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História I'm Never Letting You Go - E Se Fosse Real


Escrita por: RafaelaRuna

Notas do Autor


GENTEEE!
Não, vocês não estão surtando. Realmente tem capítulo novo HUEHUE Inclusive o nome dele reflete bem a situação HUEHUE
Estou vindo nesse tom bem humorado mas estou muito triste por ter deixado tanto tempo sem atualizar :c
Faculdade + estágio = sem tempo para nada. Me desculpem mesmo :'c
Espero que não tenham desistido de mim, da minha fic ou de Jaspis <3
Fiz bem grande para compensar a demora, espero que gostem!
PS: para quem não lembrar onde paramos, nossos casais lindos estavam prestes a irem passear no píer.
PS2: tem romance, bads pesadas, emoção, feels, referências...tudo que vocês já conhecem xP
PS3: esqueci de escolher imagens para o capítulo, desculpem kkkk Mas no próximo eu volto a colocar!
PS4: foi mal por não ter respondido os comentários ainda :x Mesmo assim, eu li todos com muito carinho e agradeço por vocês me dedicarem esse agrado :3 Não deixem de comentar, por favor >u<
Beijinhos da Rafa (que não morreu) e que nunca esqueceu de vocês :***

Capítulo 9 - E Se Fosse Real


Respirei fundo ao me olhar no espelho da minha penteadeira. Apesar do imenso desconforto que isso me trouxe, eu realmente precisava fazê-lo. Não poderia sair com Jasper, que me aguardava na sala, sem ter certeza que estava impecável.

Eu ouvia nitidamente sua voz, e também da Ametista, reverberando da sala. Imaginar um sorriso se abrindo em seu rosto, surpresa ao me ver mais arrumada, fazia cada segundo caprichando no visual valer a pena.

Vesti uma regata azul marinho, bastante justa e confortável, que deixa algumas porções discretas de meu sutiã preto à mostra...imaginei que seria um charme provocante e, ao mesmo tempo, sutil. Procurei minha saia preta com detalhes em lantejoulas, porém ao não encontra-la, acabei optando por uma um pouco mais curta, também preta. Com esta, Jasper certamente olharia as minhas pernas, então a sutileza que eu pretendia manter se esvaiu. Para finalizar com um toque fofo, calcei sapatilhas azuis com um pequeno lacinho em couro de tom caramelo, para combinar com a bolsa de couro sintético marrom e com franjas.

Ao terminar de arrumar meu cabelo e domar o volume da minha franja, saí timidamente do quarto, andando vagarosamente pelo corredor. Assim que o atravessei por completo e, enfim, cheguei na sala, os olhares foram atraídos magneticamente para mim. Elas mantiver um olhar analítico sobre mim, e permaneceram em silêncio por alguns instantes. Jasper, em especial, pareceu sugar a porção reveladora de minhas pernas com seus olhos amarelos e carregados de intensidade, tanta que me obrigou a desviar o olhar dela e tentar pensar em outra coisa para me distrair.

- Caramba! Está nos trinques, Lápis! - Exclamou Ametista, preenchendo o ambiente com sua voz alegre. Estava grata por ela ter me resgatado daquele estado de vergonha.

- Obrigada. - Sorri, gentil, sem saber o que acrescentar. Pareceu bastar para ela, que manteve a expressão receptiva.

Apesar de estar grata pelo elogio, não era bem dela que eu queria ouvir, e sim de sua irmã. A maior permaneceu em silêncio, ainda fitando-me com aquele olhar luxuriante que me derretia como se eu fosse uma lesma em quem ela jogasse o estoque semestral de sal de uma churrascaria.

Por fim, manifestando-se, ela pigarreou grosseiramente, indo até a cozinha. Ela olhou-me indiscretamente durante seu trajeto, ajudando-me a compreender que era um pedido para que eu a seguisse. Ametista, que ficou encarando o lugar no sofá onde sua irmã estava sentada até então, confirmou minhas suspeitas.

- Eu iria se fosse você. E sobre essa saia...se conheço minha maninha, ela vai adorar. – Sua entonação sugestiva me trouxe um pouco de apreensão, mesmo assim nem sequer considerei reclinar.

Assenti com a cabeça, deixando-a só na sala, e indo ao encontro de Jasper. Quando adentrei no cômodo, emoldurado por azulejos brancos de todos os lados e móveis da mesma cor, ela estava encostada à parede.

Seu olhar sedutor logo me bombardeou, e me deixou completamente em brasa. Devolvi, da mesma maneira, sentindo a conexão entre nossos corpos florescer dentro de mim. Ela sorriu com o gesto, aproximando-se perigosamente.

- Eu nunca pensei que diria isso...mas uma mulher como você me faz ter vontade até de ser submissa, só para te ver no controle... – Sua voz rouca me atingiu como o vento de um poderoso tornado, desconcertando-me.

- Você tem fetiche por essas coisas? – Perguntei timidamente, curiosa e quase me atirando da janela do quarto andar de constrangimento.

- Acho que agora tenho.

- Revelações ao vivo aqui.

Ela riu do meu comentário, envolvendo meu corpo estreito com seus braços poderosos e me encarando bem no fundo dos meus olhos. Tentei descontrair o clima sexy do momento com uma piadinha, e no fim só consegui aumentar o desejo dela...e confesso que o meu também.

Cansada de apenas observa-la, envolvi seus ombros com meus braços e a puxei para um beijo, que rapidamente fora retribuído. Senti minhas bochechas pegando fogo, e não poderia negar que adoro essas sensações.

Realizando as palavras proféticas de Ametista, Jasper acariciou minhas coxas por inteiro, levantando a porção da saia que a atrapalhava para fazê-lo. Seu toque me arrepiou, e também trouxe outro teor à minha abordagem.

Aprofundei o beijo irresponsavelmente, sentindo a língua dela se mover em simbiose com a minha. Calafrios já eram coisas do passado em comparação ao que eu estava sentindo. Meu sangue fervia, como se eu fosse explodir em seus braços a qualquer momento.

Suas mãos, ainda explorando a pele escondida pela saia, ousaram subir até minhas nádegas. Ela fincou seus dedos em minha carne, obrigando-a a ocultar um gemido baixo em seus lábios.

Sua saliva e a minha já haviam se tornado uma só, e minhas mãos jaziam sobre as sua camisa xadrez vermelha já desabotoada, a fim de tira-la. Sob a peça, uma regata branca decotada, que eu estava desesperada para arrancar também.

Entretanto, passos na sala chamaram a nossa atenção. Por que as interrupções sempre acontecem na melhor parte? Se tem alguém escrevendo o meu destino, saiba que eu quero te esganar!

- Aí está a minha garota! – Um ruído de beijo sugeriu que Ametista fora até Peridot e matou a saudades, pelos minutos de ausência da outra no quarto, calorosamente.

- Cadê as tontas? – A voz de Peridot também soou, um pouco desgostosa.

- Estão se pegando loucamente na cozinha.

- E você deixou? Eu que limpo o chão, e não quero encontrar calcinhas perdidas sob a mobília!

- Não deu tempo de rolar nada, Dot! Faz só uns cinco minutos!

- Já viu a cara da sua irmã? Ela certamente é capaz de fazer muita coisa indecente em trezentos segundos!

- É, pensando assim...

Jasper e eu nos afastamos, tentando uma esconder a vergonha da outra. Ela inclusive disfarçou o seu adorável rubor com suas mãos, virando-se para o lado. Achei tão fofo que tive que beija-la na bochecha, apenas para fazê-la corar mais ainda.

- Não pense que eu acabei. Estou apenas começando com você, tigresinha...  – Sussurrei, com coragem vinda sei lá de onde. Seja lá o que deu em mim, ela pareceu gostar.

Puxei-a pelo braço até a sala, onde ignoramos o fato de estarmos descabeladas, e nos juntamos ao casal alface. Um alface verde e um alface roxo. Ou casal repolho. O que você preferir.

- Pronto, estamos aqui! Chata... – Reclamei, revirando os olhos para Peridot.

- Vamos logo! Tenho muito vídeo game para jogar hoje! – Ela apressou, dando de ombros meu descontentamento.

- Tão inúteis quanto você!

- Espero não ter sido multada. Estacionei o carro em lugar proibido. – Ametista interrompeu nossa discussão.

- Vamos a pé. A vista da orla é muito bonita para perder com o vidro imundo e anti-higiênico do seu carro. – Censurou Peridot, equipada com seu tênis de sempre, e mais uma camiseta preta de ET e uma calça jeans justa e surrada.

- Pode ser. – Jasper não se abalou, confiando no potencial de suas pernas longas, vestida com uma calça justa e preta, complementada por seu típico All Star vermelho.

- Ok, tanto faz. – Concordei, expressando um certo desânimo com a caminhada.

 Fomos as quatro em direção à porta do apartamento, onde Ametista e Peridot se estreitaram para saírem ao mesmo tempo. Fingi que não tinha reparado, deixando Jasper sair na minha frente para que eu pudesse trancar a porta.

Ela ficou ao meu lado o tempo todo, aparentemente me olhando. Também tentei esconder que havia percebido isso, vidrando os olhos na maçaneta. Contudo, me sabotando, ela puxou delicadamente a porção do meu sutiã que regata não recobria.

- Que bonitinho. – Comentou, sorrindo tentadoramente para mim.

- Obrigada! – Gritei em sobressalto, apenas para encerrar o assunto logo e me impedir de surtar num nível que me privasse da minha dignidade.

Tranquei a porta e guardei a chave em minha bolsa de franjas, apanhando a mão de Jasper junto à minha logo em seguida. Eu estava praticamente implorando para andarmos de mãos dadas, e ela acatou a ideia alegremente.

- Se já tiverem parado de babar uma pela outra, podemos ir? - Peridot pressionou, digitando apressadamente em seu celular. Ela voltou do térreo, onde ela e a Ametista chegaram antes de nós, somente para me apressar.

- Você toca algum instrumento, brigadeirinho? Com essa agilidade toda nos dedos... – Ametista surgiu do elevador, meio desatenta a nós, junto com a loirinha chata. Peridot corou com o comentário dela, mesmo incompleto, provavelmente ludibriada com lembranças da noite que tiveram juntas.

- Não.

- Poxa! Nenhum mesmo?

- Já disse que não!

- Quando ela fica assim é por quê está aborrecida por alguém não respondê-la. Deve ter algo a ver com esse frenesi de digitações. - Esclareci para Amy, que me direcionou um olhar de agradecimento pela dica.

- Aborrecida está você, sua tonta! - Defendeu-se Peridot, com sua adorável (só que não) mania de ser chata.

- A baixinha vai ter um ataque de pelanca! - Zombou Jasper, sendo vigorosamente fuzilada pelo olhar da nerd ofendida.

- Para o seu governo, Whey ambulante, estou tentando falar com uma amiga! A ausência de qualquer atenção por parte dela me exaspera!

- Não aguenta ser ignorada?

- Somente uma estúpida como você presumiria isso!

Peri inflou suas bochechas, numa tentativa de alguém leva-la a sério...mas aquela carinha de fã de animes não é nada convincente quando tenta expressar raiva. E claro que a altura não ajuda muito também.

- É a Rubi? – Deduzi, haja vista que a loirinha não tem muitas amigas além de nós ou nossas queridas vizinhas.

- Talvez. Ah, quer saber? Sim, é ela! - A pequena relutou em admitir, apesar de ser meio óbvio.

- Gatinha, se ela e a Safifs se divertiram tanto quanto a gente ontem, devem estar exaustas! – Ametista piscou para Peri, que corou fortemente e emitiu um gritinho baixo.

 - Até que faz sentido.

- Se faz!

- Ametista, a domadora de feras implacáveis. – Debochei, trazendo um riso descontraído ao rosto redondo da minha cunhada.

 Após uma série de reclamações de Peridot que não valem a pena mencionar, descemos pelo elevador e em seguida saímos do edifício, já tomando rumo para o píer. Não era muito longe, cerca de quinze minutos de caminhada.

O trajeto foi bastante tranquilo, ignorando o fato que Ametista tomou um tombo numa lombada. Claro que ela, eu e Jasper rimos como se não houvesse amanhã, enquanto Peridot reclamava por não estarmos sendo prestativas.

Após averiguarmos que não haviam danos significativos, seguimos em frente. Ao finalmente chegarmos, nos apressamos na bilheteria, para não termos que encarar filas muito grandes. Enquanto esperávamos, e eu continuava de mãos dadas com Jasper, tive a chance de olhar os arredores.

Estava exatamente igual à última vez que o visitei: apenas um píer como outro qualquer, com um mini parque de diversões, chamado Funland. As atrações mais famosas são a montanha russa e a roda gigante reformada (depois que um moleque piromaníaco ateou fogo na original). Entretanto, o que cativa imediatamente no lugar é o extenso corredor de jogos de sorte, como de pontaria com balões ou argolas.

 - Considerando que te prometi bichos de pelúcia, já sabemos por onde começar. – Jasper sorriu lindamente, envolvendo a minha cintura com um braço e me aproximando dela.

 Assim que compramos os ingressos, Ametista e Peridot saíram correndo para a montanha russa imediatamente. Se elas tivessem esperado, eu teria aproveitado para avisar que elas não têm altura para entrar. Risos maléficos para complementar.

Jasper e eu, que observamos as duas correndo em disparada, nos dirigimos calmamente até o corredor de jogos de sorte. Começamos com os que tinham brindes mais bonitinhos.

Cada uma de nós tinha direito a um número limitado de tentativas inclusas no valor do ingresso, e se quiséssemos tentar mais vezes, pagaríamos um adicional. Todas as minhas tentativas de acertar argolas, mirar em alvos, derrubar patinhos de madeira e tudo que você possa imaginar, falharam miseravelmente. Jasper, que sempre jogava em seguida a mim, tinha o resultado exatamente oposto. Mira perfeita, precisão e força...eu já mencionei que babei o tempo todo?

Em meia hora, ela estava carregada de bichinhos de pelúcia. Os que já não cabiam mais em seus braços, eu acabei levando. E ela ganhou cada um deles para mim! Promessa mais do que cumprida.

Enquanto passeávamos pelo parque, uma cabine de fotos chamou a minha atenção. Fiquei a encarando por alguns instantes, imaginando eu e Jasper tirando nossa primeira foto juntas. Meu coração se encheu de fofura, e quando estava prestes a convida-la, percebi que ela não estava mais ao meu lado.

Meu coração parou. Tive os dez piores segundos de pânico da minha vida, até que a vi pechinchando algodão doce com um vendedor de guloseimas. Ela voltou brevemente, trazendo um imenso algodão doce azul escuro, da minha cor preferida.

- Não sei se você gosta, mas...quis fazer uma surpresa. – Jasper esticou-o para mim, deixando que eu apanhasse o palito de suas mãos.

- Obrigada, tigresinha. - Abri um sorriso tão grande que os cantos da boca doeram.

- Está meio pálida. Tudo bem?

- É que eu me desesperei quando percebi que você não estava comigo. Tive que surtar primeiro para te procurar depois, sabe?

- Desculpa! É que eu queria muito fazer surpresa.

- Não tem problema, foi adorável! E quero pedir mais uma coisa...podemos tirar uma foto ali na cabine?

- Você fica tão fofinha pedindo as coisas. Assim não dá para resistir.

Dei um riso de porquinho e segurei sua mão, guiando-a comigo até o pequeno espaço velado por uma cortina vermelha. Deixamos todas as pelúcias no chão, programamos o tempo da máquina e nos posicionamos.

Agarrei-me a sua cintura, enquanto Jasper me envolveu protetoramente com seus braços fortes. Me senti engolida por eles, e foi tão bom. Deixei o algodão doce um pouco abaixo do meu rosto, e aproveitei para comer alguns pedaços enquanto o sistema carregava.

O primeiro flash brilhou, e registrou nossa foto abraçadas. Jasper e eu nos entreolhamos em busca de outra posição. Ela acabou pegando um dos bichinhos que estavam no chão e o colocando sobre seu colo, enquanto eu coloquei um pouco de algodão doce na boca dela. Acabamos rindo, e o flash capturou exatamente esse momento. Por fim, sabendo que seria a última, nos ajeitamos para conseguirmos nos beijar. E de forma sincronizada e natural, nos beijamos, nem percebendo que o flash brilhara.

Ao nos separarmos, envergonhadamente, notamos que a máquina já havia nossas fotos. Estavam ali, lindas, uma sequência para mim e outra para ela. Assim que olhamos o resultado, foi impossível parar de sorrir.

Nos cantos, um ou outro bicho de pelúcia participaram de penetras, enquanto no centro nós duas preenchemos o foco com feições ruborizadas na primeira, risos espontâneos na segunda e um beijo perfeito na terceira. As fotos eram tão apaixonantes quanto a minha companhia.

- Vou guardar para sempre.  – Anunciei, observando seus olhos brilharem com a notícia.

- Você já está no meu coração para sempre, mas vou guardar também mesmo assim. – Respondeu-me, beijando meus lábios com ternura.

Voltamos a caminhar pelo parque, quando duas figuras voltaram para perto de nós. O casal repolho/alface, é claro.

- Olha, Lazuli! A Ametista trapaceou no jogo de acertar as argolas e ganhou para mim! - Peridot gritou, extasiada, segurando um alien de pelúcia verde e cabeçudo, quase do tamanho dela, com uma cartola preta e uma gravatinha vermelha.

- Olhe o que a Jasper ganhou para mim sem precisar trapacear. - Mostrei os inúmeros bichos de pelúcia que Jasper carregava, e a expressão da nerd fechou-se imediatamente. Ri discretamente dela, e também fiquei bastante feliz pelo sorrisinho que Jasper abriu por eu exibi-la dessa forma.

- O meu é mais legal que todos os seus juntos!

- Eu tenho um igual ao seu aqui também, só que o chapéu é diferente.

- Até os cocôs do Pou são mais legais que você!

- Hey, mana, está de burrinho de carga hoje? - Brincou Ametista, rindo da sobrecarga de olhinhos de plástico das pelúcias que rodeavam a irmã.

- Talvez unicórnia de carga. - Esta lhe respondeu, com um ar descontraído em suas feições.

 - Aposto que já foram em todos os lugares legais deste parque.

- Quase todos.

- Nós também. Falta arranjar uma forma de enganar o guardinha da montanha russa.

- Encontrei uma forma. Me acompanhe. – Peridot puxou Ametista, fazendo as duas sumirem na multidão daquele entardecer.

Ri baixo, olhando para Jasper. Ela pareceu animada com alguma coisa. Seus olhos brilharam daquela forma ardente e linda.

- Roda gigante? – Sugeriu. Entendi o motivo de seu êxtase repentino...é a atração do parque preferida dos casais.

 - Claro. – Assenti, não tentando nem um pouco disfarçar que eu também queria dar uns chamegos nela.

- Mas antes...podemos nos sentar um pouco? Esses bichinhos pesam!

- Tem um banco bem ali.

Fomos até lá, nos encostando ao frio assento de metal, deixando a cabeça pender sutilmente para trás. Não era o lugar mais confortável do mundo, mas para mim estava ótimo só pela presença da Jasper.

Um show informal começou num palco bem próximo de onde nós estávamos, e um cara cabeludo começou a cantar. Nos distraímos brevemente com ele, até que uma figura se aproximou.

- Jasper? É você? - Uma mulher de voz doce e tranquila abordou a Jasper, que quase engasgou ao vê-la.

- Não. - Ela respondeu, olhando a enorme mulher de cabelos rosa como se ela fosse um parasita radioativo.

 - Hm...está bem.

A estranha se afastou, sem deixar de nos olhar. Ela estava em meio à pequena plateia do músico. Quando a desconhecida focou no show, Jasper explicou-me de quem se tratava.

- Disfarce. É a Rose. – A voz de Jasper estava séria e irredutível.

Fiquei inconformada. Era inconcebível que alguém com um jeito tão meigo fosse capaz de fazer as coisas que ela fez. Fitei-a com certo receio, com medo de ser percebida. Pele alva, biotipo extremamente forte e corpulento e...estava grávida!

Ela acabou percebendo meu olhar, e voltou para onde estávamos. Me xinguei mentalmente de todos os nomes que você pode imaginar por isso.

- Jasper, não seja boba, você é inconfundível! – Rose deixou um sorriso discreto se formar no canto dos seus lábios, que Jasper repudiou com veemência.

- Você se enganou. – A loira respondeu à gestante, que ficou visivelmente incrédula com a resposta.

- Está falando sério? Sei que é você!

Jasper perdeu sua paciência, e suas sobrancelhas derrubadas sobre os cantos internos dos olhos deixaram isso bem claro. Com os punhos cerrados, ela olhou a rosada bem em seus olhos negros.

- Não queria xingar uma grávida, mas parece que vou precisar. - Jasper bufou, irritada pela conversa ter se estendido até aquele ponto.

- Continua brava comigo? – Rose cruzou os braços. Não parecia surpresa.

- Caramba! Não me lembrava que você tinha tanta dificuldade para entender as coisas!

- Já disse que não era eu naquela van. Não fui eu quem bateu no carro da sua mãe...

- Guarde essas desculpas para quem não te viu com seus próprios olhos. Talvez a eles você convença com essa sua conversinha mole.

- Ela ficaria arrasada se visse você me tratando assim. Sabe que a Pink me adorava.

- Adorava mesmo. Ela tinha dedo podre para o caráter das pessoas.

- Pare de falar assim! Eu ter ficado com a sua vaga no Exército foi só uma coincidência terrível. Pare de remoer isso!

- Dane-se.

- Grossa como sempre...

- Se me dá licença, estou muito ocupada com gente que vale a pena para te dar atenção. Passar bem...bem longe de mim.

O olhar de Rose, antes radiante, agora salientava a tensão do momento taciturno. Seus olhos, antes cravados em Jasper, se desviaram para baixo...para a minha direção.

- Vejo que está acompanhada por uma mocinha linda. – Ela comentou, com cordialidade na voz. Era quase amável.

- É a minha namorada. – Jasper desconversou. Fiquei contente por ela barrar as intimidades que Rose tentara tomar sobre nós, especialmente impondo um compromisso. Se eu adorei? É claro!

- Noiva, na verdade. – Entrei no jogo. Certamente não haveriam mais chances de Rose puxar assunto depois dessa.

- Exatamente. Me perdoe. É meio recente...vivo me esquecendo.

Jasper piscou discretamente, agradecida por eu tê-la ajudado a driblar as perguntas. Rose, sem mais beira para se apoiar, decidiu encerrar o embate, abordagem, seja lá como ela tiver chamado.

- Felicidades. – A gestante desejou, levemente a contragosto, porém com uma sinceridade simpática na voz.

- Para o seu bebê também. – A loira encerrou, segurando minha mão e me guiando para longe de lá. Rose ficou parada, apenas nos encarando partir.

Quando nos afastamos, já no rumo da roda gigante, Jasper respirou aliviada. Não tive coragem de comentar nada no caminho. Sabia que seria mais oportuno questionar quando estivéssemos a sós.

Ao entrarmos na área da roda gigante e subirmos uma pequena escada para chegarmos até as reclusas cabines, sentei-me no espaço banco de metal. Jasper dispôs as pelúcias no chão do recinto, sentando-se ao meu lado em seguida. Havia leveza em suas feições, agora que se livrara do peso.

 Decidi abordar o assunto. Aquele suspense estava me consumindo, e parecia estar consumindo-a também. Eu queria entender o que estava acontecendo, e queria entender naquela noite.

 - Jasper, meu amor...tenho que te dizer uma coisa. – Segurei suas mãos, virando-me para ela e olhando bem no fundo de suas íris douradas, misteriosas e amplas.

- Sou toda a ouvidos. – Ela fora receptiva, aproximando seu rosto do meu para assegurar que eu tinha sua total atenção.

- Antes de te conhecer, eu acreditava que seria impossível encontrar alguém tão incrível quanto você. E caso encontrasse, eu tinha certeza que nunca teria chances. Então você apareceu...e me provou o quanto eu estava enganada. Você está me fazendo a garota mais feliz do mundo!

- Que fofinha.

- E eu quero retribuir! Quero estar com você por todo o tempo que o futuro nos permitir! Tenho essa necessidade de te fazer sorrir, ser a pessoa em quem você pensa antes de dormir e o motivo dos seus suspiros e distrações quando você se pegar pensando em mim. Só que neste momento, eu sinto que preciso ser uma pessoa confiável, alguém com quem você possa se abrir. Eu estou aqui para isso, e quero entender o que está acontecendo. Afinal, quem é essa Rose Quartz?

Me encolhi, morrendo de vergonha, abraçando minhas pernas. Ela, em reação, acariciou minha nuca e meu pescoço, fazendo-me olhar para ela timidamente.

- Só quero fazer uma fofoca antes: aquele cantor é o namorado dela. – Jasper comentou, com um sorriso debochado.

- Deve ser o pai do bebê. – Concluí, e ela concordou com a cabeça.

 - Deve sim...e o que quer saber exatamente sobre ela?

- Você ainda guarda tanta mágoa dela. Por que?

- Se eu não tivesse dado a volta por cima do que Rose fez, meus sonhos poderiam ter sido destruídos para sempre! E isso tudo de que ela poderia ter me privado durante a vida toda significou tão pouco que ela largou tudo para se dedicar a arrancar erva daninha do mato da casa dos outros!

- Ser jardineira é uma profissão honrada e honesta, Jasper. Não menospreze dessa forma...

- Eu não ligo.

Ela cruzou os braços, com o cenho franzido e transmitindo irritação. Algo me disse que havia algo além disso...algo que ela estava escondendo de mim.

- O seu ódio contra a Rose não é só por causa da vaga, não é? – Perguntei, fingindo estar confiante no palpite, enquanto na verdade era somente um tiro no escuro.

- Não. – Jasper admitiu, deixando a tristeza invadir seu rosto. Fiquei imediatamente preocupada com ela, seu estado parecia frágil e melancólico.

- Me conte o que houve.

- Eu não posso.

- Por que não?

- Eu te conheço há tão pouco tempo...e escondo isso da Amy desde sempre.

- Não estou entendendo.

- Ela ficaria tão arrasada se soubesse...é uma coisa devastadora.

- Foi a Rose que atropelou sua mãe?

Os olhos amarelos focaram em mim. Ela ficara chocada com a minha pergunta. Por fim, respirou fundo e decidiu se abrir de uma vez.

- Naquela época, eu e a Rubi tínhamos chamado uma galera para assistir a gente competindo na pista de skate. Como sempre, ela ganhou...e eu fiquei bem chateada com isso. Então pensei que poderia desabafar com a Rose, afinal falar com ela sempre me acalmava. – Ela começou sua narrativa, olhando para baixo. Em momento algum seu rosto encontrou o meu, até que afastei uma mecha de seu cabelo, trazendo o seu olhar para mim.

- Sim...continue.  – Compreendi. Ela queria falar com a melhor amiga, na época, para aliviar suas frustrações.

- E foi no caminho da casa dela que vi o carro da minha mãe. Eu ia acenar para pedir uma carona, mas em instantes o carro tinha sido atingido por uma van e arremessado para fora da rua. Fiquei olhando aquilo, sem entender nada, até que vi a van que colidiu com ela. A van do maldito namorado da Rose...e ela estava dirigindo. Eu a vi, inclusive na hora que ela fugiu...

- E como ninguém sabe disso? A polícia não interviu em nada? Sem investigações?

- O pai dela é o chefe da polícia. Testemunhas relataram terem visto a Rose. Só que sabe, a filha era uma menor sem habilitação dirigindo um veículo alheio, e ele deu um jeito delas mudarem a versão dos fatos. Colocaram nos registros oficiais que era uma motorista de cabelos rosa, mais nada.

- Nossa...que pesado.

- Não tenho nem comentários sobre o que sinto.

- Por que não contou para a Ametista?

- Não quero que ela também carregue esse fardo de saber quem tirou nossa mãe de nós e ser incapaz de fazer justiça.

- Sei que deve ser difícil se abrir sobre um assunto tão delicado, especialmente por você estar guardando essa dor só para você há tanto tempo...então prometo que nunca vou contar sobre isso para ninguém, não importa o que aconteça. Obrigada por confiar em mim.

Seus olhos se voltaram para mim, arregalados e com lágrimas que teimavam em cair, reluzindo contra a luz da lua. Ela então me cercou subitamente com seus braços, abraçando-me calorosamente. Seu alento me ludibriou, e eu apenas pude concluir que sou a pessoa mais sortuda do mundo por tê-la.

- Ainda bem que eu te encontrei. - Murmurou com angústia, como se as emoções ainda a ferissem severamente.

A monumental força de seu abraço me esmagou contra seu imenso corpo, sempre quente e aconchegante. E foi tão maravilhoso quanto sempre, todavia muito mais forte e profundo.

- Não sei o que faria sem você na minha vida. – Ela sussurrou, em meio a um suspiro, beijando-me delicadamente nos lábios. Seus dedos compridos acariciaram meus cabelos, enquanto meu rosto afundava no vale de seus seios.

- Estou aqui. – Reafirmei, tentando lhe passar firmeza e segurança. Afaguei seu rosto com as mãos, fazendo-a relaxar e sorrir novamente. Meu coração se encheu de glitter ao vê-la feliz novamente.

- E me perdoe por esse momento mais pesado que mercúrio Acme.

- Meep meep.

Ela riu, lindamente, com aquela rouquidão que já mencionei os efeitos em mim. Seus olhos, agora transparecendo alívio e gratidão por meu apoio, encontraram os meus. Pensei que seria apenas uma troca de olhares apaixonantemente fofa, como de costume, no entanto havia algo mais lá...algo que deixou meu estômago em brasas.

Tentei mascarar o rubor que se estampou em minhas feições com um sorriso descontraído, mas não funcionou. Era impossível deixar de lado aquele desejo, que se manifestava violentamente, chacoalhando em minha barriga. Eu estava ficando...excitada?

Não houve tempo para que eu pudesse chegar a uma resposta. Jasper me tomou para si, em um beijo luxuriante, numa espantosa fração de segundos. Sua boca, quente e úmida, encontrou-se em uma perfeita harmonia com a minha. Nossas línguas passaram a participar rapidamente do momento, também sincronizadas, entrando no ritmo prontamente. A forma que nossos beijos se completam sempre me encanta. 

Assim tão repentinamente quanto começamos, nos separamos. Jasper, bem ao meu lado, respirou profundamente. Segurei sua mão com força, fazendo o mesmo. Estávamos surpresas com as sensações que se desenvolveram ao longo daquele beijo. As coisas estavam esquentando gradualmente entre nós.

Envergonhadas com a situação, olhamos para direções aleatórias por alguns segundos. As pelúcias, distribuídas por todo o chão, nos encaravam com veemência. Ou é o que a minha timidez quis que eu acreditasse.

Incomodada com a atenção que as dúzias de olhinhos de plástico recobriam sobre mim, olhei para Jasper novamente. Para o meu espanto, ou nem tanto porque eu fui avisada por Ametista, ela estava olhando as minhas pernas. Agarrei a minha saia, inconscientemente. Seus olhos pareciam queimar a minha pele, e eu não poderia fingir que não gosto disso...só que mesmo assim tenho vergonha, afinal nada faz sentido nesta vida.

- Sabe que essa saia não vai cobrir muita coisa, certo? – Ela debochou, percebendo a minha vã tentativa de encontrar tecido na peça para cobrir os cambitos alvos.

- É que... – Pensei em arrumar uma explicação ou dar uma desculpa, no entanto só fiquei da cor de um nariz de palhaço.

- Eu sei, estou te constrangendo por olhar descaradamente. Me perdoe, não quis ser...

- Não é isso. O jeito que você olhou me fez sentir coisas.

- Que tipo de coisas?

- Meio pervertidas.

- Então que tal deixarmos essas coisas meio pervertidas completamente pervertidas?

Ela me lançou o seu sorriso mais cafajeste, e me senti incapaz de recusar-lhe qualquer coisa. Eu já estava num momento propício para que propostas indecentes fossem aceitas com facilidade, e ela conseguiu tornar ainda mais intenso.

- Você sabe que eu não vou negar. – Sussurrei, afastando seus cabelos volumosos de sua orelha e beijando seu lóbulo. Ela se arrepiou inteirinha!

Em resposta a mim, senti suas mãos fortes me puxarem pelos quadris e me guiarem até ela. Ela me sentou em seu colo, e agarrei suas vestes para aproximar o seu corpo de mim.

Sua boca logo foi de encontro a meu pescoço, onde seus lábios me atacaram deliciosamente. Os dentes tocaram levemente minha pele, apenas o suficiente para me atiçar.

Suas mãos, que deslizaram sem pudor algum pelo meu corpo, estavam ávidas por me explorarem. Minhas pernas, que ela fez questão de acariciar inteirinhas, tremiam sem parar. Ela, sabe-se lá como, descobriu o quanto minhas coxas são sensíveis, e concentrou seus toques instigantes na região.

Àquela altura, eu só tinha coordenação motora para agarrar o seu cabelo e morder os lábios, por onde ela ocasionalmente passava a língua para me provocar. Eu estava saindo de mim, me encontrava completamente fora do controle...até que percebi onde minhas mãos estavam.

De alguma forma, eu havia colocado os braços por baixo da roupa dela. E por baixo do sutiã também. Em outras palavras, eu estava apertando os peitos dela.

Me assustei comigo mesma, recuando instintivamente. Não consegui resistir a toda aquela área convidativa e, que agora sei, tão tátil e macia...adorei a descoberta, por sinal. O que não adorei foi do quanto eu tinha ido longe.

- Me desculpe! Não quis ser tarada. – Eu não sabia nem como reagir, apenas me desculpava sem parar enquanto Jasper ria da minha vergonha repentina.

- Não posso negar que você tem uma pegada incrível. – Ela comentou, ampliando ainda mais o seu sorriso confiante e lindo. Parecia que estava tudo bem para ela.

- E-eu tenho?

Ela não me respondeu, apenas puxou-me para mais beijos. Nem hesitei em aceitar cada um, deixando que minhas mãos arranhassem seu pescoço forte. Assim que me separei de seus lábios, passei a me concentrar na região já marcada por minhas unhas, beijando cada centímetro impiedosamente e, provavelmente, deixando algumas marcas suaves quando apliquei um chupão moderado. Ela suspirou diversas vezes, e deixou um gemido abafado escapar em outras.

Do nada, a roda gigante parou. Nos olhamos envergonhadamente, ambas sorrindo. Queríamos ser comedidas com a velocidade que iríamos tomar no nosso relacionamento...mas a atração era muito forte. As coisas já estavam começando a acontecer, e num ritmo que fugia de nosso controle.

Após um último beijo, e de reunir nossos pertences descemos de lá. Procuramos por Peridot e Ametista, que já estavam nos esperando perto da saída. Não posso dar detalhes do trajeto porque eu estava tão distante, lembrando do que acontecera, que tudo passou batido.

E após mais um longo período, em que caminhei segurando a mão de Jasper completamente alheia, estávamos as quatro voltando ao apartamento. Após chegarmos, Jasper deixou as pelúcias no meu quarto e se despediu de mim com um beijo caloroso. Ela falou que já estava com saudades, e tudo que fui capaz de retribuir foi que sentia o mesmo, agradecer pelo passeio e lhe dar a lagarta de pelúcia com a qual ela dormira na noite anterior. Ela então agradeceu e foi embora, acompanhada pela irmã.

Não tenho ideia do que aconteceu com Peridot, ou do ET de cartola dela, apenas fui para a cama. Estava atônita. Que pegas eu dei na Jasper, cara!

O quarto estava escuro, e eu estava deitada na cama coberta, completamente incapaz de dormir. Olhava para o teto, como se lá tivesse uma televisão em que o meu dia passava, e me permitia refletir sobre tudo.

Quando a luz foi acendida, cegando-me por alguns instantes, me irritei o bastante para o devaneio me deixar. Para a minha surpresa, com todo o sarcasmo do mundo, era a Peridot.

- Vai ficar olhando para o nada até que horas? – Se irritou, com um pijama cinza de ET e sua xícara do Darth Vader na mão.

- Me deixe em paz. – Respondi, cobrindo a cabeça com o travesseiro.

- Não.

- Sai logo, Peridot!

- O que aconteceu lá? Você está viajando há horas!

- Eu e a Jasper...

- O que?

- Deixe para lá.

- Lazuli, não sou a Safira, portanto não tenho bola de cristal para saber o que se passa na cabeça de uma garota mimada que se parece com a Coraline! Pare de frescura!

- Demos uns pegas nervosos...mais do que deveríamos. Eu agarrei os peitos dela!

- Que bom. Já estava achando que as coisas ficariam entediantes.

- Peri, você não entende! Esse é um passo assustadoramente grande para mim. Estou com medo de mim mesma!

- F-R-E-S-C-U-R-A!

- Ah! Por que eu ainda perco o meu tempo tentando falar com você?

- Você está apaixonada por ela. Ela está apaixonada por você. Vocês são duas safadinhas. Óbvio que daria nisso!

- Posso ter assustado ela!

- A barrinha de proteína ambulante saiu daqui radiante, sua tonta! Não sentiu o chão tremer com ela saltitando? Parecia até que o prédio viria abaixo!

- Mesmo?

- E eu minto para agradar alguém?

Tirei o travesseiro de cima do meu rosto. Por incrível que pareça, até que a Peridot foi útil. Sorri fracamente para ela, e me ajeitei na cama. Estava finalmente em paz o suficiente para descansar.

- Vamos dormir logo. Já está tarde. – Murmurei para Peridot, que me olhou com estranhamento.

- E daí? – Deu de ombros, bocejando.

- Peri, você está gagá? Temos que trabalhar amanhã, será segunda!

- EU tenho. Você não.

- O que? Eu fui demitida?

- Não. É só o dia da sua folga. Esqueceu?

- Completamente!

- Você é estranha. Eu conto nos dedos quantos dias faltam para as minhas folgas.

- Se eu soubesse, teria marcado algo com a Jasper!

- Tanto faz. Eu sempre acabo trabalhando sozinha mesmo.

- Droga!  Perdi uma chance legal de sair com ela!

- Ela não te deu o telefone dela para ficar de enfeite nos seus contatos. Ligue amanhã e fale do seu vacilo bizarro.

- Bem lembrado. Farei isso.

- E, se possível, não banque a chorona se rolar algo a mais.

- Que seja. Agora vai dormir logo que você está um porre hoje!

- Você diz isso todo dia.

Ela bufou, se retirando do quarto e apagando a luz. Estava aliviada por finalmente ter me feito desabafar. Apesar do jeito chato dela, Peridot é uma ótima amiga.

Após me acomodar melhor no travesseiro, consegui adormecer. Porém, no meio do meu descanso, fui surpreendida por um sonho perturbador, em um cenário estranho. Era assustadoramente real.

“Eu estava em meio a uma densa e aterradora escuridão. O vasto e silencioso oceano ao meu redor me trouxe a sensação mais solitária que já presenciei.

Apesar de ser eu ali, curiosamente, não eram os meus olhos que varriam a paisagem dos arredores. Eram maiores, com um campo de visão muito amplo. E mesmo sob a água, o ar não me fazia falta.

Eu sentia as correntes de água marítimas ao meu redor, e também correntes de água em sentido literal. Cada elo, que eu cautelosamente zelava para manter intacto, estava sob meu total controle.

Quando eu me distraía da calmaria oceânica, eu podia ouvir nitidamente uma voz. Soava desolada. Ora ou outra se debatia contra as correntes que a prendiam, e tentava derrubar as estranhas paredes fluidas que a aprisionavam.

Minha prisioneira, quando não estava exigindo sua libertação, chorava inconsolavelmente. Eu, de certa maneira, sentia pena dela. Estava tão esgotada...e eu também. A diferença entre nós é que eu tinha uma motivação para continuar lutando. Ela estava perdida, confusa, só queria voltar para casa.

Às vezes ela sussurrava para que eu a esmagasse com o peso do oceano, que eu mantinha sobre ela no limiar de separar cada átomo de seu corpo.  Ela queria colocar um fim em seu sofrimento de milênios.

Dias, semanas, meses...todo o tempo escoava entre meus dedos como uma maldição. O cansaço tirou o meu controle das correntes, e ela assumiu todo o poder que juntas tínhamos. A mente dela estava nebulosa e eu sabia que havia enlouquecido completamente. Já não sabia mais quem era...achava que eu era parte dela, e que ela era parte de mim. E, repentinamente, tudo acabou.

Em um lapso temporal, tudo havia mudado radicalmente. Eu mudei demais. Passei a ver as coisas de forma bem diferente. Principalmente o que aconteceu entre nós...

Não a odiava mais, muito pelo contrário. Agora conhecia sua história e compreendia seu sofrimento, assim como seu desespero por poder. Ela queria vingar quem amou e perdeu, vingar o que houve em sua casa e, acima de tudo, voltar para lá. Sabia que só recuperaria sua identidade se voltasse para lá.

Porém, a parte que mais doía em mim, era que não houve tempo para salva-la. Foi tarde demais para ela, e o preço que teve que pagar foi muito alto. Não importava o quanto eu tentasse alcançá-la, nunca consegui sequer chegar perto. E ela nunca soube que eu sentia saudades...

Seu corpo, deformado e irreconhecível, exibia a forma de uma besta feroz. Sua mente, bem como tudo que foi e fez, se perdera completamente. Nem de casa se lembrava...Homeworld não significava mais nada.

Ela estava diante de mim. Acariciei sua densa pelagem, até chegar a um de seus chifres. Procurei seus olhos, em vão.

- Me dê um sinal de que você está aí! -Implorei, sem resposta. A expressão vazia dela não mudou em nada.

Olhei-a tristemente. Teria feito qualquer coisa para vê-la novamente, ouvir sua voz ou sentir sua presença...mas ela realmente se fora para sempre.

- Em outra vida eu faria tudo diferente... – Meus olhos se encheram de lágrimas, diante de seu rugido feroz. Cheguei à conclusão que não existem segundas chances.

Da mesma forma que começou a imagem da fera se desfez bem diante de meus olhos. Um frenesi de asas batendo gerou um ruído insuportável, emitido por silhuetas de borboletas prateadas. Elas me envolveram num redemoinho, que me engoliu e fez meu corpo flutuar.”

Acordei em sobressalto, muito assustada e suada. Estava com dor no peito, literalmente no coração. Parecia prestes a enfartar ou sufocar.

Tudo que consegui pensar foi em pegar o meu celular e ligar para Jasper. Senti uma inexplicável vontade de falar com ela, que parecia aumentar a dor. Com lágrimas nos olhos, o fiz. Agradeci demais mentalmente por ela ter me dado o seu número no dia da festa.

Cada vez que chamava e ela não atendia eu me desesperava um pouco. Não aguentava aquela aflição, que tanto me consumia.  

- Alô? – Ela finalmente atendeu, com voz de sono. Fiquei tão feliz...quase gritei por ouvir a voz dela.

 E então acabou. Aqueles sentimentos todos foram embora, e foi a coisa mais estranha que já me aconteceu. Era como se eles não fossem exatamente meus...e sim daquela versão de mim que eu conheci no sonho.

- Vai falar ou só vai ficar respirando na linha? Você me acordou, idiota! Então pelo menos diga alguma coisa! – Jasper exigiu, do outro lado da linha. Ela não sabia que era eu, afinal eu não lhe dei o meu número

- Desculpe. – Tentei disfarçar a voz, a fim de não ser reconhecida.

Desliguei, apenas surpresa por a voz dela ter me tirado do estado “desmoronando em prantos”. Não fazia sentido nenhum. Estive com ela há poucas horas, e no entanto naqueles instantes de angústia pareciam milênios sufocantes, em que eu teria feito qualquer coisa para ouvi-la falar uma vez mais.

 Decidi parar de tentar entender aquilo. Provavelmente ficaria com medo se acabasse refletindo demais, então resolvi guardar o desejo por respostas para posteriormente desabafar com Safira, que certamente entenderia o significado de tudo isso.

Me virei na cama, e consegui adormecer novamente. Dessa vez, sem grandes emoções...e, mesmo assim, grandes mistérios.

Na manhã seguinte, quando acordei, levantei-me fui verificar se Peridot já havia saído para trabalhar. Nem sinal dela.

Mesmo em sua ausência, eu estava determinada a seguir o seu conselho de ligar para Jasper. Peguei o meu celular, de onde eu extrairia o número, e o telefone fixo, para que ela não descobrisse que fui eu que liguei para ela na noite anterior.

Afundei-me no encosto macio no sofá de tecido, constrangida por ligar e incomoda-la no que estivesse fazendo. Mas, por outro lado, estava sentindo sua falta. Queria vê-la de novo.

Tomei coragem e abri na agenda do celular, onde sorri ao copia-lo em meu telefone fixo. Após respirar fundo e ensaiar mentalmente o que eu diria quando ela atendesse, finalmente liguei.

Chamou. Chamou de novo. E eu quando estava prestes a desistir de vergonha, fui atendida.

- É bom que não seja o cara da pizza! Já disse que não sou obrigada a pagar a pizza do sabor errado que vocês mandaram! - Era a voz rouca e intensa dela, soando toda bravinha. Achei uma graça. Ela, aparentemente, é briguenta no telefone.

- Não é o cara da pizza. - Ri timidamente, fazendo os meus sons engraçados de porquinho acidentalmente, e ela acabou rindo também.

- Que honra! Se não é a senhorita Lápis Lazuli!

- Mentira, sou o cara da pizza sim! Cadê meu dinheiro?

Ela gargalhou alto até se engasgar, e pude ouvir alguém no fundo da ligação perguntando se ela estava bem. Ela respondeu que sim, e voltou à nossa conversa, ainda sem fôlego.

- Eu só aceito se você viesse buscar pessoalmente. Quero te ver. - Ela soou incrivelmente fofa, e claro que me derreti toda.

- Adoraria. Onde você está? - Eu queria vê-la imediatamente. Estava muito ansiosa por isso.

- Agora? Estou dando uma força para uma amiga minha da Marinha. Eles estão com excesso de submarinos no espólio deles, então têm testado a possibilidade transformar alguns em uma espécie de atração turística. Sei lá porquê precisam de alguém do Exército presente, mas aqui estou.

- SUBMARINO?

- Oh, você adora o mar, não é mesmo? Não quer vir aqui e dar uma voltinha nele também?

- CLARO QUE VOU!

- Adorei o seu entusiasmo, minha pequena! Pegue o seu menor biquíni e venha aqui!

- Jasper, você é a melhor, eu...espera, você disse "menor biquíni"?

- Eu quis dizer "melhor".

- Quis mesmo?

- Ok, não! Me pegou!

Caí num riso ininterrupto e envergonhado. Quando me recuperei, suspirei de felicidade. Aquela seria a melhor folga de todos os tempos.

- Daqui a pouco chego aí! - Anunciei, preenchida por ansiedade. Eu entraria num submarino!

- Ótimo! Vou estar te esperando! - Ela parecia muito alegre, assim como eu, de tão lisonjeada pelo seu convite.

Me troquei e saí correndo do apartamento, mais pronta do que nunca para encontra-la. Aquela, certamente, seria uma experiência inesquecível e cheia de emoções intensas...eu só não imaginava que de tantas formas.


Notas Finais


Obrigada por ler <3 <3 <3
Deixe um comentário, se puder ^u^ Sua opinião é muito importante para mim!
Kisses da Rafa :***
Até o próximo o/


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