História Imagine Ray- Your Multicolored Eyes - Playing tag

Norman, Emma, eu e Ray marcamos de nos encontrar na floresta para discotir o plano. Como eu sou ótima em passar despercebida e ser completamente invisível, eu já estou aqui esperando que eles apareçam.

Depois da minha conversa de ontem com a Mama eu fiquei pensando em como ela não desconfia de mim. Quer dizer, fazem 4 anos que eu descobri e eu nunca tive um comportamento suspeito para que ela desconfiasse de mim, eu fui uma ótima atriz desde o início.

Meus problemas também não começaram a aparecer depois que eu descobri, foi muito antes disso. Mas ainda sim eu me pergunto se ela sabe...

Se ela soubesse ainda assim não teria motivo para pânico, afinal de contas eu, diferente do Norman, da Emma e até mesmo do Ray, jamais tentaria fugir ou contar para outra pessoa. Mas de qualquer jeito eles sabem e como consequência eu estou no meio disso também.

Eu nunca achei que isso fosse de fato acontecer. Sempre pensei que viver uma infância feliz e inocente fosse a melhor escolha para todos. Mesmo o final sendo trágico, nenhum deles teria que sofrer a dor de lutar por sobrevivência, a dor da realidade e da verdade, e no final todos teriam o mesmo fim, mais cedo ou mais tarde.

Enfim, não faz diferença no momento. Eu só espero que a Emma tenha conseguido encontrar o rastreador, porque é a nossa única chance. Sem isso nós estamos mortos.

- Ei, você já está aqui.- Diz Norman se aproximando.

- Sim.- Respondo me desencostando da árvore onde esta encostada e me aproximando do garoto albino.

- Cheguei!- Exclama Emma, correndo em nossa direção segurando uma bola.

- Só falta o emo.- Digo sorrindo.

Ouço Norman soltar uma risada nasalada e Emma começar a gargalhar, o que me faz rir também.

- Do que estão rindo?- Questiona Ray se aproximando como sempre, com um livro em mãos.

- De você.- Respondo com um sorriso divertido nos lábios.

Vejo Ray me encarar com um sorriso malicioso, o que faz eu me lembrar de ontem e corar imediatamente. Com isso vejo Emma me olhar com um olhar esperançoso, enquanto Norman solta uma risadinha direcionada a Ray.

Droga. Por que parece que hoje ele está mais bonito que o normal? Quer dizer... o Ray é bonito sempre, e tem todo o lance do cabelo dele que é de fato um detalhe a mais a ser considerado, mas hoje... socorro.

- Emma, você descobriu alguma coisa ou não?- Pergunto impaciente, tentando fugir daquela situação constrangedora.

- Sim, eu sei onde ficam os rastreadores.- Responde a ruiva, animada.- Ficam atrás da nossa orelha esquerda. Quando eu achei a marca a Gilda viu, ela me falou que era uma marca de coleta de sangue, de acordo com a Mama.

- Um coagulograma?

- Como sabe disso?- Questiona Ray, interessado.

- Eu só... sei. Devo ter lido em algum lugar.- Respondo.

- Bom, vocês podem conferir, dá pra sentir ele.- Afirma Emma, com a mão atrás da orelha.

Realmente, dá pra sentir o rastreador, mas se eu não soubesse da existência dele nunca teria notado... É realmente um ótimo lugar.

- Sim, é imperceptível.- Pronúncia Ray.

- Eu nunca soube dessa marca de coleta de sangue.- Diz Norman.- E desaparece tão rápido assim?

- Sim. Eu não suspeitei de nada esse tempo todo. Desculpem.- Lamenta Emma.

- Não, você mandou muito bem, Emma.- Pronúncia o garoto de cabelos brancos, entusiasmado.- Agora sabemos onde está, a forma e o tamanho dos rastreadores. Podemos prosseguir.

- Depois de localizá-lo...

- Temos que destruí-lo.- Dizemos os quatro, em uníssono.

- O que podemos fazer? Se o removermos para inspecionar...- Inicia Norman, pensativo.

- Se a Mama pentear nosso cabelo...- Pronúncia Emma.

- Vai perceber.- Afirmo, completando a linha de raciocínio.

- Sim.- Concorda Ray.- Bem, mesmo se não for fácil de destruir, o rastreador parece funcionar de forma simples.

- O quê? Simples?- Questiona Emma, espantada.

- O sinal não identifica o indivíduo. Sem consultar, ela não saberá onde estamos.- Explico.

- Isso.- Concorda Ray, me lançando um sorriso quase imperceptível.- Quando chegamos perto do portão ou do muro, ele não envia notificação.

- Ainda assim, está implantado.- Diz Emma.

- Sim. E por quê?- Questiona o moreno.

- Eles acham que poderão vir atrás de nós, desde que os rastreadores estejam intactos.- Respondo.

- Espere. Está dizendo que ele só enviará notificação se for destruído?- Pergunta Norman.

- Pode ser, também.- Concorda Ray.

- Como?

- Somente se for quebrado ele emitirá um alarme ou algo assim.- Pronúncia o moreno.

- Então, se o destruirmos, a Mama saberá imediatamente?- Questiona a Emma.

- Se houver uma função de notificação, sim.- Respondo.

- Considerando que a Mama fez questão de mostrar a existência deles... Não podemos descartar a possibilidade.- Diz Norman.

- Destruí-los seria arriscado.- Afirma Ray.- Então só devíamos destruí-los depois de fugir.

- E como vamos saber como destruí-los?- Pergunta Emma.

- Bem, essa forma e tamanho me fazem pensar em algo.- Afirma o emo.- Podem deixar isso comigo?

Levando em consideração que ele sabe de tudo isso a muito tempo, eu não duvido que ele já esteja dando um jeito de tirar os rastreadores. Ray é muito inteligente, ele já deve ter pensado em tudo.

- Tem certeza?- Questiona Norman.

- Sim.

- Se você diz, vamos deixar com você.- Concorda Emma.

- Só falta descobrirmos como vamos levar todos.- Diz Norman.- O problema é que todos confiam na Mama, e não vão reagir bem à verdade.

- Acha que vamos ter que mentir para levá-los para fora?- Pergunta a ruiva.

- Ainda temos o problema da incapacidade física. Para ser mais claro, eles vão nos atrasar.- Explica Ray, me fazendo rir.

- Ray!- Exclama Emma, ameaçando jogar a bola no moreno.

- É a verdade. Alguns não fazem atividades físicas, e temos bebês que mal podem andar.- Afirma o emo.

- Eu tenho uma ideia.- Diz a garota.

- O quê?

- Pega-pega.

Vejo Norman e Ray se espantarem. Então olho para a garota com um sorriso. Emma acabou de me surpreender, no bom sentido dessa vez.

- Norman terá que pegar todos.- Afirma a garota.

- Vamos fingir uma brincadeira, mas será um treino.- Pronúncia o albino.- Assim a Mama não vai descobrir.

- Vou ensiná-los como usarem seus corpos. Quanto a fazê-los pensar...

- Deixe com a gente.- Dizem Ray e Norman em uníssono, então se viram para me encarar.

- Podemos contar com você, Mia?- Pergunta o garoto de cabelos brancos.

- Vocês dois são muito inteligentes.

- Mas você é a melhor.- Afirma Ray, sorrindo pra mim de um jeito fofo.

- Me convenceu...- Digo sorrindo de volta.

Eu não acredito que eu tô brincando de pega-pega. É meio injusto a Emma ter me obrigado a participar levando em consideração que o Ray não vai, ainda que ele vá ajudar as outras crianças.

Na verdade eu tô tentando ignorar ele. O que, na verdade, é bem idiota da minha parte. O problema é que eu não sei como agir depois de ontem e nós temos tantos problemas que... Quem eu quero enganar? Isso não passa de uma desculpa para não encarar meus medos, eu sei. Ainda assim, nós temos muitos problemas e não é hora pra esse tipo de coisa, certo?

O meu plano não é dos melhores, eu admito. Consegui me esconder até agora, mas a vitória não é garantida. O tempo está quase acabando e eu preciso que o Norman me ache, ele vai achar que está com vantagem porque vai perceber que eu alterei as pegadas e vai pensar que eu realmente estou me escondendo.

Eu nunca participo de nenhuma atividade física em grupo mas, por mais incrível que pareça, eu sou muito rápida e ágil. Talvez seja porque eu estou sempre subindo nas árvores para me esconder, desde pequena, mas isso não importa.

Você deve presumir que o inimigo está pensando em todas as possibilidades, porque ele está. Você precisa usar tudo o que você sabe à seu favor, presumindo que ele também sabe. Não basta apenas se esconder, fazer pegadas falsas ou subir em árvores, pega-pega não é um jogo fácil.

Achar que está com vantagem é o maior erro que você pode cometer. Você precisa pensar que está sempre em desvatagem, porque essa é a única certeza que você tem. Você precisa pensar nas suas ações e nas do inimigo, e em como elas se relacionam.

- Te achei, Mia. Você é a última.- Diz o albino, sorrindo gentilmente.

- O nome desse jogo é pega-pega por um motivo, Norman.- Digo sorrindo antes de começar a correr, numa velocidade que Norman possa acompanhar mas que ainda me dê vantagem.

Derrepente acelero muito, correndo entre alguns arbustos. Com o barulho das folhas Norman vai me seguir por aqui, e é essa a idéia.

No meio do caminho paro e chuto uma bola que eu deixei ali estrategicamente, então subo rapidamente em uma árvore. No topo, pulo de uma árvore para a outra em questão de segundos analisando os movimentos do Norman de cima.

- Você não cansa nunca?- Questiona o garoto, chegando ao fim do trajeto.

Sinto um sorriso tomar conta do meus lábios. Realmente, eu chutei a bola com muita força...

O albino olha ao redor pensativo, até que ele avista a bola e suspira.

- Esperta... Justo agora que o tempo tá acabando.- Diz, falando sozinho, voltando para o lugar onde eu sumi.

Pulando de uma árvore para a outra, chego em um lugar onde e necessário descer para continuar. Então começo a correr até o fim do bosque. Quando vejo que consigo avistar as outras crianças me aproximo mais e subo em uma árvore bem na beira da floresta, me sentantando confortávelmente. Logo Norman aparece.

- O tempo já acabou faz um tempo.- Diz Ray, se aproximando do garoto albino.

- Eu imaginei.- Responde Norman, sorrindo para o emo que logo entende o que isso quer dizer.- Ela me enganou.

- Te enganou?- Questiona o moreno, sorrindo.

- Cadê a Mia?- Pergunta Emma, correndo em direção aos dois garotos.

- Aqui.- Digo descendo da árvore e indo até eles.

A garota olha para Norman, espantada, recebendo uma confirmação de cabeça. 

- Eu disse que você tinha que brincar com a gente!- Exclama a ruiva, segurando os meus ombros e me chacoalhando.

- Bom, acabou né?- Questiono andando em direção as outras crianças, que parecem chocadas por eu ter vencido.

Isso não é nada bom, eu detesto chamar a atenção. Eu odeio isso. E sinceramente a única coisa que eu quero agora é sentar em algum lugar e observar as outras crianças brincarem, quietinha no meu canto.

- Muito impressionante, mas eu não podia esperar menos de uma criança como você.- Diz Krone, se aproximando de mim e passando a mão pelo meu cabelo.- A Mama Isabella pediu para mim conferir se você está se sentido bem hoje...- Cochicha se abaixando para ficar do meu tamanho.

- Bem melhor.- Respondo.

- Ótimo!- Exclama a Irmã, se levantando.- Brincar de pega-pega é muito divertido. Eu quero ser amiga de todos, então vamos brincar.

Não... Por favor, não.

- Serão vinte minutos por partida. E começa comigo.- Explica com enorme sorriso em seu rosto.

Chega a ser assustador... Ela faz isso de propósito?

- Todos vocês, tentem fugir de mim.

É... Lá vamos nós, de novo.