História I Miss You Already - Capítulo Cinco.

I Miss You Already - Capítulo cinco.

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Ágatha M. Lynn.

Calum era um tanto esquisito, isso era um fato e eu não tinha argumentos contra, mas desde que o conheci ele foi bastante amigável e gentil comigo, porém a grande surpresa agora é que ele era um traidor e isso é bastante difícil de angolir, já que Calum não tinha cara de nada disso, se bem que Logan não tinha cara de suicída, mas quem tem cara de suicída na verdade? Quem tem cara de traíra? Ninguém precisa ter “cara” de nada para fazer o que normalmente não é de seu fetio.

Encaro Tyler sem saber o que dizer, uma traição e um suicídio jogados na nossa cara e nós dois tendo que nos segurar com todas as forças pra acordar de manhã e fingir seguir em frente.

— Me desculpe — é o que eu acho mais apropriado para dizer nesse momento — eu não fazia idéia, se eu soubesse não teria convidado Calum e pouparia todo esse desconforto.

— Tudo bem, a culpa não é sua até que ocorreu tudo bem na verdade — Tyler tenta sorrir, mas não funciona.

— Chama aquilo de “ocorreu tudo bem”? — pergunto com ironia.

— Bom nós não começamos uma briga para quebrar todos os móveis da casa não é mesmo? — sorrio.

— É você tem razão.

— Eu vou indo agora Ágatha, muito obrigado por ter me convidado.

— Eu que agradeço por ter vindo — eu ainda estava um pouco arredia ao toque humano, mas nesse momento me sinto mais ligada a Tyler e decido abraçá-lo, ele correspondente ao meu abraço em silêncio, envolve minha cintura com os braços e pousa o queixo na minha cabeça.

— As coisas vão melhorar, um mês é muito pouco pra dizer “eu estou bem” — ele me diz e eu sinto um alívio.

— Que bom saber que alguém acha que eu não preciso seguir em frente de uma hora pra outra.

— E não precisa mesmo, cada um sofre de um modo diferente que só ele entende e cada um leva o tempo que for preciso, pode levar muito tempo ou pouco, mas o importante é que não dure pra sempre.

— Você já superou a traição? — não sei se deveria ter perguntado, mas já que estamos falando de sofrimento… Ele desfaz o abraço e olha pra mim.

— Ver a cara do Hood por aí dificulta um pouco, mas estou bem melhor do que antes, na época eu achava que nunca me envolveria denovo, agora estou começando a reconsiderar — ele pega uma mecha do meu cabelo e enrola no dedo indicador.

— Eu não estou tentando dizer que meu sofrimento é maior que o seu Tyler, mas se eu pudesse escolher eu queria que Logan tivesse me traído do que se suicidado — pensei nisso algumas vezes desde que Tyler me contou o motivo do seu divórcio.

— Eu entendo, também acho que se eu pudesse escolher, se por acaso eu soubesse que isso poderia acontecer eu escolheria o adultério no lugar do suicídio, mas Jenna não se matou, ela me traiu, violou os votos do nosso casamento, nossa vida juntos, me deixou arrasado, acabou comigo, pra mim é como se ela estivesse morta, mesmo não estando — ele desenrola o dedo da minha mecha de cabelo e limpa uma lágrima do meu rosto que eu nem senti cair — agora estou indo mesmo, amanhã venho colocar os novos cabos no seu carro — ele se afasta e vai em direção a porta abrindo ela e Calum está do lado de fora, não na frente da porta, mas na rua perto da calçada.

— Calum? O que ainda faz aqui? — pergunto com um pouco de frieza, estou com um pouco de raiva dele agora e não consigo controlar isso no tom da minha voz.

— Eu estava só passando — ele diz dando de ombros.

— Só passando? Sei — Tyler diz revirando os olhos e depois me encara — até amanhã Ágatha.

— Até — sorrio e aceno com a mão.

Tyler passa reto por Calum e entra no seu carro dando partida.

— Eu vou indo pra casa agora — Calum se pronuncia.

— Não vai mais passar por aí? — não é possível que ele não tenha percebido minha ironia.

— Está na cara que Tyler contou sobre Jenna e eu, mas Ágatha deixe-me explicar — ele começa a andar em minha direção e eu levanto a mão no ar fazendo sinal para ele parar.

— Hoje não Calum, estou cansada, vou entrar boa noite — ando para dentro de casa e antes que eu feche a porta Calum fala um pouco mais alto.

— Eu não sou uma pessoa ruim Ágatha.

— Então que tipo de pessoa você é? — não o deixo responder e fecho a porta.

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Chegou a hora que eu esperei o dia inteiro: procurar no escritório de Logan alguma resposta de uma pergunta que nem eu sei qual é.

Subo para o quarto tomo banho e troco de roupa, já colocando a roupa que irei dormir, ou talvez não, minha busca pode levar a noite inteira pois estou determinada a sair de lá só quando achar alguma coisa. Desço as escadas e abro a porta do escritório dele, não mecho mais na gaveta onde estão as armas e as facas pois já sei o que tem lá, faço a mesma coisa que fiz hoje de manhã só que prestando mais atenção, abro os livros folheio as páginas, olho debaixo do pequeno sofá, atrás das almofadas, até mesmo debaixo do tapete, mas para o meu desapontamento não encontro nada, mas pelo menos fico aliviada por não encontrar mais armas, resolvo olhar no único lugar que não olhei só para me certificar que realmente olhei tudo, me abaixo perto da mesa dele e pego a lata de lixo, um monte de papéis e embalagens caem quando eu a viro de ponta cabeça, mas não são de muito importância, então eu vejo um papel amassado com uma textura diferente, viro o lado e noto que é uma foto onde eu e Logan estamos rindo, lembro de quando tiramos essa foto, tínhamos feito um ano de namoro e fomos para Disney, foi uma das nossas viagens mais divertidas, porém o que mais me intriga nessa foto é que tem um risco no meu pescoço e um x feito com caneta no rosto de Logan. Sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem.

— Credo Logan, mas que porra aconteceu aqui?

Levanto-me e jogo tudo de volta no lixo incluindo a foto, sento na cadeira rotativa e abro o Notebook, Logan nunca foi de colocar senhas nas suas coisas então não preciso de uma para entrar, mas tudo tinha sido apagado, não restava arquivo nenhum.

Franzo o cenho e tiro meu celular do bolso.

Ágatha: Foi você que formatou o Notebook do Logan?

Sam: Não, ele já me deu formatado quando me emprestou, por quê?

Ágatha: Nada não, eu só queria passar algumas fotos para o meu Pen drive.

Minto e espero que ela não perceba.

Sam: Que pena branquela :(

Bloqueio a tela do celular e fecho o Notebook, já é bem tarde e eu me dou por vencida pelo o que achei, pelo menos foi mais do que a polícia fez, o que eles tinham para investigar afinal? Tinha um corpo e um pote de antidepressivos vazio, não havia nada para investigar, a resposta era suicídio ponto final.

•••

O som da campainha me desperta e eu estou com tanta preguiça de descer as escadas que quase me jogo delas para chegar mais rápido lá embaixo. Com um olho aberto e outro fechado abro a porta e Tyler está todo sorridente na minha frente.

— Bom dia — ele sorri.

— Bom dia pra quem? — digo ainda sonolenta.

— Pra quem vai ter seu carro consertado — ele levanta o braço e me mostra um tipo de mala de metal que deve ser sua caixa de ferramentas.

— Você não chegou muito cedo? Que horas são?

— São 10h:25min — ele dá de ombros — mas pode dormir mais enquanto eu trabalho no seu carro se quiser, suas olheiras estão enormes sem querer ofender.

— Não, tudo bem, só preciso de um banho frio pra me despertar — estico o braço para o porta chaves na parede perto da porta e pego minhas chaves do carro e jogo para Tyler — aqui, pode começar, eu vou tomar banho e comer alguma coisa.

— Pode deixar — ele vai em direção ao meu carro e eu vou em direção ao meu quarto.

Tomo banho troco de roupa desço mais uma vez e como, está um sol de derreter a pele então eu pego uma jarra de água gelada e um copo para oferecer a Tyler, saio de casa e quase derrubo tudo no chão.

Tyler está todo suado e sem camisa, sua calça jeans está um pouco baixa no quadril e mesmo seu físico não sendo atlético lá no fundo eu sinto uma vontade de derramar a jarra de água gelada em mim pois estou com mais calor que o necessário olhando pra ele, a ausência de Logan está me deixando carente.

— Eu trouxe água pra você — digo chamando sua atenção, ele vira pra mim e se aproxima com o suor escorrendo do seu peito tatuado.

— Nossa obrigado, está fazendo muito calor hoje — coloco a água no copo e lhe entrego.

— É, muito calor mesmo — digo umedecendo meus lábios secos com língua.

Barulhos de passos como se alguém estivesse se aproximando correndo fazem Tyler e eu olharmos para o lado, e lá estava Calum, correndo um pouco mais devagar já que estava chegando em casa, com tênis de corrida, calção fones de ouvido e sem camisa, assim como Tyler ele também estava pingando de suor.

Eu estava muito carente, muito carente mesmo.

Mas eu viro o rosto quando Calum olha pra nós, ele não diz nada e entra em casa.

— Você não tem que deixar de falar com ele por conta do que eu lhe contei — Tyler diz e eu olho para ele surpresa.

— Como é?

— Está na cara que você está evitando ele, mas Ágatha o que houve entre Calum, Jenna e eu é assunto nosso e você não tem que tomar as minhas dores, sei que Calum é legal com você e eu sou um homem adulto, posso lidar com muitas coisas, então se quiser continuar falando com Calum tudo bem, eu não vou me opor a isso.

— Tudo bem, eu só, não consigo encará-lo agora — Tyler sorri.

— Eu estou até um pouco feliz por isso.

— Tyler! — dou um pequeno tapa no seu braço e a moto de Sam para bem na hora. Ela tira o capacete e nos encara.

— Olá aos novos amigos — ela sorri irônica.

— Oi Sam — eu digo.

— Como está a moto Sam? — Tyler pergunta.

— Depois que você trocou os pneus antigos e colocou esses novos que são mais do que fodas, não podia estar melhor.

— É o meu trabalho, se precisar é só me ligar.

— Pode deixar mecânico gato — ela pisca pra ele e nós rimos, o que seria do mundo sem o senso de humor de Sam? — o que está rolando com o seu carro branquela?

— Cortaram os fios dele — eu respondo.

— Quem fez isso? — ela pergunta indignada.

— Eu não faço ideia.

— Bom, se você descobrir me avisa que eu chuto as bolas dele ou arranco os cabelos dela.

— Você será a primeira pessoa a saber.

— Espero mesmo que sim, agora eu tenho que ir trabalhar boa sorte com o carro — ela coloca de volta o capacete e faz sinal com o dedo indicador e médio — paz!

Ela diz e dá partida com a moto, Tyler me entrega o copo que estava até agora segurando e volta a mecher no carro.

— Estou quase terminando, falta pouco — seu celular toca dentro do bolso — se incomoda em pegar? Minhas mãos estão sujas — ele me pede.

— Claro que não — ponho a jarra e o copo no chão e me aproximo dele para pegar o celular no bolso da frente.

Deus me ajude a não tocar em nada que eu já não estou tocando há um mês.

Pego o celular do bolso e vejo quem é, na tela o nome que está piscando é Jenna, mostro para Tyler e ele fecha a cara.

— Acho melhor eu não atender — ele diz um pouco pra baixo.

— Que tal eu atender? — sorrio sem mostrar os dentes e ele me olha desconfiado.

— Fique a vontade.

Deslizo o dedo na tela, atendo o telefone e coloco no viva voz.

— Alô — digo para ela.

— Quem está falando? — a moça pergunta já parecendo um pouco nervosa.

— Foi você que ligou meu anjo — falo com ironia e Tyler segura o riso perto de mim.

— Eu quero falar com Tyler Joseph — ela fala arisca.

— E quem deseja falar com ele? — pergunto me fazendo de desentendida.

— Por acaso o meu nome não está no identificador de chamadas? — quase posso imaginar ela rangendo os dentes.

— Não, não está.

— Bom, eu me chamo Jenna ele sabe quem eu sou agora será que você pode, por favor, passar o telefone para o Tyler? — olho para Tyler que nega com a cabeça ainda sorrindo.

— Infelizmente não vai dar, o Tyler está dormindo agora, mas assim que ele acordar eu aviso que você ligou.

— Como assim ele está dormindo? Você está com ele agora? Ele dormiu com você? Onde vocês estão? — ela quase grita e Tyler tapa a boca com a mão para abafar o riso.

— Eu não posso passar o endereço da minha casa para alguém que eu não conheço — falo e Tyler pede sussurrando para que eu desligue — então eu vou ter que desligar, tenha um bom dia Jenna.

— Espera! — ela tenta dizer, mas eu desligo.

— Pronto agora ela vai arrancar todos os fios de cabelo dela.

— Você é má — Tyler ainda está rindo.

— Só um pouquinho — guardo seu celular de volta no bolso da frente, mas minha mão chega perto demais.

— Opa, cuidado aí — Tyler zomba e eu fico vermelha, pra mudar de assunto, passo a mão no rosto dele.

— Você sujou seu rosto quando colocou a mão na boca pra abafar o riso — digo tentando limpá-lo.

— Não tem problema eu vou tomar banho depois.

— Com esse calor todo até eu quero tomar outro banho.

— Então vamos economizar água — pra ser mais direto que isso só se ele me levasse pro banheiro agora mesmo.

Por um momento minhas pernas tremeram só de pensar, mas meu noivo morreu há um mês, seu corpo nem esfriou e eu estou aqui flertando com um cara que eu conheço só há alguns dias, a carência está crescendo a cada dia, mas não parece certo, eu não quero deixar um clima ruim entre nós dois, então faço graça.

— Então que tal você terminar logo de por esses cabos pra poder tomar seu banho? — Tyler entende meu fora sútil, mas não se abala.

— É pra já.

Volto para dentro de casa com uma angústia no peito, pego meu celular e ligo para Sam.

— E aí branquela.

— Sei que você passou aqui em casa agora a pouco, mas preciso perguntar uma coisa.

— Manda ai. — ela diz divertida.

— Você acha estranho eu estar sentindo uma atraçãozinha por alguém mesmo só fazendo um mês da morte do Logan? — eu não precisava fazer rodeios com Sam.

— Olha, Aggie eu não tenho experiência com isso, mas talvez seja até compreensível, seu coração está doendo pela morte de Logan, mas seu corpo não sabe disso e somos humanos temos nossas necessidades, ninguém está dizendo para você começar a ter um relacionamento sério agora, e talvez você esteja carente, precisando de uma atenção diferenciada da que vem recebendo só por pena, mas só tome cuidado, seus sentimentos podem estar confusos agora e você pode confundir as coisas.

— Eu meio que flertei com o Tyler agora a pouco e estou me sentindo um pouco suja, sei lá, parece que não é certo fazer isso com Logan.

— Logan não está mais aqui Aggie, sinto muito ser tão direta assim, então não se sinta culpada ou suja por ter uma paixonite em alguém, você está solteira agora, não pare sua vida.

— Não é bem uma paixonite é mais uma atração sexual reprimida

— Então vai pra cama com ele — ela diz como se não fosse nada.

— Sam! Logan era seu melhor amigo.

— Tyler também é meu amigo e a vida é para os vivos, viva a sua. Eu vou sempre sentir falta do Logan Aggie, sei que você também vai, mas olha só que situação vocês estão: Tyler tendo que lidar em ser um homem divorciado e você tendo que lidar com o suicídio do seu noivo, vocês podem se ajudar, pense nisso.

— Você fala até tudo parecer fazer sentido e foi só um flerte.

— Eu falo porque faz sentido, e tudo começa só com um flerte.

— Só faz alguns dias que eu o conheço.

— E daí? Tem gente que transa no primeiro encontro, e eu sou super a favor, sexo é bom  demais pra ficar sendo adiado — seguro o riso — vou desligar agora até mais branquela — me despeço dela e desligo o celular.

Escuto um barulho de motor e vou lá fora, Tyler estava dentro do meu carro atrás do volante.

— Você consertou!

— O objetivo era esse — ele diz desligando o carro e saindo dele.

— Mas e se voltarem a cortar os cabos ou pior? — pergunto insegura.

— Eu também consertei o alarme, como você disse estava realmente quebrado, não vai acontecer denovo — ele me entrega a chave do meu carro.

— Nossa obrigada Tyler, quanto custou?

— Não se preocupe com isso — ele diz simpático.

— O quê? Não nem pensar, eu não entendo de carros, mas sei que isso não pode ser feito de graça, por favor, diga quanto custou — ela pensa um pouco e depois sorri.

— Bom, o preço é um jantar lá em casa hoje a noite.

— Tyler é sério.

— Estou falando sério, você fez um jantar pra mim eu faço um pra você, eu com certeza não vou cozinhar, mas sou muito bom em pedir por telefone — impossível não rir disso.

— Você tem certeza? Eu posso pagar.

— Tenho certeza, agora tenho que ir para a oficina, eu passo aqui a noite pra te pegar — ele fecha a caixa de ferramentas pega a camisa, mas não a coloca de novo e entra no seu carro, acena para mim antes de ir embora.

— Então tá, chegou a hora — entro no meu carro e giro a chave, suspiro de alívio quando o motor liga e dou partida para o cemitério da cidade.

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Quando vim aqui pela primeira vez, não vim sozinha, estavam aqui comigo as pessoas que conheciam Logan, mas hoje só eu estou aqui.

Caminho devagar em direção a sua lápide, não trouxe flores, nem nada só a minha presença. Me ajoelho em frente a grande pedra onde está esculpido seu nome e datas de nascimento e morte.

— Logan — começo com um sussurro e depois aumento a voz — vai se foder.

Começo a chorar, já sabia que ia acontecer só estava guardando o caminho inteiro até aqui pra chorar na frente da lápide dele.

— O que você está fazendo comigo? Não é possível que mesmo depois de morto você ainda confunda a minha cabeça, se você estivesse vivo agora eu te daria um soco, ou melhor, eu te mataria. O que você estava pensando? O que são aquelas armas na gaveta do seu escritório? Por que escondeu tantos segredos de mim? Eu só queria ficar com você! Tudo o que eu queria era você e você me deixou, como posso não te odiar por isso?

Choro alto, com direito a soluços e tudo.

— Eu não mereço passar por isso Logan, não mereço, sem você eu… eu não sou eu, não sou mais, tirei quase todas as suas coisas daquela casa e guardei naquele porão escuro, mas você ainda está lá, e não está ao mesmo tempo. Eu sinto tanto a sua falta.

Não consigo dizer mais nada, começa a ficar difícil de respirar e eu engasgo começando a tossir.

— Ei, moça você está bem? — ouço uma voz atrás de mim, mas não me viro pra olhar — ei você! Está passando mal? — um rapaz de olhos azuis e loiro se abaixa na minha frente eu balanço a cabeça afirmando que sim, mas começo a tossir de novo, ele abre a mochila que está segurando e tira de lá uma garrafa d’água — aqui, toma vai se sentir melhor.

Pego a garrafa e bebo a água, minha garganta sente um alívio imediato.

— Obrigada — devolvo a garrafa pra ele e enxugo as lágrimas do meu rosto com as costas da mão, mas não adianta muito já que mais lágrimas caem e eu soluço mais uma vez, ele tira do bolso um lenço e limpa meu rosto — você está bem preparado — falo ainda chorosa e ele sorri.

— É sempre bom estar preparado pra tudo — ele guarda o lenço no bolso de novo — você deve estar bem triste pra ter ficado nesse estado — ele olha pra lápide de Logan.

— Era meu noivo — digo.

Ele aponta para a lápide atrás de nós que eu não consigo ver de quem é o nome porque está virada.

— Era minha avó — ele diz.

— Sinto muito.

— Eu também — ele aperta meu ombro, não sei nem o seu nome, mas nada une mais duas pessoas que a morte, que ironia.

— Você mora aqui na cidade?

— Não, mas moro bem perto, logo na divisa, minha avó era que morava aqui.

— Ah entendo, eu sou de Los Angeles,mas vim morar aqui na casa do meu noivo depois que ele morreu — ele parece surpreso.

— Caramba, que coragem, eu acho que morreria de medo.

— Não é tão assustador assim, eu já me acostumei com ele batendo nas portas e nas janelas a noite — não é um bom momento para piadas, mas ele ri.

— Quer ajuda pra levantar?

— Quero sim, obrigada — ele se levanta primeiro e estende a mão para me ajudar a levantar.

— Eu sou Luke Hemmings, prazer em conhecer — ele ainda está segurando a minha mão e balança ela.

— Sou Ágatha Lynn.

— Bom Ágatha espero encontrar você de novo por aí, mas que não seja em nenhum cemitério.

— Digo o mesmo.

Luke e eu caminhamos em silêncio até a saída do cemitério e com um aceno de cabeça nos despedimos.

•••

Chego em casa tomo um banho e vou dormir sem comer nada, todo aquele choro me deixou exausta, sinto vontade de cancelar o jantar com Tyler, mas isso iria parecer meio injusto.

As batidas na porta são como marteladas na minha cabeça e eu levanto muito sonolenta para descer as escadas e abrir a porta.

— Você nunca toca a campainha? — pergunto para Calum que está de braços cruzados em frente a porta.

— Eu odeio o som delas, mas assim fica mais fácil de saber que sou eu que estou atrás da porta, eu sempre bato.

— Certo, o que você quer? — estou com sono e mal-humorada, qualquer um pode notar isso a quilômetros de distância.

— Eu quero conversar.

— Eu quero dormir — rebato.

— Vou entrar — ele anuncia e passa por mim como um vulto em direção a sala.

— Então seja breve — sento-me no sofá e ele senta ao meu lado.

— Eu não sou uma pessoa ruim Ágatha, eu só cometi um erro, um erro grave eu sei disso não estou tentando e nem vou tentar argumentar isso, mas eu não sou uma pessoa ruim, todo mundo comete erros uns bem mais graves que outros e eu não quero passar o resto da minha vida sendo martirizado por um erro que cometi, e não quero que quando as pessoas olhem pra mim só vejam um traidor, eu sou muito mais que isso, nunca fiz mal a ninguém apenas cometi um erro. Quando envolvi com Jenna, que na época era casada com Tyler eu realmente gostava dela, gostava de verdade, mas ela não gostava de mim e nem de Tyler pra ser sincero, ela não só traiu ele comigo, mas com muitos outros também, só que Tyler não sabe disso, eu omiti essa parte dele e levei toda a culpa.

— Por que você faria isso?

— Porque Tyler sempre foi um cara legal, amava Jenna incondicionalmente e não merecia o que estava acontecendo com ele, eu fiquei mal de estar fazendo aquilo, mas eu estava muito apaixonado por Jenna e não tinha mais como voltar atrás, Tyler se partiu em vários pedaços quando soube de mim e de Jenna, eu não podia contar que existia outros além de mim, por mais que eu estivesse magoado por Jenna ter outros também.

— Então porque você é tão rude com ele, sendo que ele nem tem culpa de nada?

— Olha, eu sei que eu mereço todo o ódio de Tyler, mas não vou ficar calado enquanto ele é rude e grosso comigo também, ele provavelmente fez minha caveira pra você não falar mais comigo.

— Na verdade ele disse que não teria problema em eu continuar falando com você e que o que houve só diz respeito a vocês eu não tenho nada a ver com isso — Calum parece surpreso e não disfarça isso.

— É mesmo? — afirmo balançando a cabeça — E você quer continuar falando comigo? — fico encarando o nada pensando na resposta enquanto Calum espera pacientemente.

— Eu só tenho um amigo aqui, que é a Sam do final da rua, não conheço mais ninguém e quando você e Tyler apareceram sendo tão legais comigo eu só… eu não quero perder isso.

— Então vamos voltar do início?

— É claro — sorrio — eu já tenho até um trabalho pra você.

— Um trabalho? Como assim?

— Já volto.

Me levanto e vou para o escritório de Logan, pego o Notebook e volto.

— Logan formatou o Notebook antes de morrer e eu sei que essa não é a sua área, mas você disse que era designer gráfico então deve entender um pouco de computadores.

— O que você quer que eu faça?

— Tente recuperar alguma coisa dele.

— Tipo o quê? — ele franze o cenho.

— Tipo algo que tenha alguma ligação ao suicídio dele, sites de suicídios, antidepressivos, mensagens pra ver se ele falou com alguém sobre isso, qualquer coisa — entrego o Notebook pra ele.

— Tem certeza? Às vezes pode ser melhor não saber tudo, você pode se magoar.

— Eu tenho certeza e já estou cansada de me falarem isso, não me importo se vou me magoar, eu já estou magoada só quero saber a verdade agora.

— Pode demorar um pouco, é difícil fazer isso.

— Leve o tempo que precisar — digo e uma buzina toca do lado de fora, me levanto e abro a porta fazendo sinal para Tyler entrar, ele sai do carro e entra na casa logo percebendo a presença de Calum.

— Hood, que surpresa.

— Digo o mesmo Joseph.

— O que faz aqui? — Tyler pergunta esfregando uma mão na outra.

— Ele vai me ajudar a recuperar algumas coisa do Notebook de Logan, já que ele apagou tudo antes de morrer — respondo por Calum.

— Poderia ter pedido minha ajuda então — Tyler parece um tanto indignado.

— Não seria necessário, seu assunto é carro o meu é computador — Calum sorri cínico.

— É claro que é — Tyler coça a barba e vira pra mim — já está pronta?

— Só preciso trocar de roupa — digo e vou indo em direção as escadas, mas consigo ouvir a conversa deles enquanto subo.

— Vocês dois tem um compromisso juntos?

— Só um jantar lá em casa Hood, mas pra esse você não foi convidado.

— Você não perde tempo não é?

— Pelo contrário, quem não perde tempo é você, está sempre pronto pra dar o bote não é?

— Eu não demoro! Quero os dois vivos quando eu descer — grito para eles lá  embaixo e corro pra trocar de roupa.

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Vestido preto sexy? Ou calça jeans e moletom broxante?

— Calça jeans e moletom broxante — decido, uma moça que está de luto não procura sexo — Sam teria rido disso — digo para mim mesma e sorrio sozinha.

Pra ficar ainda mais sem graça calço um All Star e prendo o cabelo, olho no espelho.

— Ótimo, tá tudo horrível — pego meu celular, saio do quarto e desço as escadas.

— Você está linda — Tyler diz quando chego na sala.

Não era esse o objetivo.

— Obrigada — olho para Calum que ainda está sentado no sofá e ele entende a indireta.

— Eu já vou indo, bom jantar para vocês — ele se levanta e sai, Tyler e eu vamos logo em seguida, entramos no seu carro e vamos para sua casa.

A casa de Tyler é um pouco menor que a de Logan, mas muito bonita e bem organizada, na sala de jantar a mesa tem apenas quatro lugares e eu estou sentada em um deles.

— Então o que você pediu por telefone? — pergunto.

— Espaguete ao molho pesto, foi a coisa mais cara que eles tinham espero que seja bom e também pedi vinho tinto — ele levanta duas taças e me entrega uma.

— Está tentando me impressionar?

— Você está impressionada? — ele chega perto dando um gole no vinho.

— Não muito — dou de ombros e tomo um gole de vinho também.

Tyler coloca sua taça em cima da mesa e eu faço o mesmo.

— Eu não estou com fome — ele diz.

— Nem eu — Tyler segura a minha mão e me ajuda a levantar da cadeira, envolve minha cintura com os dois braços e nos aproxima — eu acho que eu estou carente demais.

— Vou resolver isso — ele chega perto, muito perto e me beija.

Vejo que o moletom horroroso não adiantou em nada quando sinto sua língua encostar na minha e eu soltar um suspiro de susto e de agrado.

Envolvo seu pescoço com meus braços e puxo os fios de cabelo da nuca de Tyler que morde meu lábio enquanto me beija com calma.

Ele me dá impulso e eu envolvo minhas pernas na sua cintura e ele me leva da cozinha para outro cômodo da casa que não tem primeiro andar, o cômodo é o seu quarto, ele interrompe o beijo pra me pôr na cama e logo vem por cima de mim, tiro meu moletom ridículo e Tyler me dá um beijo breve antes de começar a explorar meu pescoço com beijos, distraidamente começo a olhar em volta do seu quarto e meus olhos param na cômoda, onde tinha alguns frascos de remédio  com o mesmo nome.

Citalopram

Onde eu já tinha visto esse nome? Onde?

Eu congelo. Lembro que eu li e reli várias vezes o atestado de óbito de Logan onde dizia que ele tinha tomado um frasco inteiro de Citalopram, ele tinha engolido todos os remédios pra se matar. Me sinto enjoada.

— Para! — Empurro Tyler de cima de mim e ele tomba do meu lado na cama.

— Fiz alguma coisa errada? — ele pergunta perdido.

— Não eu só… eu só tenho que ir — passo a mão nos cabelos para tentar arrumá-los e pego meu moletom no chão o vestindo.

— Eu levo você — Tyler diz se sentando na cama.

— Não precisa eu vou andando — passo a cabeça pela gola e ajeito as mangas.

— Mas Ágatha — ele me chama enquanto eu levanto e caminho até a porta.

— Desculpe Tyler.