História If - Fail

23 de Janeiro, 10h23

POV Violet

Entrei no autocarro, tentei procurar um lugar vazio para me sentar, mas não havia. Andei mais um pouco até chegar ao centro do autocarro onde tinha postes para me agarrar.

Senti uma senhora a olhar para mim ao longe, provavelmente a pensar o que me tinha acontecido. Tinha a camisola toda amarrotada, para além de ser demasiado grande para mim, visto que era de Ross, o meu cabelo estava amarrado num coque todo desfeito, mas não daqueles fofos e Tumblr todos bonitos, eu estava horrível mesmo, com as costas doridas devido ao sofá onde tinha dormido e com olheiras enormes nos olhos.

[…]

Cheguei à porta de casa e peguei no telemóvel para ver as horas, não sabia se a minha mãe já teria saído de casa e tinha-me esquecido das chaves, mas como sou uma pessoa bastante sortuda tive a feliz coincidência de o meu telefone estar sem bateria.

Toquei à campainha, podia ser que alguém me abrisse a porta, talvez um espírito bem-educado, quisesse companhia. As minhas preces foram ouvidas e a porta abriu -se, mas para minha surpresa não tinha sido a minha mãe ou o tal espírito a realizar tal ato.

-Lucas? -perguntei ainda incrédula enquanto olhava para ele.

- Bom dia. - ele disse e eu entrei.

-Eu agradeço por teres aberto a porta, mas o que estás aqui a fazer? - perguntei enquanto me descalçava.

-Ontem disseste que não querias boleia então eu pedi-te para me avisares quando chegasses a casa, bem tu não avisaste e eu liguei-te, mas não atendeste. Achei estranho hoje ter acordado e ainda não ter sinal teu, tentei ligar outra vez, mas como não atendeste vim até aqui e a tua mãe abriu-me a porta, mas ela já saiu.

-Eu fiquei sem bateria hoje de manhã e ontem houve uma confusão enorme.

- O que aconteceu?

-Bem resumindo os rapazes da tua escola acharam que os da nossa fizeram batota no jogo, começaram à pancada e o Ross acabou no hospital. - vi a cara de surpreso dele- Mas ele está bem. Ele desmaiou porque bateu com a cabeça, mas já está melhor.

-Ok, mas o que é que tu tiveste a ver com isso?

-Pois, eu fui com o Ross para o hospital e como o irmão dele não podia ficar lá eu passei a noite com ele. - vi que Lucas olhou para a minha camisola- Eu acabei por sujar a minha com sangue e pedi esta emprestada.

-Tiveste uma noite complicada estou a ver.

-Bastante.

-De qualquer maneira queres me fazer companhia ao almoço? - ele disse tentando desviar o assunto.

-Eu estou muito cansada, quase não dormi, preferia ficar em casa se não levares a mal.

-Queres companhia?

- Prefiro ficar sozinha, eu preciso mesmo de dormir e vais apanhar seca por isso é melhor combinarmos noutra altura.

- Tu é que sabes, então adeus, falamos depois ok? - ele disse e deixou um beijo na minha bochecha.

-Claro.

Lucas dirigiu -se à porta e foi-se embora. Eu subi as escadas em direção ao meu quarto e enfiei-me dentro da casa de banho.

Tomei um duche de água quente, precisava de relaxar depois de tudo o que tinha acontecido.

Relembrei-me da "noite" passada, Ross pediu-me desculpas, mas eu não soube o que responder. Há alguns dias atrás eu nem o deixaria falar, como acontece nas aulas de Inglês em que agora estamos juntos. Mal ele tenta falar sobre algo que não seja aquela aula eu ignoro a existência dele, mas desta vez foi diferente, o medo que eu senti quando o vi ali, inconsciente, estendido no chão enquanto a cabeça jorrava sangue, o pânico apoderou-se de mim naquele momento, eu não podia ter simplesmente ignorado todos aqueles sentimentos, eu tive que reagir. Por causa dessa reação voltei à estaca zero, e agora estava mais perdida que nunca sobre o que eu sentia e queria sentir por ele.

Saí finalmente do banho, vesti o pijama e deitei-me na cama. Daqui a bocado seria hora de almoço, mas eu estava com tanto sono que nem fome tinha então deixei-me adormecer.

14h54

POV Ross

Riker já se tinha ido embora, voltaria mais tarde para passar a noite comigo, mas, entretanto, eu ia ficar sozinho.

Estava a brincar com o comando da cama do hospital, afinal não tinha que fazer e o meu irmão fez questão que eu tivesse o meu próprio quarto. Era bom ter o quarto só para mim, ao menos não o tinha que partilhar com alguém chato, mas estar sozinho era uma seca.

Ouvi alguém bater à porta e pedi para que entrasse, vi a morena e sorri-lhe.

-Que tal vai isso? - ela perguntou e sentou -se no sofá ao lado da minha cama.

-Solitário. - Eu disse e afundei-me na cama.

-Desculpa por ontem, eu queria ter vindo, mas sabes fico nervosa em hospitais então preferi visitar-te quando já estivesses melhor.

-Não faz mal, não te preocupes com isso. E o Jack? Não veio contigo?

-Não ele teve um aniversário dum primo e não pôde vir. Mas e que tal foi a tua noite?

-A minha noite? Foi... ahm interessante.

-O que é que aconteceu? -Megan estava ansiosa.

-Nada de especial, mas ela esteve comigo por isso já foi um avanço.

-Ela vai perdoar-te, agora eu tenho a certeza.

-Como é que tens a certeza?

- Quando tu desmaiaste ela ficou em pânico. E não foi aquele pânico normal que tu tens numa situação daquelas ela estava mesmo muito preocupada Ross. Eu acho que por momentos ela pensou que te ia perder e isso sem dúvida assustou-a. Ela não pode ignorar isso, ela vai perdoar-te.

Eu não sabia que Violet se tinha sentido assim, não sabia que ela tinha ficado tão nervosa ou preocupada, uma parte de mim ficou feliz porque se ela se preocupava era porque gostava de mim ou que pelo menos se importava comigo, mas não pude deixar de pensar no seu sofrimento ao ver-me assim e o meu sorriso desfez-se imediatamente.

- Eu pedi-lhe desculpa, mas ela ignorou.

-Dá-lhe tempo e volta a falar com ela, tenta ficar sozinho com ela.

- Como é que é suposto eu conseguir ficar sozinho com ela, assim que eu meter os pés fora deste hospital ela vai voltar a fingir que não existo.

-Não não vai. Ela não passou a noite aqui contigo por pena. Ela não te vem visitar por obrigação. Se ela não quisesse mesmo ela não vinha cá de propósito para estar contigo.

-Eu vou precisar da tua ajuda.

- Eu sei. - Megan disse e sorriu.

Continuamos a falar durante mais algum tempo sobre assuntos aleatórios, era bom falar com ela. Megan era boa pessoa, bastante extrovertida, mas acima de tudo era boa amiga. Jack tinha sem dúvida uma grande pessoa a seu lado.

Se Megan realmente tivesse razão então isso significava que eu podia voltar a ter uma oportunidade com Violet. Eu tinha que me desculpar por tudo o que fiz e ela tinha que me ouvir, mas primeiro tinha que sair daquele hospital.

26 de Janeiro, 13h28

-Ross dás-me boleia? - Jack perguntou enquanto saíamos da aula de matemática.

-Eu preciso de fazer uma coisa antes de ir para casa. Importas-te de esperar?

-Não, mas o que vais fazer?

-Tenho que falar com ela. - eu disse apontando para Violet, ela também já ia para casa e passava agora pelo portão da escola.

-Boa sorte com isso, a Clearwater não vai querer falar contigo.

-Isso é o que vamos ver. -eu disse e sorri para Jack confiante, eu ia conseguir falar com ela.

Comecei a correr em direção ao portão, talvez eu tivesse mesmo uma chance de falar com ela, Violet tinha ido me visitar ao hospital e parecia bem, não parecia chateada ou assim. Ainda não tínhamos falado desde que eu tinha saído do hospital, no dia anterior, mas ela não me podia ignorar.

Violet estava parada a falar com uma rapariga que eu não conhecia, a tal rapariga foi-se embora e ela preparava-se para ir também.

-Clearwater! - chamei e ela virou-se para trás.

-Precisas de alguma coisa? - ela disse um pouco surpresa.

-Sim, achas que podemos falar?

- Lynch eu agora não tenho tempo. Tenho que ir para casa. - Violet começou a andar e eu fui atrás dela.

-Por favor, são cinco minutos.

- Eu não tenho cinco minutos.

-Violet...-fui interrompido rapidamente por alguém.

-Violet vais para casa? - o rapaz disse aproximando-se de nós na mota preta.

-Vou sim. -ela disse e sorriu-lhe.

-Queres boleia?

-Sim claro! - Violet pegou num dos capacetes e subiu para a mota, deixando-me ali sozinho. Ao que parece Violet podia sim, ignorar-me.

Voltei para perto do meu carro onde Jack já se encontrava encostado e com um sorriso de gozo estampado na cara.

- Eu avisei-te.

-Ela ia falar comigo se aquele gajo não tivesse aparecido.

-Que gajo?

-Aquele da mota. - eu disse referindo-me a Lucas, era esse o nome dele pelo que Megan me havia dito.

- Ok desta vez não correu bem, ou seja, tens que tentar outra abordagem. - Jack disse enquanto entrávamos no carro.

-Outra abordagem?

-Sim, tens que te certificar que estão sozinhos. - Jack disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

-E é suposto eu fazer o quê? Só a vejo aqui na escola, não a vou trancar no armário da limpeza.

-Essa era uma boa ideia.

- Sim, se eu quisesse acabar com um balde de lixívia na cabeça.

-Pensei que era isso que usavas para pintar o cabelo. - ele disse num tom inocente.

-Queres ir a pé para casa? – ameacei.

-Já me calei.

-Ótimo.

Jack voltou a comunicar comigo no resto do caminho, enquanto discutíamos formas de eu conseguir falar com Violet, mas não havia nada que parecesse minimamente civilizado para o conseguir então as ideias foram rapidamente descartadas.

Eu não podia demorar muito, aquele tal de Lucas não parecia querer a Violet como apenas amiga dele, e de maneira nenhuma eu ia ficar a olhar enquanto ele a tirava de mim.