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História I'll be good - Confusão


Escrita por: Ghostgirlmind

Notas do Autor


Só quero dizer que eu amo a interação do Shizuo e do Izaya nesse capítulo kk
Boa leitura!

Capítulo 3 - Confusão


 

I’ll be good

 

Capítulo 3 – Confusão

 

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Narrador POV’s on

 

 Assim que a porta do apartamento foi aberta, Izaya entrou de muletas, jogou-se no sofá largando-as no tapete, estava de mau humor, talvez fosse por que não estava conseguindo irritar Shizuo como antes ou por estar começando a gostar de ser mimado por ele. Ou ainda, ambas as opções.

— Ei, pulga! Não tem quase nada na sua geladeira, como é que eu vou cozinhar? – Shizuo reclamou.

— Não sei! Não pedi para você cozinhar! – Rebateu o olhando com um sorriso provocante.

 Shizuo respirou fundo algumas vezes e foi para a sala, tirou o celular do bolso e pediu comida.

— Shizu-chan? – Izaya o chamou entediado, queria dizer “vamos brigar, isso é estranho”.

— O que? – Perguntou irritado, mas não fazia nada, estava se controlando bem até demais para o gosto de Izaya.

— Se você tiver pedido alguma porcaria já aviso que não vou comer. – Disse cruzando os braços.

 Shizuo olhou a muleta tão perto, segurando a vontade de bater nele com ela.

— Ótimo, então fique com fome. – Sorriu visivelmente irritado.

— Ora... Achei que o Shizu-chan fosse cuidar de mim. – Disse em tom de decepção.

— E eu achei que você quisesse ficar vivo. – Resmungou levantando assim que o moreno encostou-se no seu ombro.

— Que cruel. – Resmungou mantendo o tronco deitado sob o estofado.

 Izaya estava nervoso, não nervoso de irritação, apenas nervoso. Estava sozinho em seu apartamento com o seu inimigo, que estava agindo estranhamente amigável – e ele estava gostando.

 Fechou os olhos respirando fundo, seu coração estava acelerado demais para o seu gosto, parte de si queria aproveitar a proximidade rara e deixar-se mimar, a outra queria resistir e irritá-lo até ter o Shizuo que conhecia de volta.

 Abriu os olhos ouvindo um som de isqueiro e olhou para o loiro com toda a sua raiva.

— Shizu-chan! Não fume no meu apartamento, vai deixar tudo com cheiro de Shizu-chan! – Reclamou aproveitando para provocar mais que o necessário.

— Ah, é? Então vem apagar. – Sorriu tragando olhando direto nos olhos irritados.

 Estava começando a pensar que aquele era o fim da discussão, mas segurou uma muleta por reflexo, antes dela atingir o seu rosto. Apertou o metal deixando seus dedos marcados ali, o olhou cheio de ódio e o informante começou a rir.

— O que foi, não vai me bater? – Izaya sorriu vendo o loiro parar a sua frente largando a muleta e o cigarro no chão, pisando nele no caminho.

 Shizuo fechou o punho, o parando antes de atingir o rosto do Orihara que o olhou confuso, as mãos de Shizuo tremiam e os olhos irritados tinham dado lugar a olhos assustados.

— Você quer fazer isso, faça. – Izaya disse ansioso.

 O loiro afastou-se um passo, respirando descompassado, seu coração já havia perdido o ritmo e a sua mente estava caótica.

— Não consigo! – Gritou com tanta raiva que Izaya se calou o vendo esfregar o rosto irritado.

 Shizuo tremeu, quando foi bater nele viu o Izaya ensanguentado e inerte, parou a si mesmo com o choque. Percebeu que tinha pouco controle sobre as reações do seu corpo à raiva, ele se movia antes de pensar sobre isso, era perigoso.

 Izaya suspirou o puxando para o sofá, o loiro sentou ao seu lado e o moreno não pensou duas vezes antes de abraçá-lo, surpreendendo os dois. Fechou os olhos sentindo seu coração disparado, pelo jeito, Shizuo não era o único impulsivo ali, por mais que Izaya gostasse de pensar que ele estava acima de sentimentos humanos, que era um Deus... A verdade estava clara para ele naquele momento: Nunca deixou de amar Shizuo, a sua necessidade de chamar a atenção dele aumentou logo que começaram a se ver menos, tudo porque o informante queria ser o mais próximo dele, mesmo que significasse seguir pelo caminho errado para conseguir.

— Você realmente tem um cérebro de protozoário. – Sussurrou sorrindo.

— Não perde a chance, não é? – Suspirou cansado.

— Antes de tudo, não me subestime! – Falou irritado o afastando para olhá-lo nos olhos.

 Shizuo engoliu em seco, seu cérebro perturbado não parava de lembrá-lo do rosto ensanguentado.

— Eu te perturbei a semana toda, fiz você recorrer à bebida e apareci no bar para ver o resultado, não pense que você tem algum mérito nisso, entendeu?! – Confessou o vendo rir fraco.

— Você precisa mesmo desse ego todo? – Shizuo perguntou.

— Não é narcisismo, é a verdade. Eu te fiz perder o controle por que eu gosto de te ver todos os Shizuo’s que você esconde por medo de ferir alguém! Eu quero que todos eles me machuquem de alguma forma, então você não vai precisar fingir que eles não existem! – Disse.

 Shizuo travou, sua mente dava voltas intermináveis pelas palavras dele. “Ele acabou de dizer... Que faz isso para o meu bem?” – Pensou estagnado, sem coragem de externar.

— Não me entenda errado, eu faço isso por mim, eu gosto de te fazer me mostrar todas as suas versões, é divertido. – Sorriu.

 Izaya congelou quando foi abraçado espontaneamente, sentiu o rosto quente, havia confessado aquilo e agora Shizuo pensaria que ele se preocupava, e isso era assustador demais.

— Shizu-chan, me solta. – Pediu hesitante, não queria que ele soltasse.

— Não. – Disse fechando os olhos deitando a testa no ombro do informante.

— Shizu-ch– foi interrompido.

— Não. – Disse firme.

 Seus braços pareciam confortáveis em volta do corpo do informante, mesmo que isso fosse estranho de admitir – e ele não ia, de qualquer forma.

— Solta. – Murmurou soltando o ar que não percebeu prender.

— Não. Cala a boca. – Shizuo resmungou.

 Izaya sentiu que poderia chorar, ele ansiou por em abraço assim durante tantos anos, e logo quando perdeu as esperanças... Não queria aceitar o abraço, seria como admitir a si mesmo que precisava disso, que queria isso.

“Complexo de Shizuo, não é... Simon?” – Pensou.

— Sério, que desagradável. – Izaya reclamou.

— Você é desagradável! – Shizuo rebateu.

— Interessante, você abraça pessoas desagradáveis com que frequência? – Izaya sorriu provocante, embora o loiro não pudesse ver.

— Na mesma frequência que a minha mão vai parar na sua cara! – Disse irritado se afastando para apertar o rosto de Izaya com uma mão.

 Com o riso dele acabou afastando a mão, sem graça. O Interfone tocou os tirando do silêncio constrangedor, o loiro levantou e permitiu a subida do entregador, esperou na porta até pegar os pedido e o pagou com seu dinheiro antes de fechar a porta e colocar as caixas de comida chinesa na mesa da cozinha. Andou até Izaya o ajudando a chegar à mesa, onde se sentou, encarando a caixa em julgamento.

 Shizuo suspirou pronto pra ignorá-lo, começou a comer fingindo não se importar com o Orihara que preferiu o celular à comida, depois de alguns minutos torturantes foi obrigado a questionar.

— Qual é o problema com a comida? – Perguntou sem paciência.

— Não gosto desse restaurante. – Disse fingindo desinteresse, sem tirar os olhos do celular.

 Shizuo resistiu ao impulso de jogar o macarrão na cara dele porque sabia que teria que ajudá-lo a tomar banho, e estava adiando isso ao máximo. Novamente voltou a comer, decidido a não se importar. Izaya riu e ele já estava pronto para brigar quando ele virou a tela do celular, estava no fórum dos dollars.

— Olha, somos nós saindo do hospital! Ah, olha para você tão gentil me ajudando a andar! Eu vou morrer de rir... S-shizu-chan... As pessoas estão tão confusas! Isso é hilário. – Izaya ria sem conseguir parar.

 Até que parou de repente sentindo uma dor na costela e lembrou-se daquele detalhe.

— Isso não é engraçado. – Disse irritado.

— É claro que é, você quase me matou e agora está me ajudando, é óbvio que ninguém está entendendo nada! Na verdade, eu também não estou entendendo nada... O seu cérebro usa uma lógica estranha. – Izaya sorriu divertido com o loiro quebrando os hashis por apertá-los com muita força.

— Então vou para casa. – Shizuo disse calmo.

— Espera! – Izaya o segurou pela mão.

— O que foi? – Perguntou com desdém.

— Não vá... Por favor. – Pediu sentindo o rosto esquentar.

 Odiava-se por estar tão feliz com aquela situação atípica. Shizuo examinou o rosto corado, quando concluiu que ele não estava brincando voltou a se sentar. Pegou a caixinha de Izaya roubando também os hashis dele, que estavam inteiros.

— Shizu-chan, o que eu vou comer? – Perguntou vendo o loiro fechar os olhos irritados, parecia precisar tirar o moreno do seu campo de visão para se controlar.

— Não sei, o que você vai comer? – O olhou irritado.

— Shizu-chan, estou com fome. – Reclamou fazendo birra.

— Então porque não comeu?! – Perguntou irritado.

— Já falei, não gosto desse restaurante. – Disse como se fosse um bom argumento.

— Tá, que seja! Vou comprar na loja de conveniência. – Shizuo levantou e o moreno segurou sua mão o impedindo.

— Essas têm um gosto ruim. – Disse vendo o loiro suspirar e começar a contar até cem em sussurros.

— Então, o que você quer? – Shizuo sorriu amigavelmente, mas seus olhos eram puro ódio.

 Izaya segurou o riso ao ver a nova expressão descoberta.

— Pedir delivery, mas de outro lugar. – Sorriu.

 

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 Depois do estresse do jantar já tinham um problema novo.

— Qual o problema dessas muletas? – Shizuo reclamou irritado tentando usá-las dentro do banheiro.

 Desistiu de uma vez quando elas deslizaram direto, aquilo realmente não ia funcionar. Olhou para Izaya sentado na beira da cama e logo para o banheiro, procurando uma forma menos problemática, não encontrou. Deixou a banheira enchendo e andou de volta até o informante, ele pegou suas roupas e foi carregado sem reclamar até o banheiro, ele estava com mais vergonha do que pensou que teria, estava tentando descobrir se Shizuo estava envergonhado ou só irritado com a situação, estava torcendo pela primeira opção.

— Shizu-chan, eu também não queria isso, mas estamos aqui, ok? – Reclamou tentando tirar a camisa sem sentir dor na costela.

— Eu sei. – Disse irritado o ajudando.

 Izaya corou choramingando mentalmente quando abaixou a calça e a cueca, mas não conseguiu se abaixar para tirá-las completamente, viu Shizuo fazer isso em seu lugar, encarando a parede do outro lado. Tirou o curativo da cabeça vendo-o sujo de sangue no local onde estavam os pontos, a da costela não tinha sangue, só estava servindo para pressionar o local o impedindo de se mexer demais.

 Shizuo jogou os curativos no lixo, e voltou à Izaya, o pegando no colo de novo, sentiu o rosto aquecer e ignorou isso, o colocou na banheira com o pé com a perna engessada para fora.

 Agora parecia mais fácil de olhá-lo, já que estava submerso. Sentou-se no chão encostado à banheira.

— O que foi Shizu-chan? Não vai sair daqui? Acho que você é mesmo um pervertido. – Izaya disse.

 Era assim que ele lidava com a vergonha, deixando a outra pessoa em um estado pior.

— Q-qual o seu problema? – Perguntou irritado, levando as mãos ao rosto vermelho.

 Sequer entendia o motivo de estar com vergonha, não era ele que estava pelado e dependente, então por que? Virou a cabeça encarando Izaya e percebendo que ele estava mais vermelho que ele. Notou o motivo da provocação gratuita, era um jeito estranho de lidar com a vergonha, mas claramente era eficiente, já que conseguiu deixar Shizuo desconfortável.

— Então você sente vergonha... Sempre achei que você não tivesse emoções. – Shizuo comentou.

— N-não estou com vergonha! – Disse se amaldiçoando pelo tom desesperado.

 Era ruim Izaya estar gostando de ter Shizuo ali? Ele não saberia dizer, estava ocupado tentando censurar os próprios pensamentos, descobrir que ainda estava apaixonado era ruim o bastante, não podia criar esperanças, era idiota.

 Shizuo suspirou cansado, sempre que olhava as próprias mãos lembrava de como estavam sujas de sangue... O mesmo sangue que estava nos curativos que descartou. Talvez aquilo o assombrasse para sempre, não ficaria surpreso.

— Shizu-chan, para. – Ouviu a voz firme e virou encontrando Izaya o olhando irritado.

— Parar com o que? – Perguntou confuso.

— Você está deprimido, está se culpando, não está? Para com isso. – Disse sério.

— Não é simples assim... Você não entenderia. – Disse cansado.

 Aquilo irritou Izaya, qual era o problema dele? Havia esquecido que não havia ninguém além dele capaz de entender?

— Não entendo o que é ser um monstro? Eu sei exatamente o que é fazer algo horrível que afasta as pessoas de você, amigos, família... As pessoas te olham com medo e você precisa fingir que não te afeta, tem que conviver com um lado seu que é odiado por todos! Eu não entendo? Acho que você não me conhece, Shizu-chan... Eu pensei que você me entendesse, mas acho que você nunca soube nada sobre mim. – Izaya disse, a voz soava dolorida, mas o sorriso cínico não deixava os lábios.

 Shizuo suspirou sentindo um aperto no peito e um nó na garganta incômodo. Ele nunca havia visto Izaya tão irritado. “Eu acabei de te machucar de novo, não foi?”

— Desculpe. Tem razão. – Disse sério vendo-o relaxar.

 Engoliu em seco vendo lágrimas escorres pelo rosto do informante, não sabia o que fazer, era como se não houvesse uma forma segura de se aproximar dele, sempre acabava mal.

 

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Izaya POV’s on

 

 Ajeitei o travesseiro embaixo da minha perna antes de deitar confortavelmente, conferi os novos curativos, peguei o celular e abri os Dollars. Vi Shizuo continuar parado do meu lado, eu preciso que ele saia... Realmente preciso.

— Eu vou ficar bem, pode ir fazer qualquer coisa. – Abanei a mão em sinal para ele sair.

— Certo... Então eu te busco para jantar. – Ele disse.

— Não vou jantar, não se incomode. – Falei.

 Ele assentiu em silêncio descendo as escadas, senti o olhos arderem e cobro o rosto com o braço envolto na manga do moletom. Por que eu me irritei tanto com aquilo? Não era como se eu esperasse algo dele, certo? É o Shizu-chan, ele não deve pensar sobre o motivo das coisas, na verdade... Ele nunca se deu o trabalho de pensar sobre mim. Sim, era isso.

 Isso ainda me machuca, eu me odeio por isso, é como se eu fosse de novo um adolescente com um amor não correspondido e uma relação distorcida com a pessoa que ama. Talvez isso realmente não tenha mudado.

 O Shizu-chan não sabe nada sobre mim, mesmo eu sendo a pessoa que nunca se afastou dele, ele não gosta de mim mesmo, não faria sentido querer entender, eu acho. Eu sempre o observei, ele sempre foi fascinante, eu gostava de vê-lo se segurando perto das outras pessoas e como ele se soltava quando me via, era lindo... Ele saia da prisão e corria livremente. Eu o fazia correr, o obrigava a esquecer todas as amarras que ele se colocava, até hoje, gosto de ver o Shizu-chan se libertando, comigo ele pode fazer isso, não tenho medo dele, ele é um monstro irracional, mas isso não signifique que ele seja assustador.

 Todos esses anos eu o segui, queria ser notado por ele, mesmo que significasse receber todo o ódio dele. Doía? Claro que sim, mas era o mais perto que eu conseguia estar dele. Com ele eu podia me libertar também, me libertava do vazio e da rejeição de sempre.

 É tão estranho pensar que eu sempre saiba o que estava o irritando, sei o que dizer para provocá-lo... Mas ele não sabe nada sobre mim. Para ele eu sou só um filho da puta qualquer que gosta de o irritar e bagunçar a vida mentirosa dele. O ridículo é que eu perdi tudo, a confiança dos amigos e família ao assumir um crime de outra pessoa, tudo para começar essa vida planejada, parecia bom no começo, eu podia brincar com humanos, ganhar dinheiro com informações que eu conseguia por diversão, podia controlar tudo como quisesse... Depois o peso da solidão bateu, é estranho olhar em volta e não ver ninguém, quem está perto não quer estar, eu sou um incômodo e é assim que eu consigo fazer que me notem.

 Eu sou um incômodo para o Shizu-chan também.

 E a raiva dele é o máximo que consigo ganhar. Eu estava bem com isso, já havia aceitado.

Mas agora ele está bagunçando tudo. E eu estou começando a cogitar querer mais que o ódio... Quem sabe algo bom.

 Ri encarando o teto com a visão embaçada por lágrimas irritantes. Eu sou tão ridículo! Isso é impossível. Eu nem mereço nada bom vindo dele... Ou de qualquer outra pessoa.

— Shizu-chan, você devia ter me matado. – Murmurei sentindo um aperto no peito muito pior que uma costela fraturada.

 Ouvi passos na escada e me apressei em enxugar as lágrimas, respirando fundo para conter as próximas.

— Vamos descer, você precisa comer. – Shizuo insistiu, vi um semblante preocupado que já desisti de tentar entender.

 Olhei pelas janelas de vidro, a cidade estava brilhando na noite escura como sempre, o olhei o vendo suspirar cansado passando as mãos pelo rosto.

— Desculpa, não pensei antes de dizer... Você me entende, sempre entendeu, mesmo que eu odeie admitir isso. – Ele disse.

— Não ligue para isso, não importa. – Dei de ombros.

— Importa, por que foi cruel. – Ele falou, senti meu coração acelerar.

— E desde quando o Shizu-chan pede desculpas por ser cruel comigo? – Sorri o provocando.

— Não vai se repetir, eu prometo. – Ele disse e eu ri.

— Você vai me levar à força se eu disser que não quero? – Perguntei.

— Que bom que você sabe. – Ele falou e no segundo seguinte estava sendo carregado.

 Tentei tirar os olhos do rosto dele, mas estava tão perto, não era como se eu tivesse chances assim normalmente.

— Perdeu alguma coisa na minha cara? – Ele perguntou, estragando tudo, nada surpreendente.

— Estou procurando a sua dignidade, mas acho que não está mais com você. – Sorri.

— Engraçado você dizer isso sendo que eu te ajudei a tomar banho e já estou te carregando de novo. – Ele disse e senti meu rosto corar.

 Me recuso a perder uma discussão com ele.

— Você acha? Sendo que você foi o culpado para eu estar assim e ainda se ofereceu para ficar aqui comigo, algo me diz que foi um crime premeditado para ficar bem grudadinho em mim, não foi, Shizu-chan? – Sorri o vendo corar, um dos olhos estava pulsando com o nervosismo.

— Cala a boca. – Ele disse.

 Pronto, ganhei.

— Ah, não vai negar? Eu sabia que o Shizu-chan era um pervertido. – Falei quando ele me largou na cadeira com menos delicadeza que o esperado e senti minha costela doer, levando as mãos ao local na mesma hora.

 Ele pareceu perceber se aproximou nervoso.

— Não ouse ser legal comigo agora! – Resmunguei o vendo suspirar irritado.

 Não agora que eu estou criando expectativas!

— Qual é o seu problema? Quer que eu te dê uma surra, te ofenda e que volte ao que era antes... Você é masoquista? – Ele me olhou incrédulo.

 Ele percebeu isso agora? Acho que o cérebro de protozoário dele nunca chegou nesse nível de análise. Infelizmente o meu masoquismo vai muito além da dor física, eu também gostei de aceitar um amor platônico por pura diversão, embora isso não tenha dado muito certo.

— Não é possível, eu literalmente mandei você me bater, onde está o mistério? – Eu ri o vendo sorrir.

 Droga de sorriso perfeito, preciso quebrar a cara dele para ele ficar menos atraente.

— Eu cozinhei com o que tinha, então ou você come isso ou o jeito será lojas de conveniência. – Ele disse nos servindo.

 Eu tinha tudo isso aqui em casa? Encarei o prato, tinha salada, arroz, espera... Ele fritou batatas – eu tinha batatas? – e ao lado estava um prato com missoshiru. Não deve estar bom, foi o Shizu-chan que fez.

 Comecei a comer sob o olhar atento dele... Está bom, o monstro sabe cozinhar, que assustador. Ele sorriu vitorioso diante da falta de comentários maldosos e começou a comer.

— Shizu-chan? – Chamei.

 Ele me encarou em silêncio.

— Quanto eu te pago para você cozinhar para mim todo dia? – Perguntei sério.

— Nem pensar, eu já estou arrependido de estar aqui. – Ele disse.

— Hoje não é quarta-feira? Você não trabalhou hoje. – Constatei.

— Sim, consegui folga. – Ele disse.

 O Shizu-chan pediu folga para ficar aqui cuidando de mim? Droga, eu não devia gostar desse Shizuo do multiverso. Existe alguma forma de conseguir um Shizu-chan metade gentil e cuidadoso e metade monstro destruidor?

— Para de me encarar fixamente, ta me dando vontade de te afogar no misso. – Shizuo disse.

 Sorri desviando o olhar.

 Assim que terminamos de comer liguei para a Namie-san, pedindo para ela vir amanhã normalmente, depois de ouvi-la desapontada pela minha sobrevivência, ela confirmou que viria. Vi o Shizu-chan terminando de lavar a louça.

— Shizu-chan, faz café para mim? – Sorri o vendo estreitar os olhos.

 E ele foi fazer. Isso até que é divertido, mandar o monstro fazer as coisas para mim, sinto que ficarei mimado em pouco tempo. Ele deixou o café passando e parou ao meu lado, levantei os braços o vendo suspirar irritado antes de me carregar... Ele não vai nem contestar o fato de que eu poderia usar as muletas? Por mim tudo bem, é como se o Shizu-chan fosse meu escravo.

— Não vou subir ainda, me coloca ali. – Falei apontando para a minha mesa de trabalho.

— Vai trabalhar desse jeito? O médico disse repouso. – Ele me olhou incrédulo.

— Eu estarei de repouso, na cadeira, trabalhando. – Sorri.

 Ele desistiu e me levou até lá, sentei na cadeira ligando o computador e pegando meu celular checando os emails. Estranhei o silêncio e logo senti cheiro de nicotina, senti a raiva me consumir. Peguei uma caneta jogando na direção do Shizu-chan e arrancando o cigarro dele à força, derrubando no chão.

— Era o último! – Ele reclamou.

— Fumava lá fora! O que tem de errado com você? Não sabe viver em sociedade?! – Rebati.

— É o seu apartamento, eu não ligo! – Ele disse.

— Devia ligar. Eu posso não estar no meu melhor estado, mas você me conhece o bastante para saber que eu posso transformar a sua vida em um inferno até em estado vegetativo. – Falei sério, ele se calou na hora.

 O vi recolher o cigarro do meu piso obediente.

— Você é tão irritante. – Ele sorriu, senti meu coração falhar uma batida.

 Desviei o olhar para o computador já ligado, segui para os dollars e para os arquivos de informações, abri o email e logo a conta do banco, estava na hora de voltar ao trabalho, essa história de coma só me fez perder tempo, espero que os clientes cancelados ainda queiram negociar.

 Estava organizando tudo, enviando informações e coletando novas, quando uma caneca de café puro foi deixada ao meu lado, levantei o olhar para o Shizu-chan, ele se virou e se afastou, sentando no sofá assistindo TV, por que não consigo tirar os olhos dele? Eu realmente não precisava desse amor de volta.

 Percebi que ao lado do café estava uma cartela de comprimidos para dor. Senti meu coração acelerar e evitei olhá-lo de novo, aquilo era injusto. Tomei um gole do café com o comprimido, quando pensei que poderia voltar ao trabalho percebi que está cada segundo mais difícil tirar os olhos do Shizu-chan. Fechei os olhos encostando na cadeira e a virando de costas para ele, toquei minha mão, era como se ainda pudesse sentir a mão dele segurando a minha, mesmo depois de tanto tempo.

Por que o Shizu-chan está sendo legal comigo? Qual o problema de agir como sempre? É estranho, ele não parece real, eu gosto do Shizu-chan de verdade, não essa imitação contida.

Não gosto disso,

Não sei lidar com isso,

Não quero lidar com isso.

Não agora, depois de tantos anos.

 


Notas Finais


Opa, será que temos um informante em negação? kk
Digam o que acharam, até o próximo!


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