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História Imperium - IX - Condessa de Pembroke


Escrita por: IzzyLessa

Capítulo 9 - IX - Condessa de Pembroke


 Clarissa andou pelos corredores do Palácio de St James, as paredes repletas de quadros e pinturas de membros da família Herondale. Ela sentiu os olhares dos antepassados de seu marido queimando sua pele enquanto a analisavam de cima a baixo, certamente apontando cada erro em sua postura e o jeito em que andava. Seus olhos severos e expressões congeladas a faziam se sentir estranha e vulnerável, como se estivesse andando nua pelo Palácio. Era tolo pensar disso de pessoas que estavam mortas havia séculos, mas não conseguia parar de imaginar os inúmeros fantasmas vivendo nos salões da sede da Corte.

As avós e tias de Jonathan pareciam ainda mais severas, rainhas e princesas do passado. Clarissa parou na frente de um quadro enorme, maior do que ela mesma; a moldura era feita de uma madeira escura e cara. Clarissa leu a inscrição em dourado, franzindo o cenho. Céline de Montclaire, Rainha da Inglaterra. 1698.

O quadro foi feito quando Céline foi coroada, dois anos antes de Jonathan nascer. Seu cabelo dourado estava penteado em cachos ao redor de seu rosto redondo e belo. Ela encarava o observador do quadro com um semblante neutro, régio, e usava pérolas nas orelhas e ao redor do pescoço. Seu vestido rubro brilhava com as pedras preciosas incrustadas no tecido, assim como seu manto de veludo azul e seus detalhes de ouro, porém as mangas brancas eram tão simples quanto as roupas da geração anterior. Ela estava com uma mão sobre o seio direito e a outra ao lado da coroa feita especialmente para sua coroação.

Alexander estava ao seu lado.

— Você acha que ela era solitária, Duque? — perguntou. — A rainha antes de mim.

— Ela tinha amigas, Vossa Alteza. Damas de companhia e atendentes — ele respondeu.

Sim, Clarissa pensou, lembrando-se intensamente de sua mãe. A Imperatriz nunca pareceu feliz, não importava o quanto ela tentasse animar Jocelyn, Mas isso não significa nada.

Ela continuou andando, seguindo um nobre da Corte que lhe dava um tour do castelo. Sala dos embaixadores, capela real — onde o casamento aconteceria, muito mais exclusivo do que Abadias pela cidade —, Corte dos motores. Eles adentraram o Palácio com graça, entrando em cômodos privados e traçando o caminho até a sala do trono.

O coração de Clarissa estava acelerado dentro de seu peito e suas palmas suavam. Ela não conseguia parar de acreditar. Endlich. Finalmente iria conhecer o seu amado. Jonathan Christopher. Estava tão perto dele. Apenas uma porta pesada de madeira os separava. Aquele era o primeiro dia do resto de suas vidas.

Clarissa tocou no retrato em seu peito e respirou fundo. Ela iria entrar primeiro, sozinha e vulnerável. Jonathan não teria dúvidas de quem seria sua futura esposa.

Por favor, ela implorou, por favor goste de mim.

— Está pronta, princesa? — perguntou Alexander, alguns passos atrás dela.

Não havia mais chances de voltar a trás, percebeu. Ela era a princesa de Gales agora, casada com o herdeiro da Casa de Herondale. Não podia desistir de tudo e pegar o primeiro barco com destino à Áustria. Seu pai nunca a perdoaria se manchasse o nome Morgenstern dessa maneira.

Clarissa respirou fundo mais uma vez. Ela se lembrou de uma promessa que fez ao Imperador quando ele lhe contou sobre o casamento, depois de ter recebido o retrato de seu noivo. Vou ser boa. Seria boa. Seria a melhor esposa já vista pela Inglaterra. Estaria sempre disposta, complacente e obediente. Amaria Jonathan e seus filhos com todo o seu coração. Iria esquecer que era austríaca se fosse preciso, iria esquecer de tudo. Seria sempre boa.

— Sim — ela sussurrou, endireitando sua postura. — Abram as portas.

Alexander deu um sinal para os guardas posicionados em sua frente que abriram, lentamente, a porta. A luz da sala do trono invadiu o corredor, cegando levemente Clarissa. Ela suspirou, tentando se acalmar, e arrastou as mãos pelas saias de seda, secando suas palmas. Não era mais simplesmente uma Arquiduquesa da Áustria. Naquele momento, ela se tornou, oficialmente, uma princesa inglesa.

— Sua Alteza real, a Arquiduquesa Seraphina Clarissa Jocelyn von Morgenstern, princesa de Gales! — anunciou o mensageiro real, posto ao lado dela. Clarissa entrou em silêncio e de queixo erguido.

A sala do trono era espaçosa, com altas paredes vermelhas e colunas de ouro. Apenas membros mais altos da Corte estava presentes, postos de maneira a formar um corredor direto ao trono para sua passagem. Um dossel de veludo vermelho fora implantado em cima dos degraus que o elevava acima de todos, deixando a cadeira real no foco do cômodo.

Um homem velho estava sentado no trono, o cabelo cinza caindo sobre seus ombros. Ele estava usando uma coroa de ouro sobre a cabeça e vestes negras com detalhes em vinho, uma expressão severa em seu rosto enrugado. O rei. Ela não conseguia ver Jonathan.

Clarissa continuou andando até ele, as saias se arrastando pelo chão coberto de veludo. Conseguia sentir todos os olhares em sua pessoa, esperando sua ação para conseguirem reagir. Seu coração estava acelerado em seu peito e ela rezava para que ninguém ouvisse os batimentos.

Ao chegar na frente do rei, Clarissa caiu de joelhos, jogando seu corpo aos pés de Stephen VII.

— Eu coloco meu destino em tuas mãos, meu senhor — ela exclamou, meses de aulas de inglês rolando para fora de sua língua. — Sou sua humilde serva, Vossa Majestade.

Sussurros se levantaram na Corte, as damas e os senhores fofocando entre si. Clarissa não estava prestando atenção o suficiente para entendê-los e ela não se importava para saber disso. Ela ouviu o Rei arfar e uma mão macia e cheia de anéis invadiu em sua visão.

— Levante-se, filha — ele disse. A voz dele era aveludada e doce, tão paternal. Clarissa pegou a mão oferecida e se levantou, ajeitando o seu vestido. O Rei não estava sorrindo, mas ela conseguia ver sua satisfação, então sorriu internamente. Fora uma ideia de última hora, um impulso, e havia sido uma ótima decisão. — Os austríacos lhe ensinaram bem, Seraphina. — ele ergueu a voz, falando com toda a Corte. — Podemos confiar nos papistas em um assunto, meus amigos. Eles criam boas esposas.

Se ela fosse menos reservada, teria corado. Aos olhos dos ingleses, Clarissa era anglicana, uma protestante!, então não poderia ficar ofendida com tais comentários. Stephen não sabia que ela confessava todos as semanas com Padre Enoch e tinha missas privadas com o clérigo praticamente todos os dias. Para sobreviver, ela precisava manter sua religião em segredo.

— Bem-vinda, minha filha — murmurou o rei, sem soltar sua mão. — Estávamos todos muitos ansiosos com a sua chegada. — ele fez uma pausa. — Principalmente o herdeiro, seu senhor marido. — ele se virou para o lado e o público começou a se abrir, criando um espaço vazio até a janela. — Deixe-me lhe apresentar ao meu filho, Príncipe Jonathan Christopher de Gales, Duque de Cornwall e Rothesay, Duque de Edinburgh, Marquês da Ilha de Ely, Conde de Eltham, Visconde de Launceston, Barão de Snaudon e de Renfrew, Lord das Ilhas e Administrador da Escócia e Cavalheiro das mais Nobre Ordem da Jarreteira.

Um homem alto andou até ela, os cabelos loiros brilhando como ouro sob a luz do sol provinda da janela. Clarissa prendeu a respiração e a ansiedade se acumulou em seu peito. Seu rosto másculo estava cortando por um belo sorriso, seus dentes brancos e perfeitos cintilando. Ele era mais bonito do que o retrato e mais perfeito do que ela poderia imaginar. Tinha ombros largos e braços musculosos, além de mãos elegantes com dedos compridos. O Príncipe estava usando vestes azuis escuras e régias. Ela percebeu, com um misto de satisfação e felicidade, que suas roupas combinavam.

Jonathan pegou a mão dela, oferecida pelo pai, e plantou um beijo nos nós de seus dedos.

— Princesa, — ele sussurrou, erguendo seus olhos dourados. — Vossa Alteza não imagina o prazer que me dá em finalmente lhe encontrar.

Todo o amor que ela já estava sentindo se multiplicou em seu peito, crescendo e crescendo até ser tão grande que ela pensou que iria explodir de tanta afeição.

— Esperei por esse dia por toda a minha vida, Vossa Alteza — ela respondeu.

Clarissa não conseguia parar de sorrir. Estava tão feliz. Suas bochechas doíam e ela tinha a sensação de que estava parecendo uma tola apaixonada, mas não se importava. Tanto tempo, tantos meses. Toda aquela esperava estava distante e tudo o que lhe restava era o futuro, sua vida com Jonathan.

— Vamos para os jardins — disse o Rei se levantando. Jonathan a puxou para mais perto, afastando-a do caminho de sua majestade. Ele irradiava calor e era impossível não ser atraída por ele. — E, depois, todos iremos nos preparar para o casamento de meu filho.

Clarissa se curvou quando o Rei passou, fazendo uma reverência. Jonathan e ela eram os próximos na linha de precedência, então o seguiram com cautela, os braços dados. Os corredores do Palácio pareciam muito menos assustadores com o marido ao seu lado.

Ela o olhou com o canto dos olhos, observando seu perfil majestoso. Ele encarava o caminho em sua frente com uma expressão séria no rosto. Tinha certeza de que aquele era um momento esperado para que conversassem em privado, se conhecerem, e ela queria conversar, porém o que alguém diria para seu marido? Só conseguia se lembrar de seus pais discutindo assuntos familiares e os filhos, nada que ela e Jonathan já tinham.

Ele era interessado em caçadas, teatro e música. Poderia fazer perguntas sobre isso. Como foi sua última caçada? Vossa Alteza viu a última apresentação de A Batalha de Alcácer? Posso tocar violino para Sua Alteza, gostaria disso? Tudo soava idiota e superficial.

Clarissa decidiu em algo mais simples.

— Vossa Alteza recebeu minha carta?

Ele a olhou por um segundo.

— Pode me chamar de Jonathan se seremos casados. — ele suspirou. — Sim, eu recebi.

Clarissa corou. Chamá-lo pelo nome era tão íntimo. Era o que fazia em sua mente e quando escrevia em seu diário, mas fazê-lo com a permissão do marido deixava tudo mais especial.

— Obrigada, Jonathan — respondeu, segurando um sorriso. — E o que você achou dela?

Ele parou de andar e olhou para trás. O Duque de Norfolk e sua esposa estavam alguns passos de distância, porém pararam também ao verem no meio do corredor. O rei, sem se importar com a procissão, continuou andando, se afastando mais e mais. Jonathan pegou a mão de Clarissa.

— Venha — ele disse, puxando-a.

O Príncipe a puxou pelos corredores, seguindo um caminho conhecido apenas por ele. Clarissa segurou suas saias com a mão livre e lutou para acompanhá-lo, mas suas pernas eram mais curtas que as dele e tinha certeza de que, se não fosse por seu “encorajamento”, acabaria ficando por trás.

— Voss-Jonathan… — ela disse. — Para onde estamos indo?

Ele a ignorou.

Eles viraram em corredores, cruzaram salas e subiram escadas. Clarissa se perdeu em questão de segundos. Estava tentando se lembrar dos caminhos que tomavam caso o marido precisasse de ajudar para voltar, mas não conhecia o lugar. As portas pareciam iguais e os corredores eram os mesmos. Sentia como se estivessem andando em círculos.

Eles pararam depois do que pareceram horas, quando o fôlego já havia deixado o peito de Clarissa e entraram em um quarto bem iluminado com paredes altas e acolchoadas. Alguns quadros decoravam o lugar, mas, além disso, estava completamente vazio. Parecia abandonado, como uma cidade fantasma ou uma casa vazia. Era quase depressivo.

— Jonathan, — ofegou, confusa. — O que está fazendo?

Ele a empurrou contra a parede, olhando ansioso para a porta fechada. Parecia assustado, porém determinado. Vários minutos se passaram antes dele voltar a olhá-la.

— Eu entendo porque teve que declarar lealdade ao meu pai — disse, ofegante também. — Ele é o Rei e você deve ter seu favor para sobreviver aqui. Porém, secretamente, as coisas deverão ser diferentes. A partir de hoje, você será minha esposa e será leal à mim. Apenas à mim. Você é a princesa de Gales agora, Clarissa, e não poderá ser uma espiã para o seu pai e para a Áustria. Não tolero traições. Quando nos casarmos, será uma Herondale e isso vêm com grandes responsabilidades. Você entende isso?

Ela assentiu e ele assentiu de volta, como se tentasse se convencer de que tudo estava correndo bem. Jonathan olhou para seu colo e seus olhos se arregalaram minimamente ao ver o retrato em seu colar. Ele voltou a olhar para ela, como se a visse pela primeira vez, e plantou seus lábios contra os dela.

Clarissa nunca foi beijada antes. Um garoto tentou uma vez, um filho de um Duque que provavelmente estava tentando arrumar um casamento com a família Imperial, mas assim que ele tentou agarrá-la, ela correu pelo Palácio, gritando por ajuda. O Duque e sua família nunca mais voltaram para a Corte.

Jonathan tentou aprofundar o beijo, arrastando suas mãos até a cintura dela, mas Clarissa continuou parada, sem saber exatamente o que lhe era esperado.

Ele se afastou, suspirando, e encostou a testa contra a dela. De repente, a princesa se sentiu insanamente arrependida por não ter respondido o beijo. Seu marido não parecia satisfeito com suas atitudes.

— Desculpe-me — ela sussurrou.

— Não se preocupe — disse ele. — Teremos mais tempo para isso.

Clarissa tocou nas bochechas dele, suadas e coradas. Ele tencionou um pouco, surpreso com seu toque, mas relaxou depois de alguns segundos. Ela fechou os olhos e sorriu. Naquele momento, estava feliz.

— Eu sempre serei leal à você, Jonathan — murmurou. — Você é meu marido. Irei jurar na frente dos homens e de nosso Senhor que irei te amar, te honrar e te obedecer.  Não há nada mais importante para mim do que nosso casamento.

Jonathan sorriu e a beijou mais uma vez. Clarissa supôs de que deveria abrir a boca e foi que o fez, separando os lábios o mais gentilmente que pôde. Ele colocou sua língua em sua boca e ela suspirou, acariciando a pele macia de seu queixo sem barba. O Príncipe lhe tocou com uma doçura que a fez querer chorar, como se ela fosse uma boneca frágil, sempre no perigo de se quebrar. Ele tinha gosto de vinho e menta, além de um cheiro tão forte e tão masculino que ela não era capaz de pensar em mais nada além de Jonathan, Jonathan, Jonathan.

Eles se separaram, respirando fundo. Clarissa não conseguiu impedir o sorriso de tomar seus lábios e nem tentou. Estava feliz demais para isso.

— Quando o Imperador me entregou seu retrato, — começou, os olhos fechados. — Tudo o que eu pensava era em como você era bonito. — ele riu. — E em como estava perdidamente apaixonada. Você não sai da minha cabeça desde aquele dia. Sonhava com o momento em que te conhecesse e quando me tornasse, finalmente, a princesa de Gales. — ela abriu os olhos e o encontrou a encarando, um brilho estranho em seus olhos dourados. — Eu amo você, Jonathan.

Ele não respondeu. Clarissa não se importava com isso.

Charlotte Branwell a guiou até seus quartos, andando pelos corredores barrocos do Palácio com um ar superior que era difícil de entender. Clarissa a seguiu em silêncio, analisando seus arredores com um olhar questionador. Tentou decorar o caminho, as curvas e os pontos de referência como o mordomo rabugento posto ao lado de uma porta dupla de madeira branca ou a pintura da avó de Jonathan feita depois do nascimento de sua primeira filha.

— Não se preocupe com privacidade, Vossa Alteza — disse a condessa, andando alguns passos em sua frente. — Desse corredor para frente, apenas membros da alta sociedade e da família real podem entrar. Os guardas possuem instruções específicas sobre isso. Muito exclusivo.

Clarissa poderia ter suspirado de alívio. Ouviu rumores o suficiente sobre Versalhes, e presenciou alguns deles também, para temer sua futura casa. Não sabia se iria conseguir aguentar ter qualquer um entrando em certos lugares.

— Seus aposentos, por exemplo, são mais privados ainda — continuou Charlotte, alheia aos seus pensamentos. — Você pode proibir ou permitir a entrada de quem quiser. Até mesmo do rei.

— E a do meu marido? — perguntou. — Ele pode entrar apenas com minha permissão?

Charlotte não riu, mas seu sorriso foi como se tivesse. Clarissa não conseguia determinar se gostava ou detestava dela. Só sabia que ansiava em ser como a nobre; inteligente, bonita e confiante. Charlotte sabia qual era seu lugar no mundo e não tinha nenhum dúvida disso. A condessa de Pembroke era tão baixa quanto ela, com uma cintura estreita, porém se portava com um ar adulto que era impossível negar sua maturidade. Ela usava o cabelo castanho em um coque apertado e não possuía tinta no rosto, nem jóias em seu corpo, porém usava vestes caras e elegantes. Charlotte lembrava Clarissa de sua mãe, porém de uma maneira positiva.

— Mas é claro, princesa — disse, sorrindo. — Os quartos são seus.

Charlotte continuou andando, os saltos altos batendo contra o chão de madeira. Clarissa a seguiu, acenando com a cabeça para todos os criados que passavam por seu caminho, até mesmo os que estavam curvados em reverência. Toda vez, ela recebia um sorriso amigável de volta.

Dois guardas vestidos de vermelho e com uma estrela costurada na lapela de seus casacos abriram as portas de seus aposentos. A princesa mordeu seu lábio inferior e deu um passo para frente, entrando na antecâmara.

As paredes foram pintadas de creme com detalhes em folhas de ouro, como galhos e flores se entortando para o interior do quarto. Havia um enorme candelabro de cristal no teto, talvez maior do que a princesa, e mesas de chá espalhadas pelo cômodo. Havia um divã extremamente convidativo no meio da câmara. Tudo fora feito em creme e ouro de um modo que o quarto parecia reluzir quando posto na luz do sol que vinha das portas duplas de vidro que iam até o teto.

Clarissa andou até elas e as abriu, sentindo o ar limpo atingir seu rosto e varrer pela sala. Havia uma grande varanda em sua frente e uma bela visão de um jardim privado com uma linda fonte de mármore. A água jorrava com força em uma altura quase impossível. O cheiro de rosas e violetas a atingia com um frescor maravilhoso.

— Sua mãe nos contou que violetas eram suas flores favoritas, alteza — disse Charlotte.

— Ela estava certa — respondeu Clarissa.

Ela voltou para dentro da câmara e continuou andando até duas altas portas brancas. Outros dois guardas estavam de prontidão para abri-las. Eles também tinham a estrela em seus casacos. A princesa entrou no quarto, não sabendo o que mais poderia ver.

As paredes deste cômodo eram rosas, um tom tão claro que parecia branco, e com detalhes em prata. Havia uma enorme cama com inúmeros travesseiros no centro do lugar, um dossel alto e elegante lhe daria um pouco de privacidade quando as cortinas estivessem fechadas. Uma lareira apagada quase se apagava entre o brilho do lugar, mas Clarissa sabia que ela seria necessária durante o inverno. Quase ignorou a mesa no canto do quarto. Não havia ninguém para quem quisesse escrever cartas.

A penteadeira perto das janelas atraiu sua atenção. Ela puxou a cadeira e se sentou em frente ao espelho, experimentando o reflexo de seu rosto contra o novo plano de fundo. Iria demorar para se acostumar com tudo aquilo.

Ela abriu as gavetas e viu inúmeras escovas para pentear o cabelo, além de uma variedade quase inútil de leques. Algumas caixas na parte de cima da penteadeira possuíam belíssimas jóias. Colares de diamantes, anéis de safiras e brincos de esmeraldas. Não havia nenhuma tiara ou coroa, entretanto Clarissa supôs de que iria receber os adornos da rainha quando seu marido fosse coroa.

— Vossa Alteza, deixe-me apresentar os membros de seu serviço — disse Charlotte, alguns passos atrás dela. Ela se levantou, colocando a cadeira em seu lugar, e se virou.

Algumas mulheres vestidas de criadas estavam paradas ao longo de uma linha perto da cama, mas apenas uma delas chamou sua atenção. Ela era bonita, com cabelo castanho e olhos brilhantes, porém uma cicatriz comprida cortava o lado esquerdo de seu rosto. Clarissa tentou não esboçar reação com isso. Passou anos aprendendo a ter impassividade com suas governantas. Deveria ter controle de seu rosto.

Charlotte nomeou cada uma das empregadas, apontando elegantemente com a mão para cada uma das meninas e Clarissa tomou o cuidado de sorrir para elas e agradecer por seu serviço, além de prometer bondade e bom pagamento. Para ganhar o coração do povo inglês, precisava começar com aqueles em sua casa. A condessa parou na frente da garota com a cicatriz.

— Essa é Sophia Collins, Vossa Alteza — disse Charlotte. — A mãe dela trabalhou para a rainha Linette e para a rainha Céline, assim como sua avó foi uma confidante privada da falecida rainha-mãe, Imogen. Ela será sua criada pessoal e irá dormir aqui em seu quarto, caso precise de alguma coisa durante a noite. Pode confiar nela, princesa.

— É um prazer te conhecer, Sophia. — Clarissa sorriu, mas a garota não respondeu seu gesto.

Sophia fez uma reverência.

— Pode me chamar de Sophie, Vossa Alteza — murmurou Sophia, o rosto completamente neutro. — Estive esperando por sua chegada há muito tempo. Não irei manchar o legado de minha família servindo Vossa Alteza de maneira errônea. Qualquer desejo seu é meu e irei carregar seus segredos até o túmulo.

Clarissa piscou os olhos, surpresa. Sentiu um peso se levantar de seus ombros, quase como se todo o vestido e suas camadas fossem retirados com as palavras de Sophie. Ela parecia tão calma, porém centrada ao mesmo tempo. Não havia dúvida de que estava falando séria. Ela olhou para as outras criadas, vendo-as assentir freneticamente como se em concordância. Estrelas prateadas estavam costuradas no avental de todas. Estrela da manhã. O símbolo da família Morgenstern. Podia confiar nessas pessoas.

— Obrigada, Sophie — disse, aliviada.

— A cerimônia de casamento será em poucas horas, princesa — informou Charlotte. — Talvez esteja na hora de se preparar?

Clarissa arfou. Havia esquecido completamente da cerimônia. Estava algumas horas de distância de jurar seu amor por Jonathan na frente de seu Senhor. Ansiedade se acumulou em seu estômago e suas palmas se encheram de suor. Ela assentiu.

— Sim — disse. — Você está certa.

Charlotte sorriu, fechando as mãos em seu colo. Ela ficou por mais alguns segundos antes de sair, provavelmente para também se arrumar, e Clarissa ficou sozinha com suas novas criadas. Era tanto empolgante quanto intimidante.

— Peguem o vestido de casamento em minhas coisas — ordenou, colocando as mãos nas costas e pegando a ponta dos laços de sua roupa. Uma criada loira correu para ajudá-la e ela quase chorou de alívio quando o aperto em seu tronco diminuiu até não existir mais. Podia respirar novamente. Duas criadas estavam abrindo os baús de suas roupas enquanto outras duas começavam a retirar suas jóias e os alfinetes em seu cabelo. Sophie abriu as caixas de jóias. — Eu preciso estar perfeita.

Jessamine partiu o biscoito em seus dedos ao meio, colocando uma das partes entre seus lábios. O gosto doce encheu sua boca em segundos e ela suspirou, olhando para o relógio na escrivaninha ao seu lado. Há qualquer momento, tudo iria se desmoronar ao seu redor e ela iria sair dos escombros completamente intacta.

Ela ergueu seus olhos e viu Nate lendo um livro de madeira relaxada. Ele ergueu a xícara de chá até os lábios e deu um pequeno, completamente alheio a tudo que iria acontecer em pouco tempo.

— Hoje é o dia — ela disse, comendo a outra parte do biscoito.

Nathaniel colocou o livro de lado.

— Sim, querida — ele respondeu e havia um tom quase piedoso em sua voz. — Não se preocupe, entretanto. Tenho certeza de que Clarissa Jocelyn irá entediar seu marido na cama. Ele deve voltar para você em breve.

Jessamine sorriu, agindo completamente obediente e tola. A amante perfeita para Nate.

— Não tenho dúvida disso — murmurou.

Ela suspirou, se levantando e andando até a janela. Eles estavam no primeiro andar da casa. Não conseguia mais esperar. Jonathan disse que iria acontecer naquele dia, naquele momento, e o Príncipe não costumava quebrar suas promessas. Olhou mais uma vez para o relógio e poderia ter gritado de frustração ao ver que os ponteiros ainda não se moveram.

Jessamine encarou as ruas de Londres, vendo os plebeus se moverem com uma animação maior do que o costume. Era o casamento do Príncipe, ela se forçou a se lembrar, e fazia dois anos desde que um evento tão grandioso foi celebrado pela família real. Dois anos desde que a princesa Cecily partiu para a Espanha. Porém aquela festa fora maior do que essa, pois conteve dinheiro enviado pelo cofre do noivo, algo totalmente fora do comum, porém compreensível devido a situação. A união com uma mulher da Casa de Herondale foi o necessário para fortalecer o reino de Gabriel Lightwood no trono espanhol. O Rei era filho de uma irmã do falecido Rei espanhol, membro da família Morgenstern, com um primo do atual Duque de Norfolk e ganhou o poder no grande império depois de anos de batalhas com a Áustria. Todos no continente ainda se lembravam dos anos escuros da Guerra de Sucessão Espanhola.

O som de cavalos correndo pelas ruas de pedra atraiu sua atenção. O que parecia ser uma legião de guardas reais se aproximavam da Casa de Buckingham com espadas em seus cintos e expressões severas em seus rostos. Jessamine franziu o cenho e tentou se aproximar, espalmando as mãos contra o vidro frio da janela.

— O que houve, querida? — perguntou Nate.

— Não sei — ela disse, fingindo ignorância. — Há alguns guardas se apro....

Eles não se importaram em bater, apenas arrombaram a porta e invadiram a casa. Jessamine gritou, correndo para longe da janela e da entrada. Ela se escondeu atrás do corpo musculoso de Nate e colocou a melhor máscara de inocência que conseguiu encontrar.

— Estamos procurando Nathaniel Gray — disse o comandante dos guardas. — Ele está aqui?

Nate, tão tolo quanto corajoso, ergueu sua mão.

— Sou eu — respondeu, ajeitando a lapela de seu casaco. — O que querem?

Os guardas andaram até ele, empunhando suas espadas e pareciam preparados para atacar caso ele decidisse alguma coisa. Nenhum dos homens olhou para Jessamine, estavam muito ocupados com outra coisa.

— Nathaniel Gray, você é acusado de conspirar contra a família real e planejar a morte do Rei — disse o comandante. — Você será levado para a Torre de Londres onde irá aguardar seu julgamento.

Acusações tão graves quanto aquelas sempre acabavam em vereditos culpados. Não havia esperanças para Nate, Jessamine percebeu, sem sentir nem um pouco de tristeza. Ele seria executado, seja inocente ou não, e ela sabia muito bem de que ele não era.

— Do que estão falando? — perguntou Nate, completamente ofendido. — Não tenho nada a ver com isso.

— Temos evidência de que você comprou vários frascos de cicuta em um boticário na rua principal, senhor — murmurou o comandante. — Não lute. É melhor para você assim

Tudo ao seu redor parou. Jessamine poderia jurar de que os ventos não corriam mais e os pássaros permaneciam congelados no meio de uma batida de asas. Ela prendeu sua respiração, esperando que alguma coisa acontecesse.

Nathaniel virou lentamente e a olhou, analisando-a de cima para baixo como se a visse pela primeira vez em sua toda vida e uma expressão de choque tomou seu rosto. Jessamine segurou seu olhar, ajeitando sua posição e tentou não sorrir de maneira arrogante. Ela deveria ser inocente, afinal.

— Sua vadia! — ele vociferou, andando até ela e erguendo seu braço. Jessie sentiu o tapa em sua bochecha esquerda com mais composição do que esperava, caindo no chão e choramingando. Ela encostou sua mão no lado de rosto que ardia e sentiu lágrimas chegarem aos seus olhos. Sempre foi uma boa atriz.

Dois guardas correram para segurar Nate que estava determinado a estapeá-la mais uma vez, seu rosto vermelho de raiva, enquanto um terceiro a ajudava a se levantar.

— Está tudo bem, senhorita? — perguntou o homem e Jessamine se inclinou na direção dele, deixando os ombros caírem e suas mãos tremerem. Ela fungou.

— Eu vou te matar — cuspiu Nate, lutando contra o aperto em que estava. — Quando eu sair daquele lugar, vou te matar.

— Não consigo entender — ela disse, a voz embargada. Jessamine se permitiu ser abraçada pelo guarda que a havia ajudado. — O Príncipe nos deu tantas coisas boas. Sempre lhe tratou bem. Por que quis matar seu amado pai?

— Traição não é algo para os de mente sã entenderem, madame — disse o comandante, balançando a cabeça.

— Não sou um súdito inglês — murmurou Nate, sorrindo como se tudo estivesse resolvido. — Não podem me julgar por isso.

— Mary Stuart disse a mesma coisa, senhor, e olhe o que aconteceu com ela.

Uma expressão de choque tomou o rosto de Nate e os guardas o arrastaram para fora, levando-o para algum lugar desconhecido e escuro. Jessamine se soltou do homem que a segurava e limpou as bochechas, os ombros tremendo.

— Vasculhem a casa e encontrem os fracos— ordenou o comandante. — Smith, dê água para essa senhorita se acalmar. Mentes femininas não aguentam tanta violência.

— Sim, por favor — ela sussurrou, sentando-se em uma cadeira. Smith correu para obedecer seu comandante, enquanto os outros guardas desapareciam casa adentro. O comandante foi junto, cuspindo ordens e repreensões.

Ela estava livre. Finalmente. Depois de tantos anos com aquele homem asqueroso respirando em seu pescoço, sussurrando coisas nojentas em seu ouvido, havia se livrado dele. Quase não conseguia acreditar de que tudo havia dado certo.

Jessamine enfiou as mãos em seus bolsos e sentiu o toque frio do frasco de vidro. Nate tinha razão, ela pensou. Precisavam se livrar do rei. Ela fechou seus dedos ao redor do veneno que seu antigo amante havia comprado e começou a planejar a próxima parte de seu plano.

Jonathan respirou fundo, fechando as mãos na frente de seu corpo, e tentou não enlouquecer completamente. Era o dia de seu casamento. Estava dentro da capela real, parado na nave, em frente aos membros mais importantes da alta sociedade. Não havia como fugir. Teria que seguir com aquilo tudo.

— Você parece prestes a desmaiar, Vossa Alteza — disse Alexander, parado atrás dele. — Relaxe. Ficar nervoso só piora tudo.

— Aprendeu isso por experiência própria? — Jonathan se lembrava bem de seu grande amigo vomitando meros minutos antes da sua cerimônia de casamento, quase arruinando tudo. Tudo foi muito pior para o Duque. O Príncipe precisava se contar sortudo neste aspecto. Ele, pelo menos, gostava de mulheres.— Lydia está bonita hoje.

Alexander olhou para sua esposa. A Duquesa de Norfolk estava sentada na primeira fileira, conversando em tom baixo com sua sogra. Ela usava um vestido vermelho que complementava sua pele pálida, além de usar o cabelo loiro em um penteado alto.

— Sim — disse Alexander sem emoção nenhuma em sua voz. — Acho que irá ficar aqui na Corte comigo. Ela é inteligente, pode sobreviver aqui.

— E as crianças? — questionou Jonathan entre sussurros.

— Irão ficar bem com suas governantas. — ele deu de ombros. — Também pedirei para minha mãe voltar para Norfolk.

— Boa ideia. — Maryse e a Corte inglesa não eram coisas que alguém iria querer misturar.

O Rei limpou sua garganta em seu lugar no camarote real, sua forma de repreender o Príncipe sem chamar atenção, e Jonathan se voltou para o Arcebisbo Jeremiah de Canterbury que lia sua bíblia em silêncio. Ele parecia estar rezando, porém, obviamente, não era possível saber para quê. Talvez pedisse por herdeiros anglicanos, ou um casamento pacífico, ou para que sua esposa finalmente o acalmasse e o afastasse de suas amantes. Jonathan não tinha dúvidas de que a maioria dos conservadores desejava isso.

As portas da catedral se abriram e um coro elegante e agudo se ergueu para embalar a entrada da princesa. O Príncipe prendeu sua respiração. A luz que entrava pelos vitrais coloridos da janela iluminavam Clarissa, reluzindo quando batiam nas pedras preciosas em seu vestido dourado. Ela estava usando o colar de diamantes com seu retrato e um véu grosso e coberto por rendas não permitia que ele visse sua expressão, porém imaginava de que ela estava sorrindo. Uma aura de ouro a cercava, criando a impressão de que ela tinha asas de anjo, batendo atrás de suas costas.

Sua noiva cruzou a catedral com passos elegantes e aceitou a mão que ele ofereceu para ajudá-la a subir até o altar.

— Você está linda — Jonathan sussurrou e conseguiu ouvi-la dar uma risadinha animada. Ele se lembrava muito bem de Ella ter lhe dito de que deveria dizer isso quando encontrasse sua futura esposa vestida para a cerimônia, mesmo se não achasse que fosse verdade. Porém ele achava. Ela estava linda.

Ele empurrou o véu para fora de seu rosto e sorriu, dando lhe uma piscadela carismática. Clarissa sorriu de volta e segurou sua mão, fazendo o que era esperado, apertando seus dedos como se estivesse passando uma mensagem. Estou aqui. Estamos juntos nessa. Você não está mais sozinho.

Quando seu pai ordenou que desposasse da única filha do Imperador, ele só sentiu irritação. Quando descobriu que ela era praticamente uma criança, com apenas dezesseis anos no mundo, se sentiu como um criminoso. Porém, quando se encontrou com a garota e finalmente a conheceu, ele não conseguiu sentir nada além de uma surpresa agradável. Jonathan gostou dela. Tinha certeza de que poderia criar uma afeição pela princesa ao longo dos anos, até mesmo amor. Ser casado com Seraphina Clarissa Jocelyn não seria tão ruim quanto pensava.

— Podemos começar? — perguntou o pastor.

Clarissa vasculhou o salão com seus olhos, tentando compreender tudo o que acontecia ao seu redor. Ela estava sentada na mesa principal, ao lado de seu marido e apenas duas cadeiras de distância do rei, um lugar de honra como a nova princesa de Gales. Seu primeiro baile na Inglaterra, o primeiro de muitos, e ela estava completamente perdida, sem saber o que fazer.

Inúmeros pratos e bebidas lhe eram oferecidos pelos garçons e atendentes, mas foi obrigada a recusar todos. Não conhecia nenhuma das comidas e não sabia nem por onde começar. Onde estavam os wienerschnitzel, os strudels e o sachertorte? Em sua opinião, tudo estava uma bagunça.

Ela olhou para os casais dançando com ânsia, querendo se juntar a eles, porém também desejando continuar na segurança de seu lugar. Henry Branwell girava a condessa de Pembroke embaixo de seu braço com graça, sorrindo enquanto ela ria com vontade. Clarissa não conseguia entender a relação entre eles, talvez fossem casados?

Estava tão distraída que não notou quando Jonathan ergueu o braço e empurrou uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha, o seu toque arrepiando todos os pelos no corpo da princesa. Ela se virou para ele e o viu a encarando, um olhar estranho em seu rosto belo.

— Como você está? — ele perguntou.

— Bem — ela respondeu, erguendo seus ombros. — E você?

Jonathan sorriu, olhando para o salão de baile por um segundo. Seu pai estava bebendo vinho, uma expressão satisfeita cobrindo suas feições, e não parecia estar prestando atenção neles. Os olhos dourados de seu marido pareceram se prender em uma bela moça de cabelos negros, mas poderia ser apenas sua impressão. Clarissa mordeu seu lábio e respirou fundo. Estava tão feliz de estar ao seu lado, finalmente, que não era capaz de pensar em mais nada.

Ela arrastou seus dedos por sua mão esquerda, sentindo o anel da família Herondale gelado contra o seu toque. Era uma belíssima jóia, provavelmente uma herança passada por gerações de rainhas e princesas, com rubis e detalhes em ouro. Um símbolo da união deles, algo que marcava o casamento feito entre os dois. Áustria e Inglaterra, por fim juntas.

— Estou bem — disse Jonathan. Ele olhou para seu prato ainda cheio e franziu o cenho, uma ruga de preocupação se formando entre suas sobrancelhas loiras. — Você não vai comer?

Clarissa olhou para seu prato também. Frutas, queijos e pedaços de brioche pareciam extremamente apetitosos, porém não tinha certeza se seria capaz de comer algo tão… inglês.

— Não estou com fome — mentiu, colocando as mãos em seu colo.

— Deve comer, anjo — ele murmurou, olhando-a de maneira tão intensa que foi difícil segurar seu olhar. — Preciso de você forte e saudável.

A onda de emoções que a atingiu foi maciça e incontrolável. Ele me chamou de anjo.

— Não sei nem por onde começar — Clarissa comentou, suas bochechas queimando. Ela agradeceu aos céus por estar usando pó de arroz ou então iria se humilhar na frente do marido.

Jonathan se aproximou, sua respiração quente batendo contra o rosto dela, e pegou um pedaço de pão em seu próprio prato e uma fatia de queijo. Seus olhos estavam concentrados e determinados. Ela não foi capaz de protestar ou reagir às suas ações, apenas observar em silêncio enquanto o Príncipe passava um patê sobre o queijo e o colocava em cima da torrada.

— Aqui — ele disse, erguendo o alimento na altura da visão de Clarissa. — Dê uma mordida.

Ela respirou fundo e o mundo inteiro desapareceu, deixando-os sozinhos na eternidade. Lentamente, a princesa colocou seu rosto para frente e deu uma mordida na comida, seus dentes se arrastando e partindo o pão ao meio e seus lábios roçando contra os dedos de Jonathan. Clarissa sentiu um gosto forte preencher sua boca e tantas sensações a atingiram como um tapa. A comida austríaca era mais doce, porém tão gostosa quanto. Seu marido suspirou e seus olhos se escureceram.

Clarissa pegou a torrada em sua mão e terminou de comer. Sua cabeça estava mais focada do que antes e a música parecia mais alta, mais presente. Ela estava com muita fome.

Jonathan a ainda estava olhando, portanto o olhou de volta. Queria saber poder ler pensamentos para saber o que estava em sua mente, ao menos para poder entendê-lo melhor.

— Princesa, eu gostaria de saber, — ele começou, abaixando o tom de voz até que apenas ela o ouvisse. — se eu poderia visitar seus quartos essa noite.

Clarissa tentou mascarar seu choque. Ele queria ir para seus aposentos? Mas por quê? A consumação, ela se lembrou, quando seu casamento iria se tornar verdadeiro aos olhos de Deus e dos homens. Apesar de todas as suas aulas e lições que a preparam para sua vida de esposa, ninguém nunca lhe explicou o que acontecia durante a consumação. Não sabia nem por onde começar. O medo correndo por suas veias não foi agradável ou uma surpresa.

Apesar de tudo, ela sabia o que lhe era esperado e o que deveria fazer.

— Sim — respondeu. — É claro.


Notas Finais


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