História Imagine Ray- Your Multicolored Eyes - He was right

Estão quase todos arrumando as mesas para o café como fazemos todas as manhãs. Está tudo normal, eu diria, com exceção da Emma.

Notei ela acordar várias vezes durante a noite, eu admito. Nossas camas são uma ao lado da outra, mas eu não soube como reagir então fingi que estava dormindo.

Eu espero que o Norman chegue logo. Eu tenho certeza que alguém já notou a falta de animação da ruiva e o jeito assustado dela ao ver a Mama. 

- Bom dia, Mia.- Comprimenta Norman com o sorriso de sempre, antes de ir em direção a Emma.

Eu sabia que ele não ia me decepcionar. É como se nada tivesse acontecido ontem. É apenas o mesmo Norman gentil de sempre.

- Bom dia.- Respondo simples.

Depois de um certo tempo Emma e Norman saem juntos discretamente, para pegar comida. Imagino a conversa que eles vão ter agora. Só de pensar me vejo suspirando.

Eu não vi o Ray ainda, desde ontem.

Por que eu tô pensando nisso? 

Ele logo aparece por aí com sua expressão típica de desinteresse e desgosto. O cabelo bagunçado e o camisa perfeitamente abotoada.

Eu sempre detestei o fato do nosso uniforme ser branco e ter tão poucas opções de peças, mas fica ótimo nele.

- Oi...- Falando no diabo.- Algo me diz que seremos só eu e você por um tempinho.- Diz parado na minha frente, se referindo a ausência de Normam e Emma.

- Deixa eu adivinhar... É melhor dar espaço pra eles?

- Isso aí.- Responde.- Então... me encontra na biblioteca mais tarde, se quiser.- Pronúncia começando a se distanciar.

- Por que isso de repente?- Questiono.

O moreno me responde com um pequeno sorriso antes de se virar de costas novamente.

Isso é raro. Ray é do tipo que prefere ficar sozinho e sinceramente, eu também. Temos muito em comum, acho que é por isso que nós sempre nos demos muito bem.

Termino de tocar a música então olho para Peter, com certa insegurança.

- Você aprendeu a tocar sozinha?! Mia isso é impressionante!- Diz o ruivo com animação.

- Obrigada.- Digo aliviada.- Eu achei um livro na biblioteca com acordes e ritmos de vários instrumentos, acho que a Mama viu eu lendo por isso me deu o Ukulele.- Digo sorrindo.

- Foi muito gentil da parte dela.- Declara o mais velho.

As outras crianças correm pela floresta abaixo de nós brincando de pega-pega, menos um certo moreno sentado na mesma árvore de sempre, lendo um livro.

- Você devia falar pro Ray que gosta dele.

- Peter!

- É verdade. Ele também gosta de você. Mesmo com todo esse jeitão dele, ele não sabe disfarçar.

- Isso é mentira. O que você sabe sobre essas coisas?

- Sou bem mais velho do que você. E eu sei que não importa quem você ame, deve dizer, mesmo que se arrependa. O amor é uma coisa linda Mia, não importa a forma de amor ou quem você ame.

- É acho que você tá certo.- Digo pensativa.- Você falou como se amasse alguém... É por isso que você desenhou o Woden? Você gosta dele?- Questiono com um sorriso sapeca nos lábios.

- Você é muito espertinha pra sua idade.- Diz o garoto ao soltar um breve riso.

- Você precisa contar pra ele! Deve seguir seu próprio  conselho. 

- É eu acho que sim.- Concorda pensativo.- Mas você e o Ray se dão muito bem, melhor do que eu e Woden.

- Eu acho que gosto de falar com ele... 

- Vocês são parecidos, de certa forma. Os dois são um pouco anti-sociais, gostam de ler, são muito inteligentes, espertos... Consigo imaginar facilmente vocês daqui à uns anos ficando cada vez mais próximos, implicando um como outro, sem saber como dizer que se gostam. 

De alguma forma isso me fez sorrir. Eu gostaria de ter o Ray por perto quando formos mais velhos.

- E se você continuar assim.- Continua Peter, apontando para o meu Ukulele.- Vai acabar escrevendo músicas sobre ele.- Diz me dando um tapinha no ombro.

- Bobinho.-  Pronúncio séria.

- É eu acho que ele estava certo.- Digo pensativa, parando de prestar atenção nas páginas á minha frente.

- Quem?- Pergunta Ray, fechando seu livro e focando sua atenção em mim.

- Peter.

- Você nunca fala dele, vocês eram tão próximos.

- Acho que todo esse lance da Conny mecheu com a minha cabeça.- Declaro, soltando o peso das minhas costas na estante.

- Você era como uma irmã mais nova pra ele.

- E ele era como um irmão mais velho pra mim, até eu achar ele morto.

- Sobre o que ele estava certo?

Droga, eu não sei se é uma boa responder essa pergunta. Mas eu também não quero mentir.

- Eu e você, no futuro.- Falo finalmente, depois de um curto tempo em silêncio.

- Sério?- Ray parece impressionado.- O que exatamente?

- Que somos parecidos,  de certa forma. E é por isso que ele conseguia nos imaginar ficando mais próximos no futuro, implicando um com o outro ou alguma coisa assim.

Ray solta uma pequena risada com a última frase.

- É, ele sabia do que tava falando.

- Sabia mesmo. Faz muito tempo, nós tínhamos uns 6 anos quando ele me disse isso.

- Você tinha sete quando descobriu.

- Você lembra disso?- Questiono, olhando em sua direção.

- Claro que sim. Também lembro do que você disse. Ainda pensa assim?

- Acho que sim, mas não importa.

O moreno então se vira para me encarar com seus olhos verdes. 

Eu sinto que ele está tentado se aproximar mais de mim, pelas altitudes dele agora. Eu não sei explicar. Isso foi muito repentino da parte dele.

Ele está fazendo a mesma coisa que fez nos primeiros dias após eu descobrir sobre a Casa, como se quisesse me consolar... Mas não faz sentido. Isso é por causa da Conny?

Muitas crianças foram enviadas depois que eu descobri. Tentei me afastar dele e de todos no início e ele nunca fez algo do tipo. Tem alguma coisa de errado, é a única justificativa para suas ações.

- O que tá acontecendo que eu não sei?

- Como assim?

- Suas atitudes, Ray. Eu não sou idiota, eu te conheço.

O moreno parece pensar antes de decidir ignorar totalmente minha pergunta. E então se aproxima mais do meu rosto parando a centímetros de distância, como se o que estivesse fazendo fosse proibido.

Hesitante, direciona sua mão para o meu rosto antes de usá-la para prender uma mecha fujona de cabelo, atrás da minha orelha.

Meu coração começa a bater com força dentro do meu peito, como se eu estivesse prester a surtar. Ao mesmo tempo é como se tivesse um imã me forçando a permanecer ali.

- Eu sei que é repentino, mas parece que eu só me toquei agora.-  Diz o moreno com sua respiração no meu rosto.

- Se tocou do que?- Pergunto ligeiramente surpresa.

Ray parece pensar em quais palavras vai usar a seguir, seja o que for ele não quer me contar, ou tem medo. 

- Eu planejei tudo, Mia.- Inicia sério.- E agora que tá chegando à hora eu tô começando a hesitar, por sua causa.- Continua, agora com um pequeno sorriso enfeitando seus lábios.- Tem tanta coisa que eu queria fazer antes disso, e todas elas envolvem você. Isso não fazia parte do plano.

- Ray...

- Eu queria muito odiar a minha vida.- Interrompe.- Mas é difícil, graças a vocês.

Eu não sei o que falar, mesmo sentido que eu poderia dizer tanta coisa e como se tudo sumisse da minha mente agora.

- Só me irrita pensar que você odeia a sua.- Prossegue, colocando sua mão em meu rosto novamente, iniciando um carinho na minha bochecha.

- Ray.- Digo atraindo sua atenção.

Sem pensar termino de aproximar nossos rostos, pousando meu lábios na sua bochecha direita e deixando ali um pequeno beijo.

Noto a bochecha do emo receber um um tom rosa e não consigo evitar sentir as minhas tomarem posse do mesmo tom, se não for mais forte.

Eu fiz isso mesmo?

- Me decepcionou.- Diz o moreno, com um sorriso malicioso e as bochechas ainda levemente vermelhas.- Por um segundo achei que fosse fazer outra coisa.

Ele tá me zoando, né? Ele sabe que eu entendi, não sou tão inocente assim.

- Idiota.- Respondo empurrado ele.

Ray usa os braços como apoio para não cair de costas e então fica de joelhos, se preparando para partir para cima de mim.

Em questão de segundos me vejo deitada no chão morrendo de rir com o Ray por cima distribuindo cócegas pela minha barriga. 

Não importa o quanto eu lute. Mesmo eu não sendo fraca, muito pelo contrário, ele é bem maior do que eu e eu estou em desvantagem.

- Ok-kay... Okay...- Digo entre risos.- Eu... desisto.- Continuo tentando recuperar o ar.

Ray para e se senta ao meu lado, me encarando com sorriso enorme.

- Eu acho que acabei de ganhar meu dia.- Pronúncia o moreno.

- É?

- Sim. Eu ganhei um beijo e escutei a sua risada fofa de porquinho pela primeira vez, eu nem sabia que alguém podia rir assim.

Não pude evitar sorrir com a fala do mais velho. Eu estou gostando de ouvir ele dizer essas coisas, mesmo que ele tenha tentado me zoar.

- Mas você acabou de dizer que achou fofo.- Digo com um sorriso travesso.

- Boba.

- Mas você não negou.- Rebato com o sorriso cada vez maior.

- Vingativa.

Somos interrompidos ao ouvir o barulho das outras crianças, passando pelo corredor. 

- Droga. Vêm.- Diz Ray, levantando rapidamente e estendendo a mão em minha direção.

Nós passamos pelo corredor rapidamente e habilmente, sem que ninguém nos veja. Então paramos de frente para uma das janelas que davam para o pátio.

Ray observa atentamente, parecendo pensativo. Olha pra mim e faz um sinal com a cabeça para que eu me aproxime e assim faço.

Vejo Norman e Emma parados, conversando. Os dois parecem já tramar alguma coisa. Conhecendo-os aposto que já ligaram boa parte dos pontos, mas o que será que estão planejando fazer?

Com certeza fugir, eu diria. Seguindo essa linha de pensamento aposto que até já foram até o muro. 

Emma jamais deixaria alguma criança para trás, isso é um grande problema. Será que o Norman mentiu pra ela? Ou disse que era impossível? Não...

- Relaxa.- Diz Ray, interrompendo meus pensamentos.- Eles não podem mais nos excluir.