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História Idas e vindas - Binuel - A carta de Helena


Escrita por: my_binuel

Notas do Autor


bom, aconselho a todos vocês, que antes de lerem o capítulo, tenham do lado um lencinho e segurem firme o coração, porque eu chorei muito escrevendo esse capítulo.

quero dizer também, que estamos no antepenúltimo capítulo, chegando enfim na reta final, e que esses três últimos capítulos serão Bia, Helena e Miguel lendo as cartas que Alice deixou para os três. primeiro, será a carta da Helena, a segunda do Miguel e é meio óbvio, a última será da Bia. todos se passam em momentos diferentes, mas cada um se complementa de alguma forma.

enfim, vocês são inteligentes, sei que irão entender. bom, boa leitura a todos e eu sinto muito se alguns derramarem lágrimas KKKKKK🥰❤️❤️

Capítulo 16 - A carta de Helena


Fanfic / Fanfiction Idas e vindas - Binuel - A carta de Helena

Sentada naquela varanda, bebericava em sua xícara tematizada o chá verde com leite que sempre tomava em momentos de tensão. Todos os dias antes de dormir ela fechava os seus olhos e pedia a Deus, que um milagre caísse sobre sua mãe, protegendo-a do câncer que a consumia. Era horrível o medo que ela sentia de perdê-la, desde sempre sua mãe sempre foi sua maior inspiração, desde pequena dizia a todos que se fosse um terço do que sua mãe havia sido, já estaria conformada. Como queria tê-la todo dia ao seu lado a abraçando, para que ela pudesse brincar com seus cabelos que possuía alguns fios brancos graças à idade, mas mesmo assim continuava linda, sua mãe era, de fato, a mulher mais linda que ela havia conhecido. Queria poder vê-la pra sempre cantando suas músicas antigas brasileiras, onde não se importava com quem olhava e sim com seu corpo balançando conforme o ritmo, com toda certeza, legião urbana sempre será o que a mãe mais ama. Queria que ela pudesse acompanhar o crescimento de seu filho e percebesse o quanto ela também havia sido uma boa mãe, apesar de tudo. E agora que sua mãe não estava mais ali, sentia seu coração destroçado, aquilo havia sido a pior dor que havia sentido.

Com um suspiro forte controlando a dor no seu coração, encarou mais uma vez o envelope em sua mão com as letras douradas grifadas:

‘’Para Helena, a minha eterna abelhinha.’’

Sorriu doce com o apelido bobo que já havia sido motivo de problemas, graças aquela vergonha adolescente de não querer carinho da mãe em frente aos amigos, mas agora ela só queria que a mãe tivesse aqui para que a chamasse assim para sempre.

Cansada de esperar, deslizou o dedo até o lacre abrindo o envelope da cor branca, puxando o papel dobrado que havia dentro; também havia encontrado diversas fotos das duas. Uma, continha Helena e a mãe na época do primeiro baile da escola, recorda-se completamente daquele dia, sua mãe pedindo mil fotos enquanto a mesma reclamava da hora e que seu parceiro de dança a esperava, mesmo assim, a mãe insistiu para mais algumas fotografias com a câmera antiga. Na outra foto atrás, Alice tinha um sorriso forte no rosto segurando Thiaguinho e Helena não evitou uma lágrima que desceu em seu rosto que já havia sido cúmplice de várias outras lágrimas que escorreram no momento em que o médico havia dito que a mãe não havia sobrevivido. A última foto fez com que seu sorriso se abrisse apesar das lágrimas quentes, eram ela, a mãe e os irmãos, que haviam tirado no dia que realizaram o desejo da mãe de nadar em alto mar com roupas de mergulho. Levou a mão a boca segurando um soluço, fechando os olhos com força no intuito de segurar as lágrimas, e após muito custo, conseguiu contê-las.

Colocou as fotografias e o envelope na poltrona ao lado, dando uma atenção maior ao papel que estava dobrado, mas ela logo deslizou os dedos sobre o mesmo para desdobra-lo para que pudesse ler. Pôde se recordar da mãe doente no hospital depois da recaída da noite passada, tossia fraquinha, mas entregou as três cartas para a filha mais velha, deixando claro que desejava que depois que ela lesse, passasse as outras adiante.

Respirou fundo levando os olhos à letra cursiva da mãe que preenchia a carta, sabia que sua mãe havia feito com carinho e com todo o amor do mundo.

‘Querida, minha abelhinha, a minha primeira filha, a pessoa mais importante da minha vida. E você é a melhor filha que eu poderia ter, é o presente mais lindo que Deus colocou em minhas mãos para que eu pudesse cuidar, educar e fazer feliz, quer dizer, que eu acho que tenha feito feliz;

Nesse momento ela só queria gritar o quanto sua mãe havia lhe feito feliz, conforme ia deslizando os olhos pelo papel lendo o que a mãe havia escrito.

‘Eu sempre tenho muitas coisas para lhe falar, sentada nessa cama doente, querendo deixar registrado o amor mais forte que senti nesse mundo. Você, Helena Urquiza, minha filha mais velha, uma pessoa incrível e humana, que comete erros, que sofre, que chora apesar de ser durona demais para assumir. Uma menina incrível, que não se impôs quando o irmão assumiu sua sexualidade, que não pensou duas vezes em dar o carinho necessário a irmã que havia sofrido uma desilusão amorosa, que se lamenta todos os dias por um erro que se arrepende completamente, que está indecisa entre dois corações, entre o que foi e o que é. Viu quantas vezes você esqueceu de você completamente para pensar nos outros? E nem se dá conta disso.

O soluço que deixou os seus lábios doeu cada célula do seu corpo, queria ter forças para desistir de tudo, queria ter forças para ser mais forte que isso, queria ser a irmã mais velha que protege os mais novos, mas era fraca demais para isso.

‘Nessa carta, quero lhe dar o conselho que não fui capaz de dar quando Victor foi embora com a família, e você tentou ser forte o suficiente, enxugando as lágrimas quando eu ia em seu quarto para levar suas roupas limpas, brincando com Bia que estava triste pela ida do primeiro amor, com o coração destroçado, preferiu curar a dor dela, ao invés de curar a sua, sendo que Victor também era o seu primeiro amor. Meu amor, você não pode cometer o mesmo erro duas vezes, escondeu do Victor o quanto doeu quando ele foi embora e está escondendo do Thiago o que fez para o bem dele, mas não está pensando no seu. Assuma o seu erro, diga o que sente, o que eu posso dizer que te ensinei, é ser sincera, independente da situação. Só é um erro quando você aprende com ele. Pare o que está fazendo, não se lamente pela minha ida, corra atrás do homem que realmente ama, sendo ele o Victor, sendo ele o Thiago. Seja sincera com os dois, dormirá muito bem depois que o fizer. Thiaguinho será muito feliz tendo você, todos ao seu redor percebem o quão boa você é no quesito mãe, é melhor do que minha mãe foi para mim e é muito melhor do que eu fui para vocês. Eu tenho tanto orgulho da mulher que se tornou, queria poder estar aí com você, fechando o seu livro quando você dormia com ele aberto em seu colo, queria estar aí quando você fica desesperada por não saber dar um banho correto no Thiaguinho e sempre recorre a minha ajuda, mas quero que saiba: você é bem melhor que eu nisso. Como eu queria estar com você quando Thiaguinho entrar na escola, para poder te acudir, da mesma forma que recebi apoio quando você entrou na escola. Queria poder acompanhar o crescimento do neto maravilhoso que você me deu, infelizmente não posso, mas daqui de cima estarei com os olhos brilhando do tamanho de orgulho que enche meu peito sobre você. Thiago e Thiaguinho estão com sorte grande! Agora por último, antes de olhar para os outros, pense em você. Pegue o dinheiro que tem guardado para um futuro melhor, e passe a pensar no seu presente, abra a floricultura que tanto quer abrir, reconstrói aquela banda que tinha com Victor e Lucas, viaja o mundo com seu filho e homem que ama, cuide de si, porque é isso que eu quero que você faça;

Te amo eternamente, completamente e verdadeiramente.

Ass: mamãe.

As lágrimas que escorria dos olhos dela não podiam ser contidas, por mais que quisesse. Imaginava a mãe sentada naquela cama fria de hospital, escrevendo cartas para os filhos, tirando o seu tempo para os ajudar mesmo não estando mais presente. Escondeu o rosto com as duas mãos, soluçando alto e deixando com que a solidão que entupia suas veias, escorressem em lágrimas.

Juntou os joelhos em cima da poltrona, sentindo o fresco vento que arrepiava seus pelos; as árvores balançavam e ela sabia que nada se resolveria com ela ali se lamentando. Apesar de toda dor de perder a pessoa mais importante de sua vida, não tinha a consciência pesada sobre nada. Nunca negou ajuda a mãe, mesmo depois de mais velha, nunca desobedeceu nenhuma ordem, nunca a tratou mal e é claro, aproveitou todo sequer momentinho do lado da mulher mais velha.

Levantou-se da poltrona macia, abraçando seu corpo e olhou o horizonte antes de tomar a decisão que provavelmente mudaria tudo em sua vida. Levou a boca a xícara entornando o líquido na garganta para que não desperdiçasse. Guardou as fotos e o papel dentro do envelope, deixando um beijo molhado no papel.

- Eu também te amo verdadeiramente, mamãe. – ela disse em tom baixo olhando para o céu.

Abriu a grande porta de carvalho que daria na sala, suspirando grande com o barulho ensurdecedor do silêncio. A casa estava triste, vazia, não tinha mais a mesma felicidade de quando Alice perambulava por aquele lugar. Respirou fundo ao se lembrar que o irmão estava trancado no quarto e Bia a caminho.

Sentia o cheiro de almoço da cozinha, mas sabia que não conseguiria comer nada e nada desceria pela sua garganta. Seu estômago embrulhava e ela sabia que isso era sinal de coração partido. Entrou pela porta da cozinha, tendo a visão de seu marido de costas, preparando o almoço para a mulher, mesmo sabendo que provavelmente não iria querer.

Ele se virou para pegar o saleiro, se dando conta de que a mulher estava ali, com seu cabelo amarrado de qualquer jeito, o nariz e os olhos vermelhos depois de muitas lágrimas e a expressão triste.

- Meu amor, eu estou preparando o almoço, tá bom? – ele sorriu triste e ela tinha a expressão vaga, pensamentos rondando sua mente. – O serviço funerário ligou, eles disseram que o enterro será amanhã de manhã. – ela fechou os olhos com força depois do homem ter dito essas palavras.

- Podemos conversar? – ela disse com a voz embargada, tendo dificuldade para não embolar as palavras. O medo ocupava todo o seu ser, mas precisava ser forte, ser corajosa.

- Claro, meu amor, estou aqui. Pode dizer enquanto comemos. – mesmo a contra gosto, ele serviu um pouco do almoço para ela, assim se sentaram na mesa grande.

Thiaguinho estava dormindo no quarto, então todo o diálogo não seria atrapalhado.

- O que eu tenho que te falar é muito sério, uma notícia que provavelmente estragará tudo, mas eu preciso contar. Não posso mais esconder, porque sinto que isso irá me consumir se eu guardar por mais tempo. – ela começou, fechando os olhos com força, não conseguindo ser forte o suficiente para encarar a expressão confusa do homem a sua frente.

- Você está me preocupando. Tem a ver com sua mãe? – ele perguntou confuso do assunto que seria tratado, observando a expressão tensa da mulher a sua frente.

- Não. – engoliu em seco. – Com o Thiaguinho.

- O que? Ele está bem? – se sentiu morrer por dentro e queria derramar mais lágrimas ao perceber que ele amava completamente o ‘filho’ e a sua preocupação demonstrava isso.

- Não é nada disso, é só que... – ela tentou pensar em mil palavras que pudesse dizer, nunca havia preparado um texto para contar sobre isso e nem sequer estava preparada. – Eu não sei como te contar isso.

- Helena, você sabe que pode me contar tudo que quiser, meu amor. – segurou as mãos da esposa com as suas, querendo que ela confiasse nele para contar o que queria.

- Thiago, eu sinto muito, sinto muito mesmo. – já sentiu lágrimas em seus olhos, tendo pronunciado pouco.

- Sente muito por que? – perguntou confuso acariciando a palma da mão da mulher com o polegar.

- O Thiaguinho não é seu filho. – ela soltou de uma vez, querendo que a dor passasse logo, estaria aliviada em contar aquilo. Ele arregalou os olhos e engoliu em seco com as palavras da mulher, sentindo seu coração se apertar forte em seu peito.

- Como? – sua voz tremeu. – Helena, isso não é um bom momento para pegadinhas.

- Isso não é uma pegadinha. – as palavras saíram junto as lágrimas grossas que desceram pelos seus olhos. – O Thiaguinho é meu filho com o Victor. – terminou com as palavras que queria dizer a muito tempo. Thiago demorou um tempo para raciocinar a situação em que se encontrava, mas quando isso aconteceu, soltou a mão de Helena com a boca aberta, chocado demais para dizer algo. Ela entrou em combustão de desespero quando ele a olhou com o olhar mais duro e de desgosto que ela já havia recebido.

- Thiago... – ela tentou dizer no momento em que ele se levantou da mesa, ela já não podia mais conter as lágrimas.

- Não... eu não quero ouvir. – disse ele com a voz alta e embargada, também tinha lágrimas nos olhos.

Como o Thiaguinho não era o seu filho? Era dele sim. Ele que estava na sala de parto com ela, segurando sua mão e a desejando sorte. Ele que cortou o cordão umbilical. O nome dele que estava na certidão de nascimento. Ele havia visto os primeiros passos, escutado as primeiras palavras. Ele havia dado os banhos mais divertidos. Ele que havia pintado o quarto e comprado todos os ursinhos de pelúcia. Ele que o fazia dormir quando a mulher estava exausta demais para continuar. Ele que ficou com ela durante os nove meses de muita dificuldade. Não podia acreditar que a criança que mais amava não era de seu sangue. Sua dor veio em dose dupla. Ela havia o traído, não podia acreditar naquilo, só queria que fosse mentira.

- Por favor, você tem que me escutar, eu só preciso que me escute. – ela se levantou, parando na frente dele o impedindo de ir embora.

- Eu não posso te escutar, eu preciso de um tempo, eu preciso ficar longe de você. Tem noção do que você fez? Não posso te escutar nunca! – ele disse com raiva, não era em si raiva, era uma tristeza absurda.

- Por favor... eu preciso de você. – ela disse as últimas palavras em um sussurro, com um tom de súplica e já enxergava embaçado.

- E eu preciso ficar longe de você. – a lançou um olhar frio, agarrou seu casaco pendurado no gancho e também pegou as chaves do carro, querendo ir para a sua casa que era também dela com o filho deles, ou filho dela.

Helena não aguentou, seu corpo caiu no chão, sentindo a pior dor psicológica que sentiu na vida. Havia perdido a pessoa que mais amou. A pessoa que a curou da dor que sentiu antes, causando uma cicatriz ainda maior agora, mas sabia que tinha culpa. Sentia a culpa a consumir, junto a toda dor.

- Helena! – escutou a voz da irmã no fundo, mas o pranto que a cobria a impossibilitava de abrir os olhos e encarar a situação. Seu corpo foi abraçado pela mais nova, que sussurrava palavras de conforto, mesmo que Bia também sentisse tudo que a irmã estava sentindo. Alex olhava aquela cena, soltando um suspiro cansado por ter que estar ali.

- Eu estou aqui, nós vamos estar nessa juntas. – Bia também deixava as lágrimas caírem e as duas soluçavam juntas.

- Eu contei pra ele. – ela disse com algumas pausas pelos soluços constantes, mas a mais nova entendeu. Bia já sabia do que se tratava, viu o cunhado entrar no carro e bater a porta com força, sem nem sequer a cumprimentar ou lhe dar os pêsames pela recém perda.

Bia fechou os olhos com força, abraçando ainda mais forte a irmã, querendo que ela sentisse que sempre estaria ali com ela.


Notas Finais


meu senhor, as emoções chegaram a todo vapor, eu estou chorosa depois desse capítulo e espero, pelo menos, em ter causado uma dorzinha no coração de vocês, porque eu tentei muito em fazer algo emocionante

enfim, comentem aqui embaixo o que acharam, e até a carta do Miguelito❤️


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