História I Saved You - Bad Dream

Saí de casa com uma sensação estranha, meu coração estava apertado, como se eu estivesse sentindo que algo ruim iria acontecer. Depois de me despedir dos meus pais, desci correndo para me encontrar com Rafael. Abri a porta do prédio e, imediatamente, meus olhos encontraram uma cena que eu jamais esperaria assistir. Meus olhos se inundaram no mesmo instante e meu coração pareceu estar destruído, de tanta dor que eu estava sentindo naquele momento. 

-Rafael? - Sussurrei e ele olhou para mim, com um sorriso maquiavélico em seu rosto. Um sorriso totalmente desconhecido por mim. Ele segurava Manu pela cintura, o rosto dela estava enterrado na curvatura do seu pescoço, e ela tinha o mesmo sorriso. Os dois se beijavam de um jeito extremamente selvagem, de um jeito que Rafael nunca me beijou. Andei na sua direção e quando ele notou a minha proximidade, ele soltou Manu e passou as mãos no meu rosto. 

-Você achou mesmo que eu ia ficar com você? - Ele perguntou e eu fechei os olhos, deixando uma lágrima cair. - Olha pra ela e olha pra você. Sério? - Ele disse, com um olhar malicioso e vingativo. 

-Mas... Rafael... - Falei, baixo. Minha voz se recusava a sair, o choro estava preso na minha garganta. 

-Tão ingênua... - Ele sussurrou e sorriu. - Agora vai. - Rafael me empurrou forte, fazendo com que eu batesse as minhas costas em alguém e, quando me virei, me deparei com Marcelo. 

-M-Marcelo? - Perguntei, trêmula e meu pai biológico me segurou pelo braço. O cheiro de bebida adentrou as minhas narinas e eu me entreguei ao choro. - V-você prometeu, Rafael. - Marcelo me puxou mais forte, me afastando ainda mais de Rafael, que agarrou Manu novamente. - Você prometeu que iria me salvar. Por que está fazendo isso? - Ele se aproximou, e colou nossas testas. 

-Eu nunca amei você. - Ele respondeu pausadamente. 

*

-Filha! - Despertei com a voz firme da minha mãe. Meu rosto estava suado e minha voz falha. - Está tudo bem? - Assenti. 

-Foi só um pesadelo. - Passei a mão pelo rosto e me levantei. - Vou tomar um banho.  - Me levantei e fui para o banheiro. 

Ok, eu estou extremamente preocupada. Pode até ter sido só um sonho mas, meu Deus, era muito real. Eu senti a dor, senti meu coração apertar, senti a vontade de chorar, e me senti vazia. Eu senti que estava perdendo o amor da minha vida, o vi escapando pelas pontas dos meus dedos e eu não pude fazer nada. Eu vi um Rafael totalmente diferente do MEU Rafael. Aquele não era o meu namorado mas, confesso, tenho medo de sair de casa e encontrá-lo com a Manu. Eu confio no Rafael, sei que ele jamais faria isso, mas esse sonho tomou conta de mim e eu estou com muito medo de ele se tornar realidade. Saí do banho e depois de me arrumar, saí do quarto. Meus pais já estavam sentados, tomando café da manhã. 

-Vem comer, filha. - Meu pai me chamou e eu neguei com a cabeça. 

-Estou sem fome. Vou indo para a escola. - Respondi e dei um beijo em cada um deles. Abri a porta e antes de sair, respirei fundo. Desci as escadas e olhei em volta, a procura de Rafael. 

-Bom dia, meu raio de sol! - Rafael exclamou,  com os braços abertos e um sorriso surpreendentemente lindo. Suspirei aliviada e consequentemente, retribui o sorriso, indo em sua direção. Ao me aproximar, me enterrei em seus braços, num abraço forte que o fez arfar. Olhei-o brevemente, antes de ele esmagar meus lábios com um selinho demorado e molhado. - Dormiu bem? - Assenti e dei um beijo em seu rosto. -Vamos... O Gui não vem hoje. 

-Você está mais animado que o normal. Isso é por causa do show de amanhã? - Perguntei, curiosa, e enquanto caminhávamos eu tentava buscar alguma resposta em seus olhos e no mesmo instante que ouviu minha pergunta, sua expressão animada, mudou radicalmente para uma expressão preocupada, talvez até triste. - O que foi? - Parei e segurei em seu rosto, fazendo com que ele me olhasse. 

-Eu só estou nervoso, nada demais. - Ele disse e tentou seguir o caminho mas eu entrei na sua frente, fazendo com que ele revirasse os olhos. 

-Rafael, eu te conheço. - Acariciei levemente seu rosto e ele segurou a minha mão, beijando meu dedos logo em seguida. 

-Eu sei que conhece mas fica tranquila, não é nada demais... Eu só estou com... Medo... - Ele disse, pausadamente. Seu olhar estava distante e triste, eu me surpreendi com a forma e a rapidez que seu humor mudou. 

-Ei. - Segurei em seu queixo e nossos olhos se encontraram. - Você vai arrasar. Você é maravilhoso, confia em mim. - Ele sorriu, fraco e eu lhe beijei rapidamente. - Meu guitarrista. - Seus braços me envolveram num abraço e depois de um tempo parados ali, continuamos a nossa longa caminhada até a escola e como sempre, fomos os últimos a chegar, já que todos os nossos amigos já estavam reunidos no mesmo lugar de sempre. Fomos até eles, que nos receberam com sorrisos. 

-Está mais calma, Bellinha? - Arthur perguntou e eu lhe mostrei o dedo do meio e todos riram. Rafael se apoiou no muro e me puxou, grudando minhas costas em seu tórax. E do nada, todos pararam de falar, e eu soltei uma risada baixa. Manu passou na nossa frente, seu rosto estava machucado e ela mancava, mas mesmo assim, ela me encarou. Rafael segurou um dos meus braços e eu lhe mandei um beijo no ar, todos riram menos Rafael, que se manteve sério até Manu sumir do nosso campo de visão. O sinal bateu, fazendo com que minha cabeça latejasse, revirei os olhos e dei um beijo no rosto de Rafael, antes de seguir o caminho para a minha sala. Sentei no mesmo lugar de sempre e abaixei a cabeça assim que vi Felipe se aproximar. 

-Fiquei sabendo da briga de ontem. - Ele falou, próximo ao meu ouvido. - Você devia tomar cuidado. - Levantei a cabeça e o encarei, com semblante tedioso. 

-Não tenho medo dela.  

-Devia... - Ele deu de ombros e voltou a sua atenção para a professora, que entrava na sala naquele instante. 

POV Manoela 

-Vem logo, Felipe. - Chamei-o e ele entrou em um dos becos próximos da escola. - Vem logo porque eu não quero me atrasar. - Ele se aproximou de mim, sério. - Eu tenho uma proposta. 

-O que? 

-Percebi que você está super afim da Isabella. - Falei e ele assentiu. - Disposto a fazer qualquer coisa para consegui-la? 

-Qualquer coisa, nem que eu tenha que destruir o Rafael. - Ele me respondeu e eu o pressionei na parede. 

-Você não irá encostar um dedo no Rafael, ok? - Ele assentiu e eu o soltei. - Já tenho alguns planos mas precisarei de você para realizá-los. Topa? 

-Claro. O que você precisa? 

-Ainda não irei te contar, assim que tiver tudo planejado, eu te chamo. Agora vai. - Mandei e ele assentiu, saindo dali. Saí logo atrás para seguir meu caminho para aquela escola nojenta. Conforme eu me aproximava, já era possível ouvir as risadas do grupinho de amigos do Rafael. Eles eram felizes, e isso me dá mais nojo que o normal. Eu terei o Rafael pra mim, custe o que custar. Ele será meu novamente. 

POV Bella 

Depois de mais uma aula insuportável, juntei meu material e me levantei. Rafael estava encostado no batente da porta da minha sala, junto com Cadu e, imediatamente, algumas meninas se levantaram e foram na direção deles, o que me deixou ligeiramente incomodada. Eu realmente teria que controlar o meu ciúme. Coloquei a mochila nas costas e me aproximei deles. Esbarrei em alguma delas, indo ao encontro de Rafael. 

-O que é isso? - Perguntei para as garotas e ele envolveu a minha cintura com um dos braços. - Podem, por favor, nos dar licença? - Algumas delas reviraram os olhos e elas saíram dali. - Obrigada. 

-O que foi isso? - Rafael perguntou, rindo, enquanto nós saíamos dali. 

-Nada. - Respondi, com um sorriso fraco. 

-Todos aqui? - Bruna perguntou quando nos aproximamos e nós assentimos. - Vamos? - Saímos dali, conversando e brincando, e como de costume, Jenny e Cadu não paravam de brigar. 

-Mas que inferno vocês dois hein! - Arthur reclamou e nós rimos.

-Vocês querem o que? Passe livre para se pegarem? - Rafael perguntou e eu dei um soco fraco em seu braço. 

-Deixa eles. - Anaju pediu e nós assentimos. 

-Eu tenho um plano. - Bruna sussurrou e eu sorri. 

-Fica quieto. - Falei para o Rafael que deu de ombros. Seguimos nosso caminho e nos despedimos na praça. - Vocês podiam ir lá pra casa, não é? - Perguntei para Jenny, Bruna e Anaju. Elas concordaram e nós fomos para a minha casa. - Mãe? Pai? 

-Oi, filha. - Minha mãe falou, saindo da cozinha e sorriu ao ver as meninas. - Oi, meninas. Tudo bom? Estão com fome? 

-Não. - Elas falaram em uníssono e eu revirei os olhos. 

-Eu estou morta de fome. - Falei e elas riram. 

-Sempre delicada e feminina. - Anaju brincou e eu lhe mostrei o dedo do meio. Depois de pegar uns pacotes de biscoto, fomos para o meu quarto e elas se jogaram na minha cama. 

-E você e o Rafael? - Bruna perguntou, curiosa.

-Ah, por falar nisso, - me joguei no meio delas - hoje eu tive um sonho muito estranho. 

-Que sonho? 

-O Rafael estava com a Manu. - Falei olhando para as minhas mãos. - E hoje, quando eu cheguei na escola, o Felipe mandou eu tomar cuidado com ela. 

-Ah, esse Felipe é insuportável. - Bruna disse e eu concordei. - Mas relaxa, nada vai acontecer. 

-Bella. - Minha mãe entrou no quarto, com a expressão assustada. - O Rafael está aí e disse que vai pedir ao seu pai para namorar com você. - Ela falou e eu tentei me levantar mas acabei caindo da cama. Eu vou matar o Rafael se meu pai não matar antes. 

-Como assim? - Perguntei e me levantei do chão, antes de sair do quarto o mais rápido que eu pude. Rafael estava sentado no sofá e meu pai estava sentado na mesa de centro, observando-o atentamente. Rafael estava tenso, era claro. Sua mão estava trêmula, seus olhos estavam meio arregalados e assim que me viu, pareceu estar aliviado mas voltou a estaca zero quando percebeu que eu estava brava a ponto de jogar ele da janela. Com certeza não era o momento certo, eu não tinha nem contado pro meu pai sobre ele, não comentei nada. Meu pai sabia apenas que eu só tenho três amigas e que, agora, elas estão no meu quarto. Não irei brigar com o Rafael por isso, sei que ele está agindo com o coração e como eu, não aguenta mais ter que esconder nosso namoro mas ele tinha que ter me contado antes para que eu pudesse me preparar e o fato de ele ter escondido isso de mim, me deixando com muita raiva. 

-Então, garoto. O que você quer me pedir? - Meu pai perguntou, firme. Andei até Rafael e me sentei ao seu lado. 

-Pai... 

-Deixa ele falar. - Meu pai me interrompeu e Rafael se sentou na ponta do sofá, ficando mais próximo do meu pai. 

-E-eu... Eu quero pedir para o senh... 

-Senhor está no céu. - Ele o interrompeu e eu ri, fraco. 

-Ok. Eu quero pedir a você que deixe e-eu... e-eu... 

-Fala logo, Rafael! - Falei e ele apertou a minha mão.

-Eu quero pedir a você que deixa eu namorar com a Bella. - Ele disse rápido e se encostou no sofá.

-Como é? Claro que não! - Meu pai falou num tom de voz mais alto e eu me levantei. 

-Pai, pelo amor de Deus! - Falei e ele se virou para mim. - Você sabe que se você não permitir, nós iremos namorar escondido, não sabe? 

-Mas nem por cima do meu cadáver! - Ele disse e minha mãe o puxou. 

-Fiquem aqui! - Ela pediu e eu me sentei ao lado de Rafael. 

-O que você está fazendo? - Perguntei e ele me olhou, como se fosse óbvio. - Você deveria ter falado comigo. 

-Eu queria que fosse surpresa. - Ele respondeu, meio decepcionado e eu o abracei. 

-Minha mãe vai dar um jeito... E relaxa, meu pai é louco. - Falei baixo e ele riu. - Eu estou falando sério. - Rafael continuava tenso, segurei sua mão e a beijei. - Relaxa... - Pedi e ele sorriu, encostando a cabeça em meu ombro. 

-Primeira regra: Distância. - Meu pai apareceu e Rafael se afastou de mim, rapidamente. 

-Para de ser exagerado, Eriberto. - Minha mãe falou. - Esqueçam essa regra idiota. 

-Olha, eu vou deixar. - Ele disse, se aproximando de nós - mais precisamente, de Rafael - Mas se você fizer alguma coisa pra Isabella. Se faltar algum fio desses cabelos ou se você quebrar o coração dela, - ele disse enquanto se aproximava e Rafael recuava, quase entrando no sofá. - eu corto isso que você tem no meio das pernas. Copiou? - Rafael assentiu e meu pai se afastou, me dando espaço para eu dar um abraço no meu namorado. 

-Eu amo você. - Rafael sussurrou e eu dei um beijo no canto dos seus lábios. As meninas saíram do quarto e puxaram Rafael. 

-Acho que está na hora de ir, não é? - Bruna falou para Rafael, lhe dando o sinal de que meu pai queria conversar comigo. 

-C-Claro. - Ele respondeu. - Tchau, raio de sol. Tchau, Eriberto. - Meu pai apenas abaixou a cabeça para ele e a minha mãe sorriu. - Obrigada, Manu. - Ele disse, abraçando a minha mãe. Rafael saiu junto com Anaju, Bruna e Jenny, me deixando sozinha com meus pais. 

-Pode falar. - Falei para o meu pai, me sentando no sofá. 

-Você tem certeza? - Ele perguntou, se sentando ao meu lado e eu assenti. - Você o ama? 

-Muito. - Respondi e meu pai acariciou meu rosto, antes de me puxar para um abraço forte. 

POV Rafael 

-Muito corajoso. - Jenny falou rindo e eu revirei os olhos. 

-Ele não tinha deixado, a Manu que convenceu ele. - Falei rindo e me despedi das meninas, antes de entrar em casa. 

-E aí? Como foi? - Chico e Amanda se levantaram assim que me viram. 

-Ele deixou! - Falei, com um sorriso no rosto e eles comemoraram. 

-Pronto pro show de amanhã? - Minha mãe entrou na sala e eu abaixei o olhar. 

-Relaxa, Rafa! Você vai arrasar! - Amanda falou e eu sorri fraco. 

-Eu... Eu vou ficar no meu quarto... - Falei e subi. Peguei o violão e o caderno. Eu estava no fim da música que estava fazendo para Bella. (...)

-Bom dia, meu guitarrista! - Despertei com a voz de Bella e notei que dormi muito. 

-Dia? - Perguntei, confuso. - Bella? 

-Eu mesma. - Ela respondeu e sorriu. 

-A gente perdeu aula? - Ela riu e me deu um beijo no rosto. 

-Esqueceu que é feriado, babaca? - Ela perguntou e eu assenti. - Ansioso pro show? - Me sentei na cama e passei a mão nos cabelos. - Rafa... Ainda com medo? - Ela perguntou e se sentou no meu colo, antes de segurar meu rosto, fazendo com que meus olhos encontrassem com aquele mar. - Você vai arrasar. E eu vou estar lá te passando toda força. - Ela falou, suavemente e eu agarrei em sua cintura, abraçando-a forte. 

-Agora é você que está me salvando. - Sussurrei e ela sorriu. 

-E irei salvar sempre. - Colei nossos lábios num selinho calmo e ela agarrou meus cabelos, aprofundando o beijo. Soltei seu rosto, levando as minhas mãos para a sua cintura e a apertei. 

-Estão com fome? - Minha mãe entrou no quarto e nós reviramos os olhos. - Desculpem, crianças. Da próxima vez, fechem a porta. - Ela disse e saiu do quarto. Bella se jogou ao meu lado, dando uma gargalhada maravilhosa que viraria facilmente a minha música favorita.