História I like it more when is hotter - One-shot

A noite era fria e penumbrosa na cidade de Fukuoka, sendo iluminada apenas por alguns postes de eletricidade aqui e ali. Hawks, apesar de seu costumeiro casaco grosso, sentia cada pena de suas asas escarlates arrepiadas por conta da brisa gélida. 

Com um resmungo — talvez não muito apropriado para um super herói em patrulha — o loiro pousou em um dos terraços de um prédio da região. 

Hawks suspirou profundamente, checando o horário em seu celular. 

— Duas da manhã? — ele questionou-se, sentindo o corpo exausto.

O herói alado definitivamente odiava patrulhas noturnas, contudo sabia que era sua obrigação garantir a segurança dos civis, independente deles estarem acordados ou não. 

Com um estalar de língua, Hawks tirou suas luvas, observando as pontas dos dedos arroxeadas por causa do frio excessivo. Pelo visto o inverno estava chegando na cidade e seria um daqueles severos e rigorosos.

— Odeio frio. — o loiro murmurou, esfregando as mãos uma na outra numa tentativa de aquecer-se. — Gosto mais quando está quente. 

O herói estava tão alheio ao seu entorno por conta da temperatura gélida que mal notara a presença alheia e o par de olhos azuis afiados fincados em si, espreitando-o quase que como um predador.

— Cuidado com o que deseja, passarinho. — a voz rouca e conhecida sussurrou. — Você pode acabar se queimando.

Hawks virou-se, observando o vilão a sua frente. 

Dabi usava seu habitual sobretudo preto, as mãos enfiadas nos bolsos e um sorriso de canto mínimo, quase inexistente — ou talvez fossem os grampos cirúrgicos dando aquela impressão, o herói nunca sabia dizer ao certo.

O loiro estranhou a presença do outro, perguntando-se internamente o quê o vilão poderia estar fazendo ali, mas não se sobressaltou. Apenas meneou a cabeça em um cumprimento silencioso, como quem encontra um conhecido na rua. 

— O que faz por aqui, Dabi? — Hawks indagou, colocando as luvas novamente nas mãos, tentando soar quase simpático.

O moreno deu de ombros, se virando para apoiar as mãos na barra de ferro já enferrujada do parapeito do terraço, dispensando qualquer cordialidade vinda do outro.

— Nada que seja da sua conta, herói. — respondeu desinteressado, a última palavra escorrendo por sua língua como uma ofensa.

Hawks revirou os olhos, aproximando-se do outro até estar ao seu lado, pouco se importando com a rispidez alheia. 

Dabi não fez menção alguma de afastar-se.

— Lembre-se que estou em patrulha, hot stuff. — o loiro brincou, mas o moreno sequer lhe direcionou um olhar.

Dabi não parecia interessado em jogar conversa fora ou mesmo em falar de "negócios" como era de costume em seus encontros. O moreno só estava ali, parado, observando a vista abaixo de si com uma expressão apática e olhos vazios.

E era impressionante como mesmo com aquela feição de puro descaso, Hawks não conseguiu deixar de notar o quão atrativos os traços do outro eram; desde as íris azuis até os cabelos negros rebeldes. 

Os olhos de rapina do loiro, no entanto, pairaram sob os lábios alheios. Pareciam macios, embora o inferior fosse coberto por queimaduras. 

O herói balançou a cabeça, tentando livrar-se daquele pensamento. Não era corretor pensar aquele tipo de coisa de um vilão e alvo da comissão, não é? 

— Ei, o que você está olhando, passarinho? — a voz de Dabi o tirou de seus devaneios. — Sério, mas que merda você...

Mas quando o outro arqueou as sobrancelhas em questionamento e certa confusão, Hawks não pôde evitar jogar-se contra os lábios do vilão. 

Fora um leve encostar, o qual não durou muito mais que uma fração de segundos para confirmar que sim, a boca alheia de fato era extremamente macia apesar da aparência bruta. 

Após afastar-se do outro, o herói alado lambeu os próprios lábios, soltando um riso sem graça, como se houvesse cometido uma pequena gafe desimportante.

— Sinto muito. — pediu, ambos os braços estendidos atrás da cabeça. — Acabei me deixando levar e...

O loiro encarou a feição enfurecida do outro, engolindo em seco discretamente. Os grampos metálicos não ajudavam muito, é claro. Dabi parecia pronto para lhe incinerar até que seu corpo virasse cinzas.

É, talvez ele devesse ter sido menos impulsivo e mais prudente.

Mas ele era Hawks, afinal.

E Hawks era o tipo de homem que simplesmente não conseguia se conter quando queria algo. 

Mas diferentemente do que o loiro achava, Dabi sequer fez menção de ativar suas chamas. A única coisa que o herói sentiu fora a boca alheia pressionada contra a sua com certa violência. 

Ele arregalou os olhos, atônito demais para ter outra reação. Dabi, um vilão e seu alvo, estava mesmo lhe beijando? 

O choque, contudo, não demorou muito para esvair-se ao que o moreno lhe empurrou contra a barra de ferro do parapeito, fazendo com que ambos os corpos ficassem praticamente colados. 

Hawks não pôde evitar deixar um sorriso ladino escapar, prontamente abrindo a própria boca para conceder passagem ao outro. Dabi não tardou em invadir a cavidade bucal do loiro, explorando cada canto com extrema urgência. 

Quase que instintivamente, o herói alado enlaçou o pescoço do moreno com os braços, arranhando a nuca alheia com as curtas unhas. O vilão, por sua vez, levou uma mão ao rosto de Hawks enquanto a outra apertava sua cintura de maneira quase que possessiva. 

O beijo estava cada vez mais profundo, mais agressivo. As línguas lutavam uma com a outra em busca de controle.

E estava quente. 

Muito quente.

Literalmente quente. 

O loiro empurrou o moreno, descolando as bocas abruptamente. Sua língua ardia e seus lábios latejavam, ambos formigando por conta da queimação. Quando a sensação de embriaguez ocasionada pela adrenalina do momento passou, Hawks deu-se conta do que havia acabado de acontecer.

— Seu filho da... — o herói quase xingou, levando uma mão enluvada ao lábio dolorido e mais avermelhado que o normal. — Você me queimou! 

Dabi somente deu de ombros, a sombra de um sorriso de puro deboche pairando sob suas feições. 

— Eu avisei para ter cuidado com o que você desejava, passarinho. — o vilão advertiu, aproximando-se perigosamente de si. — Eu não vou ser gentil da próxima vez que você fizer qualquer gracinha sem meu consentimento, herói. 

Hawks sentiu o coração falhar uma batida quando percebeu que o outro o havia encurralado, o deixando sem saída alguma. Para o herói número dois, ele estava fazendo um trabalho bem medíocre, afinal, o loiro não lembrava-se de deixar sua guarda tão baixa quando estava combatendo vilões e criminosos, então por que com Dabi seria diferente? 

— Se bem que... — o moreno continuou, abaixando-se até a altura do ouvido de Hawks, basicamente colando sua boca ao lóbulo alheio. — Pela sua expressão, acho que você gostou, não foi?

O herói alado sentiu suas bochechas quentes, fator este o qual não passou despercebido por Dabi. Ao perceber o brilho de divertimento nas íris azuis do vilão, o loiro soube que o outro estava fazendo aquilo somente para mexer consigo.

Hawks forçou um sorriso de lado, ignorando tanto a quentura de sua face quanto a onda de desapontamento no fundo de seu âmago.

— É, talvez eu tenha gostado, hot stuff. — o loiro revirou os olhos, empurrando o outro para longe de si com a lateral de seu braço. —  Agora, se me der licença, tenho uma patrulha para terminar.

Hawks girou os calcanhares, pronto para alçar voo. Contudo, antes que o herói pudesse fazê-lo, a voz do vilão fez-se presente atrás de si. 

— Caso queira aquecer-se novamente, herói, sabe onde me encontrar. 

O loiro riu, balançando a cabeça. 

— Vou manter essa proposta em mente, Dabi.

E então Hawks levantou voo, as asas escarlates em contraste contra o cenário escuro e enevoado da cidade. Dabi soltou um sorriso mínimo, lembrando-se da sensação dos lábios alheios nos seus. 

Talvez, e somente talvez, ele houvesse gostado de experimentar aquela sensação com Hawks.