Akemi mal se aguentava em pé desde o dia em que decidiu se focar apenas em aguçar o seu taijutsu e ninjútsu quando Kakashi se oferecia para tal, colocando completamente de parte a sua dedicação em aprender estratégia. Ela nunca pensou que associaria estratégia a algum garoto e sentiu-se ridícula por tal. Talvez uma pausa seria o suficiente.
A frequência que ia ao quarto era quase nula, usando-o apenas para dormir. Ela tinha saudades de observar o céu sentada no seu telhado, mas seria um saco caso o seu vizinho também lá estivesse. Perto dele, ela parecia perder a noção e neste momento o que ela menos queria era ficar encantada por alguém. O seu desejo era seguir em frente e ignorar o Nara até que aquela onda de sentimentos parasse de possuir o seu corpo e a sua mente para poderem voltar a ser amigos. Ou tentar.
— Akemi você emagreceu? – Ayumi resmungou, interrompendo o treino da filha.
Ela não negou nem afirmou. Passou duas semanas desde que o viu pela última vez naqueles portões de Konoha e mesmo sem o ver, ela não se esquecia do seu aroma, do seu toque, do jeito que ele a observava como se na verdade estivesse a apreciar a figura feminina, como ele a alfinetava e no fim dava aquele sorriso para ela. Aquilo era demasiada frustração para se armazenar em um só coração.
— Filha você está bem? – A mãe aproximou-se com a preocupação estampada no rosto.
— Ando com energia, só isso. – Akemi resmungou e se sentou no chão, ofegante. Os seus olhos observavam o céu das sete da tarde enquanto nos seus ouvidos apenas escutava o palpitar do seu coração.
— Parece ser mais do que isso, não quer falar? – Ayumi se sentou à frente da filha.
Ela devia contar à mãe? Talvez até seria bom para ela desabafar, deitar para fora as suas preocupações, os seus ciúmes e finalmente confessar em voz alta que estava irritada por não falar com Shikamaru apesar de ter sido a sua decisão. Mas desta vez parecia tudo diferente. Talvez era por ser o primeiro garoto que ela achava bonito o suficiente já que os seus olhos sempre ficaram presos na sua ex e depois em outras garotas. O sentimento de estar atraída por um cara era novo e estranho.
— Não é necessário. Você quer que eu faça o jantar? – Akemi se levantou na grama, tentando mudar de assunto.
— Já jantei amor, hoje farei o turno da noite. Chego às quatro da manhã. – Ayumi suspirou, se levantando. – Sabe que eu estou aqui se você precisar certo? Somos amigas acima de tudo. – Os seus dedos igualmente quentes acariciaram o rosto suado da filha. – Preciso de ir, mas se quiser algo pode ir ao hospital, está bem?
— Hm.Não se preocupe, vou jantar e dormir mesmo. Estou exausta.
— Com a quantidade de treino desnecessário é normal que esteja. – Ayumi resmungou.
— Tá bom. – Akemi bufou, cruzando os braços. – Então, bom trabalho.
A mãe bagunçou os cabelos da filha e saiu de casa. Ela devia parar de se exercitar daquela forma todos os dias. Ayumi estava repleta de razão: Akemi ficou perplexa quando enfrentou a sua imagem no espelho do banheiro. Os seus braços e as suas pernas estavam mais magros, embora quase fosse impercetível.
Terminando de tomar banho, vestiu a sua roupa íntima e uma t-shirt cor de vinho que roçava nos seus joelhos. Na cozinha, a ruiva saboreou o yakisoba deixado pela sua mãe. Ela era realmente uma ótima cozinheira.
Foi a primeira vez que ela entrou tão cedo no quarto, depois de duas semanas evitando o cómodo. Akemi obrigava-se a treinar até às nove da noite e depois jantava por volta das dez e meia e só voltava a entrar no quarto à meia-noite ou até mais tarde. Agora, eram dez da noite e ela estava deitada na sua cama, exausta e agradecida pelo sono a atingir mais cedo do que o esperado.
(...)
— Filha, acorde. – Ayumi resmungou, acariciando o rosto da filha que abria os olhos custosamente. – Vamos almoçar com Kakashi e com os Nara.
— Não. – Akemi apenas observava os lábios da mãe a se moverem, sem ouvir as suas palavras. – As minhas pernas estão me matando.
— Estão? – Ayumi apertou gentilmente o gêmeo da filha por cima do lençol de algodão.
— Droga mãe. – Akemi resmungou, elevando o tronco inconscientemente. – Isso dói. – Ela suspirou.
Todos os músculos pareciam estar doridos, os seus braços mal se moviam, tal como as pernas e nos abdominais até o simples movimento de respirar conseguia magoá-la.
— Droga Akemi, eu disse para você não abusar nos treinos. Vou desmarcar com eles.
— Não, não! – Akemi interveio, semicerrando os olhos. – Pode trazer o meu pequeno-almoço e o remédio? Eu ficarei bem, eu juro. Não quero que v-
— Que bobagem é essa? Eu não vou abandonar a minha filha. – Ayumi resmungou e permaneceu em silêncio até um sorriso se abrir nos seus lábios. – Já sei, convidarei os Nara e o Kakashi para almoçar aqui.
— Você tá de brincadeira né. – O rosto da filha se fechou, em indignação.
— Não. Fique quieta que eu já sirvo o seu pequeno-almoço. – A ruiva beijou a testa da filha e deixou o seu quarto.
Ela evitava sair de casa para não ver Shikamaru e agora ele estaria no andar debaixo, que irónico. O humor da Taiyou decaiu e a sua vontade de dormir e só acordar no dia seguinte aumentou consideravelmente.
(…)
Era impossível adormecer com o barulho instalado no rés-de-chão. Os gritos alegres de Ayumi e Yoshino a rir-se descontroladamente estavam a ser uma tortura para Akemi. Ela só queria tentar dormir e fingir que não estava ali por baixo Shikamaru Nara, aquele maldito. Os seus músculos estavam doridos até com a proscrição das cápsulas verdes da Ayumi. Ficar encarando o teto ou tentar ler enquanto um festival ocorria no andar de baixo estava a levar a ruiva à loucura.
Quase rastejando, se deslocou até à janela, puxou as cortinas, abriu a janela e se sentou sob a secretária contemplando o céu alaranjado do final de tarde. A brisa refrescante dançava no rosto da ruiva, bagunçando os seus cabelos que quase se confundiam com o tom do céu.
Vinte minutos depois, a Taiyou parou de escutar as vozes no andar de baixo. Tentando inclinar o seu tronco para fora da janela com alguma dificuldade, ela pôde ver de relance Shikamaru a voltar para casa, sem os seus pais. Provavelmente eles tinham ido tratar de assuntos dependentes, adiados devido ao convívio que se esticou até aquela hora.
Akemi fechou os olhos e respirou fundo, com alguma dor e permitiu os aromas das flores invadirem o seu nariz. Estar de olhos fechados e saborear o tempo de verão era um momento único, transmitia uma paz interior diferente. O sono parecia começar a pesar nas pálpebras, obrigando-a a abrir os olhos e a resistir ao mesmo. Ela não tinha nenhum desejo em destruir os seus horários de sono.
Enquanto bocejava, as suas orbes se dirigiram para a janela ao lado da sua e a boca feminina se fechou no mesmo segundo. Shikamaru estava no telhado da casa, deitado com uma mão por baixo da cabeça imerso na beleza do céu enquanto fumava o seu cigarro, descontraído. As suas roupas eram pretas como de costume e o seu cabelo continuava perfeitamente arrumado; nada nele tinha mudado e Akemi não conseguiu segurar o sorriso alegre em voltar a vê-lo, após semanas a evitá-lo. O seu sorriso se desvaneceu e o coração disparou ao ser flagrada a observar o Nara.
O vizinho encarava-a com a sobrancelha arqueada, analisando pela primeira vez em duas semanas o corpo e o rosto feminino. O seu rosto permanecia igual, mas o seu corpo não era o mesmo, apesar de não ser logo visível: as suas coxas continuavam grossas, mas não pareciam estar como d’antes, assim como os seus braços que antes magros, agora estavam ainda mais e também levemente tonificados.
Shikamaru sentiu saudades de a ver, apesar de ele ser demasiado teimoso para admitir para si mesmo: ele desejou inúmeras vezes voltar a encontrar a vizinha naquela janela, com os seus cabelos ruivos, bochechas vermelhas e com os seus pijamas habituais. Era uma imagem que o reconfortava e que ele tinha sentido falta.
— Vai fugir? – Nara debochou, falando alto o suficiente para a Taiyou ouvir e revirar os olhos, sem proferir uma palavra. – Você está diferente.
— Cortei o cabelo, gostou? – Akemi ironizou.
— Complicada. – Resmungou de volta, esborrachando o cigarro no telhado da sua casa. – Você não vai sair do quarto?
— Porque haveria de sair?
— Porque você nunca está dentro do quarto quando é para ver o céu. – Nara observou e conviveu com ela tempo o suficiente para entender alguns dos seus hábitos. Das suas observações ele chegou à conclusão de que ela gostava de brisas frias e temperaturas frias, tais como as águas da lagoa da sua família; ela tinha o vício de brincar com os dedos quando estava pensativa ou de puxar a pele por baixo do seu pescoço quando se concentrava demasiado.
— Deixarei o mistério nas suas mãos.
Ela também parecia estar com um humor mais ácido, rabugenta e curta nas suas respostas, sendo algo incomum. Shikamaru não conhecia essa faceta e questionava-se se algo tinha acontecido para ela agir daquele jeito.
Mal ele sabia que era por causa dele e provavelmente nunca desconfiará por achar que o seu valor para a Taiyou não era assim tão grande. Às vezes, garotos são tapados demais.
— Posso ir ter com você? – Shikamaru finalmente respondeu e não pode deixar de dar um sorriso de lado quando as orbes da ruiva de arregalaram.
— Não sabia que você também saltava telhados. – Ela pigarreou.
— Nem eu. – Nara resmungou, se levantando do seu telhado. Era verdade: se no início alguém lhe dissesse que ele andaria a saltar telhados por livre vontade para falar com a vizinha, ele provavelmente chamaria a pessoa de louca. – Somos feitos de surpresas. – Nara falou com algum humor e saltou para a janela da vizinha, sentando-se no parapeito no mesmo instante. – O que aconteceu com você? – Por puro instinto, pegou no braço da vizinha e analisou os hematomas sem conseguir esconder a sua preocupação.
— Treino. – Akemi tossiu, se livrando do toque do vizinho ao sentir uma corrente de arrepios atravessar todo o seu corpo. Como é que ele conseguia estar tão frio enquanto o sol ainda aquecia a vila?
— Você não tem jeito mesmo. – Nara suspirou. – É por isso que você mal se mexe. Pensei que era uma desculpa da sua mãe.
— Porque haveria de ser uma desculpa?
— Bem, você estas semanas pareceu estar me evitando, então não seria assim tão incomum se fosse apenas um jeito de me ignorar mais um dia. – Shikamaru falou num tom irónico, porém as suas palavras eram sinceras. Ele realmente não percebia o que ia na mente da vizinha.
— Não evitei ninguém. Treinar não é evitar.
— Se você o diz. – Murmurou, encolhendo os ombros sem dar muita importância à resposta da vizinha que nada acrescentava. – Dá para falar com você?
— O que nós estamos a fazer agora? A latir? – Akemi brincou, sem conseguir evitar o sorriso que florescia nos seus lábios.
— Deixa de ser marrenta. – Nara resmungou e deu um sorriso de lado no fim. – Eu queria falar com você sobre Suna.
— O que há para falar? Não é necessário fazer relatório para os colegas de missão.
— Eu quero falar com você sobre a Temari. – O Nara suspirou.
Os músculos da ruiva enrijeceram. O seu corpo dolorido ficou contraído e não pôde deixar de se mover desconfortável com aquele nome a ser citado. A garota se aproximou um pouco mais do garoto sem deixar o quarto, usando a parede onde estava a janela aberta para definir a distância entre os dois.
— Hm, fala. – Ele possivelmente precisava de uma amiga e Akemi se sentiria mal se fosse ignorá-lo. Por gostar dele como amigo e querer vê-lo bem, ela estava disposta a esquecer por minutos o seu plano fracassado de o ignorar.
— Eu e ela jantámos juntos, lembra? – Akemi assentiu amargamente. – Ela queria falar sobre voltar. Disse que tinha pensado e que seria diferente. Prometeu não voltar a ser grossa com ninguém da vila e até conseguiu arranjar um jeito de estarmos juntos frequentemente.
— Hm, legal. – Ouvir aquelas palavras era como receber golpes mentais. Aquilo era uma tortura que Akemi estava disposta a sofrer. – E então?
— Ela me convidou para ficar com ela em Suna.
Tanto a sua boca como o seu nariz pararam de inalar e exalar oxigénio. Ele ia embora? Então seria esse o motivo do jantar dos dois: comemorar a decisão descabida do seu vizinho?
— Você vai para Suna? – Akemi não soube esconder a perturbação e as palavras terminaram saindo trémulas.
— Ela convidou. – Ele suspirou, olhando para um ponto aleatório no céu que escurecia.
— E você vai. – Akemi riu incrédula, negando com a cabeça. – Sério que essa é a soluç-
— Eu não vou, estressadinha. – Nara cortou as palavras da vizinha, mostrando um sorriso ladino. Ela estava preocupada com ele e ele ficou aliviado por ainda haver alguma preocupação da sua parte. Ele não percebia o motivo, mas ver a vizinha a hiperventilar e agora a suspirar de alívio era divertido e provocava no seu íntimo uma sensação quente. – Jantámos juntos apenas como dois ninjas amigos.
— Droga, você podia ter dito logo né, idiota. – A Taiyou resmungou, dando um soco leve no braço do Nara que finalmente enfrentou diretamente os seus olhos. – O que foi?
— Você é muito precipitada e cabeça quente, sabia? – Nara inclinou a cabeça, apreciando as bochechas vermelhas da amiga.
— E você não é nada direto, sabia?
— Quer que eu seja direto? – Shikamaru arqueou a sobrancelha, se divertindo com aquela troca de palavras.
— Ainda não foi porquê? – Ela murmurou.
— Não se volte a afastar desse jeito só porque você tem problemas. É mais fácil quando você deixa os seus amigos te ajudarem.
— Não tenho problemas. – A ruiva cruzou os braços. – E eu nunca ignorei a ajuda do Naruto, nem da Ino e nem da Sakura.
— Mas ignorou a minha, marrenta. – Ele resmungou.
Akemi não se segurou e esboçou um sorriso largo com a frase do vizinho.
— Então você é meu amigo hm? – Ela pressionou os lábios, tentando parar de sorrir feita idiota.
— Sim e você devia saber que sim.
A Taiyou estava demasiado feliz com as palavras de Nara, mas ao mesmo tempo, algo se entristeceu dentro dela. Ele apenas via-a como uma amiga e nada mais? O seu sorriso se desvaneceu com esse pensamento, mas não se deixou abalar por completo. Ela sempre soube que a chance de haver sentimentos da parte do Nara por ela eram quase inexistentes, então aquilo não era uma surpresa.
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