História Imagine JungKook - Apology - Culpa

― Por que está de olhos fechados? ― Uma voz rouca adentrou nos meus ouvidos, com a minha mão ainda fechada na maçaneta. Sorri, abrindo os olhos aos poucos e tendo uma visão nítida da silhueta.

― Yoongi? ― Fiquei surpresa em vê-lo ali.

Min Yoongi era o nosso padrinho de casamento, um dos nossos amigos mais antigos e que podíamos caracterizar de olhos fechados. Carregava uma bipolaridade extrema, vivia cansado pelos seus turnos extenuante como médico e conduzia uma expressão morna. Olhos levemente abertos, boca fechada em linha reta, a mesma pele branca e lívida, cabelo verde-bebê bagunçado na testa. Utilizava coturnos pretos, casacão de tecido fino até os joelhos, blusa de lã preta e um jeans claro com rasgadões nos joelhos. Uma maleta de metal pendia de sua mão. Não, Yoongi não estava molhado por causa da chuva, deve ter deixado o guarda-chuva na recepção.

― Enfim... ― suspirou, ao notar a minha expressão de decepção ao notar que não era Jung. Yoongi entrou, fazendo-me fechar a porta atrás de si. Pisquei várias vezes, sentindo o meu coração retomar a batida e fitar a nova silhueta se adaptar à penumbra. Virou-se para mim. ― _________, Jung me contou tudo. ― Arregalei os olhos. ― Mas lhe garanto que só três pessoas sabem: eu, você e o narigudo. Porém, em todos os avessos temos que ponderar... ― inclinou a sua cabeça para o lado, contraindo a sua boca em um declive. ― ... não foi certo o que fez... e esse é um dos motivos que Jung me enviou aqui. Ele não tem forças, está destruído.

― Por que... ele te mandou aqui ? ― Sentei-me no sofá, induzindo-o à sentar-se ao meu lado. 

― Por quê? ― Suga me encarou por um segundo. Vendo que o silêncio resolveu emergir, soltou uma pequena risada assoprada e engoliu em seco. Examinou a minha expressão de confusão. ― Ele se preocupa com você, por isso me pediu para eu fazer um diagnóstico.

― Jeon fez isso por mim? ― Os meus olhos brilharam. Com certeza não me odiava.

― Ele pode estar puto, com raiva do mundo e tudo o mais. Todavia, Kook te ama. Ama-te tanto que não consegue deixar de se preocupar com você. ― Um sorriso nasceu nos meus lábios. Suga pôs uma mão em meu braço, sorrindo sem mostrar os dentes. ― Você teve os seus motivos. JungKook planejou tantas coisas e espalhou para Deus e o mundo que está perdido. Entretanto, você se arrepende?

― Sim ― balancei a cabeça, positivamente e séria. ― Queria voltar no tempo, sabe? ― Os meus olhos arderam, enxuguei com o indicador uma que ameaçava cair no olho esquerdo. A minha voz começou a ficar embargada.

― Jung diz que você só está arrependida porque ele foi embora. Já pensou nisso? ― Suga perguntou.

Nunca havia pensado nisso. Dentre todos os sentimentos: culpa, medo, arrependimento. Culpa. Culpa sempre vinha em primeiro, sempre me atingia com precisão. Porém não era uma ‘’culpa'’ como se tivesse perdido algo. Uma verdadeira culpa tão enorme que me fazia sentir vazia, amolecia os meus ossos, um infarto fulminante sem causar reações, um esfaqueamento. Talvez se JungKook concordasse, eu não iria me sentir assim... não sabia dizer. Eram tantos ‘’talvez'’,  não sabia se  iria me arrepender sem ele. Sou tão egoísta assim? Uma verdadeira assassina?

― Suga, eu não sei ― uma lágrima fez um salto mortal no meu olho direito. ― Eu apenas... ― funguei, sentindo uma cascata rolar pelas maçãs do meu rosto.  

― Não irei te pressionar... ― revelou, dando um tapa leve no meu ombro. ― JungKook irá voltar para você, com certeza. O imaturo Jeon não vai aguentar:  ‘’se for para sofrer que seja nos seus braços'’, ele diria.

― Duvido muito... ― soltei no ar, um pouco distraída olhando para a chuva lá fora. 

o o  o

― Isso! ― Suga tentava transparecer alegria, me animar, mas era difícil. ― Levante um pouco a blusa... aí!

 Estava deitada na beira da cama, preparada para ser analisada por ele. Min se sentou em uma cadeira de madeira defronte, abrindo a sua maleta reluzente de metal com um símbolo vermelho ― uma cruz. Parecia concentrado. Pôs luvas de borracha azuis, um estetoscópio encaixado no pescoço e voltou a colocar a maleta no chão.

― Tá frio! ― Reclamei, ao sentir a mão fria dele sobre a minha barriga. A minha pele estremeceu, contraindo-se para o interior, eriçando os pelos da pele e trazendo-me uma onda de eletricidade.

― É só para ver se não estar com nenhum nódulo ― deu uma apertada leve no meu ventre, afundando a sua mão ali. Grunhi, olhando para a sua mão. Yoongi continuou afundando as suas mãos, com o rosto estranhamente concentrado e penetrante no seu ato. Por um momento, ele apertou duas vezes no centro da barriga, fazendo uma careta e voltando ao olhar habitual. ― Bem... ― respirou fundo, afastando-se um pouco e colocando toda a sua coluna na cadeira.

― O que aconteceu? ― O medo abrange em minha face.

― Espere... quero ter uma certeza... ― colocou o estetoscópio gelado, pressionando-o no centro da minha barriga. Ficou parado ali por alguns instantes, franzindo o cenho. 

― Está tudo bem? ― Suga fitou-me, guardando todo o seu material na maleta. ― Min Yoongi!

― Kook lhe visitará de noite. ― Soltou um meio sorriso forçado.