História I love you, Rowan (rowbrina) - Coffee Shop

28 de agosto de 2017 - Primeiro dia de gravações da 4ª temporada de Girl Meets World

Ainda estava escuro quando acordei aquele dia e, mesmo estando exausta, não tive problemas para levantar. Desde a semana anterior, quando acabei minha última tour do EVOLution, não consegui tirar muitas horas de sono. No exato momento que desocupei minha cabeça de trabalho, ela foi inundada por Rowan e por mais que eu tentasse afastá-la de meus pensamentos ela permanecia presente. Como dizem, mente vazia oficina do diabo.

Eu tinha que estar no estúdio poucos minutos após o nascer do sol. Me arrumei rapidamente, sem dar muita importância para minha aparência bagunçada, já que seria melhor produzida quando chegasse, e poucos minutos após meu despertar já tirava o carro da garagem do prédio e colocava os óculos escuros para proteger meus olhos dos primeiros raios de sol. Meu prédio ficava há cerca de vinte minutos de distância do estúdio, por isso aproveitei o primeiro sinal vermelho que encontrei para acender um cigarro, na expectativa que o cheiro saísse antes de chegar. Hábito nojento, eu sei, mas não conseguia evitar quando estava nervosa e, Deus, como eu estava nervosa. Não via Rowan desde meu aniversário, estava fazendo shows desde então, sequer tive tempo nem de ir para alguma leitura, tampouco de aceitar seus convites para sair, estava à beira de uma crise de abstinência da presença da garota. Só a ideia de revê-la deixava meu coração a ponto de sair pela boca. Principalmente depois daquela foto e daquele vídeo.

Depois que Peyton parou de brincar com a minha cara e me enviou, o vi tantas vezes que podia até sentir a sensação do corpo dela no meu, não sei se por ter reavivado a memória ou se por puro delírio mesmo. Assim que ela saiu da minha casa naquele dia, decidi não falar sobre o ocorrido, já que das duas umas: ela estava enojada com a situação e preferia fingir que nunca tinha acontecido ou ela nem se lembrava. Porém, a cada dia que passava, a vontade de repetir aquele momento crescia dentro de mim. Enquanto tragava meu cigarro fiquei determinada a, pelo menos, comentar sobre com ela, assim como quem não queria nada. Afinal, não custava nada tentar.

Estacionei mal, por pouco não arranhando a SUV da vaga ao lado, e saí do carro com dificuldade quase deixando minha bolsa cair. Dei um último trago no cigarro e me encostei no capô, deixando o vento bater, passei um creme nas mãos, coloquei um mentol na boca, respirei fundo e fiz meu caminho tão conhecido. Assim que entrei vi que quase todo o cast já estava presente e a maioria se reunia em volta da mesa de café-da-manhã. "Mortos de fome" pensei em toda minha hipocrisia já indo me empanturrar de rosquinhas também. Cumprimentei a todos e perguntei por Rowan, que já estava na maquiagem, segurei uma rosquinha com a boca, outra na mão esquerda e um café na mão direita, isso tudo já tendo a bolsa pendurada no antebraço, e saí quase correndo para o camarim na intenção de encontrá-la por lá ainda. Mas, infelizmente, quando eu estava quase chegando pude vê-la sair com pressa e se dirigir para o cenário da casa dos Mathews.

Ela me direcionou uma piscadela e um aceno. Retribui o aceno com a mão do donut e levantei as sobrancelhas lhe sorrindo com os olhos, já que a boca estava ocupada, o que lhe arrancou um sorriso. A segui e fiquei assistindo-a gravar uma cena com Ben e Dannielle, enquanto eu comia sem pressa. Fiquei um bom tempo entretida em assisti-los, vez ou outra fazendo um comentário engraçadinho ou uma careta quando olhavam em minha direção, o que fez com que eu levasse algumas broncas do diretor quando finalmente conseguia fazer um deles sair do personagem. Minha paz só acabou quando Megan, nossa maquiadora, me encontrou e saiu me puxando pela orelha enquanto gritava por estar me procurando por todo estúdio, pois eu já estava atrasada para maquiagem.

Fiquei a primeira metade do dia extremamente ocupada, em meio a gravações, troca de roupas e falas decoradas em cima da hora, dessa forma não tive nem um segundinho a sós com Rowan. Apesar de todo o cansaço e da frustração de não conseguir cumprir meus planos, voltar às gravações me fazia mais bem do que eu imaginava, eu me divertia trabalhando e me sentia em casa ali, meu humor estava ótimo. Como disse: estava. Foi quando todo o estúdio fez uma pausa para o almoço que o tempo fechou. Eu estava comendo em meio ao pessoal, com Rowan ao meu lado cheia de gracinhas, decidida a chamá-la pra conversar a sós ao terminarmos de comer, quando aquele pau no cu chegou.

Curran Walters. O moleque idiota que fez o Evan, o garoto que passou a noite conversando com Riley no episódio da cabana de ski. Como eu queria sumir na hora que o vi. Quando trabalhei com ele no ano passado, tudo que eu queria era dar um tiro na minha própria cabeça, ou na cabeça dele, tanto fazia. Piadinhas desnecessárias, brincadeiras sem graça, àquela atitude estúpida de rei de Hollywood, o jeito que ele ficava dando em cima da Rowan o tempo t-o-d-o... Argh, não sei o que era pior. Ou melhor, sei sim! O pior era que Rowan achava ele era um cara “maneiro”. Aff.

Eu sequer entendia porque Mike achou que era uma ideia genial colocar esse babaca como personagem recorrente da série. Uma "reviravolta ao relacionamento Riley/Lucas", já que o triângulo tinha morrido. 

Meus olhos quase saíram de órbita ao ouvi-lo cumprimentar todo mundo, dei um sorriso falso ao vê-lo e logo me levantei tentando levar Rowan comigo para longe, mas obviamente ela não quis ir, afinal, ele "nem era tão ruim assim".

Por sorte, não precisei gravar nenhuma cena com aquele idiota no dia, mas, em compensação, passei todo o meu tempo livre fugindo dele. Além disso, não tive um segundo para conversar com a Rowan e, pior, ainda fodi com metade das minhas cenas me tornando uma das últimas no estúdio.

Às oito da noite, quando finalmente fui liberada, considerei passar na casa de Rowan para conversar, uma vez que ela tinha ido embora algumas horas mais cedo. Acabei desistindo. Estava tarde demais e ela devia estar cansada pra receber visitas, era mais sensato deixar para o dia seguinte. Então só peguei meu carro e segui para casa.

Dirigia devagar e meio avoada pelas ruas de LA, ouvia música alta, fumava meu cigarro e aparentemente irritava os motoristas que cruzavam meu caminho. Olhava mais para as pessoas na rua do que para a pista em si. Pensava em mil coisas, menos em como o sinal vermelho já estava aberto há um minuto inteiro e eu ainda não havia me movido. Só acordei quando vi um cabelo castanho, que eu conhecia muito bem, entrar num café não muito longe de onde buzinavam pra mim.

Estacionei o carro no primeiro buraco que achei, joguei meu cigarro fora e quase corri em direção ao lugar que a vi entrar, tentando meu melhor para esconder a empolgação. Fui para a fila do caixa pedir um café e uns biscoitinhos, para não ficar tão na cara que só entrei ali por sua causa e esperei impacientemente chamarem meu nome antes de poder ir procurá-la. Peguei minha comida com pressa quando chegou minha vez, logo em seguida, olhando em volta cautelosamente, checando todos os cantos do lugar e precisando segurar o sorriso quando a vi de longe sentada num sofá florido atrás de uma mesinha redonda num dos cantos menos iluminados do local. Caminhei até ela dando graças a Deus por ainda conseguir disfarçar meus sentimentos, apesar de meu coração disparar feito a um carro de fórmula um.

— Babygiiiirrlll! — exclamei fingindo surpresa. Coloquei o café e os biscoitinhos na mesa que ela se encontrava. — O que você faz aqui tão tarde?

— Brini, amor da minha vida! — respondeu abrindo os braços, me fazendo curvar para frente e abraçá-la, quase me derrubando no processo. — Senta, senta — completou. Me soltou e deu uns tapinhas no espaço que sobrava no sofázinho que ela se acomodava. Me espremi para caber ao seu lado, passei um dos braços pelos seus ombros e dei um gole generoso em minha bebida.

— Só saiu do estúdio agora, bae? — perguntou assim que me acomodei.

— Sim — soei desanimada. — Errei a mesma fala umas trinta vezes, a Cheryl estava quase me batendo pra eu acertar e ela poder ir pra casa.

Ela riu do meu infortúnio por um momento até que eu lhe empurrei com os ombros a fazendo parar:

— Veja pelo lado bom, bae, pelo menos você teve a chance de me encontrar aqui. Pelo menos a gente pode conversar um pouquinho, já que quase não tive tempo com você hoje.

Ouvir suas palavras iluminou meu dia. Passamos um bom tempo conversando sobre besteiras diversas, muitas vezes me perdendo em seus olhos ou sua boca, não prestando atenção em algumas de suas palavras e, por consequência, levando cutucões acompanhados de broncas por não ouvi-la. No curto período de conversa tentei por diversas introduzir o assunto do beijo, mas nunca conseguia usar as palavras certas. Chegando a um ponto que basicamente deixei quieto. Porém, precisei ver uma mensagem em meu celular e logo aquela exata foto que tinha que aparecer quando desbloqueei a tela.

— Ai meu Deus! — exclamou num tom agudo, tomando o celular da minha mão e aproximando-o do rosto para analisar a foto. 

Podia sentir meu rosto queimando de vergonha. Todo o sangue do meu corpo deve ter se direcionado a minhas bochechas. Essa, definitivamente, não era a maneira que eu queria abordar o assunto.

— Eu... eu não lembrava disso — disse em meio a risinhos me devolvendo o celular.

Engoli a saliva e tirei os olhos do chão:

— Nem eu.

— Meu Deus — ela não podia parecer mais surpresa, não conseguia parar de rir e por mais que essa não fosse a reação esperada eu também me desmanchava em risinhos, talvez um tanto mais nervosos que os dela. — A gente tava muito louca!

— Tava mesmo, já que se não fosse essa foto eu nem saberia o que aconteceu!

As gargalhadas saíram de maneira tão descontrolada que nossos corpos se balançavam quase que involuntariamente, puxávamos o ar com força e demoramos para conseguirmos voltar ao normal. Quando vi, nossos rostos estavam perto demais. Minha risada cessou gradualmente ao perceber que fixava os olhos em mim. 

— Quer repetir? — perguntou baixinho com um sorriso maldoso no rosto e se aproximando mais de mim.

— Sério? — perguntei apertando os olhos.

 Ela se aproximou, as íris focadas nas minhas, até que o barulho à nossa volta me fizeram desviar o olhar.

— Nãao — se afastou de uma vez, me deu uns tapinhas e me fez rir, de maneira que, mal ela sabia, não era de diversão. — Nós somos melhores amigas! Só é ok fazer isso quando estamos bêbadas, né?

— É? Então quando é que va... — "mos beber de novo?" Era o que iria dizer, mas fui interrompida pela voz mais irritante do mundo. Foda-se, eu ia me arrepender mesmo.

— Hey, princesas. 

— Você está atrasado! — Rowan fingiu irritação e levantou para abraçá-lo. 

Ótimo, estava atrapalhando um encontro. Assim que o garoto sentou e pegou um de meus biscoitinhos, que eu não ofereci, fiz questão de me levantar e me preparar para partir.

— Bom já que seu date chegou, acho que vou indo, babygirl — demonstrei amargura. 

Me inclinei e plantei um beijo no topo da cabeça de Rowan.

— Não, bae, fica. Isso não é um encontro. — Ela fez um biquinho e segurou minha mão direita.

— É bae, fica, é só um café entre amigos — Curran disse deixando a ironia ficar clara em sua sentença e segurando minha mão livre com mais força que o necessário. 

"Bom, eu não sou sua amiga! Seu cuzão." Era o que eu deveria ter dito, ao invés disso, apenas deslizei para longe minha mão esquerda e segurei minha bolsa, o fitando brevemente.

— Eu realmente preciso ir pessoal. Já tá tarde, eu to cansada — apertei sem muita força a mão de Rowan e lhe mandei um beijinho no ar. — Vejo vocês amanhã.

Assim que virei as costas para os dois, algumas lágrimas escaparam e, para completar meu dia de bosta, foi eu pisar fora do café a chuva passou a cair.

— Porra — era a única palavra que podia resumir o que eu sentia.