História If we were together... (Sonadow) - Sangue Sobre a Areia

Naqueles dias, era difícil andar por aí e encontrar civis andando a toa nas ruas do reino. Na verdade, o medo havia se instalado ali e montado um império. Poucas pessoas - muito poucas mesmo - não sabiam sobre a situação do presente e o risco que todos corriam. Vários guerreiros já foram separados permanentemente de suas famílias e amigos, no intuito de realizarem um treinamento intensivo e amarrar pontas soltas, por mais pequenas que sejam. O suor e o sangue destes foram derramados, mas nenhum parecia arrependido. Estavam ali em nome da honra e sabiam que seriam bem valorizados após sua morte.

Entre estes guerreiros em treinamento, estava Sonic e Shadow. O negro, por mais relutante que ficara, não iria deixar seu estimado ir sozinho e aceitou para que pudesse, nem que como último esforço, protegê-lo. Sonic, por mais bem treinado que fora pelo seu pai, sabia que poderia ter coisas a aprender com Blaze, que por sinal fora sua mestra. A felina tinha habilidades invejáveis, conduzindo a espada como se fosse parte de seu próprio corpo e com extrema maestria. Sua mira com os arcos era bastante comparável ao de Shadow, porém, com um diferencial em termos de distância. Isso é o que motivava mais o azulado a apoiar sua aliança, no entanto, nunca deixando suas suspeitas morrerem.

Contudo, com o tempo traiçoeiro, logo o dia final chegou. Alguns espiões alertaram sobre a saída do exército de Mephiles e, embora a distância poderia render dias ou até semanas, Sonic sabia que teria que encontrá-lo no meio do caminho. Afinal, não poderia deixar que a guerra chegasse em sua porta e colocasse em risco inocentes.

Neste mesmo dia, Shadow sentiu uma ansiedade incomum. Queria gritar, mas conteve-se. Pelo menos, queria trocar uma palavra com seu amado, sabendo que o futuro era um breu e que teriam de entrar ali sem sequer uma tocha. O encontrou no estábulo, equipando sua grifo com uma armadura brilhante. Quando abriu a porta rangente, a luz foi logo refletida pela armadura dourada de seu rei. O elmo estava aberto e o seu semblante, sério. Shadow entrou, sem dizer sequer uma palavra. Não sabia muito sobre o que falar. Talvez um beijo seria suficiente para ela. Embora, por dentro, queria muito mais do impossível.

- Está pronto? - Sonic havia percebido a chegada do outro, porém, como não ouvira nada dele, perguntou para cortar o estranho silêncio.

Shadow assentiu. Usava uma armadura prateada e robusta. Estava sem o elmo, pois preferia pôr na hora da partida, já que achava bastante desconfortável e pesada. Carregava uma espada tão afiada que poderia até cortar o mais fino dos tecidos. Por fim, também levava consigo uma adaga tão afiada quanto, colocada discretamente em seu cinto. Este último fazia parte de um plano, combinado no dia anterior.

- Posso lhe pedir um favor? - o azulado perguntou, num tom um tanto melancólico.

- Claro…

- Assim que sabotar as catapultas, voe. Voe para longe e se esconda. Se eu sobreviver, eu…

- Nem pensar! - Shadow o cortou, visivelmente nervoso. - Não me darei ao luxo de me esconder enquanto você se arrisca.

- Por favor… - havia uma vontade predominante de chorar. - Não conseguiria perder você…

- E eu digo o mesmo! - o negro se aproximou e colocou sua mão sobre seu ombro. - E o sentimento seria pior se soubesse que o deixei nos braços da morte.

Um soluço fora ouvido e Sonic engoliu em seco, evitando assim mais sinais de seu choro que pesava sobre seus ombros escapasse. Esfregou seu rosto e antes mesmo de protestar mais uma vez ou dizer qualquer outra coisa, Blaze adentrou o estábulo e fez um sinal com a cabeça. O azulado apenas se afastou do outro ouriço e seguiu a felina para o exterior.

No pátio próximo ao portão, eles se reencontraram, mas não trocaram nada a mais do simples olhares. Parecia que a tristeza que Sonic demonstrara horas antes agora havia se tornado uma frieza inacreditável. O exército estava perfeitamente ordenado em fileiras e as cores vistas era apenas um cinza e tons de preto. Todos igualmente vestidos e armados, prontos para iniciar a caminhada ao encontro da batalha. Já Shadow não estava no meio e se encontrava no canto, junto com Asa Flamejante. Estava num ponto mais alto, por isso pode observar tudo como os olhos de uma águia. Sonic montou em seu cavalo e fez um discurso que fora mais realista do que motivacional, no objetivo de saber quem realmente daria seu sangue na lealdade a ele. É claro que ninguém hesitou. Logo, deu espaço para que uma senhora na casa dos 60 ficasse a sua frente. Ela usava uma roupa peculiar feita de pele de tigre branco que cobria todo seu corpo, quase que como um xale. Shadow concluiu que era a xamã da tribo de Blaze. Observando-a minuciosamente, percebeu que ele levou a mão esquerda em um colar de dentes que supôs ser de tigre também e a outra, levantada aos céus.

- Ó grande criador e protetor de nossa terra… proteja-os dos males por vir e abençoa-os para que a vitória seja certa. Eu clamo por tua presença, ó grande Tigre Branco! - ela gritou, sempre olhando para cima. Como resposta, um raio rasgou os céus com sua luz cegante, embora não houvesse quase nenhuma nuvem pesada que indicasse chuva a vir.

E assim, a caminhada para o noroeste iniciou. O rei fora em seu cavalo, na frente de todo o exército, enquanto o negro ia por cima voando sobre a grande híbrida de leão e águia. Foram dias. Caminhando dia e noite. Para que nem toda a força dos guerreiros se esgotasse pararam para acampar apenas duas vezes. Era a noite e no meio do deserto, quando finalmente encontraram o mar negro dos soldados de Mephiles. O número era esmagadoramente maior - nada fora do previsto. Porém, ao mesmo tempo que Sonic notou o exército alheio, o adversário também os notou. No entanto, Mephiles não faziam ideia de que um dos homens de Sonic estava ao meio do exército. Era Shadow.

Um dia antes, partiu voando a frente e avistou-os antecipadamente. Se aproximou e pousou, escondendo-se ao meio de uma duna. Quando eles passaram pelo esconderijo, o negro se infiltrou no meio deles, uma vez que não utilizava a armadura dos soldados do azulado e sim uma roubado de Mephiles. Por isso ninguém notou e nem sequer suspeitou. Ele caminhou entre os soldados que por sorte não andavam em nenhum tipo de formação, talvez pela arrogância de seu líder.

O objetivo de Shadow era chegar ao final do mar de homens. Lá era onde localizava-se as catapultas: as armas que poderiam acabar com o exército de Sonic em poucos tiros. Era até um pouco de sorte por estar no fundo, assim poucos perceberiam sua presença, no entanto, embora fossem apenas duas, havia meia dúzia de soldados cobrindo a guarda das armas. Além dos escravos, que as carregavam, mas o negro sabia que eles não lutariam contra si e no primeiro sinal de liberdade, já iriam correndo para fora do campo de batalha.

Se aproximou da primeira e se misturou, ao lado de um soldado inimigo. Ele estranhou, mas nada fez. O negro então diminui a velocidade de seus passos e ficou ao lado de um escravo que empurrava com uma careta a pesada arma. Ele sacou sua adaga discretamente e checando para ver se ninguém estava olhando, cortou uma corda que amarrava a estrutura em seu lado direito. Respirou aliviado ao saber que a primeira já fora sabotada sem problemas.

Se afastando desta, ele seguiu para a outra, sempre se misturando entre os soldados. No entanto, a outra parecia maior e mais pesada ainda, o que fazia com que o número de escravos a carregando ser maior. Shadow logo localizou a corda que teria de cortar para terminar seu objetivo. Contudo, tinha um obstáculo: dois escravos estavam na região onde ele precisaria agir. Ao colocar-se ao lado deles, sacou a adaga e cortou-lhes as amarras em seus pulsos e fez um sinal para que eles permanecessem em silêncio.

- Estou aqui para ajudar. - o negro afirmou, fazendo com que ambos os escravos confiassem em si. Com isso, abriram espaço e ele cortou as cordas que sustentavam a catapulta e acenou com a cabeça, agradecendo.

Agora, cabia a Shadow a fugir. No entanto, mesmo que a tarefa não fosse fácil, havia outro motivo de peso ainda mais do que a primeira: Sonic. Ele não podia deixá-lo. Mas também não podia ficar em meio ao exército de Mephiles, afinal, em algum momento, teria de matar alguns soldados, o que aumentaria sua notoriedade. Entretanto, afastando qualquer decisão ou pensamento, os gritos de guerra começaram a ser ouvidos. Os exércitos de ambos os reis estavam muito próximos e quase chegando ao ponto para colidirem entre si. Até que os gritos foram substituídos por metal batendo contra metal, além de berros de dor. A guerra havia começado.

Do outro lado, Sonic tinha confiança que tinha dado certo. Ao olhar no horizonte, pode ver os adversários carregando as catapultas, porém, ao fazê-lo, as armas desabavam sobre os mesmos. O azulado riria daquela cena se não estivesse tendo de abrir caminho com a espada, matando dezenas de soldados até chegar a Mephiles. Ele, armado com uma armadura pintada de vermelho sangue, olhava Sonic com desdém e se preparava para lutar.

- Quando tempo, não? - Mephiles falou, sua voz ressaltando-se dos barulhos típicos da guerra.

- Um tempo que eu queria que a estendesse mais. - respondeu Sonic secamente. Isso pareceu irritar seu tio, que logo sacou uma espada negra que brilhava em um rastro roxo escuro. Só com isso, o azulado já soube do encantamento em sua arma. - Nem para jogar limpo, né?

A pergunta não foi respondida por palavras. Apenas com um ataque. Mephiles levou a espada acima da cabeça e desceu-a em direção ao sobrinho, que bloqueou o ataque com sua espada dourada e com pequenos detalhes em azul fosco. Ao se chocarem, expeliram um barulho agudo das espadas deslizando entre si até se separarem. Os semblantes de ambos, de maneira fria, estavam idênticos. Ambos tinham sede de vingança presos em suas gargantas, bem como insanidade em sua olhares, embora Mephiles mostrasse isso bem mais do que o outro ouriço.

E assim que uma série de ataques foram desferidos a sangue-frio. Ninguém parecia disposto a desistir, muito menos abrir a guarda por um segundo sequer. No entanto, por mais ágil e habilidoso que fosse Sonic, seu tio tinha uma poderosa carta na manga: seu peso era superior, portanto, sua força seria uma arma poderosa contra seu inimigo. E foi isso que ele fez.

Atacou e fez que Sonic bloqueasse de forma a juntar ambas as espadas em uma cruz e deixar que os olhares de ambos se encontrassem. E foi nessa hora que Mephiles jogou seu peso sob o azulado que, além de aturar a nova pressão sobre si, teve de aguentar o soco que foi desferido em suas costelas. Mas falhou e abriu a guarda por segundos. Tempo suficiente para o outro agir, desferindo um ataque que cortou-lhe a lateral de sua barriga e desceu com o corte até sua coxa, pressionando mais ainda naquela região, fazendo-a falhar e colocar o outro rei de joelhos. O corte rendeu bastante sangue, que por sinal, fora até cuspido pela boca quase seca do azulado.

- Está acabado! - Mephiles gritou, enquanto levava sua espada acima da cabeça novamente. Mirava no crânio de Sonic e pretendia dividi-la para causar pânico em seu exército. E antes que ele a descesse, ele gargalhou insanamente, deixando claro a loucura permanente em sua mente.

Shadow, agora em meio ao exército de seu amado, rodopiava e desferia ataques mortais, arrancando a vida de vários soldados sem hesitar. Foi então que a gargalhada insana chamou sua atenção. Ao olhar em direção à região onde Sonic e seu tio lutavam, logo viu a espada acima da cabeça de Mephiles e pronta para arrancar a vida de seu estimado, e com isso, não pensou duas vezes. Foi empurrando e matando soldados inimigos a frente de seu caminho, até logo chegar pelas costas do adversário do azulado bem antes de ele formar o arco com a espada e acabar com a pessoa que mais amava naquele momento. Shadow não pensou duas vezes. Era uma oportunidade única.

Cortou-lhe a garganta.

Mephiles virou assustado. Ao ver seu assassino em pé, olhando para si, berrou, em puro ódio:

- Traidor! - ele dizia, se engasgando com as próprias palavras e sangue. Pelas roupas, pensou que Shadow fosse um dos dele e foi com aquela raiva da traição que, num último esforço, enfiou-lhe a espada em sua barriga. - Você virá comigo… - estas foram suas últimas palavras antes de cair permanentemente nos braços da morte.

- SHADOW! - Sonic gritou ao ver o sangue do negro pingando na areia sob seus pés. Shadow sorriu pela última vez e tombou, seus olhos observando o céu, mas ao mesmo tempo, não os observando mais. - Por Deus, não! - o azulado estava entrando em desespero. Tentou pôr-se em pé, porém sua perna falhou novamente. Sem escolhas, arrastou-se e colocou-se ao lado do seu amado.

A batalha silenciou-se. Os soldados do exército inimigo, ao olharem seu rei e líder derrotado, pararam simultâneamente. Ele estava morto, não havia mais porque lutar. Foi neste silêncio que o ouriço azul chamou por curandeiras que, por mais que tentassem fazer com que ele se acalmasse, não podiam fazer nada em relação ao cadáver.

Shadow estava morto.