História Imagine JungKook - Apology - Duas mortes

Em um livro, diziam que cada pessoa neste mundo morre duas vezes na vida. A morte começa pela alma, por dentro, quando viramos apenas um receptáculo vazio. Quando a vida nos trás ancoras que nos fazem ficar, como almas penadas. Já a última morte, é quando a vida não faz sentido, as esperanças terminam e a linha longa vira tênue. 

No caso, eu olhei para a cena como se aquilo fosse um caminhão querendo me atropelar, uma ancora me prendendo e eu a alma penada. Apenas mudei a minha expressão de assustada, preparada para chorar, para uma tranquila e sorridente. A mulher saiu de cima de Jung,  enquanto ele continuava paralisado como se tivesse visto um fantasma. Agachei para pegar o papel de divórcio, as minhas mãos soaram, os meus lábios tremiam mas eu sorria. 

Desfilei até ao lado dos dois, atravessando o cômodo com o som do salto alto em cada piso. Eu gritava por dentro, xingava JungKook de todos os nomes, mas eu deveria lidar da forma mais madura o possível. Coloquei a papelada de divórcio na mesa, com a mão tremendo e ergui a cabeça, virando-me para a porta sem olhar para os dois. Eles olhavam para mim, parecia que um foco estava sobre mim, percebia pelo canto de olho. A distância da saída daquilo parecia KM, andei como se tivesse em um palco. Quando cheguei no vão da porta dupla, parando de costas para eles e virando-me para os mesmos aos poucos, sorri de lado. Contemplei os dois rostos assustados na minha frente, a minha vontade era de jogá-los pela janela, mas apenas apertei os meus punhos e inclinei a cabeça para o lado, sentindo o meu cabelo sacudir e dizer, com a maior firmeza extraída de mim:

― Até que vocês se combinam ― engoli em seco, virando de volta para ir embora. 

Enquanto andava pelo corredor, o meu rosto de ironia, a minha personagem, a minha máscara, se desmanchou aos poucos e logo tive que correr para a escadaria de emergência aos prantos. Não queria pegar o elevador e que as pessoas me perguntassem o porquê de estar assim. 

Sentei em um degrau qualquer, com a mão tampando a boca e não acreditando no que eu acabei de ver. As lágrimas rolavam automaticamente, apenas mordi o meu lábio inferior, tentando me controlar e abraçando os meus joelhos ao meu colo. 

Eu havia morrido naquele exato momento, a minha primeira morte.

A dor era tanta, parecia que o meu coração queimava e todas as memórias passavam em alta velocidade. O nó apertava tudo o que havia dentro de mim, eu estava me sentindo tão asfixiada, tão morta, queria apenas não sentir mais isso. Doía muito, eu chegava a tossir com o fluxo de lágrimas. Coloquei as duas mãos na minha cabeça, bagunçando o meu cabelo e me encolhendo mais um pouco. Os meus ombros tremiam, o meu nariz congestionava e eu era obrigada a fungar.

― ________________ ― Ouvi a voz que eu não queria ouvir naquela hora. 

Escutei a porta da escadaria batendo, via de trás de mim, apenas escutei passos e levantei em um ímpeto. Virei-me, de olhos fechados e deixando, o que eu acreditava ser as últimas lágrimas, e as limpei rapidamente com as costas das mãos. Vi JungKook no primeiro degrau no bloco de degraus, eu estava no terceiro, Jung parecia tão perto que queria bater na cara dele. Apertei os meus punhos, fitando o seu rosto exalando preocupação e a sua boca limpa de batom.

― ‘’ Eu posso te explicar'’ ― Digo, tentando imitar e adivinhar o que ele iria falar. Respirei fundo e continuei, com a voz mais embargada do que antes. ― ‘’Não foi o que você está pensando ― ri baixo, de ironia, sentindo as lágrimas quentes secarem e darem lugar para outras lágrimas ligeiras. Jung continuava a me fitar. ― Você está seguindo em  frente, fico feliz por você. ― Menti.

Viro-me para ir embora e descer os degraus, mas JK me segura pelo pulso, sem sair do lugar, e me vira. Ele me segurou com força, o seu olhar me fitava ainda da mesma maneira ‘’assustada'’ de antes.

― Me desculpa, ______________ ― Ele adicionou mais força, vendo que eu queria ir embora o mais rápido possível. ― Eu fui um idiota, eu não deveria...

― Me solta agora! ― Gritei entre os dentes, olhando para a sua mão no meu pulso. ― Me solta!

Ele me soltou.

― Eu fiquei com raiva quando vi você falando com o Jimin daquele jeito, eu... eu... sei que foi idiotice! ― Tentava se explicar, as palavras tropeçavam uma nas outras.

― EU NÃO LIGO! ― Gritei, perdendo a cabeça. Ele arregalou os olhos. ― Você pode pegar a metade de Seul que eu não ligo! Sabe por quê? JungKook, terminamos. Acabou. A-CA-BOU! 

― ________________ ― Uma lágrima caiu do seu olho direito.

― Por favor ― as lágrimas tomaram mais forças. Funguei. ― Saia da minha vida, agora. Eu não tenho nada haver com isso, não somos mais nada. 

Dei às costas para ele, de novo, dando passos apressados.

― Eu vou te deixar ir ― murmurou, voltando para o seu escritório.

X                 X                   X

Cheguei na recepção, limpando as lágrimas e ficando de cabeça baixa. Tentando amenizar o meu estado, tentando camuflar, mas as pessoas cochichavam por eu estar assim. Outros apenas diziam ‘’Tchau, Sra. Jeon'', ‘’outros'’ que eu não via por estar andando rápido em direção a saída daquele local. Depois de ouvir tantas pessoas me darem adeus e me chamar de ‘’Sra. Jeon'’, parei em frente a escadaria do prédio e vi Jimin dentro do carro. 

Park Jimin estava mexendo no celular, estava tão atento ao aparelho que não me viu sair do prédio. Respirei fundo, tentando dar um passo a frente, mas reparei que não poderia fazer isso com ele. Simplesmente, estava cansada de envolver os meninos com os meus sentimentos, não queria que odiassem JK, ou que dissessem ‘’Sinto muito'’ para mim, ou exigisse desculpas dele. Queria seguir em frente por mim mesma, por isso não conseguia dar um passo a frente para entrar no carro. Não conseguia. Era errado, ele não poderia me ver desse jeito, teria que ficar sozinha.

Precisava de sossego, de pensar em como seguiria em frente, em que caminho trilhar. 

Muito tempo parada, tentando decidir se ia embora com ele ou deixava Jimin ali, o citado levanta o olhar do celular e acaba me avistando. Ele soltou um sorriso, colocando o celular no painel do carro, mas fechou a expressão ao ver o meu estado.

Jimin saiu do carro rapidamente, resolvi correr para conseguir me livrar dele. Não poderia envolvê-lo mais,  isso era algo que apenas eu e JungKook poderíamos resolver. Corri pela calçada, Jimin deixou o carro ali e correu atrás de mim. Quando virei a esquina, senti mãos me puxarem pela cintura. Ele havia me abraçado por trás, a quentura do seu corpo me envolvia, a única coisa que fiz foi continuar a chorar. As pessoas passavam por nós, encarando-nos, mas parecia que o mundo havia parado. Chim Chim me abraçou com mais força, como se não fosse me soltar.

― Não vou te deixar ir, _________________ ― Murmurou no meu ouvido e me virou para ele. Encarei ele, com a visão um pouco afetada pelas lágrimas. ― É o JungKook, não é? 

Apenas afirmei com a cabeça, vendo Jimin rolando as órbitas e colocar as duas mãos nos meus ombros.

― Leve-me para um lugar quieto, por favor ― murmuro, sendo puxada para um abraço quente.