História I See You (Jung Hoseok ) - Lágrimas, surpresa e hortelã

Fazia quase três meses que Jung Hoseok havia se tornado tutor de Na Ha Eun. Sua rotina havia se transformado completamente porém, ele não reclamava pelo contrário estava feliz em ser alguém que podia ajudá-la. Naquela tarde assim como nas tardes anteriores Hoseok se arrumou e seguiu para casa daquela gentil garota.

Como sempre foi recebido de um jeito amistoso pela senhora Na.

- Olá rapaz chegou cedo hoje - Observou a senhora Na.

- Estava aqui por perto e decidi passar mais cedo.

Explicou.

- Oh sim, vamos entre a Ha Eun está no jardim.

Hoseok já sabia praticamente a rotina daquela casa, da sua amada e agora ele fazia parte daquela rotina.

Sua tão feliz rotina.

Era sempre o mesmo turbilhão de emoções dentro de si quando seus olhos encontravam com os olhos sem luz daquela mesma garota. Ele sempre fazia a mesma pergunta a si mesmo.

Como olhos já sem vida podiam emitir tamanho brilho? Para ele aqueles pequenos olhos podiam enxergar sua alma, podiam refletir seus sentimentos e anseios mais profundos.

Era sempre assim ao vê-la, os sentimentos lhe tomavam o fôlego. Ela. A personificação do próprio coração como o mesmo costumava dizer estava diante de si em uma simples cena.

Ela estava sentada em uma cadeira de balanço, seus olhos estavam fechados e em seu colo repousava sonolento um filhote de gato branco, o vento balançava seus longos cabelos e eles dançavam suavemente em seu rosto enquanto ela cantarolava baixinho a música que tocava nos seus fones de ouvido.

Cada dia que a olhava fazendo coisas normais ou se esforçando quando tinha alguma dificuldade hoseok sabia que o que fazia era o certo, descobriu com ela sua verdadeira vocação.

A senhora Na chamou tocando-a no ombro e o garoto apenas observava.

- Filha In Na está aqui -

Ha Eun como resposta apenas sorriu e abriu os olhos.

- Ele está aqui? - Perguntou.

Hoseok continuava a disfarçar a voz quando estava perto dela.

- Sim, estou aqui vamos começar? -

A senhora Na se retira deixando os jovens a sós.

Hoseok puxa uma cadeira e senta-se ao lado da garota.

- E então fez os exercícios que deixei pronto?

- Fiz metade deles hoje de manhã - Respondeu risonha.

- O que houve? Teve alguma dificuldade? -

Hoseok frequentemente buscava na internet e no departamento de educação especial da sua faculdade exercícios e livros para deficientes visuais e o mesmo estava recebendo muita ajuda do departamento nas atividades que passava para Ha Eun

- Não, acordei indisposta hoje e passei boa parte do dia aqui sentada.

- O que você tem? - Perguntou enquanto pousava sua mão na testa dela afim de verificar sua temperatura.

- Estou bem, só estou meio cansada e com preguiça de estudar.

Ela riu.

- Ei, pensei que você fosse a boa filha, a responsabilidade e obediência em pessoas. Que conversa é essa de preguiça de estudar?

- Posso ser tudo menos a boa filha - Suspirou fundo. - O casal Na não teve sorte com suas filhas. Uma é doida varrida e a outra foi castigada por ser má.

Hoseok não entendeu o que ela quis dizer com aquilo, mas soube imediatamente que não queria que ela ficasse triste como estava agora.

Partia seu coração ouvir aquelas palavras. A Eun não era uma garota má, ele sabia bem disso.

- Então quero te propor algo - Disse ele mudando de assunto. - Se você terminar os exercícios eu te levo para qualquer lugar.

- Serio? - Pergunta animada. - Qualquer lugar?

- Dentro dos limites da fronteira do país. Sim qualquer lugar.

- Legal, você prometeu.

- Sim, agora onde estão os cadernos? Vou buscá-los.

- Eu vou -

Ha Eun se retira deixando o garoto sozinho na varanda, ele não pode evitar o sorriso no rosto. Era tão fácil deixa-la feliz, coisas simples esse era o segredo de algo parecido com felicidade, esse sentimento feliz dentro dele só estaria completo no dia que ela aceitasse os seus sentimentos. Até isso não acontecer ele continuaria como seu amigo cuidando e zelando dos seus passos.

Começaram os dois a estudar juntos como sempre faziam durante suas tardes juntos, ele sempre aprendia algo com ela e se esforçava para que ela aprendesse algo com ele também. No final das atividades Hoseok pediu para que ela recitasse um soneto que ele havia encontrado enquanto navegava na internet.

- Ainda não sei bem o braille para poder ler.

Disse ela tristonha.

- Se você não treinar como vai aperfeiçoar? Vamos é um soneto pequeno.

Ha Eun hesitou por um momento e por fim pegou a folhar e começou a tatear a folha pontilhada tentando entender seu conteúdo e assim começou a ler tímida.

De tudo, ao meu amor serei atento antes

E com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

- É lindo - Elogiou ela. - Quem é o autor? -

- Gostou mesmo? É um poeta brasileiro, Vinicios de Morais.

- É perfeito, posso ficar com ele? - Pergunta.

- Claro que sim, eu pensei em você - Confessou envergonhado. - Quando encontrei ele e resolvi trazer.

- Omo obrigado, vou guardar com carinho.

Disse ela ao dobrar o papel e guardar na palma da mão.

- Ele é sua próxima lição. - Disse Hoseok decidido.

- Minha lição? -

- Sim, você terá que encontrar o significado por trás desse soneto e me dizer.

Hoseok sabia que Ha Eun era uma garota esperta e era com isso que ele estava contando. Que ela descobrisse seus sentimentos sendo assim abrindo caminho para ele falar abertamente com ela.

- Ele tem um significado? - Pergunta a garota confusa.

- Todos tem - Começa ele. - Preste atenção, antigamente nos comunicávamos por cartas certo? E muitas dessas cartas tinham diversos significados, mas como isso tudo começou? Quem foi o primeiro? Qual era sua intenção? Esses tipos de perguntas surgem quando lemos poesias e sonetos como esses. Poetas são conhecidos como pessoas muito apaixonadas, eles podem ver beleza em coisas simples e é isso que eu quero que você descubra. A beleza guardada nesse soneto.

- Uau você é mesmo bom em me fazer refletir.

Ela ri e ele a acompanha.

- É para isso que eu estou aqui.

- A beleza guardada nesse soneto... Deve ser algo muito profundo talvez alguém como eu não possa reconhecer.

- Talvez você seja a única capaz disso.

- Sabe Sr. Jung o senhor tem uma confiança absurda em mim, pode falar a verdade eu sou sua única aluna não é?

- Aigoo, que cabeça de vento você é. Vá se arrumar ou esqueceu que vamos sair?

- É claro que não porque acha que eu estou aqui filosofando com o senhor?

Ha Eun o deixou sozinho novamente e seguiu para seu quarto buscou uma roupa no guarda roupa, pela textura do tecido ela tinha uma certa noção de qual vestimenta se tratava. Trocou de roupa, arrumou os cabelos e desceu indo de encontro ao rapaz.

Ela sentia certa ansiedade pelo simples fato de estar ao lado dele, no fundo do seu coração havia algo em relação à ele que era totalmente errado, ela sentia que ele escondia algo dela contudo, a jovem não sabia do que se tratava, na sua mente uma pequena luz de alerta piscava indicando que havia algo errado.

Por que essa sensação lhe tomava?

Por que queria está perto dele quando mal o conhecia? Ele praticamente caiu de paraquedas em sua vida então por que essa sensação de que o conhecia há tempos não a deixava pensar com clareza?

Com mil perguntas que necessitavam de respostas e outras mil novas surgindo sempre que ouvia a voz dele, ela seguiu tentando enterra-las no fundo da mente enquanto conversava com aquele que ultimamente a deixava sem sono durante muitas noites.

O parque em questão escolhido como destino para aquele passeio foi o mesmo que ela conheceu Jung Hoseok um ano atrás, sempre que podia visitava aquele lugar na esperança de encontra-lo de novo.

A garota havia adquirido um sentimento em relação aquele rapaz, porém sentia que aos poucos seus sentimentos estavam sendo transferidos para a pessoa ao seu lado agora e novamente aquela sensação de algo errado surgia quando se tratava de Jung In Na cujo o sobrenome por brincadeira do destino ou não era o mesmo sobrenome daquele prestativo rapaz.

- Por que está em silêncio? Isso é tão raro.

- Estava pensando em alguém que conheci aqui.

- Entendo, por isso escolheu esse parque como destino?

- É um dos motivos - Diz ela.

- E tem mais algum?

- Sim, meu outro plano era ir a um cassino e torrar suas economias mas não me pareceu muito justo.

Ha Eun tentou imaginar sua expressão ao ouvir isso porém, era difícil pois ela nunca se atreveu a perguntar se ela podia tocar seu rosto para conhecê-lo.

- A... Agradeço por não escolher o cassino, minhas economias são todas destinadas para a faculdade.

- Você é universitário? -

- Sim, estou no sexto período de arquitetura.

Hoseok havia trancado a faculdade por não saber se era isso que realmente queria, sua convivência com Ha Eun o deixou em dúvidas por um tempo e agora ele estava em uma fase de transição para outro curso totalmente diferente e bem mais satisfatório.

- Ei, isso é incrível, você não é tão velho quanto pensei.

- Eu tenho 24 anos Ha Eun não sou um velho.

Hoseok revira os olhos.

A curiosidade de Ha Eun se intensificava a medida que descobria coisas novas sobre ele, como pensou ele não era tão velho, apenas quatro anos de diferença entre eles. A garota ficou tentada a fazer novas perguntas mas se conteve, não queria chatear aquele sentado ao seu lado.

O tempo devia estar bom pensou Na Ha Eun. O vento que soprava e lhe trazia alguns cheiros, o calor era agradável em sua pele, o cheiro que parecia emanar dele fazia seu coração acelerar, suas mão formigavam pela curiosidade de conhecer o seu rosto.

Que sensação era essa que mesmo sem poder enxergar era tão forte que pelo ar ele se deslocava, imediatamente ela pode perceber que havia uma espécie de barreira entre eles incapaz de deixa-la atravessar, fazendo ambos permanecerem onde estão contra a própria vontade.

Será que ele sentia isso também?

Ela se perguntava.

- Em que está pensando? - Pergunta o rapaz de repente.

- Me pergunto que sensação é essa? - Falava para si mesma com mão pousada no coração.

- Acho melhor irmos embora, você não parece muito bem.

- Espere - Pedia ela pegando na mão dele. - Você não sente nada? É só comigo isso?

Sem perceber lágrimas já brotavam no seu rosto, para ela aquele sentimento de frustração lhe tomava o ar e isso a deixavam impotente e fraca, na escuridão em que vivia era difícil saber o que o outro pensava, e para ela era mais terrível ainda quando se tratava do seu tutor.

Hoseok a encarava perplexo, seus olhos estavam frenéticos enquanto mantinha suas mãos sob as deles, as suas perguntas continuavam suspensas no ar, quando notou as lágrimas dela não soube mais o que fazer, que tipo de resposta ela queria? E por que aquela frustração dominava seu rosto?

- Ha Eun? -

- Você não tem ideia do que isso - Disse ela ao solta-lo. - Não poder ver seu rosto quando te faço perguntas, ou quando você as responde não sei se está sendo sincero.

- Eu sou sincero em tudo quando se trata de você.

Ha Eun agora notava que sua voz havia se alterado e deixando mais forte suas suspeitas em relação à ele.

- Não chore por favor, nunca sei o que fazer quando te vejo assim.

Lhe cortava o coração ver aquelas lágrimas em seu rosto.

Ha Eun pousou o rosto em suas mãos e se deixou chorar, não sabia bem o porquê daquele choro repentino, apenas se permitiu chorar para limpar alma, para deixar aquele pesar ir embora.

Ela não soube em que momento suas próprias mãos deixaram seu rosto para que outras lhe confortassem e em seguida um beijo lhe foi roubado.

Um beijo com sabores misturados.

Lágrimas, surpresa e hortelã.

Seu primeiro beijo agora pertencia aquele rapaz que tomava para si todos os seus anseios, medos e a descoberta intrigante de uma paixão adormecida, de uma chama que apenas ele poderia ter acendido.

O amor.