fernandinho erra o passe para Gabriel. 

Suspiro pesadamente. Eles precisam de calma, se desesperar é pior.

— Ele não está nada bem — o pai de Ney diz de braços cruzados.

O Brasil consegue adentrar o campo de ataque belga, mas os zagueiros os cercam, obrigando os atacantes a ficarem bola enquanto procuravam espaço. O jogo esfria, os minutos de acréscimo correm e aos 45 Ney em uma de suas epifanias invade a área como uma bala deixando toda a zaga vermelha para trás, há um levante em todos, inícios de gritos, mas o bandeirinha já havia erguido a bandeira e a bola havia ido para fora. Impedido e perdido. 

Nadine solta o ar pesado ao lado de Rafa. 

O primeiro termina em 2x0 e os meninos saem arrasados de campo. Os olhos de Bruna acompanham o namorado entrando no túnel cabisbaixo, vejo nela a mesma preocupação que eu tive com Marco dias atras. É difícil ver quem gostamos sofrer. Os torcedores antes tão efervescentes decepcionados, e os belgas antes acuados faziam a festa como se já tivessem ganho. 

Na tribuna alguns entram na parte interna para sentar-se nos sofás, comer, beber algo, ou simplesmente ficar em um lugar mais quente, embora esse não fosse o dia mais frio em Kazan. 

— Não podemos deixar isso tão fácil — falo. 

— Eu não to acreditando nesse placar, sério — Ginger diz ao meu lado. — Bélgica minha gente? — Ela realmente parecia perplexa.

— Eu não esperava um 2 x 0 já no primeiro tempo — Am olhava para o campo vazio. 

Respiro fundo. 

— Vamos podemos virar, nós vamos virar — elas me olham.

— Acredita mesmo nisso? — Dou de ombros.

— Se tem um time que pode fazer isso é esse, não acham?

Era hora de rezar, e ter fé que qualquer coisa poderia acontecer.

O segundo tempo começa com mudança do lado brasileiro, Willian sai e Firmino entra, mas o que os torcedores queriam mesmo era a saída de Fernadinho. Mais eu entendi o que Tite queria, deixando o ataque reforçado, com Firmino e Neymar no meio, Coutinho pela esquerda e Jesus direita. Força total.  

Apreensiva me sento para assistir o jogo. E o primeiro amarelo é para Alderwaireld, por parar o contra-ataque de Paulinho. 

Aos 2 minutos o camisa 10 enfia a bola na área para Jesus, mas o nível erra o drible. Aperto os olhos. 

— Ta difícil, hein Jesus!? — Grita um torcedor patamar abaixo.

O que está acontecendo hoje? 

Mas segundos depois eu sou obrigada a comemorar um glorioso desarme de Miranda em Lukaku. 

— Que pintura! — Comento e Jota concorda.

— MEU DEUS! — Todos gritam quando após uma jogada mano a mano Marcelo leva a bola até a área e toca para Firmino que por pouco não chega, perdendo um gol vago por um Courtois adiantado com as pernas abertas.

O atacante levadas mais ao outro frustrado.

Mas o Brasil não desiste, eles vem com fome de virada e isso só anima a torcida que aos poucos volta a incentivar. 

Aos 8 minutos Paulinhi invade a área belga e de frente a frente com o goleiro manda, mas é Courtois que leva a melhor. 

— Pior que esse condenado é bom — o pai de Neymar diz e eu tenho que concordar. 

— Ei! Ei! — A torcida se alvoroça quando Gabriel cai na área após carrinho do zagueiro belga. 

— Pênalti! É pênalti — Grita Sarah enquanto observamos o replay no telão. 

Meu Deus! Meu corpo treme com a ideia. Isso poderia nos ajudar, e muito.

No campo os jogadores cercam o árbitro sérvio, Gabriel explica o que houve, os belgas negam e pronto, a confusão parece prestes a se armar, mas...

— Ele ta falando com os outros árbitros — observa Bruna ao ver o juiz levar os dedos até o aparelho no seu ouvido.

— VAR! Ele vai chamar o VAR — comemora Jota quando o homem de néon faz o sinal quadrangular com os dedos no ar. 

A torcida brasileira parece ter um instante de esperança e felicidade. Os jogadores esperam do campo enquanto o árbitro caminha até a cabine ante o túnel. 

Foram minutos longos e torturantes, parecia que o ar estava compactado, que todos exalávamos a mesma tensão e apreensão, prendendo a respiração em conjunto. 

— Por favor Jesus! — Pede Am com as mãos entrelaçadas a minha. Nadine Segura um terço com tanta força que os dedos estão esbranquiçados. 

Mas as notícias não são boas. O sérvio retorna ao campo e com um sinal manda o jogo seguir. 

— Filho da puta! — Rosno como a maioria ali. 

— Corno! 

— Vai se foder caralho! 

— Esse VAR e nada é a mesma coisa — Medina estala. 

Em campo é visível a chateação dos meninos, mas não podem fazer nada, só continuar tentando.

Só um desarme de Miranda em Lukaku que me faz animar novamente. Aos 12 minutos Douglas Costa entra no lugar de Gabriel, o meia vem com grandes expectativas dadas as participações muito boas nas partidas que participou. 

Animados com a atuação brasileira a torcida volta a cantar, a empolgar. O Brasil fazia um segundo tempo bom, só faltava transformar dodóis os lances em gol. 

Aos 16 minutos os belgas até então meio apagados tentam um contra-ataque com Hazad e De Bruyne em tabela, mas vai para fora. No entanto a resposta vem, o recém entrado Douglas Costa parte para cima da defesa e invade área sem pedir licença. O goleiro avança para pegar o chute cruzado, mas só espalma a bola. Uma confusão da área, Paulinho chega, mas não consegue o chute a gol. 

Estalo a língua. 

A Bélgica tenta voltarão domínio tocando a bola no campo defesa brasileiro, mas Coutinho rouba, o meia até tenta o passe para Douglas, mas erra. 

— O Coutinho estava tão bem, o que está havendo? — Am indaga com preocupação. 

Estava claro que embora o time estivesse tentando não parecia o mesmo Brasil dos outros jogos, eles erravam passes bobos, perdiam chances boas, e as estrelas estavam apagadas, um péssimo dia para isso. Eu sinceramente estava rezando para que um milagre acontecesse, estava me agarrando a esperança, mas o tempo passando, o placar ainda com uma enorme desvantagem...me deixava nos nervos. A esse hora eu já torcia pelo empate.

Em dois minutos Douglas faz meu coração saltar, dos chutes de fora da área, um é parado pela cabeça de Kompany e outro é defendido por Courtois. Nesse ínterim o lateral direito leva cartão por falta no camisa 10, Neymar estava fortemente marcado nesse segundo tempo.

— Covarde — rosna Sarah. 

Aos 26 minutos Tite faz mais uma mudança, Paulinho sai e Renato Augusto entra. 

— Ah não Coutinho! — Gemo quando o meia perde mais uma bola, mas logo se recupera levando uma falta ao fazer o desarme. 

— Uhhhhhhh! — Fazemos em uníssono quase nos levantando.

Dougoas havia acabei de arrancar lindamente pela direita invadindo a área e soltando uma bomba para defesa de Courtois. Mas o goleiro não agarrou deixando a bola de rebote de presente para Neymar, o atacante vem com tudo, mas acaba por finalizar na marcação. 

Os acontecimentos em seguida aconteceram rapidamente. Coutinho levanta para a área e encontra o camisa 8, Renato Augusto via na bola e mete de cabeça para o fundo das redes deixando zaga e goleiro a ver navios. 

— GOOOOOOOOOOL! — Renato corre, o time vai atrás. Explodimos. Mais de 28 mil brasileiros explodem verde e amarelo.

Por um momento parece que a arena treme sob meus pés e o grito soa forte que arranha a garganta. Nos abraçamos, pulamos, gritamos, sorrimos. 

Meu Deus! Que se foda! Estamos vivos! Temos chances! Aos 30 do segundo tempo.

É naquele momento que as esperanças reacendem, o canto vem forte, porque se tem uma coisa que não é do feitio brasileiro, é desistir. Não há mais ninguém sentado, nós apoiamos no parapeito de vidro, rezamos, torcemos, nos esgoelamos para cantar enquanto os braços se seguem em apoio. 

O jogo pega fogo, ambos os times saem, o Brasil vai aí ataque.

— É tão brasileiro deixar tudo pra cima da hora — estala Sarah. 

— Não podem fazer isso com meu coração de novo! — Am diz.

Aos 32 Neymar e Firmino tabelam até a pequena área, o jogador do Liverpool vira e chuta no contra-ataque e a bola tira raspai do travessão ao voar para longe das redes. 

— Uhhhhhh! 

Hazard tenta o contra-ataque, mas erra o passe na entrada da área. 

Vamos! Vamos! Só mais um! 

Peço aos céus. 

Aos 34 minutos la vem Renato Augusto de novo, ele recebe do camisa 11, tenta driblar Courtois, mas vai para fora dessa vez. 

Só mais um! 

A essa hora vejo várias mais unidas em oração, olhos atentos, gritos de apoio. 36 minutos e o técnico belga decide fazer uma mudança estratégica, ah sim, estratégica para atrasar o jogo. 

— Anda porra! — Rosna Jota para o jogador belga que se demora em sair. 

Isso é tão baixo...

Mas se eles estavam achando que íamos esfriar...haha 

Assim que Vermaelen entra Neymad na ponta esquerda dribla a defesa e chuta mão demais. Courtois pega facilmente. 

É agonizante, os minutos correm, o time beira vai cantando faltas, fazendo mudanças totalmente desnecessárias. Ainda sim os brasileiro persistem, a bola foge na linha de fundo, Neymar vai ao chão na área e o juiz manda seguir, cinco minutos de acréscimos são dados, os belgas tentam ganhar tempo de qualquer jeito. Os xingamos por isso.

— Esses cornos belgas!  

47 minutos, meu coração apertado em agonia. Eu tinha esperanças, eu implorava por mais um gol.

Douglas faz uma grande jogada para Neymar que manda para o gol na área, apenas para defesa de Courtois. 

Só mais um Deus!

48 minutos. Cobrança de escanteio. O banco se ergue. Até Alisson vai para área como era de prache na era Tite.

Neymar ajeita a bola ao lado da bandeira. Coração disparado, respiração presa, mãos unidas as de minhas amigas. Seria o último lance do jogo. A gente acredita até o final.

Então o camisa 10 solta os ombros e diminui a distância com a bola até chutar. Parece tudo em câmera lenta, a bola voando em um arco, os jogadores em um tumulto na área pulam afim de alcançá-la. É Firmino que a toca, a bola bate na quina de sua cabeça, o estádio respira junto, posso sentir as batidas do meu coração a cada volta da bola. Mas ela ultrapassa o gol indo além, para bem longe. 

É o tempo de repor a bola e o apito soa. Os belgas correm para comemorar. Meus ombros caem. Eliminado. Estamos fora da copa do mundo da Russia.

 

 

 

O mensageiro abriu a porta do quarto para mim e ele conseguiu me impressionar mesmo tendo pesquisado tudo pela internet e visto fotos. Era verão e eu e Marco decidimos por viajar para uma praia, algum lugar paradisíaco, mas ao mesmo tempo com história. Tulum, uma praia linda, balada, com hotéis incríveis e a poucos minutos das ruínas Maias, ou seja, o lugar perfeito. Nosso hotel era digamos uma experiência, todo projetado organicamente para os hóspedes imergirem na natureza, os arquitetos usaram materiais naturais possíveis para criar a áurea de conectividade, mas ao mesmo tempo sem perder o luxo. E devo admitir, aquele era um dos quartos mais luxuosos que já me hospedei, e não havia nada de ouro, banheiras de porcelana ou tapetes de mil fios, pelo contraio. Era como uma grande oca feia de madeira trançada, a porta era arredondado de vidro com desenhos de madeira imitando as veias da folha, e logo no primeiro pisar no cômodo tínhamos que atravessar uma pequena torrente de água por meio de elevações na piscina de azulejo claro. Era como adentrar um novo mundo, uma nova vida. O piso de madeira fina e roliça era hora ou outra coberto por tapetes de trama natural, algo bem artesanal, como a maioria dos móveis do quarto. Muitas plantas dentro, elas se enrolavam pelo teto de madeira vazada e fazia tudo parecer mais selvagem, como uma cabana, uma casa no meio na selva. No meio da circunferência que era o quarto estava uma banheira de azulejo com pétalas de rosas e mais para trás degraus de cipó nos levava a cama redonda envolta de um imenso dossel branco com redes que ia até o teto alto, no chão ao redor, almofadas e ao lado uma mesa cujo pé imitava o tronco e os galhos de uma árvore. Mas isso não era tudo, nós ainda tínhamos um terraço todo em madeira roliça sobre o mar, onde uma pequena piscina parecia se unir ao oceano e espreguiçadeiras confortáveis com vista para o horizonte se localizavam. 

Eu não consegui nem falar ao rapaz aonde deixar as malas porque meus pés me guiava pelo quarto, os olhos passando em tudo, devorando cada detalhe porque eu estava simplesmente encantada. Só fui me dar conta quando o moreno pigarreou e eu girei sobre meus pés para entrega-lo a gorjeta. Ele gentilmente me explicou sobre o esquema de pedir café da manhã ou qualquer outra coisa, já que o hotel não tinha telefone (muito menos televisão) e também mostrou algumas coisas e se foi. 

Olhei ao redor e como queria ter feito antes corri e pulei na cama me surpreendendo no quão macia ela era. Sorri sentindo o cheio revigorante da maresia e do mato. Tudo o que eu precisava e não sabia. 

A eliminação do Brasil me deixou bem triste, ver os meninos arrasados me deixou bem triste, o vestiário parecia mais um funeral, alguns até choraram. Eu mesma consolei Gabriel e notei que por muito pouco Ney não desabou como ele, mas o camisa 10 era como Marco e só ia derramar uma lágrima sozinho ou com a família, com Bruna. Tudo naquela noite foi de partir o coração, todos estávamos muito mal, porque parecia que dessa vez ia dar certo, estávamos indo bem. Mas como Tite disse em seu discurso emocionado: Somos brasileiros, não desistimos e não importa o resultado, temos orgulho dessa seleção e do que nós trouxe até aqui.

Quem não se emocionou ouvindo aquelas palavras não é fã do futebol brasileiro. 

Voltamos para Madrid no dia seguinte, uma viagem cansativa, mas quando deitei na minha cama tudo valeu a pena. No outro dia eu e Marco já estávamos planejando a viagem e exatos 4 dias aqui estou. 

Ah! E Asensio? 

— Dios! — A voz do meu namorado soa e eu me ergo da cama em segundos. 

Olha ele aí! 

Seus olhos encontram os meus e um sorriso se abriu. Aquele sorriso.

Desço os degraus e corro para seus braços me atirando neles assim que o espanhol ultrapassa o pequeno lago diante da porta. 

Depois de deliberar um pouco decidimos vir em voos diferentes por motivos óbvios. 

Ouço sua risada no meu ouvido e sinto suas mãos na minha cintura, ele se afasta um pouco, mas apenas para unir nossos lábios. Não ligamos para o mensageiro com suas malas, apenas matamos a saudade de mais de uma semana sem nos vermos. 

— Bella, estava com saudade — sussurra contra minha boca e eu sorrio o selando uma última vez ( naquele instante ).

— Eu também, amor. 

Marco sorri e então ergue a cabeça para olhar o nosso quarto. 

— É maior do que eu imaginava — os olhos percorriam tudo encantados. Mordo o lábio me afastando, agora apenas segurando sua mão. 

— Vem, vou te mostrar tudo. 

Asensio dá a gorjeta para o mensageiro antes e eu o levo no tour que o rapaz fez comigo, mostrando todos os lugares incríveis naquele cômodo com adições pervertidas de como usar cada ambiente. O que ele, particularmente, amou e se mostrou apto a fazer. 

Mas, primeiro, como era hora do almoço, ou melhor, já havia se passado um pouco ( mais próximo do jantar talvez ), era melhor nos alimentarmos bem. O primeiro banho foi uma experiência, nada de box ou banheiros, tudo ali, naquela banheira no meio do cômodo e la se foi por água a baixo a ideia de esperar. Fizemos nossa primeira refeição ali mesmo, imersos na água morna com vista para o mar e ao som de uma sinfonia de grunhidos, gemidos e arfados. 

Coloco um vestido branco de pontas irregulares com um decote longo em V e sandalhas, tão diferente das botas e agasalhos da Rússia, e nós seguimos para a recepção. O concierge nos indica o restaurante rooftop no próprio hotel para aproveitarmos o por do sol que estava próximo e avisa que a noite ficava animado por lá. 

E definitivamente valeu a pena, o restaurante ficava sobre a copa das árvores com mesas reservadas como ninhos de pássaro. A comida estava incrível, pratos claramente elaborados por um chef com frutos do mar e especiarias maya-mexicanas além da harmonização com o vinho sugerido pelo meitrê. Comemos como Deuses enquanto o sol se punha deixando o céu laranja, rosa, e depois lilás, até a escuridão chegar. As estrelas desceram do céu sobre as mesas, velas ponteando cada uma, era como se flutuassem no ar. Parecia um sonho. 

E o concierge não errou quando falou sobre ficar animado, com a noite o som da natureza foi substituído pela música latina tradicional com toques de eletrônica. Eu não preciso dizer que adorei, preciso? 

Puxei Marco para a "pista" onde vários hóspedes dançavam e deixei que o ritmo me levasse. Nós dançamos juntos, e adorei vê-lo se arriscar no swing mais quente da América-Latina. 

— Eu não chego aos seus pés — ele diz e eu nego. 

— Está perfeito — digo. 

Só de ele estar aqui, me acompanhando, tentando...isso já era tão incrível. 

Rimos quando o jogador me girou passando o braço por cima de sua cabeça e depois no sentido contrário. 

— Olha só! 

— Aprendo rápido — brincou me puxando de volta para si. Rimos mais.

A noite foi pequena, logo estávamos virando doses de tequila e rindo como dois retardados. 

 

 

Acordar naquela cama era outro tipo de nível da vida, ainda mais com o ar marítimo circulando livremente por todo quarto e o barulho das ondas como fundo sonoro. 

— Parece que estamos em uma casa da árvore — Marco diz, nós dois observávamos ao redor a alguns minutos depois de acordar. Ou melhor, de eu me acordar né, porque por milagre o Sr.Asensio tinha acordado mais cedo e estava de banhinho tomado. Aquele cheiro maravilhoso do seu sabonete e perfume misturados. 

— Só se for a do Tarzan. 

Só o rei da selva merecia aquilo.

— Acho que encaixa — da de ombros então viro o rosto para ele. 

— Isso faz de você o Tarzan? — Um sorriso malicioso cresce nos seus lábios e seu corpo vira por cima de mim.

— E você minha Jane — sorrio enquanto Marco abaixa o rosto até meu pescoço começa a uma trilha beijos pela região. Fecho os olhos sentindo uma das mãos deslizar pelo meu flanco, arrepiando a pele a medida que subia minha camisola de seda marfim. 

— Ahh... — Arfo quando sua mão alcança meu seio e o envolve passando o polegar lentamente ao redor do meu mamilo já rijo. Como se já não bastasse sua língua na curva no meu pescoço. — Amor...— peço e ele se põe sobre os joelhos. 

Seus movimentos são abruptos ao me puxar pelas pernas para sua frente, tirar minha camisola já acima de meus seios e em seguida rasgar minha calcinha. Fico sem reação. Marco nunca foi tão bruto, mas eu confesso que amo. Então o deixo fazer o que quiser. Ainda mais quando ele se desfaz da toalha que o cobria com um puxão revelando o tamanho de sua excitação. 

Acho que desaprendi a respirar. 

Ergo os olhos devagar, me atendi a cada detalhe daquele corpo, o V na altura dos quadris, os músculos do abdômen, o peito sólido se expandindo a cada inspiração.

Os olhos castanhos me fitam com uma fome e os cabelos meio húmidos e bagunçados sobre os olhos o dava um visual selvagem. Ele perscrutava cada ponto do meu corpo nu, até mesmo entre minhas coxas, que já pulsava loucamente. 

O moreno vem por cima, e aderna sobre meu tronco. 

— Ownn... — o gemido soa ao sentir sua língua do meu mamilo e os lábios sugarem a região sensível em seguida. Abraço o corpo dele com minhas pernas passando uma das mãos dentre os cabelos enquanto a outra segurava os lençóis. 

O meia-atacante distribui beijos, mordidas e chupões pelos meus seios as vezes me olhando enquanto o fazia só para acabar com meu juízo quase nulo. 

Desgraçado! 

Mas tudo pode piorar. Porque quando acho que vou senti-lo finalmente são os dedos dele deslizam pela minha intimidade encharcada. Estremeço sobre seu olhar fixo e vejo a satisfação em sua face durante toda aquela tortura. 

— Marco... — peço, mas soa como um gemido difícil de segurar.  

Ele esboça um pequeno sorriso e devagar tira dedos de mim guiando aquela mão ao próprio mastro. Afasto mais minhas pernas para que se encaixe, e o fito nos olhos.

O espanhol funga e passa os dedos nos meus lábios, os dedos melados com minha lubrificação e com a dele. Não penso duas vezes e os tomo na boca, chupando-os lentamente. 

— Boa garota — ele diz e então o sinto contra mim. Aperto um pouco os olhos, mas não paro, não quando aquilo estava me excitando e percebo pela forma que pulsava, que me olhava, que a ele também.

Quando Marco está totalmente dentro de mim tira os dedos de minha boca e desliza a mão para o meu pescoço o apertando um pouco. 

— Awnh! — Gemo alto com sua primeira estocada e depois com a segunda e a terceira. Mas o jogador não é nada carinhoso. Dessa vez ele mete ferozmente aumentando o ritmo a cada enfiada e por Deus...

Me despedaço ao redor dele sem parar, posso o sentir pulsar contra mim, junto comigo. É delicioso, tão másculo a forma que me toma. 

Mantenho os olhos nos dele, gemo, grunho, arfo, o olhando propositadamente, mesmo quando agarra minhas pernas e as coloca em cima dos ombros. 

Ah! Se estava bom antes...o sinto com mais intensidade, mais fundo e sei que ele sente o mesmo porque começa a grunhir, a cada estocada mais ofegante, mais pré-gozo expelia. 

O suor desliza pelos nossos corpos, cumula na testa. Está quente demais, por dentro e por fora. Nós pegamos fogo.

Luto contra a vontade de me entregar, de me derreter. Seus movimentos deliciosamente brutos e começa a ficar difícil respirar, minha visão quer escurecer, minhas pernas tremem, meu ventre se contorce. 

— Ah! Ah! 

Não consigo mais controlar, me deixo imergir no orgasmo, aquela sensação me toma fazendo meu corpo estremecer fortemente, meus olhos pesam e minha cabeça tomba para trás.

— Awnn... 

Marco grunhi e então sinto seu jato dentro de mim. 

De olhos fechados ouço nossas respirações ofegantes, ele abaixa minhas pernas e afunda a  cabeça no meu pescoço. Deslizo as mãos das costas até seus cabelos. Passamos alguns instantes assim, nos recuperando. 

— De novo? — Indaga e eu gargalho. 

— Você ainda pergunta? 

O camisa 20 sorri e me beija, mas então o sininho soa. 

Partimos o beijo.

— Café da manhã — falamos juntos. 

O café é servido na mesa ao lado, quase um banquete, frutas tropicais, manga, pitaya, banana, melancia, torradas, abacate, ovos mexidos, sucos, queijo, milho. 

Sentada no colo de Marco levo uma colher com pitaya a sua boca, era primeira vez que ele provava. Fito as reações, cada expressão do seu rosto e quando ele faz careta eu rio. 

— E então?

— Tem um fundinho azedo né? — Rio mais. 

Levo uma colherada a boca, raspando o interior rosa escuro e intenso. 

— É a fruta do cacto, mais comum aqui no México, mas no Brasil tem também. Eu não comia a tanto tempo. 

— É diferente, mas é bom — ele morde o pedaço de sua torrada com abacate e banana.

Olho para o horizonte diante de nós, sinto seu polegar acariciando minha cintura e a respiração branda nas minhas costas. 

Nós comemos sem pressa, observando aquele mar turquesa lindo e infinito, o sol a oito horas no céu. Queríamos relaxar, fazer tudo no nosso tempo, porque tínhamos tempo, todo o tempo. Era perfeito, tudo estava perfeito.

Depois de terminarmos tomamos banho e vestimos roupas leves e de banho para seguir para o penhasco Castillo.

O lugar era lindo, as ruínas de pedra por volta do século XII se erguiam na ponta de uma falésia que escondia uma pequena praia de áreas brancas e mar azul claro. Tínhamos um guia particular que nos contou as histórias sobre aquela região, as ruínas eram do povo Maia e na verdade haviam muito mais construções antigamente, porque aparamente Tulum era uma uma importante cidade portuária, focado principalmente na troca de pedras de preciosas. Segundo José, muito se especula sobre aqui, o mistério se dá pelo paredão de mais de 30 pés, uns estudiosos dizem que servia para proteção das pedras, nobres e sacerdotes, outros acreditam que tinham um significado mais profundo e místico.

O fato é que Tulum era uma cidade com muitos mistérios, com cavernas onde águas esmeralda brotavam, templos escondidos entre a mata ou erguidos em meio a um campo como uma cidade ancestral. 

A próxima parada era em Chichén Itzá, o sítio arqueológico com as mais famosos de ruínas Maias. Mas no caminho José os indicou vários Cenotes que valiam a pena conhecer. E como havíamos locado um jeep 4x4, estando por conta própria, tínhamos a liberdade de desviar pelo caminho.

Os cenotes eram cavidades naturais na pedra, como cavernas, mas este um tipo específico de formação da península de Yucatan. Cercados de míticas pois dizem que os povos que viviam costumava usar esse locais para rituais, eles supostamente detêm uma energia acima do normal. Mas eu só entendo isso quando vejo. O primeiro que paramos foi o Ik Kil, ele ficava no meio de uma mata densa e de primeira vista era um buraco profundo com um lago azul turqueza em baixo. Fiquei encantada, amedrontada e naquele instante entendi porque de aqueles lugares serem tão adorados. Era como uma jóia no meio da selva, lindo, único. Mas para adentra-lo precisávamos descer pela caverna. 

Dentro da formação pude perceber o quanto era alto, as paredes de pedra se estendiam metros a cima até a abertura no solo, onde a minutos atrás estávamos andando, deixava a luz entrar e cipós caiam. Descemos escadas escavadas na lateral das rocha, era segunda-feira e haviam alguns turistas já na água, outros se preparando para entrar, mas nada lotado. 

A reserva de Ik Kil oferecia coletes salva vidas, mas não era algo obrigatório, apenas aos que não sabiam nadar, mas confesso que ao olhar aquela água me senti inclinada a usá-lo. 

— Vamos la amor — Marco me incentiva. 

— Parece tão fundo... — falei e o jogador fez careta. 

— É serio Mia? — Suspiro. — Mas você sabe nadar. 

— Sei né? 

— Então você vai vir — ele começa a me puxar na direção do lago. Eu vou com receio. — Vou primeiro e você vem depois, ok? 

Anuo. 

Marco pisca e pula do patamar de pedra direto no lago sem hesitação alguma. José assobia batendo palmas pelo salto. 

— Exibido! — Grito quando ele emerge dando braçadas para chegar mais perto das escadas com um sorriso. 

— Vem! — Me chama erguendo os braços como se eu fosse uma criança. 

— Ta vendo isso José? Eu sou um bebê por acaso? — Levo as mãos a cintura e ele ri. 

— 3! — Ele começa a contagem. — 2! — Reviro os olhos e pulo. Não, não desço as escadas, eu pulo. 

A água é geladissima, mas quando volto a superfície Marco e José estão aplaudindo. 

— Essa é minha garota! — O meia do real diz com um enorme sorriso. 

Sorrio nadando até ele passando os braços ao redor do seu pescoço.

— Isso aqui ta um gelo — digo entre dentes e ele anui batendo os próprios. 

Rio. 

— Água de cenote é assim, logo vocês se acostumam — José explicá-la do patamar.

E ele não está errado. Nós ficamos nadando, explorando o lago, aproveitando a água principalmente a parte em que o sol toca por ser mais quente.

Com as pernas ao redor do corpo do jogador deixo minhas costas sobre a água, enquanto Marco gira devagar. Fico olhando para a abertura, a mata ao redor, as copas, o sol entre as folhas, os cipós caindo quase tocando a superfície turquesa.

— É lindo, não é? 

— Só sinto paz — digo.

O próximo cenote é o de Suytun, conhecido por ter uma plataforma de pedra no meio na lagoa subterrânea. Suytun diferente de Ik Kil é bem mais fechado, apenas um pequeno buraco no alto do cenote que deixar o fiapo de luz incidir sobre a plataforma. Estalactites cobrem o "teto" e a água ia do amarelo das pedras da parte rasa até o um tom azul cristalino da região mais profunda. Me sinto mais em uma caverna dessa vez, mas não temos tempo de entrar infelizmente. 

Com os vidros do carro abertos e meus cabelos ainda húmidos flutuam diante da minha face, cortamos a estrada sombreada pelas copas das árvores com Jack Johnson - Sitting, Waiting, Wishing tocando. Cantamos ( nenhum dos dois muito bom nisso ), Marco batuca na direção, minha mão ondula para fora do carro. É tão fácil sorrir. 

Chichén Itzá é...pra começar que por foto não da nem para imaginar a magnitude desse lugar. Eram 6,5 quilômetros de cidade, com várias construções ainda em bom estado de conservação, pelo menos para uma cidade de 600 d.C. Eu e Marco ficamos encantados, ainda mais quando o José ia nos explicando as construções, contando historias, costumes do povo que viveu aqui. Conhecemos a pirâmide escalonada de Kukulcán, também chamada de El Castillo, que era o cartão postal do sítio, com seus 365 degraus representando os dias do ano. O campo para o jogo de pelota, me deixou muitíssimo intrigada. Segundo o nosso guia o jogo representada a guerra entre o dia e a noite onde os Maias tinham que acertar a bola em anéis acoplados no alto de paredões de metros de altura, mas isso não era o fim, eles tinham que fazer isso usando apenas os quadris. 

— Eu estava falido se fosse um jogador Maia — brincou Marco ao observarmos um dos anéis do campo de pedra, o sol incidia de forma que tínhamos que estreitar os olhos mesmo de óculos escuros.

Eu e o guia rimos. Estávamos especulando o que faríamos se fossemos maias, eu seria uma espécie de curandeira, mas até agora parece que o destino não seria dos melhores para meu namorado. 

— Alguns dizem que a perda do jogo poderia representar a morte — José comenta. 

— Dios! Falido e morto — olho para o camisa 20 e ele faz careta de desespero. 

— Acho que nasceu na época certa amor — passo a mão pelo seu ombro. 

— E já era meu sonho de ser um guerreiro maia. 

Vimos o templo dos guerreiros, um lugar cim mais de 1.000 colunas, onde supostamente havia um mercado. O próximo lugar foi o observatório, também conhecido como caracol, e era lá que os maias observavam os astros, fazendo seus estudos astronômicos tão conhecidos. 

No sítio também encontramos artesãos vendo os artigos locais em mesas e tabuleiros, acabamos comprando uma pulseira de pé com gráficos maias e uma daquelas réplicas do calendário que achei lindíssima para decoração.  

Vemos o sol se por em Chichén Itzá e voltamos para Tulum com o céu escurecendo. Eu olhava as fotos que José tirou nossas, eram tão lindas acho que vou fazer um álbum dessa viagem. 

No dia seguinte vamos para praia depois do café da manhã e decidimos explorar um pouco a região. Entramos no meio da uma trilha mal feita no meio do mato, ficamos com medo de ficarmos perdidos em alguns instantes, mas fomos recompensados com uma praia deserta, areia branca e fininha, águas cristalinas num tom de azul claro e a sombra de um coqueiro pendente. Estendo a canga de baixo do coqueiro, deixamos nossas coisas lá e corremos para as águas quentes do México. O mar ali não era muito profundo, até por que estávamos em um tipo de pequena baía e a maré estava baixa. Corremos pela lâmina de água, jogamos um no outro, fazemos corrida, até achamos uma estrela do mar. Mas a melhor parte foi foder no mar, a água a 15 centímetros, o sol incidente, a área como cama. Eu não me importei com nada, apenas queria senti-lo ali, ser dele ali. No meio daquela praia Marco me deixou completamente nua e me tomou deliciosamente enquanto a água do mar ia e vinha ao nosso redor. Eu também montei nele, rebolando no seu mastro até que gemesse meu nome em alto e bom som. A natureza foi nossa plateia, e admito, demos um show. 

Graças a Deus ninguém apareceu para estragar nossa diversão, e completamente encharcados nos deitamos na canga sob o coqueiro. 

— Só faltou Rome para ficar perfeito — falei. 

Nosso bebê ficou com o pai de Marco em Mallorca, queríamos te-lo trazido, mas o hotel não permitia por motivos de segurança. 

— Papai falou que ele está se comportando bem, o que é um milagre porque ele só obedece a você — rio. 

— E olhe la. 

— Mimamos demais ele Mia — viro meu rosto para ele. 

— Mimamos? Você mimou querido — Asensio faz careta. — Depois daquela temporada com você o cachorro ficou incorrigível. 

— Epa! Quem colocou ele na cama no primeiro dia? — Abro a boca mais nada sai, fazendo o jogador rir. 

— Ta! Mas quem pega ele no colo para subir nas escadas? — A risada cessa e é minha vez de sorrir vitoriosa. 

Ele suspira pesadamente e tomba a cabeça para trás.

— Imagina se fosse nosso filho mesmo hein? 

— Dizem que cachorros são um ótimo treino, mas se a gente já ta assim... — rimos. 

— Acho que você seria uma ótima mãe — sorrio de canto. 

— E você um péssimo pai — ele me olha perplexo. 

— Porra! Eu acabei de te exaltar e você me pisa assim? — Rio. 

— Você não tem pulso Marco, ia deixar a criança pintar o sete e depois ia rir de tudo — a boca dele se abre mais e eu não consigo deixar de sorrir. 

— Ei! Mas liberdade de expressão é importante na infância — ele tenta esconder o sorriso, mas logo está rindo. — Você seria a mãe severa e eu o papai liberal. 

Rio ao imaginar. Marco seria o tipo que esconderia a almofada manchada de canetinha para não eu não brigar. 

— No final até que daria uma boa combinação. 

 

Voltamos pela trilha até a praia onde estávamos antes, várias pessoas tomavam o trecho de areia e o mar. Seguimos a pé de volta ao hotel, não era longe, mas ao passar pela uma vilinha no caminho e ver a pequena televisão de tubo em um bar duvidoso transmitindo a final da Copa com cinco senhores entre 50 e 70 anos assistindo em suas cadeiras de plastico, não aguentamos.

Nos olhamos e entramos no bar como quem quer nada, pedimos cervejas ao balconista que não parecia muito animado para interromper seu jogo, mas nos atende. Ali no balcão assistimos o final da apresentação dos hinos e o começo do primeiro tempo. Os senhores estavam nos ignorando, soltando um ou dois comentários esporádicos sobre o jogo, mas calados em maior parte. 

O jogo estava indo surpreendentemente indo bem para Croácia, a maior zebra da história das copas, até os 17 minutos quando Griez ganhou uma falta para a França. E se fosse pelos Bleus aquilo não passaria de uma tentativa de gol, mas Manduzukic apareceu no meio das cabeças que subiram. O croata desviou a bola sem querer e seu simples toque fez a bola cravar o ângulo perfeito para o gol. Gol contra.

— GOL! — Gritei no instinto me sobressaltando na cadeira alta do bar. 

Eu diria que não fiz um barulho alto demais, não em comparação ao grito de gol de 10 segundos do narrador, mas simplesmente todas as pessoas naquele bar se viraram para mim. O barman com um pedaço de flanela no ombro me olhou com deboche e os idosos me perscrutaram. 

Quis me afundar na cadeira.

— Você ta torcendo pra França? — Marco pareceu surpreso e indignado. Franzi o cenho. 

— To... — minha voz soou um pouco hesitante. O jogador arqueou a sobrancelha e depois virou-se de volta para o jogo. — Ta torcendo pela Croácia? 

— Óbvio, o Modric joga lá — ele fala como se fosse óbvio. 

É verdade! Meu Deus! Péssima amiga...

Silêncio se faz e apenas a narração do jogo em espanhol mexicano é ouvida. 

— Eu só espero que não esteja torcendo pela França por causa do Griezmann — ele fala o nome do francês com deboche, mas sinto o tom de brincadeira em sua voz.

— É porque eu sei que eles vão ganhar — dou de ombros e goleio a cerveja. 

— Pois eu acho que a Croácia tem chance, na realidade seria incrível os ver ganhar o primeiro título. 

Pondero. Ele, de fato, não estava errado. 

— Isso é verdade. Imagina que histórico? 

Só minutos depois quando a Croácia faz mais um gol, dessa vez correto, que eu lembro que Varane também estava no time francês e que poderia ter rebatido o argumento de Marco com isso. 

Merda! 

A minha falação e de Marco durante todo o primeiro tempo, bem diferente dia homens que assistiam tudo calados, os fazem se aproximar de nós no intervalo. É o barman que puxa assunto conosco, aparentemente ele reconhece Marco e parece que a audição dos senhores ainda está boa porque ao se mencionar jogador do Real Madrid um dos senhores faz um comentário que abre precedente para os demais fazerem o mesmo. O papo, óbvio que era futebol. E pedem autografo e foto com Marco no ínterim. Passam a respeitar mais minha opinião quando descobrem que não sou só a namorada dele mais a fisioterapeuta do Real Madrid. 

— Ah! Mia é a melhor fisioterapeuta do mercado esportivo, todo mundo é doido por ela, além de mim — meu namorado propaga aos homens que arqueiam as sobrancelhas claramente surpresos. 

No segundo tempo já estamos sentados junto com o grupo diante da pequena TV com imagem cheia de fantasma e chuvisco. Hora ou outra Escobar, o barman, dava tapas na coitada para ela voltar a sua melhor definição. Cerveja para cá e para lá, o silêncio virou uma cacofonia de vozes, entre xingamentos e comentários até relevantes nós vimos a França virar o jogo. Eu comemorei com uma dancinha para irritar Marco, mas logo depois foi a vez dele zombar quando a Croácia empatou. 2x2 e eu nunca esperaria por esse placar. 

Embora Modric fosse incrível, um jogador não faz um time, e, eu sei que a Croácia só chegou naquela final por sorte de ter ficado em um bom chaveamento. Mas eu estava feliz porque se eles ganhassem seria seu primeiro título, o que ia ser incrível. 

No entanto, eu estava certa. Aos 13 minutos do segundo tempo Mbappé faz o terceiro.

— Vou até virar pra comemorar — provoco Asensio e depois viro meu copo de cerveja com risos soando ao nosso redor.    

Seis minutos depois...gol de Mbappé, de novo. 

— E la vamos nós! — Estendo o copo para Escobar, que o enche. — Ah! — Exaspero após virar o segundo copo. — Alez bleus! — Pisco para Marco.

— Você é das boas Mia! — O gordo barman diz. 

— Queria que minha mulher gostasse assim de futebol — diz Roberto e Ramon ri ao seu lado. 

— Minha Maria me expulsa de casa a pauladas se eu tirar a novela dela para ver futebol — mais risadas soam.

— Dona Maria é muito brava, 1,54 de pura valentia — o mais novo me explica e eu rio.

— Você tem sorte meu rapaz — Jorge da batidinhas no ombro de Marco que sorri e olha para mim.

— Eu sei — sorrio de volta. 

O jogo acaba com a França campeã, nós não assistimos toda a festa porque já estava tarde para voltar a pé para o hotel, mas nos despedimos do grupo e agradecemos pelo tempo juntos. 

— Tem salsa toda sexta — avisou o Escobar antes de irmos embora.

Caminhamos pelas ruas que davam no hotel de mãos dadas até que eu falo: 

— Vou te apresentar a minha mãe. 

Marco me olha, seus olhos expressão surpresa. 

— Você quer? Q-quer me apresentar a ela?

Sorrio. 

— Ta mais do que na hora amor, além do mais ela já sabe de nós. 

O espanhol sorri também. 

— Vou adorar conhecê-la. 

No dia seguinte depois de mais uma manhã e tarde de passeios chegamos no hotel mortos, mas como havia prometido liguei para minha mãe. Marco estava na recepção resolvendo a reserva da nossa mesa no restaurante de comida maya-japonesa e decidi falar com Dona Letícia antes de apresentá-los. 

— Mãe!! — Gritei quando a ligação de vídeo abriu. Ela sorriu. Ah, mas eu já estava morrendo de saudade.

— Filha! Você está linda meu amor, que saudade — sorrio. 

— Eu também estou. Você cortou o cabelo? 

Seus fios estavam mais curtos, agora mais para um chanel que long bob.

— Sim — passa as mãos nas mexas castanhas puxadas para o cobre. — Precisava renovar. 

— Ficou lindo, ta mais jovem. Gostei. 

Minha mãe sorri mais. 

— Como estão as férias? 

— Ai! Deixa eu te mostrar nosso quarto, você vai amar. 

Faço um pequeno tour pelo cômodo com ela e falo um pouco sobre como estávamos amando Tulum.

— Mas eu sabia que você ia gostar, o México é incrível — ela diz. 

Minha mãe tinha experiência já que trabalhava com hotéis, inclusive, muito do roteiro dessa viagem eu fiz com base em suas dicas.

— Aqui é lindo, incrível mesm... — interrompo quando ouço Marco entrar no quarto. — Amor, to falando com a mamãe — aviso e o chamo com a mão. Ele sorri e se aproxima, já sabia que eu ligaria para ela hoje.

— Finalmente vou conhecer meu genro? — Marco ri se sentando ao meu lado na mesa de forma quem tela pegasse nós dois. 

— Sim. senhora. Estava achando que sua filha não ia me assumir nunca — minha mãe gargalha e eu rio negando. 

— Bobo — ele beija minha bochecha. 

— Ela é assim mesmo, demora pra fazer as coisas, mas quando faz...é porque tem certeza. Puxou do avô, porque de mim...— o espanhol sorri. — É um prazer lhe conhecer Marco, mas só vou pedir que não me chame de senhora, nem sou tão velha assim. 

Ele cora e abaixa um pouco a cabeça. 

— O prazer é meu Letícia, na realidade, acho que você e Mia poderiam ser até irmãs — minha mãe ri e eu também. 

— Mia, minha filha, eu gostei desse rapaz — ela diz ajeitando os cabelos. 

Rimos mais. 

Aquela conversa dura um bom tempo, logo Asensio está mais solto e minha mãe...eu vejo  pelos olhos dela que o adorou, até solta uns podres meus. Mas como o tempo passa a hora do nosso jantar se aproxima Marco vai tomar banho ( com a promessa do encontro pessoalmente ) enquanto eu me despeço dela. 

— Eai mãe? — Pergunto quando ele já está longe. 

— Oh Mia, eu estou tão feliz por te ver tão bem — sorrio. — Parece um bom rapaz, e se é ele que te deixa assim como eu to vendo...eu já gostei dele. 

Meus olhos enchem de lagrimas, a aprovação dela era tão importante, parecia que estava confirmando o que eu já sentia, algo que estava crescendo dentro de mim. 

 

 

— Tava pensando em chamar Igor e uns amigos de Mallorca para cá, o que acha? — Marco pergunta enquanto estávamos na pequena piscina da varanda. 

Estávamos aqui a cinco dias, tecnicamente iríamos embora sexta, mas as coisas poderiam ser adiadas. Já estávamos pensando nessa possibilidade mesmo. 

Sei que os amigos de Mallorca são muito importantes para Marco, eles cresceram juntos, alguns o conhecem desde a escola. Não nego que conhecê-los me deixa nervosa, sei que um amigo que não gosta de você pode estragar seu relacionamento, ainda mais tendo o nível de parceria que eles tem. Mas eu espero que dê certo, que gostem de mim como minhas amigas gostam dele. 

— Seria legal conhecê-los, você fala tanto deles — o jogador sorri e estende o braço, os dedos deslizam pelas minhas costas, subindo pela nuca. Fecho os olhos apoiada nos braços sobre a borda.

— Achei que seria legal, não passamos o tempo juntos desde o ano passado, quase um ano. Fora que eles vão adorar aqui. 

— Por mim pode ficar a vontade, eu já adoro Igor e nunca me importei com domínio masculino — ele ri massageando a linda da minha orelha. 

— Só vamos precisar de um lugar novo, acha que conseguimos assim em cima da hora? — Suspiro.

— Mas o que tem em mente? Uma casa? — O olho e ele da de ombros.

— Seria bom, mas eu queria manter nossa privacidade porque você sabe...— fungo passando a perna para o outro lado de seu corpo.

— Vou pesquisar, tudo bem? — O selo e ele passa os braços ao redor da minha cintura. — Aí você fala com eles. 

— Você é perfeita — sussurra antes de me beijar. 

Logo nosso gemidos preenchem o ar sendo levados pelo vento marítimo enquanto o sol poente beija nossa pele banhando tudo de dourado.

 

… 

 

Desço as escadas e caminho para fora da cada até o pátio, da piscina já consigo ouvir o barulho das vozes masculinas no portão. 

Marco e eu achamos um hotel com casas para alugar, na realidade, essa que estávamos era um tipo de vila, com duas casas. A nossa ficava de um lado na piscina e a outra do outro, ambas com vista para o mar turquesa de Quintana Roo.  

Ultrapasso os arbustos que tornavam a vila mais privada e vejo um grupo de cinco homens. Marco abraçava cada um entre risadas, apertos e tapas. O único que eu conhecia era Igor e ele também é o primeiro a me ver.

— Mia! — Exclama vindo em minha direção com um braço aberto já que o outro segurava a mala. 

— Igor! — O abraço e conforme o faço sinto os seis pares de olhos restantes em mim. — Que bom que veio. 

Ele sorri enquanto os afastamos e Marco não o deixa nem responder já me apresentando aos amigos. 

— Essa é Mia, minha namorada — fala estendendo a mão para que me aproxime.

— Amor, esses são Brandon — apontou para o olhos verdes, barba e cabelos escuros presos em um coque. — Bertto — mais alto e esquio com os cabelos arrumados em um topete e raspados na lateral. — Angel — o mais bronzeado ( por enquanto ), tinha barba e bigode bem aparados e cabelos desalinhados propositadamente. — E Javier — o de rosto largo e bochechudo, também usava barba e bigode, mas seus cabelos estavam escondidos por um boné.

Será que existia alguém realmente feio em Palma de Mallorca? 

Todos eles sorriram para mim e eu retribui. 

— Então essa é a famigerada Mia — Bertto fala com um sorriso malicioso.

Rio. 

— É um prazer conhecer os amigos de Marco. 

— Amigo não, baby, primo — pisca para mim. 

Ah é verdade, tinha me esquecido disso.

— Estamos querendo te conhecer a tempos, desde a primeira vez — Angel diz e eu olho para Marco. 

— Então contou sobre mim antes? — O jogador coça a nuca levemente enrubescido.

— Oh boca grande! — Brandon estala para Angel dando um tapa na sua nuca.

— Mas é a verdade, ouvimos muito falar em você — Javier fala. 

— Muito mesmo — Angel enfatiza e eu rio. 

Parece que os amigos de Marco gostam de fazê-lo passar vergonha. Já gostei deles.

— Acredite, eu também ouvi muito de vocês. 

— Ah bom, viu! Se não íamos começar a ficar com ciúmes — risadas soam. 

— Gente, o papo ta bom, mas eu to morrendo de fome — Igor fala atrás de nós. 

A cacofonia de vozes se forma, ao que parece todos estavam famintos. 

— O café ta na mesa e Marco vai mostrar o quarto de vocês depois — falo. 

— Perfeito! — Brandon sorri jogando a bolsa no ombro.

— Esse lugar é incrível Marquito — Javier fala passando o braço ao redor dos ombros do camisa 20 enquanto adentrávamos para o pátio da piscina e ela puderam vislumbrar as acomodações.

— Mia que escolheu, achamos que vocês iam gostar. 

— Ta brincando né? Isso aqui é o paraíso — Bertto fala andando pelo deck de madeira e se jogando no puff cheio de almofadas. 

— Esperamos não estar atrapalhando a lua de mel de vocês — Brandon diz para mim e sorrio.

— Claro que não, mas porque acha que tem duas casas? — Todos gargalham. 

— Eu gostei dela! — Angel aponta para mim e Marco sorri malicioso.

— Boa meu garoto — Igor berra batendo nas costas do irmão. 

Homens...

 

O café da manhã é no mínimo cômico, a mesa estilo pique níque fica na copa coberta ao lado da casa onde os meninos ficaram e ela estava particularmente cheia. Por um momento me senti em almoço rotineiro no restaurante no clube, muitas vozes masculinas, risadas e mãos para cima e para baixo atacando a comida. Piadas internas, insinuações, perguntas nada discretas e delações de segredos. Era impossível ficar muito tempo sem rir, na primeira pergunta indiscreta sobre nós dois feita por Bertto, silêncio se fez na mesa e Marco ficou tenso, mas eu respondi com naturalidade e uma pitada de humor. 

— Ah, no mínimo três vezes ao dia. Esse homem é uma máquina — pisquei para meu namorado que sorriu enquanto gargalhadas explodiam nos demais. 

Eu sabia como lhe dar com os comentários masculinos, suas brincadeiras maliciosas, mas não desrespeitosas. Afinal eu vivi cercada de homens, tinha que aprender a sobreviver e entrar no jogo deles. 

— Ae Marcão! — Angel deu tapas na nuca do amigo com um sorriso orgulhoso em meio aos comentários suscetíveis a segunda interpretações que soavam. 

Marco deu de ombros como se não fosse nada demais.

Mas era impossível não rir ali, ainda mais quando começaram a contar as histórias sobre as outras viagens que fizeram juntos. Era tradição, todo verão eles se encontravam e iam para algum lugar no mundo. 

— E é a primeira vez que temos a presença feminina — Javier comenta. 

Nem Marina? Hum...

— Fixa. Você quis dizer, né? — Bertto arqueia a sobrancelha e risadinhas soam. 

— Acho que devo me sentir honrada então — levo a mão ao peito ao colocar o copo de volta sobre a mesa. 

— Com certeza, nenhuma de nossas namoradas vieram — Angel concorda. 

— Não que tivessem durado o suficiente para isso — Marco diz e nós rimos.

— A primeira dama dos pelligrosos — Brandon fala. 

— Só não deixe Elena saber disso, ela me mata porque sempre quis vir antes — Igor diz e risadas explodem junto com mais piadinhas sobre o ciúme da namorada do irmão de Marco.

— Não, já aguentamos ela em Mallorca — Bertto fala resultando em uma careta de Igor. 

— Relaxe, isso ficará entre nós — pisco. 

 

Depois do café e de Marco mostrar o quarto aos meninos, nós seguimos para um passeio de iate pela Costa da Riviera Maya. Nada de cansativo hoje, afinal eles tinham passado por uma longa viagem. Foi um dia divertido, som alto tocando reggaton, me surpreendi com Brandon dançando, bebidas, o cheiro da maresia, a brisa do oceano contra nosso rosto, concurso dos piores saltos, no qual eu era a jurada. 

— E para Marco...10! — Proclamo e um zunido de reclamações se forma. 

O jogador sorri e me abraça pelos ombros beijando o alto de minha testa.

— Nepotismo! — Angel reclama.

— Não é justo! Eu exijo reavaliação — é a vez de Bertto. 

— Aposto que tem suborno por trás disso aí — Igor estreita os olhos apontando para nós dois.

Reviro os olhos. 

— Vocês que não sabem reconhecer minha criatividade aquática saltante — Asensio e risadas de deboche soam.

— Eu não entendi esse sarcasmo você entendeu? — Indago ao moreno que nega. 

— É inveja — os meninos fazem careta. 

Segundos depois estavam jogando Marco iate a fora. 

Eu gargalhei mais quando Javier caiu junto. 

— Devía ter gravado isso — falo e Angel ri. 

— Podemos fazer de novo se quiser. 

— Só se for com você seu idiota — Javier fala enquanto subia no deck da polpa. — Nem pra me segurarem! 

— Você é pesado carajo — Brandon diz puxando o amigo para cima, os meninos riam. O entrego uma das toalhas que carregava. 

— Obrigado Mia — sorrio e caminho para entregar a Marco, que subia. 

— Vão se foder voc... — mas antes que terminasse a frase o barulho de alguém caindo na água soa. 

O barulho que meu corpo fez quando o camisa 20 me puxou para fora no barco. 

— Porra Marco! — Rosno assim que subo dando tapas em seu ombro, ele apenas ria assim como todos os outros.

— Tava faltando só você amor. 

— Agora sim, justiça! — Bertto grita de cima do iate e eu lhe direciono uma careta. 

 

… 

 

 

— Olhe, aqui ta muito bom, mas a pergunta é: tem festinha aonde nessa cidade? — Brandon indaga enquanto estávamos no pátio da "nossa casa", cada um deitado nos puffs e cadeiras dispostas. 

Eu e Marco trocamos olhares.

Existiam dois tipos de estadia aqui em Tulum, a que eu e Marco estávamos fazendo até então, mais casal, com dias agitados e noites mais tranquilas ( nem tanto no nosso caso ) ou a estilo farra, com ambos bem agitados e sem tempo para descanso. 

Festa era o que não faltava, nos resorts, hotéis, restaurantes e bares eram o que mais tinha. E não foi difícil achar o lugar mais animado de hoje. Cerca de nove da noite estávamos seguindo para um bar mais próximo a Tulum Pueblo ( o centro ), seu nome era Casa del Jaguar e ficava na beira mar com uma decoração típica e muitas luzes coloridas. 

Me senti a própria branca de neve entrando com sete machos na balada. Não preciso nem dizer que chamamos atenção quando chegamos, preciso? 

Podia sentir os olhares sobre nós a medida que adentrávamos o local, com meu vestido curto de cetim verde esmeralda franzido nas laterais contra minha pele bronzeada eu ia na frente e o grupo vinha atrás de mim. 

Mojitos para lá, tequilas para cá, nós tomamos conta de uma mesa na área VIP que ficava no mezanino, a música ia de eletrônica, pop a reggaton. Duas horas se passaram como segundos, a maioria dos amigos de Marco já tinha descido para se aproximarem das mulheres que tinham avistado daqui de cima, eu mesma tinha os dado algumas dicas. Eram como tubarões farejando a presa. 

— Você não vai? — Indaguei para Bertto, porque Igor eu já sabia o motivo. 

— Ah não gatinha, eu namoro — arqueei as sobrancelhas surpresa. 

De todos o que eu imaginava ser mais galinha era justamente ele. Me surpreendi porque Brandon, com aquela carinha de bom moço, na realidade era o verdadeiro terror. Não que os outros fossem coisinhas mito boas. 

Eu e Marco ficamos na mesa, o sofá que servia de acento era de grande utilidade. Mãos bobas, beijos no pescoço, o grave da música fazia tudo tremer, e a penumbra junto com o calor do álcool só nos deixava com mais tesão. 

— Você me deixa louco bella — meu namorado sussurrou no meu ouvido e eu ri deslizando a mão pelo seu peito. A camisa de botão estava aberta de uma forma sexy que deixava um pouco do seu peito exposto, os cabelos levemente bagunçados, e aquele perfume...meu favorito. — Por Deus! Te comeria aqui — mordi o lábio.

— Seus amigos estão na mesa amor — falo no seu ouvido para provoca-lo.

— Eu sei — ronronou mordiscando a pnta da minha orelha, seu polegar alisando discretamente meu seio. 

Sorri e deslizei lentamente a coxa para cima da perna dele, o fazendo acompanhar cada movimento com os olhos. 

— Então me beije — pedi puxando seu queixo. 

O jogador sorriu e não beijou duas vezes ao atacavam meus lábios.

Pegávamos fogo, as mãos dele pelo meu cabelo, cintura, coxas, as minhas igualmente o exploravam em meio a um beijo cheio de provocações. A eu bêbada é o próprio demônio, e vocês sabem disso.

— É melhor vocês pararem antes que eu fique de pau duro — Bertto falou alto do outro lado do sofá e nós partimos o beijo rindo.

— Ah vá se foder Albertto! — Marco mandou e o primo rio.

— Marquito, eu assistiria um pornô de vocês tranquilamente — Brandon disse em pé ao lado na mesa e a loira que ele segurava assentiu. 

E então eu percebi que todos ali assistiram. Mas não senti vergonha. O que a tequila não é capaz de fazer?

— Eu também, vocês são tão quentes — disse com um sotaque que não era mexicano, acho que ela era americana.   

Um sorrisio repuxou meu lábio.  

— Obrigada — falei e ela sorriu de volta levando a taça a boca.

— Se um dia a gente gravar te mandamos — meu namorado disse adernando a cabeça para despejar um beijo meu pescoço. 

Todos rimos, mas eu percebi que os olhos da loira de Brandon não desviavam de mim.

Nós descemos para pista mais tarde, El fecto de Rauw Alejandro tocava e eu dançava como se não houvesse amanhã. 

De costas para Marco rebolei no ritmo das batidas enquanto descia lentamente, suas mãos deslizando pela minha cintura, quadris, bunda, minha cabeça tombando no seu ombro, as luzes piscando, o som grave fazendo nossos corpos retumbarem. 

Nos divertíamos, provocamos, beijamos, riamos, trocávamos carícias, e eu me acabava na pista. Era tão bom, eu me sentia tão eu, tão livre, tão completa. 

Passei os braços ao redor do pescoço do camisa 20 rindo de um passo que ele tentou fazer. 

— Amor, acho que já deu pra mim — disse no meu ouvido e eu anui. 

— Vamos subir então. 

Eu tinha energia para a noite toda, mas não ia ficar sozinha ali. Tinha me acostumar que Marco não era o maior fã de dançar, ele preferia me assistir. 

A noite foi pequena, os meninão eram super divertidos e bêbados conseguiam ser mais engraçados. Shots de tequila, risadas, pegação, mais tequila, flagra de Angel com uma menina no banheiro com direito a fotos tiradas por Igor, risadas. 

— Advinha o que o Brandon me disse — Asensio soltou no meu ouvido para que eu ouvisse sobre a música. Franzi o cenho.

— Não faço ideia, o que foi? — Ele riu. 

— A loira com ele, a tal da Savannah, ela sugeriu que um sexo entre casais — arregalei os olhos. — Eu, você, ela e Brandon. 

Quase engasguei. Nunca tinha recebido uma proposta dessa. 

— O que? — Gargalhei. — É sério isso? 

— Sim — ele goleou seu whisky. 

— E o Brandon? 

— Ele aceitaria, Brandon curte essas coisas. 

— Mas e você? Faria? 

Eu nunca havia pensado nisso, no máximo um menage, mas a 4...com outra mulher...

Marco ponderou. 

— Amor, pra ser sincero eu nunca fui muito de sexo com mais de duas pessoas, mas...se você quisesse eu faria — assenti.

Brandon era gato, muito gato e a tal Savannah era uma mulher muito bonita, no entanto...acho que nunca me sentiria confortável.

— Bom, eu também não — ele suspirou de alívio.

— Ainda bem — ri e o selei. 

— Então acho melhor avisar a eles que nós dois não somos tão fáceis assim — sussurrei contra sua boca e ele riu. 

— Não somos mesmo bella.

Era cerca de duas da manhã começou a tocar a boa e velha música latina raiz e eu não pude ficar sentada.

— Eu vou contigo — Brandon falou se levantando da mesa. 

— Ok. — Deixei Marco com os meninos e nós dois descemos juntos para a pista. 

Brandon era da mesma altura que meu namorado, mas o resto era bem diferente. Ele era mais corpulento, mas não do tipo super musculoso, apenas magro. Os cabelos escuros soltos e a barba só enfatizavam seus belos olhos verdes. Ele era charmoso e inteligente, mas eu podia ver que fugia de sentimentos como um louco. 

— Relaxa Mia, eu não vim pra te convencer a nada — o moreno falou quando me puxou para mais perto e me percebeu um pouco tensa. 

Sorri sem graça, eu não queria que ele tivesse percebido. 

— Claro que não. 

Começamos a dançar ao som da música e suas batidas fortes e viciantes. 

— Você não aceitou pelo Marco ou...

— Por mim, eu nunca fui muito de dividir — o interrompi e ele riu me girando algumas vezes.

Até que o espanhol mandava bem. 

— Mas vou te contar loirinha ficou louca por você — falou quando me trouxe de volta. Eu gargalhei. — Se você fosse lésbica ela me dispensava e ia contigo, certeza — ri mais. 

— É uma infelicidade isso, mas se considere com sorte — Brandon riu. 

— Ah, eu me considero sim — enfatizou e rimos. 

Em um momento me afastei para fazer meu solo e quando voltei aos braços dele o ouvi dizer:

— Eu gostei de você Mia — sorri. — Acho que o Marquito finalmente achou alguém especial. 

— Também gostei de você, de todos vocês já realidade — ele riu. 

— Até do Bertto? Ele é insuportável — ri mais. 

— Até dele. 

Olhei para cima e lá estava Marco com os meninos no mezanino. O mandei um beijo e Asensio piscou.  

— Acho bom você cuidar do meu amigo, hein?! Ele é um chato de merda, mas eu amo ele — sorri. 

— É, eu também — falei distraída. 

 

… 

 

No dia seguinte acordar foi um suplicio, todos estavam de ressaca, mortos ou semi. Mas tínhamos que acordar cedo para visitar mais um sítio histórico, e como tínhamos pagado, nada de desmarcar. Tomamos café da manhã as pressas e seguimos para o Palenque em dois carros como sempre. 

Mas o melhor foi ver os vídeos dos meninos no outro carro, Javier dormia no banco no meio com a cabeça tombada para trás e a boca aberta, Angel mandava todos para mim. Eu, Marco e Igor gargalhávamos, principalmente quando eles colocavam filtros nele, passavam tecido na sua face e fazia ele franzir o nariz roncando. 

— O que foi? — Igor indagou e eu segui o rosto para olhar para Marco.

— Eles estão diminuindo — o irmão mais novo falou olhando pelo retrovisor. 

Eu e Igor viramos para ver o carro atrás realmente com a velocidade reduzida.

Imediatamente meu celular começou a tocar. Era Angel.

" — O pneu furou." 

— Puta merda! 

— O que aconteceu? — Perguntaram os irmãos em uníssono. 

— O pneu do carro furou — repassei. 

— Puta merda! 

Nós estacionamos no acostamento na frente do carro locado pelos meninos, eles aos poucos saiam do carro, Javier finalmente desperto e a maioria com ósculos escuro para esconder a cara de ressaca. 

— Então, cadê o estepe? — Indaguei ao chegar no círculo de homens de braços cruzados que havia se formado na calçada. 

— O estepe! — Bertto exclamou como se tivesse sido lembrado agora. 

Não acredito que eles esqueceram do estepe. 5 machos em um carro e nenhuma agilidade. 

Revirei os olhos. Logo eles estavam tirando o espete de baixo da cobertura da mala e o macaco para suspender o carro. 

Brandon, Marco e Bertto foram trocar, enquanto o resto de nós sentados no batente da calçada observávamos e riamos da situação. Angel aproveitou o momento para tirar uma foto da realidade, mesmo que Javier já estivesse dormindo no ombro de Igor. Mas o melhor melhor momento foi quando estávamos voltando para o carro e Javier ( sim, ele mesmo ) tropeçou na própria sandalha havaiana e por pouco não caiu de cara no chão. Todo mundo se estourou.

— Ta bêbado ainda carajo? — Bertto o indagou e Javier o mostrou o dedo do meio antes de entrar do carro.

Minutos depois já estávamos em Palenque. E Deus! Era a coisa mais linda, parecia é mais selvagem que Chichén Itzá, no meio da mata e um pouco menor. O guia que nos encontrou no local disse que era uma das ruínas românticos de Tulum justamente por ter essa atmosfera de descoberta e ser habitada por macacos e aves exóticas. 

— E Palenque tem uma vantagem em relação a Chichén Itzá — José explicava conforme andávamos. — Aqui nós podemos conhecer o interior das construções. 

Naquela hora eu quase pulei de alegria, eu realmente fiquei triste por não poder entrar nos templos de Chichén Itzá, mas entendi o motivo. O movimento intenso abalaria a estrutura com o tempo e atrapalharia sua conservação. Mas em Palenque ainda podíamos ter essa oportunidade. 

— Ai! Isso vai se incrível! — Falei empolgada aos meninos. 

 

… 

 

— O que você disse mesmo Mia? — Indagou-me Brandon durante a subida pelos mais de 150 degraus do Templo das Inscrições. O primeiro a ser descoberto nesse sítio maia.

Olhei aos redor e os meninos esbaforavam a cada degrau, o suor caindo pela testa até sumir dos óculos escuros. 

— Que ia ser muito legai — Igor falou. 

— Muito legal não, incrível — lembrou Bertto. 

Fiz careta para eles. 

— Vamos seus molengas! — Bati palmas fingindo que estava com mais disposição que eles. 

Mentira! Eu estava morrendo. Até Marco estava cansado, o único que parecia ótimo era José, mas também ele já estava acostumado. 

— Vocês ainda estão aí? — Falou nosso guia dez degraus a cima. 

Rimos sem graça um pouco ofegantes.

— Pois é né — Angel disse colocando as mãos na cintura com a camisa amarrada a cabeça como um torço. 

Bons minutos e muito suor depois nós estávamos no topo do primeiro templo. E ele era magnífico, realmente valeu a pena. José foi nos contando as histórias daquele povo, daquela construção e noa mostrando as vistas mais incríveis de lá. Tiramos fotos de macacos e com eles, em uma dessas eles quase roubaram o celular de Angel. Mas José conseguiu recupera-lo. 

— É lindo né? — Indaguei passando os braços ao redor da cintura de Marco enquanto olhávamos para a floresta de cima das copas. 

— É, é incrível — ele me puxou para seu lado e sorri enquanto o via se aproximar. 

Asensio sorriu antes de me beijar, algo lento, carinhoso e romântico. 

— Awn! Que casal mais lindo! — Partimos o beijo rindo.

— Ah! Eu shippo tanto! — Mandamos o dedo do meio para Igor e voltamos ao beijo.

Os dias foram passando e foi tão divertido, praia, festas, ruínas, cenotes, mais festas, momentos engraçados, até quando encontrava uma das meninas trazidas pelos rapazes saindo de fininho de manhã. No último dia decidimos voltar ao bar que assistimos a final da copa. Afinal sexta era dia de salsa, seria com chave de ouro. 

Encontramos todos os nossos amigos suas esposas, Escobar até nos deu duas mesas, as melhores da casa segundo ele. Os rapazes também gostaram do lugar, mesmo com seu estilo rústico. Claro que eles gostaram, ficaram loucos pelas dançarinas que se apresentavam. 

— É tão bom estar com você aqui, assim — admiti no ouvido de Marco enquanto dançávamos. — Sem esconderijos.

Eu não sabia que era tão bom até viver isso, até parar de esconder. Um casal normal, nunca tive isso antes. Nunca pude mostrar que eu era de alguém, como eu amava alguém e fazer isso agora...eu queria mais.

— Eu queria que fosse assim sempre — ele sussurrou e suspirei afastando nossos rostos. 

— Acho que está na hora — falei olhando nos seus olhos. 

Asensio ficou atônito por segundos e então sorriu. 

— Sério? — Sorri de volta. 

— Sério. Vamos assumir pra todo mundo, chega de esconder — Marco passou os braços ao meu redor e me suspendeu girando. 

— Eu te amo Mia! — Ri e o beijei. 

 

 

 

P.O.V James

 

Quando voltamos para Colômbia eu decidi que ia esquecer todas aquelas coisas que passaram na minha cabeça durante a copa. Por isso ajudei Daniela a planejar nossa viagem e seria incrível, sete dias em Dubai com tudo o que tínhamos direito. Resolvemos tudo em uma semana, hotel, roteiro, reservas, Salo ficaria com Lúcia, até o fisioterapeuta indicado pelo Real iria conosco, não me importei com gastar para fazer aquilo ser perfeito.

Eu me joguei naquela viagem com todas as minhas esperanças, e nós começamos bem, ou melhor, eu comecei bem. No primeiro dia chegamos de tarde, fizemos check in no hotel e já seguimos com o guia para conhecer a cidade. Palm Jumeirah, a ilha em formato de palmeira foi uma de nossas primeira paradas, e de fato era algo extraordinário, descomunal, como tudo parecia ser naquela cidade (inclusive o calor). A noite, depois de visitar o famoso aquário do Hotel Atlantis, fomos jantar no restaurante da cobertura de um hotel, ele tinha vista para o mar de prédios e as luzes cidade no meio do deserto, inclusive para o Burj Khalifa. E foi ótimo, Daniela estava feliz, o lugar era incrível, a comida impecável...o único problema era eu. 

Pois é. Eu estava me esforçando, porque eu sabia que estava tudo perfeito e que eu devia estar feliz também. Eu tinha tudo, porque eu não conseguia aproveitar aquilo? Parecia que algo faltava, como um vácuo, como quando se experimenta uma réplica quase perfeita, já tendo conhecido a original. Mas eu ignorei essas sensações, ignorei meus pensamentos e tentei enfiar na cabeça que tudo ia melhorar dali por diante. 

Naquela noite tentei reavivar aquela chama que tínhamos antes de tudo, mas eu estava tão cansado que quando Daniela foi se arrumar no banheiro acabei adormecendo. De manha, depois do meu treino das cinco da manhã, durante o café da manhã pedi desculpa a ela e prometi que ia recompensar. Eu de fato me senti muito culpado, queria fazer minha mulher feliz e faço uma merda dessa? 

Al Bastakiya era uma vivência árabe, indo desde apresentações de dança no meio das praças a arquitetura com seus becos estreitos, casas de pedra amarelada. Daniela aproveitou para comprar lenços e uma roupa típica em uma das lojas, já eu comprei incensos que segundo o guia eram bons para relaxamento e dores musculares. Visitamos museus, casas históricas, experimentamos algumas comidas típicas, assistimos uma apresentação de dança do ventre, mas eu não consegui ficar muito tempo ali. Porque toda vez que olhava a dançarina via Mia, lembrava dela dançando para mim, era perturbador. 

— O que foi amor? — Daniela me indagou quando a puxei para fora do círculo de espectadores. 

— Tem mais coisa pra a gente ver — falei e em seguida me virei para o nosso guia. — Malik, eu quero conhecer as torres de vento. 

O jovem magro com pele bronzeada sorriu para mim. 

— Vou levá-los até la. 

Era umas três da tarde quando pegamos a 4x4 para seguimos para o deserto, o guia nos contou sobre o clima, lendas, histórias do povos que viveram ali e de fato era lindo. As dunas enormes de areia douradas, o sol fazendo a areia brilhar como ouro, o vento forte nos forçava a usar lenços no rosto e óculos escuro. Sentamos em tendas brancas com tapetes persa e almofadas, o garçom tratou de nos servir as iguarias locais, mais comuns do deserto. Indo desde bebidas a petiscos, alguns condimentados demais para o meu paladar.

Assistimos o por do sol ali, e admito que foi uma das coisas mais lindas que já vi. Tudo virou laranja, o sol descia entre as dunas e o sol de uma típica flauta árabe soava. Daniela deitou a cabeça no meu ombro e suspirou enquanto observávamos aquela gloriosa paisagem. 

Então vieram aquelas dançarinas de novo, sob luzes de tochas elas se apresentaram diante de nossa tenda. O céu ficava escuro, ao redor os turistas que vieram no comboio observavam de suas tendas, mas eu só queria me distrair. Fitava o céu, o fogo crepitando, a trama do tapete, o tecido das almofadas, mas quando meus olhos encontraram uma das dançarinas por descuido eu senti meu coração acelerar. 

Ela me olhava nos olhos, mesmo de longe, e seu olhar era intenso como uma faca afiada, castanhos como o de alguém. Não conseguia ver o resto do seu rosto coberto por véus roxos, mas por momentos eu jurava conhecê-la. Ela dançava e seu corpo era como uma cobra, ondulando como se não tivesse ossos. Meus olhos acompanhavam cada movimento hipnotizados, seu quadril gingando, sua perna saindo pela renda da saia, os braços mexendo sensualmente no ar. Ela era lenta e sutilmente fatal, um veneno, meu pecado, minha destruição. 

— Se eu soubesse que gostava tanto tinha marcado aulas em Madrid — Daniela falou ao meu lado e eu pisquei voltando a realidade. 

Droga! Era tudo o que eu estava fugindo. Pensei em me explicar, mas só causaria briga. 

— É muito bonito, você ficaria incrível no lugar delas — falei e minha mulher sorriu. Um sorriso não de satisfação, mas de sarcasmo. 

— Ah! Eu sei que sim — brincou. 

Quando voltei a olhar para dança, aquela morena que me enfeitiçou estava completamente diferente. 

A noite voltamos ao hotel, estávamos hospedados no Burj Al Arab Jumeirah e como era o hotel mais caro e luxuoso de Dubai não tinha porque sair para aproveitar. Optamos por jantar em um dos restaurantes mais bem avaliados do hotel, comida internacional assinada por algum grande chef. Daniela estava especialmente arrumada, usava uma saia branca longa justa nos quadris e uma blusa de ombro a ombro do conjunto, a maquiagem não muito carregada como ela sempre preferiu, mas evidenciando seus olhos.

— Está linda — falei para ela que sorriu. 

— Você também.

Bom, eu também tinha me arrumado. 

Comemos, conversamos, lembramos de algumas boas memórias que tínhamos de viagens, bebemos. E quando voltamos para nossa suite eu cumpri o que havia prometido. 

— Eu to ansiosa para visitar Gold Souk, minhas amigas me disseram que é ótimo — falou deitada no meu peito nu. 

Sorri de canto e beijei sua testa. 

— Vamos sair cedo, melhor a gente dormir. 

 

No dia seguinte depois da minha fisioterapia na academia do hotel nós fomos para marina, onde o nosso barco nos esperava. O iate faria o caminho da costa, e poderíamos ver a cidade de outro ângulo, aproveitar a brisa marítima, mergulhar no golfo pérsico. Daniela estava animada, especialmente feliz e eu fiquei satisfeito por isso. O passeio de iate foi tão bom quanto esperamos, paisagens lindas, praia desertas, água azul turquesa quente e champanhe gelado. 

— É lindo, não é? — Ela passou os braços ao meu redor apoiando o queixo no meu ombro enquanto o mar arábico se abria na nossa frente. 

— É — falei após um suspiro. 

De tarde deixamos a marina direto para o Gold Souk, o mercado de ouro que Daniela estava louca para ir. Lá tudo era de ouro, vitrines e mais vitrines exibiam jóias opulentas, parecia que estávamos em um daqueles cofres de tesouro dos filmes. O guia nos indicou suas lojas de confiança e falou sobre o hábito árabe de negocias e que eu me sentisse a vontade para o fazer, ele traduziria tudo. Os valores não eram nada absurdos, mas ouro era mais no oriente, porque a oferta era maior. Dei de presente a minha mulher um conjunto com colar, pulseira e brincos, em ouro 24k com esmeraldas cravejadas. Pra mim comprei um relógio, um bracelete e um anel para o dedo mindinho. 

— Eu amei meus presentes mi amor — ela sussurrou no meu ouvido enquanto seguíamos com o carro de volta para o hotel, sua mão deslizando discretamente pela minha coxa. 

Eu sorri de canto. 

— Que bom — falei. Eu sei que devia ser mais carinhoso, mais receptivo, mas eu não estava conseguindo mais. 

— Por isso vou te dar um presente quando chegarmos — fitei sua mão subir pela minha perna enquanto ela ronronava e em seguida olhei para o retrovisor do motorista, ele parecia prestar atenção no trânsito. 

Forcei mais um sorriso e coloquei minha mão sobre a dela antes que chegasse onde queria. 

— Sabe que não precisa fazer isso — soou um pouco sério então acrescentei: 

— Amor. 

Daniela nunca foi assim, ela nunca me recompensou com sexo, nunca foi do tipo que provoca, que se insinua. Não que houvesse algum problema, mas ela não era assim. 

— Mas eu quero — sussurrou tentando se desfazer da minha mão, mas eu segurei com mais força.

— Você não é assim Daniela — falei baixo, mas enfático e ela me olhou desolada, suas bochechas coraram e a mão se encolheu. 

Ficamos em silêncio o resto do caminho. Eu me punindo por ter agido daquela forma, me punindo por deixá-la com vergonha, me punindo por estar aliviado. 

"Merda James! Ela só estava tentando te agradar."

No hotel eu me desculpei, falei que estava um pouco cansado e que acabei descontando. Ela anuiu e não brigou comigo, não como faria normalmente, apenas devolveu meu abraço. 

— Vou descer para tomar um ar, quer vir? — Dani negou. 

— Não, vou me arrumar para o jantar — eu assenti. 

— Volto logo. 

Então desci para a plataforma construída diante da ilha onde ficava o hotel, fora recém conferida porque os donos achavam que a antiga piscina era pequena demais para o porte das 7 estrelas. Me sentei em uma das espreguiçadeiras diante da piscina e suspirei pesadamente pensando no que fiz. A ultima coisa que eu queria era essa separação durante essa viagem, essa minha necessidade de ficar sozinho como fiz várias vezes na Russia. Eu não queria repetir o que aconteceu la, era justamente o contrário, mas...não sei o que deu em mim. 

Os dias se seguiram, Daniela ignorou o que aconteceu e agiu como se nada tivesse acontecido, eu fiz o mesmo. O resto da viagem foi boa, comemoramos meu aniversário ( até fizemos chamada de vídeo com a família ), aproveitamos bem, conhecemos outros pontos turísticos, a Jumeidah Mosque, o Burj Khalifa, o museu de Dubai. E quando chegamos na Colômbia todos perguntaram como havia sido, curiosos, e ela respondeu o que foi incrível, que era lindo e disse como nos divertimos. Eu apenas concordei a cada detalhe descrito e deixei que Dani os contasse na sala de nossa casa em Medellin. Enquanto isso vi minha mãe sorrir satisfeita para nós dois.

 

Mas a verdade é que eu menti, eu fingi durante toda a viagem. Eu juro que me esforcei, que fiz meu máximo para ser o marido que eu devia ser, para ser novamente aquele homem apaixonado por aquela mulher. Achei que viajarmos sozinhos iria reacender meu amor, que eu olharia para ela com os mesmos olhos de antes. Mas não funcionou. Aquela viajem foi um suplício, uma verdadeira tortura mental, cada vez que eu pensava em Mia eu me sentia culpado e me esforçava para ser melhor, para deixar Daniela feliz. O problema é que eu não parei de pensar nela, nem mesmo por um segundo e era exaustivo fingir que estava tudo bem, era exaustivo guardar tudo dentro de mim quando eu só queria gritar comigo mesmo por estragar o que estava perfeito. Eu tinha uma mulher que me amava, uma carreira bem sucedida, uma filha linda e nós estávamos em uma viagem romântica em Dubai. Mas aí vem uma loucura da minha cabeça e me faz ver tudo isso como se não fosse o suficiente. Um sentimento estranho que me tira da racionalidade, é diferente de antes, é mais forte, mas difícil de esquecer, de esconder. Aquilo me deixou louco e irritado, ainda mais depois que eu deixei uma centelha escapar, quando Daniela não explodiu e sim engoliu sua raiva. Porque naquele dia eu notei que ela estava se esforçando também, que ela estava até mudando seu jeito para fazer dar certo e que eu estava sendo um babaca, um imbecil, um escroto por não estar totalmente com ela. Ela não merecia isso. Fui teimoso, tentei mais. Terminamos a viagem, nada mudou. Mia ainda me assombrava, eu não só pensava nela como a via em tudo, parecia que nada era o suficiente, que nunca estava bom, que nunca estava completo. 

Agora eu estou aqui, uma semana depois que chegamos em Medellin, uma semana que tenho remoído cada ato, pensamento, sentimento meu, uma semana ponderando sobre o que fazer, uma semana brigando internamente sobre a decisão que preciso tomar. Eu estava dividido, parte de mim achava que acabar com um casamento de sete anos era palhaçada, absurdo, afinal depois de tudo o que passamos iríamos sobreviver a isso, eu podia esquecer Mia, eu podia voltar a ser o mesmo James de antes. Eu sempre acreditei que pela família poderia fazer tudo, sempre protegi minha família de tudo, porque ter isso sempre foi meu sonho. Eu realmente acreditava que poderia passar por cima de qualquer coisa e que poderia manter meu casamento intacto, achei que diferente do meu pai, eu não ia ser fraco e ceder. Eu sempre o achei um fraco, mesmo quando ele olhou para mim já mais velho e admitiu que errou, mas que fez aquilo porque estava apaixonado e não mediu as consequências. Eu tinha raiva e desprezo dele, de homens como ele até...até agora.

A outra a parte via como um absurdo mesmo continuar com Daniela fingindo que estava tudo bem enquanto eu lutava para esquecer Mia. Eu estava enganando alguém que me amava por puro egoísmo. Porque, pensando racionalmente, eu planejei para aquela viagem na intenção de dar uma chance a nós dois, uma chance para mim mesmo de voltar a me apaixonar pela minha mulher. Mas se eu estava em uma viagem romântica com Daniela, com todo um cenário perfeito e mesmo assim não consegui tirar Mia da cabeça era porque tinha algo errado. Era porque eu já não amava mais minha mulher como antes. Era porque casamentos não eram tão indestrutíveis quanto eu pensava. 

E foi uma semana pensando nisso, dia e noite, as vezes até perdia o sono. Eu nunca me vi em uma situação tão difícil, nunca me vi questionar tanto minhas convicções. Era doloroso de tantas formas diferentes pensar. Cada vez que eu pensava parecia que um furacão passava pela minha cabeça. Sentimentos por Mia, ainda confusos demais. Erros cometidos, foram tantos. Deixar Daniela, vê-la sofrer, acabar com minha família. Continuar, sofrer tentando esquecer Mia, enganar Daniela, vê-la sofrer até eu conseguir ser o mesmo James de antes.

É angustiante, por todos os lados vejo dor e sofrimento e isso me destrói. Me culpo por sentir isso, me culpo por ter deixado Mia se tornar isso, por deixá-la entrar na minha mente dessa forma, me culpo até por conhecê-la. Amaldiçoo cada momento nosso, praguejo por me deixar levar, por deixar aquilo chegar a esse ponto. Penso na minha mãe, ela ficaria decepcionada, ela me criou para ser diferente do meu pai e aqui estou, na mesma situação que ele. 

Quando dou por mim lágrimas descem dos meus olhos, apoiado no peitoril de vidro na varanda abaixo a cabeça. Daniela saíra com Salo para encontrar amigas, então eu estava sozinho. Sozinho com meus pensamentos, com minha culpa. 

Penso nos meus erros, os erros que sabia que cometi, mas fugi durante tanto tempo. E agora eles me envolvem, me sufocam, me fazendo pagar pelo tempo que os ignorei. Lembro de Salo ligando para mim chorando perguntando se eu e sua mãe íamos os separar, pedindo para que não o fizéssemos. Ela era uma criança, não entendia, mas eu não queria que sentisse um porcento do que senti quando meus país se separaram. Não queria que sofresse por ver a mãe mal, por me ver mais longe do que o comum. 

Levo as mãos a cabeça e respiro fundo tentando engolir o nó que se formava na minha garganta, o nó que na realidade estava se formando a semanas. 

— James? — A voz dela soa atrás de mim, limpo as lágrimas rapidamente e me viro. 

— Achei que fosse chegar mais tarde — minha irmã com a testa enrugada se aproximou mais. 

— O que está havendo? — Sua voz é suave, mas carregada de preocupação. 

Faço cara de quem não está entendendo. 

— Nada — nego forçando um sorriso de canto.

Juana dá um longo suspiro e se senta no sofá da varanda, estava escrito em sua face a total descrença em mim. 

— Eu não sei porque insiste em mentir para mim — fala seria escorando a cabeça no braço apoiado no encosto. 

— E eu não sei porque você insiste em dizer que eu estou mentindo — rebato. 

— Você acha que eu sou idiota? — Sua voz soa um pouco mais alta que o normal. — Merda James! Você está estranho desde voltou de viagem, quer dizer, você está estranho desde a copa. E agora eu te pego aqui, sozinho, chorando...

Eu abro a boca para negar, mas ela me interrompe.

— Eu sei que tem alguma coisa acontecendo. Sei que não acha que devia desabafar comigo porque você tem essa ideia idiota de que precisa parecer forte para mim, mas James você não pode aguentar tudo sozinho — ela olhava nos meus olhos, pedindo que eu falasse. — Você não não precisa, irmão. 

Fico em silêncio alguns segundos debatendo comigo mesmo sobre falar ou não. Havia tanta coisa na minha cabeça, eu sabia que precisava colocar para fora, sabia que estava no meu limite. Mas falar aquilo tudo...dizer em voz alta, fazia parecer mais real. Mas se tinha alguém que eu podia confiar de contar isso era para Juana, ela também parecia ser a única a se importar comigo e meus sentimentos. Mas minha irmã tinha só 19 anos...será que ela entenderia? 

— É coisa demais Ju — falei fitando minhas próprias mãos. 

— Nós temos tempo, e eu não vou te julgar, se é disso que tem medo. 

Ergui os olhos para ela. 

Talvez estivesse na hora de colocar tudo para fora, eu já não aguentava mais. 

Me sento ao lado dela e minha irmã me escuta atenciosamente enquanto eu a conto o que me perturbava tanto. 

— Eu juro que eu tentei, eu fiz de tudo para esquecer ela, para ser o marido perfeito para Dani, mas eu não consegui. 

— E o que você que sente por ela? — Pergunta 

— O que? Pela Mia? — Juana anui e eu suspiro profundamente. — Eu não sei, tudo é tão confuso em relação a ela. Eu achei que era atração no início, depois relutei fingindo que era, mas agora...agora eu não sei. 

— Se fosse só uma atração você não estaria assim, estaria? — A olho.

Suas palavras caem duras e diretas. 

— É, provavelmente é mais do que isso — levo as mãos ao rosto. — Deus! O que eu fiz? 

A ouço suspirar então sua mão desliza pelas minhas costas em um afago. 

— James, as pessoas gostam de outras, é normal. 

— Mas eu sou casado Juana, isso não podia acontecer comigo. Não é normal.

— É, tem razão.

— Eu achei que fosse controlar isso, que podia manter meu casamento como se nada tivesse acontecido, mas eu estraguei tudo. Eu sou um idiota. 

— É, você é — ela faz uma pausa. — Mas já parou para pensar que estar gostando de outra mulher sendo casado significa que as coisas já não estavam tão bem? — Viro o rosto para ela. — Quer dizer, eu não sei como estava seu casamento quando você e Mia se conheceram, mas sei que quando eu estava com vocês em Madrid as coisas não estavam boas. James, Daniela chamou a mamãe para ajudá-la porque vocês estavam em crise. 

O quê? Então aquela visita de surpresa...? Todas aquelas conversas, as memórias que minha mãe lembrava...? 

— Não digo que seu casamento em crise de dá o direito de trair, porque não dá. O que eu to querendo dizer é que seu casamento talvez já estivesse desgastado a muito tempo e você não quisesse ver, vocês não quisessem. 

Várias coisas começam a passar na minha cabeça enquanto ela falava, conexões, lembranças...

Talvez Mia não tenha sido a causa, apenas o estopim. 

Meu casamento nunca foi perfeito como eu pintei, eu e Daniela brigávamos tanto e já não éramos o mesmo casal a muito tempo. Antes da copa de 2014 nós estávamos distantes, ela era fria comigo e eu entendia afinal dizem que as mulheres ficam assim após ter filho, mas o tempo foi passando e não foi melhorando. Daniela e eu mal nos tocávamos, mas eu já estava satisfeito por ter minha família, por ter tudo o que eu sonhei. Mas aí eu conheci Mia...ela era tudo o que Daniela não era, calorosa, sensível, risonha, livre e ainda tinha aquele poder de sedução. Ela me despertou algo que eu nem sabia que sentia falta. 

Agora percebo eu nunca substitui minha família por Mia e sim o contrário, é por isso que um vazio sempre ficava, é por isso que nunca dava certo e eu acabava voltando a pensar nela, por isso Dani reclamava que eu nunca parecia completo com ela. 

— Eu sei que você tentou, que se esforçou para fazer a Dani feliz, mas você tem que entender que nunca vai poder fazer ela feliz quando está pensando em outra. Ela já te teve apaixonado, ela sabe como é ser amava por você, não acha cruel dar menos que isso a ela? 

As lágrimas voltam a encher meus olhos. 

— James você está infeliz meu irmão, e já faz muito tempo. Não pode se exigir tanto, assuma que o casamento de vocês não tem futuro e acabe com isso de uma vez. 

Eu virei refém do ideal que criei, eu achava que nada me faria mais completo do que minha família e que perdê-la jamais valeria a pena. Eu poderia estar fodido, mas se eu os estivessem, se estivessem bem, então estava fundo ótimo. Mas eu esqueci que infeliz, não poderia fazer ninguém feliz, não para sempre, não de verdade. 

— Eu não quero ser igual ao meu pai. Eu não quero que ninguém sofra. 

Minha irmã sorri de canto. 

— Você não vai ser igual a ele nunca James. Você não vai embora simplesmente, você não vai abandonar ninguém, você vai estar presente para sua filha, mas o sofrimento...esse você não pode evitar. 

Nego. 

— Minha filha, Daniela...não Juana! Eu vou conseguir, eu posso continuar com isso, posso fazê-la feliz como fiz na viagem — falei decidido, a olhando nos olhos.

Não era verdade, não completamente, mas eu ia me esforçar mais.

Ela me olhou com pena.

— Sabe que não vai conseguir, já tentou por meses. O que acha que vai mudar agora? Porque acha que vai conseguir? 

Não respondo, não tinha o que dizer.

— Você só vai se torturar mais. E Salo, ela precisa entender, não pode criá-la em uma bolha. Mas se quer passar a vida toda assim, tudo bem. Só saiba que vai piorar, que vai ser mais doloroso a cada dia e uma hora Daniela vai estar tão infeliz quanto você. 

O nó crescia na minha garganta, me sufocando, cada palavra da minha irmã e eu caia mais na realidade. Quando vi as lágrimas desciam. Juana passou os braços ao redor do meu corpo e me puxou para si, naquele momento eu já chorava no seu ombro. 

— Eu sei que é difícil para você, sei que não é o que você queria, mas não pode mais lutar contra seu coração — ela falava enquanto duas mãos afagavam-me. — Porque que ele é de outra pessoa. 

— Eu me sinto péssimo por isso Ju. 

— A gente não pode controlar nossos sentimentos James.

 

 

Minha irmã estava certa, eu realmente não podia fazer mais aquilo. Depois de nossa conversa eu pensei um pouco mais, as coisas pareciam um pouco mais claras, mas ainda era difícil. Difícil admitir que meu amor por Daniela acabara, difícil admitir que nosso casamento já não tinha mais saída, difícil admitir que o que eu sentia por Mia era maior do que uma simples atração. No entanto eu não podia mais me enganar e muito menos enganar Daniela, aquilo havia chegado a um ponto que inconcebível. E agora, quando eu olhava para trás via o quão louco fui em manter isso. Passávamos semanas sem nos falar, quando voltávamos brigávamos, ela já não me acompanhava, eu já não ligava mais para sua presença, eu a traí, por meses preferi a companhia de outra mulher, sem falar da copa, mas viajar em um tipo de lua de mel e pensar em outra diante toda a viagem foi a gota d'água. Estava tudo errado. Eu fiz tudo errado. E estava na hora de acabar com isso. 

Dois dias depois pedi para Juana sair com minha mãe e Salo, era melhor que estivéssemos sozinhos para essa conversa, e eu não queria minha filha perto, nem minha mãe se intrometendo, ela já fez demais. Eu deveria ter acabado com tudo naquele dia que fiquei com Mia. 

Daniela estava na sala, eu podia ouvir sua voz enquanto falava com alguém no telefone, provavelmente do seu trabalho. Do primeiro andar eu esperei até que ela acabasse para descer. 

— Sim! — Ela riu. — Então até segunda. Besitos! 

Esperei até ouvir seu suspiro e o som das suas unhas na tela do celular. Era hora. 

Desci pelas escadas e logo tive a visão da sala e dela em pé próximo ao sofá com os olhos vertidos no aparelho em suas mãos.

Ela só notou minha presença quando cheguei realmente perto. 

— Ta ocupada? A gente pode conversar? — Dani sorriu abaixando o celular. 

— Claro mi amor, houve alguma coisa?

Me sentei no sofá e ela me acompanhou.

— Houve. Na realidade, está havendo a muito tempo — a morena franziu levemente o cenho, mas deixou que eu continuasse. Respirei fundo e olhei nos seus olhos atentos. — Eu quero me separar. 

Sua expressão suave se fechou, seus olhos ficaram vítreos e os lábios paralisaram entreabertos. 

— O-que? — Gaguejou, abri a boca, mas dessa vez ela me interrompeu. — Como assim separar James? Que loucura é essa? — Ela levou as mãos tremulas ao rosto. 

— Nós já não estamos bem a muito tempo Daniela, você sabe disso. 

— Nós tivemos problemas, mas todo casal tem, é normal — respirei fundo. 

— Eu sei, mas nós nunca conseguimos resolver os nossos, apenas os ignoramos. 

— Do que você está falando? A gente acabou de chegar de uma viagem incrível, nós estamos tão bem, estamos felizes meu amor — ela se aproximou, segurou minhas mãos, eu apenas neguei com a cabeça. 

— Passamos a viagem toda fingindo, fazendo o que achávamos que o outro ia gostar para manter esse relacionamento, isso não é estar bem.

— Eu não fingi James! Eu estava feliz, estava bem — ela falou mais alto puxando a mão da minha. 

— Daniela, eu te conheço a oito anos, você nunca recuou de uma briga, nunca foi a esposa passiva e muito menos provocadora — a morena encolheu os ombros. 

— Porque eu aprendi que as vezes devemos ceder, porque depois de oito anos de relacionamento precisamos apimentar as coisas — manteve a voz alta. — Mas porque você está reclamando disso? Não foi exatamente o que você sempre quis? Toda as vezes que brigávamos era o que você pedia...a não ser que... — seus olhos se estreitaram a medida que ela se levantava. — Tem outra não tem? Você está me traindo, não está? É óbvio — ri sarcástica e começa a andar de um lado para o outro. 

Respiro fundo e ela para diante de mim, os olhos inflamados de ódio. 

— Quem é a vagabunda? Está com ela desde quando? Eu não acredito que teve coragem de fazer isso James. 

— Não tem ninguém Daniela, eu não estou traindo você — falei o mais calmo possível, nem eu estava acreditando que estava conseguindo manter o tom. 

Ela me fitou e tão rápido quanto as chamas se formaram nas suas íris castanhas as lágrimas surgiram. 

— Então porque? Porque agora James? — A voz soa fraca.

— Porque eu já não consigo mais, porque eu me esforcei o máximo para te fazer feliz, mas depois dessa viagem eu percebi que infeliz eu não consigo fazer ninguém feliz de verdade — fui sincero e o mais suave possível. 

— A-a gente pode tentar de novo, essa pode ser só uma fase, você fica assim quando está machucado e...

— Quantas vezes vamos chamar isso de fase Daniela? — Respiro fundo, mas lágrimas caiam dos seus olhos. Eu sentia pena, mas não doía como achei que ia doer. — Eu passei um bom tempo pensando nisso, cogitei tudo, tudo o que você pode imaginar, até planejei a viagem achando que podia melhorar as coisas, mas não funcionou — estiquei a mão até seu rosto e limpei as lágrimas. Eu ainda odiava a ver chorar. — Não é uma fase, e meu erro foi achas que era e ter ido empurrando com barriga.

Seu lábio tremeu e ela comprimiu os lábios.   

— E nossa família? E tudo o que sonhamos? Você não pode acabar com tudo assim. 

— Eu nunca vou me afastar de vocês, nunca vou abandonar, vou te apoiar sempre. Nós sempre vamos ser uma família, eu, você e Salo. Mas eu e você, como casal, isso não pode existir mais. 

Mas ela negou, as lágrimas jorrando. Meu coração apertava cada vez mais.

— Não! James, por favor, não — então ela se ajoelha diante de mim, as lágrimas também vem nos meus olhos. — Não destrói nosso casamento assim. Não joga tudo tudo fora. Olha tudo o que a gente construiu! — Mostra a casa e eu tento fazer com que ela se levante. 

— Por favor Daniela...se levanta.

— Eu amo você, e-eu posso mudar, eu posso ser sempre a mulher que você pedia, mas não me deixa — o nó crescia na minha garganta, eu tentava segurar as lágrimas enquanto ela se humilhava como nunca vi antes. 

Essa não era a Daniela que eu casei, e eu odiava a ver assim.  

— Eu me apaixonei por você do jeito que você era e isso não vai voltar porque você vai se tornar diferente — segurei seu rosto. — Entende como é ruim? Entende que não é justo com você? 

Ela me olha nos olhos.

— Justo? — Tira as minhas mãos de si abruptamente e se levanta. — Acha que é justo comigo o que você está fazendo? Acha que é justo comigo se separar depois de tudo o que eu fiz por você? Acha que é justo jogar no lixo uma mulher que esteve contigo nos piores momentos? — Ela gritava. 

Sabia que isso aconteceria, sabia que ela jogaria isso na minha cara.

— Eu nunca vou esquecer o que fez Daniela, e se o problema é esse saiba que vou separar tudo no divórcio, você merece metade de tudo, afinal construímos juntos. 

Mas ela não estava afim de resolver as coisas, ela queria brigar. 

— Você não sabe o que porra é justo para mim. Você é só um escroto egoísta que nunca me deu valor e agora vem com esse papinho de "estou pensando em você". UM CARAJO! — Anuo e me levanto. 

Mas eu estava cansado disso. 

— O que está acontecendo? — A voz da minha mãe soa e nós dois viramos para a ver caminhando da porta de entrada até a sala. Juana e Salo vinham logo atrás.  

Olhei para minha irmã e ela parecia aflita, pelo visto não conseguiu segurar a Dona Pilar. Voltei os olhos para Daniela. 

— Eu já disse tudo o que eu tinha pra dizer — comecei a caminhar na direção das escadas. 

— Isso! Foge! Você sempre faz isso! — Ela rugia enquanto eu subia, sem ao menos ligar para nossa filha, ou para ninguém. 

— Eu não vou brigar, pra mim chega — falei. 

— Covarde! — Rosnou e depois riu sarcástica. — É sempre assim, a gente conquista uma coisa e gosta dela no jeito que ela é, então com o tempo enjoa a começa a querer modificar, e no final, quando conseguimos, desprezamos — é o que escuto no último degrau. 

Entro no quarto meu quarto e vou até a mesa de apoio pegar as chaves do carro. Eu precisava de paz, silêncio e não ia ter nada isso aqui. 

Quando desço Daniela está sentada no sofá em prantos sendo consolada pela minha mãe. Passo direto e antes de sair vejo Salomé e Juana na sala de brinquedos, minha irmã claramente estava tentando distrair a pequena. 

Com o coração na mão eu entro no cômodo e assim que minha filha põe os olhos em mim ela correr em minha direção. A pego no colo e abraço com força.

— Papá, o que está acontecendo? Porque a mamãe está chorando? Vocês voltaram a brigar? — As lágrimas retornam aos meus olhos.

— Eu amo você princesa e eu nunca, nunca vou abandonar você — falei me esforçando para não chorar, então ela se afasta um pouco para me olhar nos olhos e eu forço um sorriso. — Papá vai precisar sair, mas vamos conversar sobre tudo depois, tudo bem? Eu, sua mamá e você.

Ela anuiu, via insegurança em seus olhinhos, mas não podia explicar tudo agora. Não com a cabeça quente.

— Boa menina — beijo sua bochecha e a coloco no chão. — Agora vá brincar com a tia Ju e não se preocupe. 

Olhei para minha irmã a pedindo para fazer mais isso por mim, cuidar do meu bem mais preciso enquanto tudo desmoronava. Juana puxa Salo delicadamente pelo braço, a menina olha para mim até o ultimo instante quando os brinquedos conseguem sua atenção e eu sumo dali sem conseguir mais sustentar minha cara de "ta tudo bem".

No carro eu disparo para fora do condomínio indo para Deus sabe la onde. As lágrimas deslizavam pelo meu rosto, e eu nem fazia questão de limpa-las. Elas significavam tantas coisas, mas um dentre esses significados, mesmo que em pequena porção, me surpreendeu. Porque apensar de ter sido uma das coisas mais dolorosas que fiz na vida, no fundo eu estava aliviado. 

— Foi o certo — falei para mim mesmo enquanto descia pelas ladeiras de Medellin.

 

 

— Filho, pense melhor. Vocês estão casados a sete anos, tem uma família linda, crises são normais, talvez um tempo seja bom, mas não tome decisões precipitadas — minha mãe pediu calmamente. 

— Não é precipitado mãe, eu pensei nisso por tempo demais e aguentei mais do que deveria — falei e Dona Pilar suspirou.

— É aquela fisioterapeuta, não é? Vocês estão tendo um caso? É por isso que está com presa de voltar para Madrid? — Disparou em um rosnado baixo, foi minha fez de suspirar. 

— Não, não estamos tendo em caso e minha volta não é por causa dela, eu só preciso ficar um tempo sozinho, e sei que Daniela e Salo estarão bem aqui, com vocês. 

— Mas? — Ela ergue a sobrancelha. 

— Mas eu confesso que meus sentimentos por Mia me fizeram perceber que meu casamento não estava dando certo — admito. — Mãe, eu gosto dela, mais do que achei gostar e não dá mais pra esconder isso. Eu tentei esquecer, mas não dá.

Havia decepção nos seus olhos. Ela havia me avisado, mas já era tarde demais.

— O que você fez meu filho? 

Eu sabia que ela não me apoiaria, afinal foi ela que me convenceu a me distanciar de Mia e viajar com Daniela quando nosso casamento já estava por um fio. 

— Eu sei que não vai me apoiar, mas peço que aceite minha decisão pelo menos. Pode fazer isso? 

Minha mãe solta o ar forte. 

— Tudo bem, mas espero que respeite o momento da sua mulher e sua filha e não fique com essa mulher agora. 

— Ex-mulher, mãe — concertei. — E claro, eu jamais faria isso. 

Um dia depois eu me despedi dela, de Juana e Salo e peguei o voo de volta para Madrid. Daniela não falou comigo desde que pedi o divórcio, sequer olhou na minha cara, nem mesmo quando eu pedi para termos uma conversa civilizada sobre o que faríamos. Também não conversei com Salo, porque a mãe dela me impediu e não achei justo fazer isso sozinho. Então o faria quando elas voltassem também, o que não demoraria muito. Nossa volta estava marcada para daqui a três dias mesmo. 

Mas eu precisava desse três dias para organizar as coisas, refletir, pensar no que ia fazer daqui por diante. Muitas mudanças, muitas decisões. Se alguém em dissesse que eu ia passar por tudo isso a um mãe atrás eu não acreditaria, mas agora percebo que foi melhor assim. Aconteceria mais cedo ou mais tarde. 

Foram dez horas até Madrid. Dez horas entre cochilos e muitos devaneios. 

Mia estava nesses pensamentos, na realidade, ela os dominava. A dona de todos eles, e a muito tempo tem sido...a tanto tempo que sou capaz de me envergonhar, porque eu fugi dela, desse sentimento, tudo por medo. Dios! Eu tinha tanto medo disso, eu podia o sentir crescer, podia sentir quando estava perto dela, podia sentir quando a via com outro, podia sentir quando a beijava, quando a tocava, mais ainda quando não podia fazer isso, pude sentir quando em um dos momentos mais difíceis eu só queria a ter perto. Mas eu ainda tenho, porque eu simplesmente não o entendo, não entendo o que é, como aconteceu, porque cresceu tanto, eu só sei que está aqui, e não dá pra negar mais. E há uma parte de mim que está aliviada, aliviada da culpa, da pressão, do julgamento, aliviada por não ter que reprimir isso. 

Um dia depois chego em casa depois de uma reunião com Jorge, meu agente, olho a sala vazia, silenciosa, escura, uma chuva de verão caía dos céus com raios iluminando o céu. A casa estava exatamente assim naquele dia, o dia que a toquei pela primeira em anos, o dia que fomos impossíveis, que fomos apenas nós, um homem e uma mulher com sentimentos mútuos. Se eu fechar os olhos ainda posso ver as velas, ouvir a música ou sentir seu corpo contra o meu. 

Subo as escadas, a cada degrau os sentimentos que tive naquela mesma noite, naquele mesmo lugar, fazem mais sentido, como peças de um quebra cabeça que reluto em montar a muito tempo. Elas estavam ali, tão óbvias, mas eu não queria vê-las. 

Caminho pelo corredor, mas paro por um instante. Não é aleatório, não. É o quarto de hóspedes que está ao meu lado. Espontaneamente meu braço se estende até a porta entreaberta, a empurrando com um leve empurrão. As dobradiças se esticam revelando aquela cama. Eu lembro de cada detalhe como se fosse ontem, por mais que eu tenha tentado de todas as formas apagar casa memória da minha mente como se fosse meu maior erro. Não foi, nunca foi, ela nunca foi, talvez o momento, a forma como aconteceu, mas Mia...eu não me arrependo dela. Como podíamos ser um erro? Como alguém que me fazia tão bem, podia ser um erro? 

Me sento na cama, toco a colcha como se pudesse a sentir ali, como se pudesse sentir as memórias. 

" Suas mãos deslizavam pela minha pele, os dedos longos e finos acariciando minhas meu rosto, seus olhos tão intensos e profundos me fitavam minuciosamente, assim como eu a fitava. 

— Se pudesse estar em qualquer lugar do mundo agora, onde estaria? — Indagou e eu precisei pensar, inicialmente nunca lugar me vinha a mente, mas eu precisava lhe dar uma respalda. 

— Em uma praia paradisíaca, estilo Filipinas, Caribe — ela sorriu.

— Sem chuva? — Ri. 

— Definitivamente, assim você não precisaria tremer a cada trovão — dessa vez a morena gargalhou e me deu um tapa no ombro. Sorri.

Se ela soubesse o quanto eu amo ouvi-la rir.

— Seria incrível, não seria? Só nós dois, coqueiros, o mar e uma cabana. 

Meu sorriso aumentou ao imaginar a cena. 

— Podemos imaginar que estamos na nossa cabana — ela comprimiu os lábios prendendo um riso.

— E quanto ao paraíso?  

— Bem, eu sinto que qualquer lugar pode ser o paraíso quando estou com você então...

Ela me olhou nos olhos e por alguns segundos antes de se aproximar e me beijar. Abracei sua cintura e puxei para mim enquanto nossas bocas se uniam. 

— To ouvindo até o barulho das ondas — disse e nós rimos entre o beijo."

Sorri ao lembrar, tantas coisas daquele dia me faziam sorrir. 

Como eu me enganei por tanto tempo? 

 

 

Daniela e Salo chegaram dois dias depois, as peguei no aeroporto e a minha ex mulher foi sucinta ao se dirigir a mim. Em casa eu a deixei desfazer as malas e enquanto ajudava Salo com as dela. Apenas horas depois que fomos conversar, quando já era de noite e nossa filha dormia. 

— Preciso de um tempo para me organizar, saber o que fazer, procurar um lugar que comporte uma criança. 

Eu já esperava alguma coisa assim, Daniela não era do tipo que sofria por muito tempo, mas tratar as coisas como um negócio era algo que ela fazia para se convencer de que estava tudo bem. Cada um tem sua forma de encarar a dor, eu jamais a julgarei. Também tenho a minha.

Anui. 

— Eu entendo, mas eu não quero que saia daqui, na realidade pensei sobre isso esses dias e se dedicar ficar em Madrid essa casa é sua. Salo cresceu aqui e você escolheu tanta coisa desse lugar...não quero vocês duas em nada instável.

— Essa casa também é sua James. 

— Sabe que nunca fiz questão disso — ela respirou fundo e anuiu. 

Um silêncio tomou a sala, incomodo por ser tão frio, parecíamos dois estranhos.

Foi minha vez de respirar fundo.

— Jorge já viu um aparthotel para mim, estou esperando apenas nossa conversa com Salo para me mudar.

Vi um lampejo em seus olhos ao qual ela mascarou com um maxilar cerrado e um assentir duro. 

No dia seguinte a conversa aconteceu. Salo chorou, mas muito mais pela sua inocência sobre o assunto do que qualquer outra coisa. Apenas a garanti que jamais íamos deixar de nos ver, que eu e Daniela sempre estaríamos presentes em sua vida, talvez não da mesma forma...mas o melhor que conseguiríamos. Juana tinha razão, eu não podia criar Salomé em uma bolha de perfeição, e por mais que tenha me doido a ver chorar, preciso a ensinar viver com decepções, momentos tristes, coisas que não pode controlar. A explicamos fato é de o casamento ter acabado nada deve macular nossa relação com ela, que isso era um coisa entre Daniela e eu, que quando ela crescesse ia entender, mas que por hora, ela só precisava saber que nós a amamos. 

Naquela noite Salo pediu para que eu dormisse com ela e eu o fiz, para no dia seguinte me mudar definitivamente para o aparthotel. Levei apenas o básico, a maioria das roupas, alguns itens pessoais e o resto ia levar de acordo com a decisão de Daniela. Seria melhor assim, enquanto ela decide a própria vida eu fico aqui, caso fique eu vou procurar um lugar novo, caso volte para Medellin volto para casa. Eu deixei bem claro que preferia que ela ficasse, por Salo, pela vida dela aqui, por minha causa, para eu não ficar tão longe da minha filha. Mas óbvio que aquela era uma decisão unicamente dela, era sua vida e eu não me sinto no direito de interferir. 

Sair de casa foi complicado, um passo grande, afinal foram sete anos casados, mas necessário. Eu precisava resolver minha vida também e dependendo do rumo das coisas ia precisar de individualidade também. O fato é que não morei sozinho por muito tempo na vida, se não estava com amigos na época da Argentina estava com Daniela, então ia levar um tempo para me acostumar.

Os dias foram passando e o tempo sozinho foi bom para pensar no afinal. Eram tantos questionamentos. O que falar para Mia? Como contar tudo? Quando o fazer? E cada vez que eu pensava parecia ficar mais difícil explicar a ela. Como eu falaria sobre algo que nem mesmo sei o que é? Como explicar meus sentimentos e como eu descobri? Mas ao mesmo tempo que eu tinha receio também estava ansioso, parecia que agora que eu tinha admitido o sentimento praticamente queria sair e formar um letreiro na minha cara. Eu precisava falar com ela, precisava desesperadamente, porque era agonizante guardar aquilo só para mim, conviver com tantas dúvidas e inseguranças. 

Ao menos sei que ela não está com Lewis, e depois da eliminação do Brasil da copa ela também não postara mais nada, ou seja, o campeonato havia acabado ali para ela, mas e quanto as ferias? Onde ela estava? Aqui? No Brasil? Viajando? Eu não tinha sinal de Mia por isso até pensei em falar para a amigas dela, iria atrás da doutora em qualquer lugar. Mas aquela não era uma opção, já que todas suas amigas simplesmente me detestam, nunca me ajudariam.

Pensando melhor eu decidi me controlar e continuar com aquilo guardado até conseguir um momento com ela pessoalmente. Talvez tivesse que esperar até os treinos recomeçarem, e  já que eles não vão demorar muito, que seja! Eu também não posso fazer isso de qualquer forma, preciso me redimir, fazer o meu melhor, era o mínimo depois de tudo.

 

… 

 

Os dias se passaram, visitava Salo sempre e combinei com Daniela, já que ela tinha decidido ficar em Madrid, como seria a divisão da guarda, como iríamos gerenciar as coisas quando as férias acabasse. Um desses dias quando fui deixar minha filha em casa, depois de ela passar sua primeira noite no meu novo apartamento, indaguei Daniela sobre o divórcio. Era a primeira vez, eu realmente não queria ser incisivo com ela, queria que tudo fosse amigável, mas a loira me pediu mais tempo para organizar sua vida. 

Os treinos começaram na ultima semana de julho, mais tarde que as temporadas normais por causa do recesso da copa. Mas eu confesso, nunca foi tão bom voltar. Sabe aquela sensação de volta as aulas? Aquele frio na barriga, ansiedade, suar frio...era assim que eu me sentia. Dormi mal um dia antes, porque minha cabeça simplesmente não conseguia parar e um tipo de agonia crescia dentro de mim me fazendo acordar várias vezes durante a noite. E eu sabia o motivo daquilo tudo, tinha nome, sobrenome e 1,64 de altura. 

Dios! Eu nunca imaginei ficar assim mais uma vez na minha vida. 

Desci do carro com minha mochila cumprimentando o manobrista antes de adentrar a recepção. No vestiário encontrei os caras, foi bom vê-los, aproveitei para parabenizar Varane pelo título, campeão mundial era para poucos. O clima era bom, sempre era no primeiro dia, por mais que nem todos tenham voltado. Cris decidiu assinar com a Juve, foi uma grande perda para o time e como torcedor eu fiquei bem triste, mas como amigo eu o entendi em parte, um jogador como ele precisava de desafios e por mais que já tenha sonhado em se aposentar no Real sei que algumas coisas o decepcionaram. Desde o final da Champions que eu e Marcelo sabíamos, ele nos falou que estava pensando em deixar a equipe, e não vou mentir, torci muito para que ele ficasse, mas as coisas são assim. As vezes temos que formar decisões difíceis em busca da felicidade. Só desejo que ele seja feliz la, mas que sempre perca para nós. 

Novos jogadores chegaram na janela de verão, Courtois, o goleiro belga que foi estrela na copa, Odriozola lateral direito do Real Sociedad, Mariano Díaz do Lyon e Valverde do Real Madrid B. Foi legal conhecer os novatos, as boas vindas ao time sempre eram animadas. Ramos e Marcelo que eram responsáveis por essa parte. 

Demoramos mais que o comum no vestiário, mas no primeiro dia era algo de se esperar, afinal tínhamos muito o que conversar sobre as ferias, a copa...

De roupas trocadas, o novo uniforme de treino era todo preto e branco ( inclusive amanhã mesmo faríamos um shot com o uniforme oficial novo ) seguimos para o campo. Zidane nos reuniu primeiro, fez um breve discurso de abertura e depois nos mandou para o aquecimento com Mallo. Estava tudo ótimo, era bom voltar aos campos, eu sempre sentia falta por menor que fosse o tempo longe. Mas admito que meus olhos hora ou outra percorriam a beira do campo buscando ela. Perdi a conta de quantas vezes isso aconteceu no decorrer do treino. E ela não apareceu, pelo menos não naquele dia. Confesso que foi um pouco decepcionante, mas uma hora ia acontecer. 

No dia seguinte estava sentado no meio do campo com Benzema, Carvajal e Navas quando a vi surgir no túnel. Parecia que não a via a anos porque meu coração acelerou tanto que achei que tinha perdido o ar. Ela sorria ao lado de Santamaría, o iPad na mão, calça legging preta, camisa da mesma cor justa no seu dorso e o cabelo preso. Eles pararam perto de Mallo e conversaram, mas eu não conseguia tirar meus olhos dela. Mia estava como sempre, mas era incrível como ela irradiava, como estava linda. Tentei desviar várias vezes,  me entreter com a conversa, fingi olhar para outro lugar, mas merda...ela me chamava. 

Ah Mia, eu queria tanto te dizer, queria tanto te falar sobre tudo. 

Ela e Javier supervisionaram o treino, o que significa ela ficou na beira do campo durante todo o tempo. Foi trabalhoso me concentrar, o que me fez sentir um pouco ridículo, mas ao mesmo tempo era bom. Os caras brincavam com ela, e em alguns momentos a ouvi gritar para um deles falar menos e treinar mais, o que me fez rir. 

A medida que o final do treino foi se aproximando eu fui me preparando para a nossa conversa, mas quando a procurei no campo nem ela nem Javier estavam mais ali. 

Bufei e rumei para o vestiário com os outros.  

Amanhã, amanhã vai dar certo. 

Mas o amanhã chegou e apenas Javier apareceu. Não tive coragem de perguntar por ela, mas Vinicius me fez esse favor e como estava passando perto ouvi o fisioterapeuta chefe responder: 

— Ela está com Mariano, ele sentiu a panturrilha ontem. 

Mais um dia e depois o outro foi passando e minha agonia só aumentava, Mia quase não aparecia cuidando de Mariano, e a única vez que a vi mesmo foi no dia dos exames, mas foi Javier que cuidou de mim. Parece que desde que a doutora pediu para ser substituída no meu tratamento ele tenta a afastar de mim. Logo a sexta-feira chegou, e sequer tive a oportunidade de a dirigir a palavra em cinco dias. 

— Ta tudo bem, cara? — Marcelo perguntou. Nós estávamos sentados no banco descansando após um jogo treino onde nosso time ganhou. — Você está diferente, mais alheio — meus olhos estavam na médica que veio acompanhar Mariano de volta, após sua pequena lesão.   

A luz do sol beijava seu rosto, o cabelo estava preso em uma trança e os braços dobrados sobre o peito enquanto observava seu mais recente paciente.

— Tem haver com a separação? 

Marcelo era o único do time que sabia sobre minha separação de Daniela. Estávamos querendo ser o mais discretos possível com isso, porque sabíamos que holofotes sobre essa situação seriam altamente nocivos. 

Ergui os olhos para Mia uma última vez. 

— Tem muita coisa acontecendo além disso — abaixei a cabeça. 

O brasileiro suspirou e passou a mão no meu ombro.

— Se quiser conversar, sabe que pode falar comigo — eu o dei um sorriso fraco e anui. 

Mas eu ainda não estava pronto para falar sobre ela, não estava pronto para contar sobre tudo, por mais que sentisse que precisava desabafar, aquilo sempre foi tão meu e dela que parecia errado.

— Mudando de assunto, você já escolheu o terno que vai usar no casamento? 

O casamento de Isco! Dios! Como eu fui esquecer? 

— Não, na realidade, nem estava lembrado. 

Marcelo fungou.

— Se quiser ajuda, amanhã to indo ver umas opções — anui. 

Um casamento! Era um casamento, uma festa e era óbvio que Mia ia. Como não pensei nisso antes? Era a oportunidade perfeita, poderíamos ficar sozinhos e não estaríamos no trabalho. 

— Eu vou, com certeza. 

Ele sorriu. 

— Fechado. 

Eu precisava estar bem para finalmente dizer o que ela significava para mim. Estou disposto a me abrir, a abrir meu coração porque eu sinto...eu realmente sinto que Mia foi a escolha com mais certeza que fiz durante todos esses anos. 

 


Notas Finais


Muita coisa eu sei, mas no próximo vai ser pior. HAHA Me digam o que acharam! Sarah e Am desligando na cara de James. Mia e Marco em uma viagem louca e romântica para Tulum. Os amigos dele. O James descobrindo que gosta de Mia. FINALMENTE se separando de Daniela. Mas até agora ele não deu muita sorte. Será que vai ser no casamento que tudo vai acontecer?
Aguardem o próximo capítulo, será HISTORICO E EU TO PIRANDO DE ANSIEDADE 😈😏
Besitos mi amores ❤️❤️❤️
Ps: O hotel que Marco e Mia ficam quando estão sozinhos é o AZULIK, quem quiser pesquisar pra ver como é, vale a pena porque é realmente incrível.
Ps: Essa viagem de Marco com os amigos para Tulum e o pneu furado realmente aconteceu, mas em 2017. Tem até uma foto do momento em um instagram de fãs. Ri muito de toda situação.


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