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História I wanna love you but I don't know how - Filhos da Espada


Escrita por: _Katsuragi

Notas do Autor


Eu sei que demorei horrores pra atualizar, mas como eu disse antes, capítulos esporádicos.
O trabalho tá me sugando e eu tenho pouquíssimo tempo pra escrever, mas tá aqui.
Peço desculpas pela demora e pelo capitulo não estar revisado.
Bom, sem mais delongas, divirtam-se.

Capítulo 6 - Filhos da Espada


A água fria batia em seu rosto com força, e o anseio que ela levasse aqueles sentimentos sufocantes embora se intensificava a cada segundo, entretanto, Rey sabia muito bem que aquele desejo nunca seria realizado. A água podia levar embora as sensações em sua pele, mas jamais as marcas que ficavam.

Ela decidiu sair de dentro do box após ver o quanto seus dedos estavam enrugados. Sua mão alcançou uma toalha macia que envolveu seu corpo como um abraço acolhedor. Um abraço que precisava e não tinha coragem de pedir. Vestiu suas roupas, penteou os cabelos castanhos e escovou os dentes. A imagem refletida no espelho da pia era o fiel retrato da sua alma estilhaçada e repleta de dúvidas. Estava difícil demais digerir toda aquela angústia colocada para fora sem nenhum tipo de preparação. E talvez a parte mais dolorosa de tudo foi ter acordado nos braços de quem mais temia se render.

- Rey? Tudo bem ai?

- Estou bem… - abriu a porta dando de cara com seu melhor amigo e cúmplice fiel - Juro que não tentarei me matar no seu banheiro.

- Isso não é brincadeira que se faça! - Finn falou tão sério que o arrependimento imediato caiu como um raio em sua cabeça - Meu Deus, Rey! Você não cansa de me deixar preocupado!

Os dois voltaram para o quarto, encontrando Rose mexendo em seu laptop com as pernas cruzadas na cama do anfitrião.

- Tem certeza que vocês me querem aqui? - disse com um sorriso - Eu sei que você está passando por um momento difícil, Rey. Não quero atrapalhar.

Desde o encontro com Ben na apresentação de sua antiga faculdade, Rose descobriu que ela não era só adotada pela família dele, como também soube de seu romance precoce e toda a torrente negativa que ele trouxe. Conhecia a pequena asiática a pouquíssimo tempo, mas ela passava tanta tranquilidade com sua presença divertida e altruísta que era impossível não se tornarem próximas.

- Por favor, fique! - pediu encarecidamente, sentando na cama - Sou eu que estou atrapalhando vocês dois na verdade. Eu sei o quanto esses trabalhos em grupo são um saco… Mas seria bom ter mais alguém por perto, caso o Finn pire com o que irei contar.

- Finalmente! - o rapaz não escondeu seu alívio ao ouvir aquela declaração tão aguardada - Você chegou aqui ontem a noite trazendo até uma mochila com roupas… Rey, você estava tão transtornada que eu realmente fiquei receoso em te pressionar a contar alguma coisa, mas eu já sei muito bem que a única pessoa que te deixa nesse estado caótico é aquele babaca!

- Finn, fique quieto e escute! - Rose se intrometeu, fechando seu laptop para prestar atenção em sua mais nova amiga. Se ela queria dividir alguma coisa ruim então eles precisavam estar dispostos a ouvir.

E foi o que eles fizeram.

Rose ouviu toda a história sobre o problema de saúde que Rey possuía e principalmente da sua incredulidade ao descobrir que estava grávida. Ela teria um filho. Fruto da sua primeira noite de amor com o homem que se apaixonou perdidamente em segredo. Um filho que foi perdido de forma precoce graças a uma doença agressiva que não fora tratada. A dor dessa perda era imensurável.

- Por que você não me disse nada? - os olhos de Finn eram de pura indignação - Rey, você tem noção da gravidade disso? Do risco que você correu? Você poderia ter morrido!

A mulher sentada na espaçosa cama não conseguia encarar seus olhos.

- Finn! Calma! Você acha que seria fácil pra ela também dizer o que estava acontecendo? - Rose praticamente berrou para o amigo.

- Eu não queria esconder, não era isso! - os olhos castanhos miraram o da asiática buscando apoio - Eu apenas não conseguia… Eu não conseguia dizer o que tinha acontecido comigo! Por mais que eu tentasse!

Rose a abraçou apertado, os olhos reprovadores no rosto abatido de Finn. Compreendia o quanto aquela experiência tinha sido devastadora para o psicológico de Rey absorver. Sua irmã mais velha já havia passado por um aborto espontâneo. Paige, que na época era recém casada, demorou demais para aceitar a perda de seu filho, buscando ajuda em tratamentos psicológicos.

- E como você está agora? Começou a se tratar? - as perguntas em um tom doce apaziguaram os demônios na mente da mulher emocionada ao seu lado.

- Sim… Eu iniciei um tratamento um tempo depois com a ajuda e o incentivo de minha amiga que dividia quarto comigo. A única que me acompanhou durante esse período e sabia o que estava acontecendo.

- Rey… Você pensou que eu te julgaria? … Eu? - Finn se sentou do outro lado da cama.

- Não! Por Deus, você é meu melhor amigo… Eu só não conseguia…

- Eu não posso dizer que entendo, porque realmente não entendo. Eu queria ter te ajudado de alguma forma, queria ter feito alguma coisa! Você falava comigo como se tudo estivesse em sua mais perfeita ordem!

- Qual parte de “eu não conseguia dizer mesmo que eu quisesse” você não entendeu? Acha que está sendo fácil agora pra ela estar revivendo todo o trauma pra poder nos contar? Isso não se trata de apenas dizer ou não dizer, Finn. Isso foi um choque para ela! Um evento horroroso que se ela pudesse esquecer, ela esqueceria! Então tenha mais empatia com a sua melhor amiga aqui!

- Ok… - Finn se levantou, passando as mãos pelos cabelos crespos e curtos como se pudesse colocar as ideias no lugar - Me desculpe, Rey… Eu- Eu não sei o que deu em mim! Rose tem razão… Eu só fiquei angustiado porque você poderia ter morrido! Aquela hemorragia forte… Deus…! Você poderia ter morrido!

- Poderia, mas eu estou aqui agora, não estou?

- Ele sabe? - tentava a todo custo se controlar para não xingar Ben Solo de todos os jeitos possíveis, mas estava difícil.

- Ontem eu contei tudo… Ele ficou tão transtornado quanto você…

- Não era para menos, não é? Depois de ter te magoado de maneira tão baixa…

- Ele me falou de uma mensagem, Finn… Uma mensagem que ele tinha me mandado antes que eu fosse embora para o intercâmbio.

- Mensagem? - o melhor amigo de Rey franziu a testa - Que mensagem?

- Uma mensagem onde ele dizia que se arrependia… Me pedindo desculpas e mais algumas coisas que ele disse no calor da nossa discussão, mas agora eu não me lembro. De qualquer forma eu não recebi mensagem nenhuma.

Rose e Finn se entreolharam.

- Você acha que é verdade? - a pequena perguntou - Acha mesmo que ele mandou essa mensagem para você?

- Por mais magoada que eu possa estar com ele, sim, eu acredito. Ben não mentiria.

- Mas ele mentiu sobre não estar apaixonado por você, não foi? - Finn ressaltou com ironia -  mentiu que o que vocês tiveram foi algo de uma noite e um grande erro.

- E sabe o que mais me doeu naquilo tudo? - Rey olhou nos olhos do amigo que se esquivou, evitando aquele olhar carregado de tristeza - Foi saber que ele mentia em cada palavra que ele me dizia… Foi saber que ele preferia invalidar o que estava acontecendo entre nós dois por causa de uma insegurança estúpida, um medo estúpido! Isso foi o pior… E mesmo assim eu não consegui esquecê-lo… Não consegui enterrar esses sentimentos quando ele se aproximou o suficiente para me lembrar o quanto eu senti falta dele.

- Você ainda ama o Kylo - Rose disse com clareza - Precisa aceitar isso, Rey.

 

-x-

 

Hux caminhou imponente até o bar de sua boate com um sorriso satisfeito no rosto. O sobretudo cinzento estava por cima de um terno Armani exclusivo e estupidamente caro. Os sapatos pretos brilhavam tanto ou mais do que os globos prateados pendurados como parte da decoração despojada e elegante.

A Império seguia como a melhor casa noturna de Alderaan. Seu grande público estava rendendo bons e significativos faturamentos. Atrações privilegiadas - como sua banda - traziam mais visibilidade e futuros patrocinadores. Tudo corria bem, os negócios não podiam estar melhores, mas precisava admitir que a cara abatida de Kylo Ren sentado no bar, sendo servido por Phasma, trazia um gosto amargo para sua boca.

- Cruzes, Ren. Ainda está longe de dar meio dia e você já está abusando do meu whisky? - o ruivo sentou ao lado do amigo, retirando as luvas - E pelo visto você já está um bom tempo aqui - constatou, olhando para a cara séria de Phasma e entendendo que alguma coisa estranha estava acontecendo - O que foi? Aconteceu alguma coisa com sua mãe?

Kylo balançou a cabeça em negativa, tomando o restante do líquido âmbar em seu copo num único gole. Ele estendeu o recipiente vazio para a baterista e barman nas horas vagas, esperando mais uma dose.

- Você já bebeu demais - a loira guardou a garrafa que estava pela metade. Olhando furtivamente para Hux que seguia sem entender o por quê do clima fúnebre.

- Se sua mãe está bem e você está bebendo como um alcoólatra a essa hora… Então… - sorriu sarcástico - Você só pode estar com essa dor de cotovelo por causa da Rey.

Sua afirmativa foi mais do que certeira ao ver Kylo Ren levantar e dar a volta no balcão. Ele pegou outra garrafa de Whisky, voltando para o lugar que ocupava antes. O semblante carregado e os olhos sombrios mostravam com clareza que uma avalanche havia atingido-o em cheio. Phasma não impediu que ele mesmo se servisse e tomasse toda a dose generosa que havia colocado no copo.

- Jesus Cristo… Olhe pra você - Hux arrancou o copo das mãos do amigo, sentindo em cada célula de seu corpo que aquela não tinha sido uma boa idéia - Ok! Antes que você me bata eu tenho dois pedidos: o primeiro para não ser em meu rosto maravilhoso e o segundo para me dizer o motivo de estar se embebedando desse jeito.

O dono da boate pensou ter seu primeiro pedido negado quando viu Kylo chegar perto subitamente. Ele fechou os olhos como um menino assustado, fazendo uma careta esquisita como se limões tivessem sido espremidos em seus olhos. Phasma não conseguiu segurar o riso, vendo o outro amigo arrancar o copo das mãos do ruivo.

- Você é patético - Ren voltou a beber ao mesmo tempo que Hux abria os orbes castanhos desconfiado.

- Eu pensei que você ia me bater!

- Vontade não me falta, acredite... Mas se você tomar o copo da minha mão de novo ou tentar mais uma gracinha, eu certamente irei - sabia que ele estava falando sério.

- Bom... Eu vou deixar vocês a sós - Phasma se pronunciou, os olhos azulados encontrando os castanhos mórbidos do líder de sua banda - Pense no que eu te disse, Kylo… As vezes coisas ruins precisam acontecer para que a coragem de mudar nos alcance.

A loira de quase dois metros deixou o bar e os dois amigos.

- Então… Vai me dizer o motivo da frase de autoajuda da Phasma pra você, ou eu não sou digno o suficiente de escutar seu novo drama matinal?

O tom jocoso de Hux não o incomodou, pelo contrário, só fez com que as palavras saíssem com mais facilidade, sem encontrar a barreira do receio ou da tristeza.

- Rey engravidou de um filho meu… - disse rápido, o restante do whisky encontrando seu fim em outro gole.

- O… O que?

Hux estava se servindo quando parou a garrafa na boca do copo que havia pego. Kylo Ren encarou a cara esbranquiçada e espantada dele.

Os cílios tão claros que pareciam não existir, piscavam lentamente, deixando claro que o ruivo tinha dificuldades em assimilar o que acabará de dizer sem nenhum tipo de preparação. Afinal, não havia espaço para delongas naquele assunto.

- Você é surdo por um acaso? - perguntou, mais indiferente do que irritado - Ela engravidou de um filho meu - repetiu, o peito se contraindo com a dor do que também precisava dizer - Mas ela sofreu um aborto espontâneo…

Hux não conseguia disfarçar sua surpresa, decidindo deixar a bebida para depois.

Sabia que Ren estava completamente apaixonado por Rey. Soube disso desde a primeira vez que viu os olhos dele encontrarem a bela face da órfã em uma visita que fez a casa dos Solo. Entretanto, também sabia dos dilemas que ele enfrentava por carregar aqueles sentimentos que julgava impuros, mesmo que o assunto nunca tivesse surgido entre os dois.

Kylo era problemático em todos os sentidos, complexado e não se permitia abraçar nenhum tipo de afeto duradouro.

- Vocês transaram? - não era para aquela pergunta estar soando daquele jeito tão espantoso - Eu… Eu pensei que vocês jamais tivessem tido nada. Espera aí! Quando foi isso?

- Antes de viajarmos para Califórnia e ela entrar no intercâmbio…

- Meu Deus…

- Foi depois daquela festa na faculdade…

- Aquela que você e ela bateram em cinco caras do curso de Medicina porque um tinha tentado agarrá-la a força? - aquele dia tinha sido insano.

- Sim… - o moreno conseguiu esboçar um sorriso de lado - Foi a melhor noite da minha vida.

- Me poupe das suas recordações sentimentais. Eu quero entender como você só soube disso agora!

Kylo explicou tudo.

O problema de Rey. A briga que Hux sabia que havia acontecido mas jamais soube o motivo. Como ela escondeu a gravidez e resolveu seguir em frente depois da perda do bebê.

- Ela não tinha o direito de esconder isso de você - Hux concluiu depois de escutar tudo pacientemente - Eu entendo o quanto ela estava magoada. Você foi um verdadeiro filho da puta, mas isso não era justificativa para ela esconder uma gravidez. A criança não tinha nada a ver com isso…

- De qualquer forma a doença acabou fazendo com que ela perdesse.

- Eu não consigo imaginar toda a dor que ela sentiu. E ainda escolher guardar tudo para si mesma, não contando pra ninguém - aquilo era demais para sua cabeça compreender - Vocês dois realmente são parecidos. Sempre tentando reprimir os sentimentos como se um dia eles fossem desaparecer.

- Hux…

- Eu sei que você não gosta de se expor e eu respeito isso. Sempre respeitei o seu maldito espaço! Mas porra, Ren! Por que escolher sofrer calado? E eu não to falando sobre essa gravidez que você só soube agora. Eu to falando dos seus problemas anteriores. Acha que eu não sei o motivo dos seus ataques de fúria? Das suas noites de insónia? De como você bebia pra esquecer e fugir dos seus problemas? Eu só queria que você dividisse comigo… Como hoje você está dividindo.

- Você sabe muito bem o quanto é difícil pra mim me abrir…

- Sei… - o ruivo finalmente resolveu beber - E sei o quanto a Rey descortinou isso em você… Sei o quanto você e ela tem uma conexão que ninguém poderia entender e interromper. Sei que deve ser por isso que você se mantém nesse celibato ridículo quando as mulheres mais deliciosas se jogam aos seus pés. É, realmente deve ter sido a melhor noite da sua vida.

- E eu achando que você faria o amigo compreensivo e preocupado por mais tempo.

- Vai sonhando que eu ia perder uma oportunidade - bebericou o whisky - Mas falando sério, se você realmente pretende se redimir pela burrada patética que você fez no passado… Faça isso já. Ela não é qualquer mulher, você sabe muito bem disso.

Kylo bebericou a bebida sem mais prestar atenção em seu gosto. Sua cabeça girava pensando em todas as palavras do ruivo pretensioso ao lado e em toda as emoções que não conseguia mais conter com maestria. Estava tudo ruindo ao seu redor, e dessa vez, nem o entorpecimento proporcionado pela bebida e nem a raiva conseguiriam usurpar o lugar daquela angústia dilacerante.

-x-

Os três garotos sentados em frente ao grande tatame não ousavam piscar os olhos.

Eram os últimos estudantes do turno da tarde a permanecerem pois estavam encarregados da limpeza do dojo. Eles terminavam de limpar o assoalho de madeira no mesmo momento que a misteriosa mulher apareceu. Vestindo um conjunto de moletom cinza e trazendo uma espada presa em suas costas, a visitante revelou sua bela face à medida que mãos pequenas retiraram o capuz de sua cabeça.

A tranquilidade em suas feições era claramente uma fachada para enganar os desavisados que não conseguiam ver a tempestade em seu orbes castanhos, entretanto, aqueles alunos podiam ver com perfeição quando ela direcionou os olhos para eles, maneando a cabeça em um comprimento sutil.

Os três aprendizes de Luke Skywalker devolveram o aceno rapidamente, observando com curiosidade a visitante retirar os tênis e caminhar em passos saudosos para o centro do tatame. E foi então que a dança das lâminas começou.

A mulher se ajoelhou no centro do dojo e permaneceu assim por alguns minutos, até que em um simples piscar de olhos, desembainhou com perfeição a espada longa que mais parecia ser uma pena em suas mãos.

Seu corpo se moveu como um redemoinho quando ela cortou o ar com a katana em um giro. O barulho soou como um choro, que permaneceu à medida que mais movimentos eram executados com graciosidade e força.

Tomando posse de todo o espaço e girando a enorme katana em sua mão como se ela fosse parte de seu corpo, a desconhecida deixava um grito sair cada vez que saltava no ar e descia a katana com toda força para baixo e lados. Os cabelos castanhos se soltaram do coque mal feito, grudando na testa já suada, deixando a cena mais bela e dramática.

Seus movimentos começaram a transmitir as verdadeiras emoções que tumultuavam sua mente. A graciosidade começava a ficar para trás, assim como a contenção em seus golpes, que demandavam cada vez mais força, mais raiva.

Ela passou a caminhar em linha reta, cortando com agilidade e selvageria um inimigo não visível, mas que estava inegavelmente ali. Seus pés deslizavam pelo chão, num bailado preciso e mortal.

Os três garotos sentiram a diferença tomar conta do ambiente.

A espada já não dançava mais com a suavidade de antes e sim com uma agressividade que Luke sempre os alertava a não possuir. Com receio, o mais alto entre eles levantou. Sua intenção era evitar que aqueles sentimentos traiçoeiros se perpetuassem por mais tempo de alguma maneira, mas ele foi impedido antes mesmo de dar o primeiro passo.

Uma outra katana interceptou o golpe que cortaria o ar na vertical depois de um giro perigosamente rápido.

O embate das lâminas foi tão alto como o grito de uma mãe parindo.

- Em quem você está fincando sua espada?

Rey deixou o ar que estava prendendo sair por seus lábios, sentindo finalmente o preço que deveria pagar por aqueles movimentos repletos de ira. No entanto, mesmo que a exaustão a consumisse mais cedo, fosse pela falta de treinamento ou pela raiva, ela não pararia. Não quando Ben Solo alfinetava seu ego.

- Adivinha...

Para a sorte que não sabia possuir, Ben conseguiu prever o golpe da bainha que vinha certeira em seu pescoço com sua mão. Rey aproveitou para colocar mais força em seu ataque interceptado pelo susto, assim como fazia as lâminas das duas espadas se chocarem com mais força. Definitivamente ela não estava ali para brincadeiras.

Ele conseguiu se desvencilhar, trazendo seu corpo para trás com uma cautela estranha. Os olhos raivosos que refletiam no aço de sua espada contavam muitas coisas que já sabia. Foi banido anos atrás daquele dojo justamente por um dia já possuí-los.

- Você não deveria estar pisando aqui com esses sentimentos.

- Isso não é da sua conta, nunca foi - Rey secou a testa com a manga do casaco de moletom. Respirou profundamente uma, duas, três vezes e então correu em direção ao seu alvo.

O barulho das lâminas se chocando reverberou pelo corpo dos estudantes ainda paralisados em seus lugares. Percebiam que o homem que havia surgido como um fantasma todo de preto, defendia os golpes consecutivos da forma que podia. Ele girou o corpo retendo um ataque, fazendo as espadas deslizarem uma na lâmina da outra até não se tocarem mais.

Dessa vez, Ben não deixou Rey recuperar a postura para contra atacar. Com agilidade, ele investiu golpes pesados fazendo-a intercepta-los segurando o cabo da espada com as duas mãos. Rey defendeu, mas deixou seus braços suspensos demais, dando a brecha perfeita para o encontro da bainha de Ben no seu flanco esquerdo.

O golpe entrou preciso, fazendo-a gritar e jogar seu corpo para trás. Rey manteve uma postura defensiva, apontando a espada na direção de seu algoz que desmanchava sua impassividade e demonstrava agora genuína preocupação.

- Tira essa expressão patética da sua cara - cambaleava, arrastando o corpo para o mais longe possível. A dor era cruel, mas aquele desgraçado não tinha usado nem um terço de sua real força.

- Como você é teimosa… Chega! Você perdeu.     

- Cala a boca! -  cuspiu - Você atravessou o meu caminho e agora quer recuar?

- Você não tem mais condições nenhuma de manejar essa espada.

- Quer mesmo saber se eu não tenho? - Rey trouxe a espada para trás, segurando-a com as duas mãos.

- Se é isso que você quer… Então venha…

Os estudantes se entreolharam, entendendo que o embate que acontecia diante de seus olhos ia muito além de um duelo amistoso. Estavam tão imersos naquela luta de espadas que simplesmente esqueceram de onde estavam e qual era a regra clara daquela academia. Eles correram assustados, procurando pela única pessoa que seria capaz de parar o conflito daqueles dois.

Rey ainda recuperava o fôlego, estudando Ben Solo que permanecia parado sem nenhuma postura de ataque ou defesa aparente. Era tudo um truque. Sabia perfeitamente que sim. Ele tinha um jeito único de lutar que ia contra todos os princípios do Kendo de seu tio. E que infelizmente, se tornou adepta mais tarde em confrontos muitas vezes amistosos, muitas vezes movidos pela raiva, como aquele.

- Quer ganhar uma nova cicatriz, Kylo Ren? - perguntou irônica - Então, eu vou dá-la a você.

A cicatriz na qual ela se referia tinha sido dada pela mesma.  De forma acidental, em um embate parecido com aquele. Ainda lembrava do terror que sentiu ao vê-lo sangrar, mas agora tudo o que queria era vê-lo naquelas condições novamente. Porque era a única maneira de fazer aquela dor parar. A dor da vergonha de ter se entregado novamente para aqueles dois belos pares de olhos castanhos.

Ben viu ela correr em sua direção, viu a cólera naqueles olhos, os mesmos olhos que o olharam repletos de paixão. Sabia que por debaixo daquela raiva, havia vergonha, havia medo também. Não queria que ela terminasse como ele. Mas não via outra forma de redenção além de deixar que aquela dor viesse ao seu encontro com toda fúria.

Não fez nada quando ela levantou a espada e armou o golpe que desceria certeiro por seu peito, mas ele parou… O fio da espada rente aos seus olhos.

- Você… - Rey tremia dos pés a cabeça. Só percebeu porque a espada a centímetros do rosto de Ben Solo tremulava.

- Se é o que você deseja… Venha…

A katana longa foi de encontro ao chão. A ex discípula de Luke não tinha mais condições de segurá-la.

- Não… Não é isso o que eu desejo… - o golpe de Ben ainda doía, mas o que quase fizera era muito pior - Não é isso…

Suas pernas cederam e ela quase foi de encontro ao chão com tudo, mas Ben a amparou, como sempre fazia, como sempre fez.

Os dois se ajoelharam, um de frente para o outro.

Rey foi a primeira a falar.

- O que você veio fazer aqui?

- O mesmo que você… - Ben respondeu com a voz arrastada - Tentar clarear a minha mente.

- Eu também tentei, mas…

- A raiva cegou você… Eu entendo.

Rey levantou a cabeça, olhando fundo nos orbes que diziam tantas coisas. Queria vê-lo sangrar? Por Deus… O que estava fazendo?

Estava com tanta vergonha. Logo no dojo de Luke. Aquele local sagrado que a salvara tantas e tantas vezes. A vergonha que traria para aquele lugar. A vergonha que traria para si mesma.

- Você parou… - e novamente, ele lia seus pensamentos como um oráculo.

- Ben… Eu quase ma- … meu Deus…  Não foi culpa sua… Não foi minha também…

- Não havia nada que você podia fazer…

- Mas dói tanto…

- Eu sei - Ben a abraçou apertado, vendo Luke ao longe com os três alunos - Eu sei…


 

-x-


 



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