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História I Love You, Idiot Elf! - O Desejo de Estar Junto


Escrita por: ArqueiraDaLua

Notas do Autor


Helloo Bolinhos de Chuva (>^-^)>

QUE SAUDADES!! Com essa onda do Coronavírus, não tive como fugir da escrita, até porque eu estou muito atrasada.

Sinto muito pelo sumiço, estou passando por um bloqueio criativo tremendo e preciso voltar a jogar Eldarya para ter novas inspirações. Obrigada desde já por aqueles que ainda continuam comigo.

Eu amo vocês. Espero que fiquem bem nessa quarentena e LAVEM SEMPRE AS MÃOS!


Boa leitura e se preparem para o capítulo triste e romântico heheheheh

Capítulo 68 - O Desejo de Estar Junto


Fanfic / Fanfiction I Love You, Idiot Elf! - O Desejo de Estar Junto

Lua não fazia ideia de quanto tempo estavam caminhando. Um dia? Dois? Uma semana? Tudo o que se via eram paredes de terra, pedras pelo caminho e plantas mortas. O ar tinha um estranho cheiro mórbido como se algo estivesse apodrecendo por dentro das paredes. Era como se o túnel do verme gigante jamais terminasse, seus pés moles  praticamente se arrastavam pelo caminho sem fim.

- Isso vai levar uma eternidade. - reclamou ela pela quarta vez. 

Caminhando sempre à frente, Chrome balançou suavemente as orelhas. Era raro ouvir Lua falando, e mesmo que fossem apenas reclamações gostava de ouvir sua voz. Confessava a si mesmo que no fundo, bem no fundo, ainda gostava muito dela.

- Estamos quase chegando. - a voz pacifica e ao mesmo tempo austera do jovem lobo fez a mulher revirar os olhos.

- Está repetindo isso há quase doze horas atrás.

Chrome abriu um sorriso sarcástico antes de se voltar para ela.

- Tudo bem, vamos descansar um pouco.  

Imediatamente, a fada se sentou numa pedra para tirar as botas e verificar o estado dos seus pés. Agradecia imensamente por não ter vindo com botas de salto alto. Seus dedos já estavam calejados o suficiente, sem contar o calcanhar do pé direito que estava inchado como uma bola de tênis.

- Que maravilha... - suspirou com desprezo. Notando que o rapaz continuava a observá-la em silêncio, a mulher arqueou uma sobrancelha insinuando sua fala. - O que foi?

- Você não sente raiva de mim? 

Lua se surpreendeu um pouco com a pergunta, mas não  deixou transparecer.

- Não compreendo.

O rapaz se aproximou, sentando-se suavemente ao seu lado. A mulher percebeu que seus olhos alaranjados evitavam olhar para ela, ao mesmo tempo que suas orelhas e sua cauda se mexiam quase que inconscientemente.

- Pensei que me acusaria de diversas coisas... - começou ele - Sobre minha traição na Guarda de Eel, sobre ter enganado você e ter me juntado a Athaleos mesmo quando sabia a verdade. Sem contar a nossa briga no palácio de Güller e o atentado contra o Rei de Prata.

A Cristaly permaneceu calada por longos segundos absorvendo as informações. Por mais que não gostasse, talvez fosse o momento certo para se abrir e contar a verdade. 

- Se quer mesmo saber, eu senti muita tristeza quando soube que você era um dos traidores da Guarda. Queria vê-lo distante de mim e ao mesmo tempo desejava que estivesse seguro, mas depois de tudo o que me aconteceu, simplesmente me acostumei com o fato de ser enganada. Me acostumei com as mentiras.

Chrome ergueu a cabeça pensando que a veria com um semblante tristonho, no entanto, a face da mulher continuava confiante como sempre. Como se não fosse nem um pouco difícil confessar suas amarguras.

Aquilo o fez sentir algo... Um estranho e repentino sentimento de culpa.

Se tivesse ficado ao lado dela será que algo teria mudado?

Estranhando seu silêncio, Lua rapidamente voltou a colocar suas botas antes de ficar em pé novamente.

- Chega de histórias do passado, criança. Temos que continuar nossa jornada.

O jovem lobo sorriu com certo pesar na consciência, por mais que estivessem se dando bem, sabia que em breve chegariam ao Norte...  E principalmente, sabia quem esperava a humana no final do túnel.

.

Estava levando ela para o matadouro.

(***)

Enquanto isso...

 

Ezarel se culpava por muitos erros do passado, mas estar com Leiftan era pior do que estar sendo torturado num dos castigos do Tártaro. Preferia ficar preso o resto da vida do que estar com esse maldito Daemon. Os três caminhavam a quase dois dias a procura da fenda gigante e simplesmente estava quase ao ponto de trucidá-lo.

Já era ruim o bastante estar com Ewelein, agora ele...

- Obrigado pelas bênçãos, Grande Mãe... - murmurou com ironia do seu destino.

Leiftan, consequentemente, sentia toda a fúria emanada do elfo sem nem ao mesmo olhar para ele. O desprezo que sentia por Ezarel era recíproco, mas confessava a si mesmo que não lhe daria o prazer de uma discussão. Possuía sua dignidade própria. Enquanto isso, Ewelein prosseguia com sua habitual serenidade mesmo que por dentro estivesse queimando em indignação pela postura de ambos, todavia, era muito equilibrada para deixar transparecer.

Sabia muito bem que ignorá-los era a melhor solução.

Ou quase.

- Quer dizer que Meridyth ficou melhor? - perguntou Ezarel inesperadamente próximo de si. A aproximação fez a elfa se sobressaltar, alarmada.

- Os enfermeiros do reino ficaram de cuidar do soberano com técnicas de magia mais avançadas, como eu não faço parte de Güller tive que me retirar. Mas não, ele não corre risco de vida.

- Lua vai ficar contente com a resposta. - comentou o elfo num sussurro. Ewelein o analisou cuidadosamente, o sorriso que ele abria cada vez que mencionava o nome da albina lhe partia o coração.

Mas a culpa era sua. Sabia que era sua.

Ewelein voltou a ficar em silêncio enquanto se afastava dele, precisava manter o foco até finalizarem a missão.

Enquanto isso, Leiftan os observava em silêncio.

(***)

- Tem certeza que quer continuar com isso?

Chrome observava a mulher com certa cautela enquanto a mesma treinava. Desde o ocorrido com os cipós assassinos, Lua tentava reacender seus poderes por meia hora cada vez que paravam para descansar.

Não que estivesse fazendo progresso, mas sabia que deveria conhecer todas as suas possibilidades.

- É essencial conhecer meus limites, principalmente se eu entrar numa batalha.

A voz firme da mulher o fazia se calar num visível respeito, a postura de Lua era sempre tão confiante que de algum modo sempre a deixava em paz com seus treinamentos. Mesmo que por dentro temesse seus poderes despertados.

Ninguém sabia do que ela era capaz. Nem mesmo ela própria tinha consciência disso.

- Você sabe que até agora não conseguiu fazer nenhum avanço, não sabe? - o tom de brincadeira a fez torcer o nariz.

- Preciso de concentração, o que não encontro quando você começa a tagarelar. 

Chrome sorriu com desdém. Queria ajudá-la de algum jeito, pelo menos dar a ela algum modo de defesa para quando chegassem a Mültur...

Para a armadilha que a esperava.

Antes que seu peito começasse a doer devido ao arrependimento, o jovem resolveu arriscar um comentário:

- O que sentiu quando seus poderes despertaram? No que estava pensando?

Lua refletiu por alguns instantes. Sentimento? Pensamento? Quando os cipós estavam ao ponto de estrangulá-la havia pensado em Ezarel. Na declaração que ele fizera pouco antes de cair no abismo.

E no desejo de permanecer viva para encontrá-lo novamente.

Essa sensação permanecia indestrutível dentro de si, como se cada parte do seu corpo atendesse a esse pedido. 

- Queria viver. - murmurou com os olhos vidrados - Queria apenas ficar viva.

- E funcionou muito bem. Olhe!

A voz de Chrome a despertou dos seus devaneios antes de seguir em direção ao seu olhar. Nesse instante, percebeu o que havia de errado. Seu corpo estava envolto numa leve aura azulada que a mantinha aquecida numa sensação febril, de algum modo conseguia sentir seu sangue correr mais rápido nas veias num impulso de adrenalina enquanto um calor agradável tomava conta do seu par de olhos.

Não era a mesma sensação queimante de antes. Era mais suave, como um calor que irradiava em suas íris e pupilas.

Não precisou de muito para saber que seus olhos estavam azuis fluorescente.

O espanto de Lua era evidente, e tão rápido como veio, a sensação eletrizante de calor se foi. Voltando tudo ao normal.

- Mas como...?

- São seus sentimentos. - concluiu Chrome tão perplexo quanto ela. - Dependendo do que está sentindo os seus poderes vem à tona.

A Cristaly o olhou atentamente sem saber o que dizer. 

"As respostas estão em você, Lua White."

Sabia qual era a resposta agora. Sabia como controlar essa magia dentro de si sem precisar sofrer por conta dela. Nunca mais.

- Você é incrível, garoto! - sua exclamação pegou o lobo completamente de surpresa, mas não se comparou nem um pouco com o abraço apertado que a mulher lhe deu repentinamente.

Mesmo sem desejar, sua face foi tomada pela cor vermelha. Apenas não sabia se era por embaraço ou por culpa.

- Está bem, agora me larga. - comentou se desvencilhando do seu toque - Me deve uma a partir de agora.

Lua o olhou com singela ternura enquanto voltavam a caminhar em direção ao Norte. No entanto, graças aos acontecimentos do passado, era por deveras muito bem atenta e dificilmente confiava nos outros.

Não precisou de muito para perceber a adaga escondida na cintura de Chrome, nem de como olhava disfarçadamente para trás enquanto suas mãos tremiam em nervosismo. 

Não era estúpida igual há cinco anos atrás. 

Sutilmente, deslizou a mão para dentro da bolsa escondendo sua faca na bota direita. Precisava estar pronta para qualquer emergência.

(***)

- É aqui a fenda. - avisou Ezarel sem sequer olhar para os dois - Precisamos descer sorrateiramente.

Os três companheiros de viagem pararam diante do enorme abismo que se quebrava no meio da terra. No entanto, o elfo notou brevemente que a fenda parecia menor da última vez, como se estivesse se fechando lentamente dia após dia.

- Então foi aqui que você largou a Lua? - o comentário venenoso de Leiftan fez o elfo tremer em espasmos violentos.

Como queria arrastar aqueles seis chifres nas pedras para fazer fogo. 

- Vamos descer agora ou preferem se aquecer antecipadamente numa fogueira? - o comentário foi visto de forma inocente por Ewelein, porém, Leiftan achou estranho o sorriso adorável de Ezarel.

Não queria nem pensar no que se passava dentro daquela mente diabólica.

- Vamos pegar as cordas e nos prepararmos para descer. - anunciou a elfa enfermeira prendendo firmemente sua bolsa no corpo.

Todos começaram a pegar os equipamentos necessários para a descida, quando, repentinamente, o elfo não se aguentou e soltou mais um dos seus incontáveis comentários sarcásticos:

- É triste saber que não há mais passarinhos chifrudos por aí.

Leiftan rosnou interiormente.

- Essa ofensa foi para mim?

- Imagina... - sorriu amavelmente o elfo - Mas é verdade que no lugar de asas você só tem duas peninhas?

Ewelein segurou a risada, percebendo que tristemente havia achado graça. Céus, que senso de humor era esse?

- Parem vocês dois. - tentou com a voz menos firme do que o previsto.

Ezarel continuou sorrindo lindamente como um doce anjo inocente. Mesmo depois de ver Leiftan rosnando em sua direção, prestes a arrancar sua cabeça.

(***)

Um profundo cheiro de enxofre tomou conta do túnel mostrando que ambos já estavam no final da jornada. Lua sentia uma tremenda falta do céu como se nunca mais fosse ver a luz do dia, contudo, a medida que caminhavam tinha ainda mais certeza de que não veria a luz do sol tão brevemente.

Depois de meia hora caminhando, o túnel do verme gigante finalmente mostrou seu fim. Uma luz acinzentada tomou conta de sua visão enquanto se ampliava cada vez mais. Logo, um céu completamente nublado e carregado de nuvens negras se revelou diante de si. A paisagem era pior que um pesadelo: não se via nada. Não haviam grama, arbustos ou árvores, apenas troncos queimados e retorcidos num solo de terra negra. Pedras e mais pedras eram vistas em todos os lugares em variados tamanhos... E no fundo, bem distante e no alto de uma montanha rodeada de nuvens escuras, estavam as ruínas de um castelo belíssimo de mármore negro.

Aquele lugar deveria ser esplêndido no passado, no entanto, era como estar dentro do próprio Submundo.

- Bem vinda as montanhas de Mültur. - um arrepio percorreu seu pescoço ao ouvir a voz de Chrome perto de si.

Estava com uma sensação ruim. Muito ruim.

- Quem vive naquele castelo? - perguntou ainda de costas para o lobo. Passos foram ouvidos perto de si, mas não ousou se virar.

- Você está tremendo. - Lua percebeu que seus dedos estavam gelados quando viu Chrome se colocar ao seu lado. Sua expressão estava tranquila embora seus olhos cintilassem numa estranha coloração de fogo.

- Perguntei quem vive naquele castelo. 

Sua voz saiu mais fria que o esperado e de modo extremamente cuidadoso, sua mão se moveu em direção a faca escondida no cano alto da bota. O pressentimento ruim estava dominando sua mente. Precisava ir embora o quanto antes. No entanto, quando estava prestes a se virar e sair correndo, sentiu uma mão segurar seu ombro com uma força fora do comum.

- Vai para algum lugar, querida? 

Lua não sentia medo de quase nada, mas nesse momento cada célula sua tremeu em espasmos surpreendentes. Sem mexer um músculo, a mulher transformou o semblante em puro mármore para não demonstrar qualquer tipo de reação de medo.

Estava cercada.

(***)

Ezarel, Leiftan e Ewelein desceram a enorme fenda com extremo cuidado e habilidade. Graças as paredes de terra e pedras ásperas era quase cem porcento de chance de se cortarem, isso se não fosse a grande agilidade dos elfos e a desenvoltura dos Daemons que ajudava grandemente na tarefa. Bastou poucos minutos até que todos descessem em segurança.

- Foi moleza. - gabou-se o alquimista tirando o pó das vestes. 

- Algum de vocês se machucou? - perguntou Ewelein conferindo cada um em busca de arranhões.

- Estamos bem. - Leiftan sorriu em agradecimento enquanto o elfo azul apenas a olhou com certo distanciamento.

A enfermeira tentava não demonstrar sua imensa indignação pelas ações do mesmo, contudo, era quase impossível não se sentir abalada. Não sabia se queria estapeá-lo ou xingar a si própria.

Notando que algo estava de errado pelo modo que ambos se olhavam, Leiftan pigarreou para chamar atenção:

- Deixaremos nossas cordas penduradas aqui mesmo até encontrarmos a Lua, então retornaremos pelo mesmo trajeto.

Isso foi o bastante para chamar a atenção de Ezarel.

- Se acaso algum inimigo ver as cordas saberá de nossas presenças, temos que ser cuidadosos para não dar nossa posição.

O Daemon o olhou com antipatia antes de cruzar os braços. Faltava a opinião de alguém.

- Ewelein? O que diz?

A elfa pensou por alguns instantes sem voltar os olhos para nenhum dos dois. Não queria ser influenciada por feições.

- Acredito que Leiftan tenha o melhor argumento. É melhor deixarmos como está, e se por acaso encontrarmos a Lua nesse meio tempo poderemos subir com mais tranquilidade.

O elfo assentiu à contragosto enquanto via o rapaz loiro sorrir para a enfermeira. Não sabia quem era o mais tolo.

- Façam como quiser. - resmungou com repugnância.

Todos começaram a caminhada com certa rapidez e devido a baixa luminosidade andavam longe um do outro para não se esbarrarem. Interiormente, Ezarel agradeceu... Até o momento em que Leiftan se aproximou de si com suavidade.

- Posso saber o que faz perto de mim, Chifrudo?

O apelido fez Leiftan cerrar os punhos, todavia, manteve a serenidade.

- O que houve entre você e a Ewelein?

- Não sabia que se interessava por mim... Estou honrado embora não goste de você. - o elfo mantinha seu sorriso desdenhoso enquanto despejava seus típicos comentários sarcásticos. Isso fazia o loiro tremer de raiva.

- Pelo visto não bastou magoar uma mulher, agora você faz até com suas amigas. Você realmente é um ser desprezível.

- Obrigado pelo elogio, anjinho sem asas.

- Vou dizer mais uma vez, Ezarel... - anunciou o rapaz segurando firmemente em seu pulso - Fique longe da Lua.

O alquimista o olhou de canto esbanjando seu melhor sorriso. Sua beleza era tão encantadora que fazia seus olhos cianos brilharem mesmo que estivesse contaminado pela fúria.

- Quando a Lua e eu nos casarmos, farei questão de que faça companhia ao bolo. Não é bom ficar solitário no casamento.

Leiftan arregalou os olhos com o comentário enquanto via Ezarel se afastar rindo graciosamente. 

Era impossível ter um diálogo sério com esse maldito elfo.

Enquanto isso, Ewelein escutava tudo sentindo seu coração se partir novamente.

(***)

Montanhas de Mültur. Norte de Eldarya.

Num instante, Lua foi virada com força para encarar seu agressor. Reconheceria esses olhos dourados até mesmo no inferno. Brandon, o vampiro da Vila Scarlet e o pior inimigo de Ezarel continuava tão belo como sempre, isso se não fosse as brilhantes presas que pareciam ainda mais afiadas e mortíferas do que nunca.

- Olha só que peixinho bonito caiu na nossa rede. - comentou num sotaque sensual.

Junto com ele, dois Norlans caíram na risada como se estivessem diante do ser mais frágil do universo. Brandon a olhou com visível malícia e sem qualquer tipo de educação, seus olhos praticamente a comiam de cima à baixo sem qualquer delicadeza. 

- Tenho que confessar que os anos fizeram muito bem a você, my lady. Combinou com os cabelos curtos. - o vampiro tocou em uma de suas madeixas brancas com visível feição de prazer.

Nesse momento, Lua começou a sentir o sangue ferver e ouvir sons inaudíveis rugindo em seus ouvidos. Conhecia esses sinais. Precisava se controlar o quanto antes.

- Não vai falar nada, Lua? O gato comeu sua língua? - a aspereza e o desprezo continuavam visíveis no olhar azulado da meia humana que apenas se manteve em silêncio. 

Estava aguardando o momento certo.

- Chrome, parece que você trouxe uma fada morta para nós. - o tom fingidamente triste de Brandon a fez trincar o maxilar. Mesmo que já suspeitasse, nada lhe tirava a sensação de desapontamento que sentia em relação ao lobo. - Você está de parabéns, rapaz. O mestre ficará orgulhoso de você.

O lobisomem apenas abaixou a cabeça em arrependimento. Não conseguia encará-la. Não podia olhar em seus olhos e ver a decepção.

Lentamente, Lua se virou para ele sem demonstrar qualquer tipo de emoção que não fosse o desprezo. Seus olhos azuis faíscavam como duas pedras de gelo.

.

- Espero que você morra, seu mentiroso.

.

Receber uma facada seria menos doloroso do que ouvi-la. O jovem levantou a cabeça com os olhos alaranjados repletos de culpa e sem coragem de pronunciar algo. Brandon e seus capangas simplesmente caíram na risada.

- Gostei dela. - comentou um dos Norlans.

- É por isso que meu mestre a adora. Ela não tem limites na língua. - o vampiro sorriu debochadamente. - Não o culpe, fadinha. Esperava mesmo que alguém aqui fosse seu amigo?

Isso foi a gota d'água. Antes mesmo que alguém pudesse notar, Lua começou a sentir seu sangue fervilhar dentro do corpo a medida que tinha pensamentos cada vez mais maquiavélicos sobre eles. Queria vê-los mortos. Queria acabar com todos eles. Nem que tivesse que se sujar de sangue apenas para fugir.

A simples ideia de se encontrar com Athaleos lhe causava enjôo.

Saber onde ficava seu esconderijo não significava o mesmo que ir confrontá-lo sem um plano.

Imersa nesses pensamentos conturbados, Lua estava prestes a liberar seu poder quando ouviu um grito profundo que a desconcentrou. Chrome havia cravado sua adaga nas costas de Brandon. A imagem fez seus olhos azuis se arregalarem perdendo completamente o raciocínio.

- Mas o que...

O vampiro gritou com a dor do seu ferimento, sem perder tempo, os outros dois guerreiros avançaram furiosamente contra o lobo que começou a se esquivar com facilidade. Aproveitando a oportunidade de escapar, Lua pegou sua própria faca escondida na bota tratando de investir no primeiro Norlam que viu. Um corte rápido e horizontal na nuca foi o bastante para fazê-lo cair morto e ensanguentado aos seus pés enquanto via o rapaz atacar o terceiro sem qualquer traço de piedade.

- O que está fazendo, criatura? FUJA!!

Chrome gritava furiosamente contra si vendo Brandon se levantar prestes a atacá-la com sua espada. Lua olhou para o vampiro e com um grito furioso avançou para matá-lo. Ele estava justamente bem na frente da saída, e para isso, precisava tirá-lo primeiro. Pensando em todo e qualquer tipo de lembranças ruins que tivesse, a mulher esperou pelo fogo vivo que despertava seus poderes enquanto tentava bloquear as investidas de Brandon contra si.

Ele era ágil e a diferença de armas era notável.

Armada somente com sua faca de cozinha, ela não tinha a menor chance. 

- Acha que pode me deter com isso, fadinha? - bradou ele em puros rosnados - Pois faço questão de enviar os dois para a morte com antecedência.

O vampiro avançou novamente contra ela e Lua implorou ao céus que seus poderes viessem. A espada de Brandon veio contra si numa velocidade incrível, bem no momento em que a mulher se jogou para o lado recebendo um corte no ombro, quando, de repente, viu Chrome se lançar em direção ao vampiro para derrubá-lo.

- Seu traidor maldito! - rosnou o servo de Athaleos tentando afastá-lo de qualquer maneira.

Lua se afastou em busca da sua faca que havia derrubado para dar o golpe final no mesmo, no entanto, foi tarde demais. Brandon deu uma violenta chave de braço no jovem lobo que começou a sufocar. Imediatamente, sem perceber, todos os sentidos da mulher travaram como se o próprio tempo tivesse congelado seus movimentos.

E o que ouviu em seguida, ficaria marcado eternamente em sua mente:

.

- Não faça eu me arrepender da minha escolha. 

.

O sussurro de Chrome foi cessado para sempre quando a espada de Brandon o atravessou no meio. Sangue pingou na terra a medida que via os olhos alaranjados a olhando com afeição pela última vez. 

.

A cor se esvaiu do seu rosto. Sua mente estralou num solavanco com a cena terrível diante de si. Com puro desprezo, o vampiro soltou o corpo pálido no chão avançando novamente contra a fada desprotegida. Naquele momento, nos míseros segundos restantes, Lua sentiu-se morrer por dentro devido suas próprias palavras.

Desejara sua morte. Ela disse que o queria morto.

Ela havia desejado isso com toda sinceridade.

Seu sangue fervilhou dentro das veias. Cada terminação nervosa atendeu seu chamado febril vinda do fundo de sua mente. Queria gritar contra Athaleos. Queria gritar contra si mesma. Se amaldiçoar pelos seus desejos profanos.

- CHROMEEE!!!!

Toda sua energia acumulada se liberou de uma vez em direção ao desgraçado que tirara a vida de Chrome. As ondas azuis fluorescente se lançaram contra Brandon com tanta potência que o jogou para trás em direção as pedras pontudas do barranco. E não somente ele. Com o impacto liberado, os outros três corpos voaram junto em direção as pedras.

Incluindo o jovem lobo.

Não houve tempo para impedir ou agarrar sua mão. Marcada por suas palavras, Lua apenas observou o corpo esbelto de Chrome se estatelar contra as pedras quebrando o restante dos seus ossos. Uma risada macabra ecoou por toda montanha como se estivesse se divertindo com tudo aquilo. 

O som do pescoço quebrando e o sangue escorrendo foram o bastante para fazê-la se virar e sair correndo de volta ao túnel. Estava perplexa, enojada e arrependida. A ânsia de fugir era tão grande que sequer percebeu que não estava usando seus pés, sua mente estava tão conturbada que Lua só percebeu que estava voando quando notou estar quase batendo no teto do imenso buraco. Em suas costas, no meio de uma aura fluorescente, um par de asas transparentes e membranosas batiam fervorosamente à medida que avançava por dentro do túnel do verme gigante.

Estava voando. Voando de verdade com asas de verdade.

Em qualquer outra ocasião, ela teria sorrido e aproveitado cada sensação que lhe era proporcionada. Todavia, nada a fazia esquecer do sacrifício do jovem lobo que outrora fora um grande amigo.

Chrome estava morto. Havia entregado sua vida apenas para salvá-la.

.

No final das contas, ele fora um verdadeiro herói.

(***)

 

Lua não soube explicar o momento certo quando suas asas sumiram e ela voltou a usar os pés, no entanto, assim que atingiu o chão continuou a correr pelo mesmo caminho esperando que ninguém estivesse atrás dela. Desejava fervorosamente que Brandon tivesse morrido ao colidir contra as pedras, mesmo que para isso tivesse demonstrado a Athaleos seus poderes recém descobertos.

Ele sabia que ela estivera em seu covil. Agora era apenas questão de tempo até ambos se encontrarem.

A Cristaly correu e continuou correndo por horas e mais horas sem comer, beber ou parar para descansar. Suas forças estavam no limite e sentia que iria desmaiar em breve se não encontrasse um modo de fugir da maldita fenda na qual se encontrava. Depois de mais alguns minutos praticamente arrastando os pés, Lua ouviu vozes no final do corredor subterrâneo que se aproximavam cada vez mais.

Um pensamento arrepiante a fez ofegar.

E se fossem os servos de Athaleos? Será que haviam a encontrado?

Sem ter onde se esconder, a meia humana pegou sua faca da bolsa pronta para lutar até a morte quando ouviu uma voz familiar no meio de outras duas também conhecidas.

Uma voz masculina e grave e com um toque de sarcasmo misturado com doçura.

Céus... reconheceria essa voz em qualquer lugar. 

Correndo com uma energia renovada do além, ela avistou a formosa figura de Ezarel que num segundo discutia com Leiftan e no outro já a olhava com puro assombro.

- Lua? - murmurou ele completamente perplexo. Seus olhos cianos, porém, possuíam uma mescla de assombro e afeição que tocou profundamente o coração despedaçado da albina.

Ewelein arregalou os olhos e Leiftan sorriu prestes a ir ao seu encontro.

No entanto, Lua correu em direção a única pessoa que não saía da sua linha de visão. O alquimista debochado que dominava seus pensamentos bons e ruins. O único ser do universo que não sabia se odiava ou amava. Por instinto, a mulher se lançou imediatamente nos braços do elfo o agarrando com toda sua força de vontade.

Ezarel não pronunciou nenhuma palavra enquanto a envolvia contra si de maneira protetora. Estava assustado e ao mesmo tempo aliviado. Seu coração palpitava com violência devido ao contato e desesperado com a maneira que ela tremia, o alquimista pronunciou a primeira coisa que lhe veio a mente:

- O que aconteceu, meu amor?

Acariciando seus cabelos brancos, ambos se esqueceram de tudo e todos.

Lua tremia em espasmos involuntários sem conseguir decifrar a tonelada de sentimentos que a dominavam naquele instante. Não sabia o que fazer. Queria abraçar, chorar, sentir, esquecer, beijar e se entregar de corpo e alma até ser arrastada do seu interior.

Movida por essas sensações febris e desconhecidas, a mulher fez tudo o que sentia vontade. Tocou e acariciou os longos cabelos azuis até sentir a maciez escorrer por entre os dedos; inclinou o rosto para beijar seu peito por cima das vestes enquanto o apertava ferozmente num domínio impassível. O perfume silvestre do elfo era quase uma perdição. Era desejo misturado com loucura.

- Senti sua falta... - sussurrou Lua, fechando os olhos. Seu coração estava disparado enquanto confessava a si mesma a imensa falta que sentiu dele.

Ezarel simplesmente calou-se, atordoado com tamanha paixão. Se entregando a mulher que amava, sentiu seu rosto corar em variadas tonalidades de rosa.

.

Enquanto toda a cena romântica acontecia, Leiftan e Ewelein continuaram a observar em silêncio o casal abraçado.

Mesmo que, interiormente, cada um queimasse em puro ódio e aflição. Gritando no fundo da alma o quanto desejavam vê-los afastados.

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Como assim separar o casal? Sossega o facho aí, Ewelein e Leiftan!

Eles nem se acertaram ainda! ESCUTARAM?

*Ewelein e Leiftan abaixam a cabeça, assentindo*

- Ótimo! Bem melhor.

Agora falando sério... O CHROME MORREU!
Morreu mesmo? Sim e não vai voltar do além.

Como eu disse, essa segunda temporada é baseada na guerra contra Athaleos, ou seja, romance e perdas vão acontecer sim. Sinto muito e vamos preparar os lencinhos que mais personagens vão morrer.

Espero que até lá a Lua e o Ezarel já tenham casado...

Mas e aí? O que acharam? Estão chocados com o luto ou com o romance dos dois?

Beijos e até a próxima, meus amores ^^


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