Londres, UK
Memórias de Agosto de 1976
… E quando adentrei pelo quarto Goliath já me esperava com seus olhos amarelos vibrantes, lançando-me um miado como se me pedisse algo.
— Eu sei, garoto, eu sei. Você quer escutar aquele Bugs Bobão Bunny.
Cedi aos miados de Goliath, eu cederia até mesmo sem.
“Você está precisando” ecoava em minha mente e fazia-me pensar lentamente sobre o que ocorrera mais cedo na cafeteria.
“Eu terei todas as manhãs se preciso for… Esperarei, sem nenhum problema.” As palavras daquele ser singular trilhavam meu consciente e tiravam-me do sério.
Peguei o disco de capa roxa e procurei a faixa Great King Rat. Não vou mentir, eu ri vendo as fotos da contracapa, a banda parecia um bando de moleques tentando ser realeza.
— Olha Goliath! Sério que é esse cara segurando um ursinho de pelúcia que você tanto me pede para escutar? — Falei estendendo o disco para Goliath, o qual só me observava entediado com minha demora.
“Side 1, track 3” — Pensei colocando aquela bolacha negra na vitrola. — “Vamos agulhinha, cante para mim.”
Uma guitarra estrondosa entrou pelo quarto e com ela uma bateria que parecia o trote de um cavalo. Agressivamente, a voz de Freddie surgia, como se acusasse algo.
“Great king rat died today
Born on the twenty first of may
Died syphilis forty four on his birthday
Every second word he swore
Yes he was the son of a whore
Always wanted by the law”
(Grande rei rato morreu hoje
Nascido no vigésimo primeiro dia de maio
Morreu de sífilis aos 44 anos no seu aniversário
Cada segunda palavra que ele jurava
Sim ele era filho de uma puta
Sempre procurado pela lei)
— Isso parece ser político. Deve ser por isso que Bruce indicou. Que tolo! Ele sabe que odeio política! — Exclamei para Goliath, o qual não se importava com meus comentários, ele simplesmente se entregava a escutar a música.
— Ah Goliath! Até você gosta dele, não é? Qual o problema de vocês?
Joguei-me na cama e Goliath deitou-se aos meus pés. Fique um tempo observando a contracapa. Tantas fotos, tantas informações… Mas lá estava ele… Pousando feito rei para as fotos.
“Wouldn't you like to know?
Wouldn't you like to know, people?
Great King Rat was a dirty old man
And a dirty old man was he
Now what did I tell you
Would you like to see?”
(Você não gostaria de saber?
Vocês não gostariam de saber, gente?
Grande Rei Rato era um velho sujo
E um velho sujo ele era
Agora o que eu disse a você
Você gostaria de ver?)
— Um Rei… Um Grande Rei Rato. Quem sabe essa música é sobre ele! — Ri feito uma boba, fazendo Goliath reclamar.
“Que gato mimado” — Pensei.
“...Come on, come on the time is right
The man is evil and that is right
I told you, ah, yes, I told you
And that's no lie, oh, no, no, no…”
(Venha, venha o tempo é certo
O homem é mau e isso que é certo
Eu te disse, ah, sim, eu te disse
E não é mentira, oh, não, não, não)
A voz mesmo agressiva parecia me causar paz. O sotaque… Tinha um sotaque ali… Algo diferente, mas tão bom… Algo que me fazia sentir como…
— Borboletas purpurinates dançantes na barriga! — Exclamei um pouco perdida.
Que bizarro!
Que maluco!
Caí em uma risada depois de perceber tal asneira. Claro, Goliath se estremeceu reclamando em meus pés.
— Quem você pensa que é, seu rapaz mimado?
Ele apenas me respondeu com um olhar de superioridade. Cheio de si, desfilou até a vitrola para nela se aconchegar.
— Não acredito, você vai me abandonar?
“Meow” — Ele mimou sem me dá um pingo de importância.
— Era só o que me faltava, meu próprio gato me trocar pelo Bugs Bunny em vitrola.
Suspirei furiosa, mas ele era apenas um gato.
“Wouldn't you like to know?”
(Você não gostaria de saber?)
Às vezes, eu me importava demais. Não era uma coisa que eu gostaria… Muito pelo contrário, mas eu sempre me deixei levar pelas emoções, e a fúria era o preço que eu tinha a pagar por ter um pavio curto.
“Eu terei todas as manhãs se preciso for… Esperarei, sem nenhum problema.”
“Eu terei todas as manhãs se preciso for… Esperarei, sem nenhum problema.”
“Eu terei todas as manhãs se preciso for… Esperarei, sem nenhum problema.”
Oh shit!
Essa frase se repetia em minha mente sem parar…
Eu não queria acreditar que ele insistiria a tomar uma xícara de chá todas as manhãs até eu ceder.
“Uma hora ele vai cansar!” — Pensei. — “Mas se não cansar?”
“...Now what did I tell you
Would you like to see?”
(...Agora o que eu disse a você
Você gostaria de ver?)
— Eu gostaria que você me deixasse em paz! — Exclamei cansada, respondendo ao trecho da música.
Eu não sei porque minha boca havia cogitado a falar. Uma parte de mim parecia gostar dessa brincadeira de gato, mas isso era só 1%... Ou o que eu gostaria que fosse…O lado mau, aquele que eu nunca vou entender, era aquele pinguinho de Devil’s Pepper que morava em mim.
“Now listen all you people
Put out the good and keep the bad”
(Agora escutem todos vocês, pessoal
Jogue fora o bem e fique com o mal)
Quanto mais eu entrava em minha mente, eu mais me afogava. Enquanto isso, Goliath dormia ao som de um Grande Rei Rato, e eu me deparava a cantarolar.
“Wouldn't you like to know?
Wouldn't you like to know?
Just like I said before
Great King Rat was a dirty old man
And a dirty old man was he”
(Você não gostaria de saber?
Você não gostaria de saber?
Bem como eu disse antes
Grande Rei Rato era um velho sujo
E um velho sujo ele era)
Eu adormeci vencida pelo cansaço. Mas tudo que minha cabeça processava era:
“Eu terei todas as manhãs se preciso for… Esperarei, sem nenhum problema.”
Oh Deus! Por que tanta ansiedade? O que me esperaria no amanhã? Oh Bom Deus! Espero não ter que fazer bolas pegarem fogo novamente. Oh! O que me esperaria no amanhã?
“The last time I tell you
Would you like to see?”
(A última vez que te falo
Você gostaria de ver?)
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