Deixei me consumir.
Eu deixei o medo dominar e, assim, corri de novo do nosso amor corrosivo. A nossa história começou na faculdade, terminou com uma criança magoada e os nossos destinos separados. No início, quando terminamos pela primeira vez, no momento em que JungKook tinha me traído com a secretária, eu pensava que nunca mais o veria.
Mas a quem estou enganando? Eu o amo.
***
—- Esse relacionamento foi tóxico para mim. Eu não quero voltar, mesmo eu o amando no fundo do coração, não posso... — Respirei fundo, desesperada.
O psicólogo olhou para mim, olhos pretos e pensativos. Esperava o término da frase, esperou eu dizer que iria superar esses sentimentos…
— Estou voltando no passado para analisar o apego afetivo que tem com o seu ex-marido, tudo bem? Pode me dizer a última vez que o viu? Lógico, se estiver aberta para falar.
Há dois anos. Quando a guarda compartilhada estava começando a dar certo e o meu fígado se deformava com o álcool.
…
Flashback
— Você não tem vergonha, ____ ? — Uma voz de homem, a qual eu conhecia muito bem, sussurrou para mim.
A menina de bochechas róseas não estava mais na minha frente, apenas um homem e a minha cama de casal sustentando o meu corpo. Hanerul deveria estar no quarto, preocupada com a sua mãe bêbada e sem autocontrole. Os meus olhos tinham dificuldade em focar em JungKook, embaçados e distorcidos. O efeito da bebida tinha ido embora, apenas o formigamento da sensação de desmaiar se apoderou naquele momento.
O seu corpo estava no puff, de frente para o meu corpo, os nossos olhos se fixaram e os seus lábios tremiam. A sua roupa estava formal: um blazer, calça social e o cabelo do jeito que gosto. Os seus olhos eram enigmáticos, não dava para pensar no que estava pensando, mas eu nunca desejei beijar e tirar a sua roupa como naquele momento.
— Eu… — Ajeitei o meu corpo na cama para visualizar o seu rosto. — Não sei, sabe? Não sei ser uma boa mãe.
Jeon JungKook olhou para o meu rosto, abalado com a minha frase e sem palavras para rebater. Balbuciou. Olhou para os lados, nervoso e tentando escapar da minha afirmação.
—- Eu também não fui tão bom para você,____. Eu não te ajudei quando precisou de amparo e fui um idiota nesses últimos anos. Desculpa. — Respirou fundo. — Eu fiquei com raiva por tudo e não pude superar ao seu lado.
Sorri. Mesmo sendo uma cena triste, eu sabia que aquela seria a última vez que nos veríamos. Era uma despedida.
— Eu acho melhor continuar com a guarda compartilhada. Podemos não manter contato, não é? — Indaguei, receosa e com a voz trêmula
— Sim.
…
— E isso… aconteceu assim, nunca mais nos vemos desde então. — Ajeitei-me no sofá, sentada e de frente para a terapeuta.
O fio tênue entre a minha mente e o coração se estalava, a chama ardia faiscando no meu peito. Eu contava todos os relatos, sentimentos com questionamentos para ela. Naquele sofá aconchegante com cheiro de mofo, sentia como se fosse o lar dos sem-controle-emocional-anônimos. Era depressivo, irritante e ao mesmo tempo tranquilizante.
Ar pesado, braços caídos, pernas esticadas naquela sala escura e sufocante. Eu relutava, porém o impulso dominava-me.
— E você ainda o ama? — A terapeuta, mais ou menos jovial, remexeu-se de pernas cruzadas.
Ela esperou.
Ela sabia, sabia disso, sabia mais do que...eu. Sabia!
Diz. Diz a palavra!
— Eu… — Vamos, _____, não é difícil. —- Eu acho que a sessão já está acabando…
Olhei para o relógio na parede pastosa.
— _____, ainda temos cinco minutos.
Engoli em seco.
— Eu sei que não devo fugir dos meus sentimentos, Doutora, mas vivemos muito tempo juntos… é difícil para mim ainda, nós dois saímos machucados desse relacionamento. — Respirei fundo, segurando as lágrimas com força.
—- _____, você não precisa responder. Toma — deu um papel branco A4. — Escreva até semana que vem todos os pontos negativos e positivos desse relacionamento. Separa uma parte para você também, reflete o que precisa melhorar.
Sentei-me no sofá, peguei o papel e agradeci a mesma por não ter me forçado a dizer…
Eu o amava.
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