...Que Vença o Melhor...
*[Ezarel On]*
O maldito castigo de Miiko foi a gota d'água. Era tão constrangedor andar pelos corredores do QG com aquela aparência, ainda que ninguém, além dela, soubesse a respeito disso.
Fui para o laboratório de alquimia na esperança de voltar ao trabalho sem mais problemas. Cheguei e entrei cabisbaixo, porém muito irritado por dentro. Vi um dos integrantes da Guarda Sombra sentado num canto do espaço, provavelmente me aguardando.
-- Ah, Zendar, o que posso fazer por você? -- perguntei.
-- Ah. É só você, humana. Onde está o Ezarel? -- falou secamente e eu gelei até a espinha (certamente pela gigantesca diferença de altura), mas internamente queria gritar e voar em cima dele por falar comigo daquela forma.
-- Como se atreve, seu... -- Pelo Oráculo, fique quieto Ezarel! Ninguém pode saber disso! -- Digo... Do que precisa? Pode deixar que eu repasso para ele.
Revirou os olhos e falou:
-- Umphf... Ok. Bom... Diga a ele que Nevra precisa urgente do pó anti-Black Dogs. A próxima missão vai além das proximidades do QG e no caminho há grande possibilidade de encontro frontal com Black Dogs. Seria muito bom se pudesse avisar imediatamente! -- falou seriamente e sem dar muita atenção para mim e saiu. Fiquei estático. Ele devia ser muito corajosa para me tratar dessa maneira. Mesmo que não tivesse a noção de nada que estava acontecendo comigo, ainda senti um incômodo gigantesco.
Enfim, eu não precisaria repassar nada! Teria de fazer eu mesmo uma grade porção de pó anti-Black Dogs.
Pisando duro, caminhei até a minha mesa e comecei a trabalhar, ainda com os dentes trincados.
*[Diana On]*
Sentei na beirada da cama em meu quarto - verdadeiro - e fiquei pensando e repensando várias e várias vezes tudo o que havia ocorrido. Uma certeza acabara de formular. Deveria ter dito há uno atrás para o Kero que queria ter qualquer função na Guarda de Eel, menos na Obsidiana, Absinto e Sombra. Poderia apenas trabalhar na biblioteca com o Keroshane. De todas as piores coisas que poderiam acontecer, a pior foi a que me acertou em cheio.
Bateram à porta. Desfiz o semblante infeliz que se via estampado em meu rosto e abri-a. Era Nevra. Sorri, pois era bom vê-lo nesse momento. Mesmo sendo um mulherengo convicto e, de vez em quando, um idiota. Só não perdia para Ezarel.
-- Oi Nev. É bom te ver.
-- Ezarel?! O que faz aqui? -- indagou espantado. Foi aí que caí na real e lembrei que não estava... Como eu.
-- Eu...? Eu só... -- ao começar a falar, percebi a besteira que estava prestes a dizer. -- Só passei aqui para ver como minha escrava estava, mas parece que ela não está aqui. -- era inacreditável como consegui copiá-lo bem naquela hora.
-- Hum... Isso não é do seu feitio. O que está tramando, Ez? -- arqueou uma sobrancelha.
Sorri. Tivera uma ideia maravilhosa para expulsá-lo.
-- Do que está falando, imbecil?! Eu não vim até aqui armar nada. Afinal, qual seria a graça se a humana não está aqui?
-- Isso sim é a sua cara! Enfim... Acho melhor não aprontar nada com ela, Ezarel. -- avisou, cruzando os braços.
-- Sério? Senão o que?
-- Senão eu...
-- Sem "mas"! Eu sou o supervisor dela e eu determino o que posso ou não fazer a ela. Passar bem! Agora sai! -- falei e bati a porta. Sorri internamente por conseguir cumprir com a ideia. Pela primeira vez até agora conseguira me livrar do vampiro sozinha.
*[Pov. Ezarel]*
Após preparar uma quantia de pó anti-Black Dog o bastante para a tal missão, andei em direção a porta e dei de cara com Leiftan. De todas as pessoas que eu poderia encontrar, tinha que ser logo ele?
-- Tudo certo, Leiftan? -- O cumprimentei. Mas ao falar dessa maneira, foi que recordei que eu não era mais eu... Não literalmente. -- Quero dizer... Está tudo bem com você? -- Miinha voz pronunciada com o som da de Diana me enfureceu. Aquele som agudo, irritante e...
-- Olá, Diana. Precisava mesmo falar com você. -- disse.
-- C-Claro! Sobre o quê? -- indaguei.
-- Bem... Eu irei amanhã a um jantar muito importante com o líder dos Kapas e com o líder dos lobisomens do Norte. E... Eles esperam que eu leve... Uma acompanhante. Como a Miiko estará muito atarefada para ir, eu queria saber... Gostaria de ir comigo? -- perguntou. Eu queria dizer "não" de uma forma dura e forte, juro por todos os meus anos de vida élfica. Mas eu não tinha mais a posição superior de chefe da Guarda.
-- Desculpe Leiftan, mas... Não vai dar... -- tentei parecer verdadeiro, e, sobretudo, fazer a mesma expressão patética daquela garota. De um mulher realmente sentida por não poder ser a companhia de um homem.
-- Tudo bem. Claro, Diana, eu compreendo. Bom... É necessário que eu vá agora. Tenho coisas pendentes a resolver. -- e se foi sem olhar para trás, porém não antes sem suspirar.
Senti-me orgulhoso de mim mesmo por conseguir agir como aquela garota, que era a razão do meu mal-humor. No entanto, também sentia-me envergonhado. Eu estava agindo como... Ela.
Pensei em sair um pouco do QG para respirar um pouco de ar, entretanto, o Jamon me impediu por eu (agora) ser "fraca" e "indefesa". Depois, cogitei descansar em meu quarto, porém senti uma dor agonizante abaixo de meu estômago. O que será isso?
*[Pov. Diana]*
Logo que se passaram alguns minutos desde que Nevra deixara a porta do quarto, saí e fui em direção a biblioteca, contudo um rapaz - Zendar, se não me falha a memória -, certamente da Guarda Sombra, veio até mim e disse que Nevra precisava de um tipo de pó anti-Black Dog para uma missão. Mas afinal, o que é isso?
Resolvi dar uma volta pelos corredores do QG, todavia, uma pessoa totalmente indesejável veio falar comigo. De tantos que poderiam ser, logo ela.
-- Oi, Ezzy! Sentiu minha falta? -- Eweelin sorriu para mim. Fiquei nervosa... Eu havia esquecido completamente que o elfo havia compromisso com a companheira amorosa dele.
-- Eu... Bem... C-Claro que senti... Eweelin. -- Aquilo era constrangedor, por mais que apenas eu entendesse por quê.
-- Faz tempo que não nos vemos! Estive muito ocupada ultimamente com os novos pacientes que chegaram, mas hoje... Resolvi tirar o dia de folga e passar o dia com você. -- ela dizia sorridente.
-- É mesmo...? Bom, é uma pena porque... Estou ocupado com... Com... -- pensa Diana! Pensa: com o que o Ezarel estaria ocupado? -- Com um membro da Guarda Sombra. Nossa, você nem imagina... Eles vão sair em uma missão e... Precisam de algumas coisas. Coisas básicas como poções e também... Bem... Muitas poções. E-Eu, de verdade, sinto muitíssimo! -- não senti nada!
Ela me fitou de cima abaixo e, depois de um tempo assentiu.
-- É realmente uma lástima, mas tudo bem! Podemos ficar juntos outra hora. -- ela se aproximou de mim. O que ela pretende? Beijar-me? Não se eu puder evitar.
-- Ham... Sabe o quê que é, Eweelin... Estou com uma doença contagiosa, muito, muito contagiosa... E eu não quero que fique contaminada também.
-- Eu sei que se preocupa comigo, porém tenho certeza que apenas um não fará mal. -- ela tentou se aproximar de novo.
-- É sério, Eweelin! Não quero que pegue essa doença por culpa minha. -- fingia tossir enquanto falava. Esperava que ela acreditasse. Mas havia um "porém". Se ela acreditasse nisso, quando voltasse a minha forma normal, diria a Miiko para repensar sobre a pessoa que havia colocado como superior na enfermaria. -- Cof, cof.
-- Tudo bem, Ez. -- disse. Vou falar com Miiko quando voltar ao meu estado comum.
(...)
*[Narrador On]*
Após um dia longo para os dois, Ezarel e Diana resolveram ir conversar a cerca de tudo o que ocorrera.
-- Definitivamente, a pior coisa que aconteceu comigo foi ter virado você! -- desabafou Ezarel, bufando.
-- Por que o estresse? Seu dia não pode ter sido pior que o meu. -- retrucou Diana, torcendo o lábio.
-- Isso porque você não foi convidada para sair! -- ele pôs as mãos no rosto.
-- Sério mesmo? -- os olhos ametistas de Diana brilharam. -- Quem foi?
-- Leiftan. -- disse o elfo sem contemplações, rolando os olhos exageradamente.
-- V-Você disse Leiftan? Ah, por favor, Ezarel... Me diz que você aceitou. -- sua expressão era suplicante.
-- Eu? O que acha que eu sou? Mesmo estando aqui nesse corpo, ainda sou homem. Nunca aceitaria algo desse tipo, ainda mais se for para você. -- sorriu sarcástico.
Ela se indignou e voou em cima dele, porém ele falou antes:
-- Nada de brigas agora, lembra? E quanto a você? O que passou hoje de tão ruim para estar reclamando até agora?
-- Eu quase fui beijada pela sua namorada! -- soltou tudo de uma vez a garota.
-- E o que fez? -- ele parecia mais interessado agora. Diana deu de ombros. -- Namorada?
-- Apenas inventei uma desculpa... Bem boba, aliás. Mas... Acho que vou falar com Miiko a respeito das pessoas que ficam cuidando da enfermaria... Como Eweelin acreditou tão rápido que eu estava com uma doença tão contagiosa, aponto de não poder encostar em mim? E a respeito da outra pergunta, "namorado" é uma palavra da Terra.
-- Ela confia em mim. -- disse Ezarel, suspirando.
Os dois se olharam.
-- Então, a partir disso, agora sabemos que ser eu, para você, é bem mais complicado! -- ele sorriu.
-- Sério? Evidente que não! Ser eu é bem mais desgastante que ser você! -- gritou ela. -- E nem ouse comparar!
-- Por favor... Eu aguentei uma dor bem incômoda aqui embaixo do estômago, ou útero... O dia todo. E nem por isso reclamei. -- retrucou Ezarel.
-- Que tipo de dor? -- perguntou ela, agora visivelmente curiosa.
-- Não sei exatamente o que é... Só que incomoda bastante.
-- Isso se chama cólica, Ezarel. -- a humana começou uma crise de risos.
Ezarel se indignou.
-- Pois bem! Que tal uma aposta? Se vamos ficar assim por um tempo, que tal tornar as coisas interessantes? -- Diana indagou com um sorriso travesso.
-- Que tipo de aposta? -- O elfo inquiriu, erguendo a sobrancelha.
-- É simples! Quem aguentar mais tempo ser o outro sem desistir vence! E vale tudo. -- a garota manteve o sorrisinho de canto travesso. Ezarel se animou.
-- Certo. O vencedor será declarado pelo outro, na frente de todos de Eldarya, o melhor... E, além disso... Irá trabalhar para o que vencer durante... Um ano. -- disse Ezarel.
-- Pensei que diria para sempre, mas... Parece que tem medo de perder. Mas tudo bem! Deixarei essa passar. E o perdedor, além de trabalhar para o outro... Deixará o QG por um tempo, tudo bem? -- palpitou a faelina.
E depois de aposta feita e consequências lançadas, se iniciou então uma "conflito" para descobrir quem suportaria mais até o fim daquela tortura imposta a eles pela kitsune.
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