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História In My Heart - Cronograma do fim de semana


Escrita por: brunacezario

Notas do Autor


Falei (no twitter) que se o Brasil ganhasse teria capítulo novo, então aqui está o novo capítulo para comemorar a vitória do Brasil e a derrota da Alemanha. Que quarta-feira linda, não é mesmo?

Ótima leitura!

Capítulo 56 - Cronograma do fim de semana


Com o lançamento dos novos livros de Emily se aproximando, a irmã mais velha de Piper desconhecia o que era passar um fim de semana em casa.

Quando Piper deu a notícia para todos de que seu coração nunca esteve mais saudável, Emily esperou o ano letivo de Chloe e Julie terminarem e toda a família voltou para Boston.

Emily também não gostava de Nova York como uma cidade para morar. Achava que viver 24 horas em um lugar que ela gostava de ir somente para passar uns dias, para passear, perdia completamente o encanto. Era como alguém que mora perto de praia, chega uma hora que a sensação de ver o mar não é mais a mesma por ser uma coisa que acontece todo dia.

Ninguém se opôs a mudança, pelo contrário, as garotas comemoraram o fato de voltarem para casa. Amaram o tempo que passaram com a tia, mas elas também não eram as maiores fãs de terem Nova York como nova casa.

Isso fez com que Emily se sentisse uma mãe menos horrível por ficar arrastando as filhas de cidade em cidade.

- Não precisam se comportar. – orientava Emily enquanto apertava as filhas em um abraço. – Podem destruir esse apartamento se quiserem. – deu um beijo na cabeça de cada uma das filhas. - Sua tia não tem o direito de reclamar.

- Por que toda essa hostilidade? – questionou Piper em tom irônico. – Não lembro de ter feito nada a você nas últimas 24 horas.

- Eu denunciei a sua conta do twitter só para você saber.

- O que? Eu estava fazendo uma ótima publicidade do seu livro. Falar para as pessoas não comprarem algo faz com que as pessoas queiram comprar. É a mesma coisa de quando uma mãe fala para a filha não dar a flor porque o garoto não presta. Ela sempre vai dar a flor sem nem pensar duas vezes.

- A flor? – Emily riu. Piper apontou para as sobrinhas em sua frente. Preferia não usar termos ridículos, mas ainda era uma excelente tia. – Eu deveria ter gravado isso.

- Vamos? – Nolan passou a mão pela cintura da esposa. - Senão vamos perder o voo. Cuidem direito da sua tia.

- Cuidem direito da sua tia. – Piper imitou Nolan, mas fazendo uma voz mais fina e irritante. – Prometo continuar com minha excelente divulgação do livro.

- Eu espero que sua conta seja suspensa. – mandou um sorrisinho cínico para a irmã. – Não se comportem meninas. – ela deu um tchau, virando as costas logo em seguida e indo embora.

- Ela não faz ideia que nenhuma de nós três se comportam quando estamos juntas, não é mesmo? – Piper bateu a porta atrás de si. – Certo. – bateu uma mão na outra. – Cronograma do fim de semana.

- Por que você e a tia Alex não estão mais namorando? – Chloe disparou a pergunta sem nem ao menos preparar a tia antes. Piper quase tropeçou nas próprias pernas. Esqueceu que em algum momento teria que lidar com aquele assunto. – Sinto falta da tia Alex. Vocês brigaram?

- Não... – Piper limpou a garganta. Ela não fazia a menor ideia de como iria explicar sua situação com Alex para as sobrinhas. – Nós não brigamos, nós só paramos de nos falar.

- Por que? – foi a vez de Julie perguntar. – Ninguém para de se falar sem motivo.

- Às vezes as pessoas param sim. Não sem motivo, mas por um motivo que não dá motivo para brigas.

Se tivesse escrevendo qualquer tipo de matéria ou artigo nenhum editor em sã consciência terminaria de ler por causa dos vários “motivos” ditos em uma única frase. Se fosse a redação que a faria entrar na faculdade quando adolescente, definitivamente estaria reprovada.

- Eu não entendi. – disse Chloe.

- Com o tempo você vai entender que tem umas coisas que acontecem na vida dos adultos que ninguém entende, nem eles mesmos.

- Mas você e a tia Alex nunca mais vão voltar a namorar? – Chloe buscou por mais informação.

- Acredito que não. – Piper sentiu uma leve dor em seu coração ao revelar aquilo.

Queria saber quando que isso iria passar. Quando poderia tocar no nome de Alex sem entristecer o seu coração.

- Tia, é normal eu não gostar de meninas? – Chloe perguntou. - Quero dizer... Eu gosto delas como amigas, mas não para namorar que nem você gosta.

- Vocês fizeram um livro “Perguntas para a tia Piper quando eu vê-la de novo” por acaso? – as duas crianças se entreolharam, fazendo um negativo com a cabeça logo em seguida. – Não tem nada de errado você não gostar de meninas para namorar. É uma infelicidade, mas é normal. Sorte dos meninos.

- Credo! – Chloe fez uma careta. – Também não gosto dos meninos para namorar. Eles são todos idiotas.

Piper riu da sinceridade da sobrinha.

- Eles são. – ela pousou a mão no ombro da Chloe. – Continue pensando assim por mais alguns anos. É o melhor que você faz da sua vida. – deu três leves tapinhas no ombro da sobrinha. – Então, vamos ao cronograma ou vocês têm mais perguntas para me fazer?

- Nós vamos jantar besteira hoje? – Julie perguntou. – A mamãe disse que não era, mas você não vai obedecer a ela, certo tia?

- Você nunca esteve tão certa em toda sua vida.

O primeiro item do cronograma daquele fim de semana tinha a participação de Nicky. Elas encontram com a médica após o seu expediente, rumo a uma sexta-feira de diversão.

- Tia Nicky por que você e a tia Jess não namoram mais? – Julie iniciou a sessão perguntas dessa vez. Nicky quis dar meia voltar e ir embora. Ninguém avisou que teria que lidar com aquele tipo de pergunta. – Tem a ver com esse boato de você estar namorando a tia Piper?

As duas mulheres engasgaram com o próprio ar. Aquele boato tinha mesmo ido longe demais.

- Primeiro: Eu e a sua tia não estamos namorando. Segundo: Eu fiz uma coisa muito errada. Deixei a Jess triste, por isso que não namoramos mais.

- Viu tia? Não é complicado o dela. – disse Chloe.

- Você que pensa. – Piper murmurou para si mesma.

- Vocês estão fingindo que namoram por que não namoram mais? – Julie perguntou. – Vocês nunca mais vão namorar ninguém na vida?

- Exatamente. Nós vamos morrer sozinhas. – as duas responderam juntas, como se não fosse nada demais. Chloe e Julie se entreolharam. Adultos eram mesmo complicados. – Estão prontas? – Piper colocou o capacete na cabeça. – Não esqueçam que viemos para vencer.

- Mas o importante não é se divertir? – perguntou Julie.

- Isso é o que os perdedores dizem. – Nicky explicou. – Nós não somos perdedoras.

Na verdade, elas eram.

Piper, Nicky, Chloe e Julie foram massacradas no paintball, entretanto o passeio não deixou de ser menos divertido por isso. O jogo proporcionou as quatro ótimas risadas e uma promessa de voltarem uma próxima vez para revanche.

***

Alex e Rachel deram uma volta de 360 graus sem saírem do lugar, sem palavras para o tamanho do salão que foram visitar.

Quando Clara sugeriu um dos novos salões que inaugurara na cidade, elas acharam que seria um salão do tamanho do casamento que elas queriam realizar, não um salão que dava para realizar dois casamentos reais.

- Dava para convidar a cidade inteira para o nosso casamento e mais metade da cidade vizinha. – Rachel comentou assim que deixaram o lugar. – Quem faz uma festa em um lugar tão grande?

- Sabe o que é isso? Indireta da minha avó para o próximo lugar que ela quer que faça o aniversário dela. – Alex disse com seriedade. Rachel riu. – Eu estou falando sério.

- Ou ela só quer que a gente convite a cidade inteira para o nosso casamento. Você viu o tamanho da primeira lista de convidados.

- Nós vamos decepcioná-la mais uma vez.

- Falando em lista de convidados... Tem certeza que você não quer convidar mais ninguém?

- Se eu tenho certeza... – Alex semicerrou os olhos, tentando entender onde Rachel queria chegar. Ela balançou a cabeça em negativo pedindo por mais alguma dica.

- Nicky.

- Ah... – ela escondeu as mãos dentro do bolso do macacão jeans que usava, visivelmente incomodada e surpresa com aquele assunto. Pensou que não teria que lidar com aquilo tão cedo ou nunca. – Tem mais de um ano que não nos falamos, então... – deu de ombros.

- Amor, vocês são inseparáveis desde a faculdade, sei que ela agiu muito errado, mas isso não vale nem uma conversa?

- Se ela quisesse conversar, você acha que já não teria me procurado?

- Não acho. – Rachel respondeu com sinceridade. – Talvez ela ache que você não quer mesmo nunca mais falar com ela. A última conversa de vocês não foi uma das mais motivadoras para ela vir trás de você.

- Rach, eu não sei... – soltou um longo suspiro. – Eu desapareci da vida dela, só sei que ela está bem por causa das coisas que a Katie me conta. Talvez ela não queira falar comigo por eu ter sido a pior amiga do mundo quando ela mais precisou.

- Alex, você só vai ter certeza do que a Nicky pensa se falar com ela. – Rachel passou a mão pelo braço da namorada, olhando-a com carinho. - Amor, o casamento é para ser um dia especial, não acredito que o nosso será para você se a Nicky não tiver presente. Sempre imaginei ela e a Katie sendo as madrinhas, e quase se matando durante todos os preparativos.

Alex riu, conseguia ver perfeitamente a cena, pois era algo que ela sempre imaginou também. Mas aos poucos a risada foi cessando por ela se dar conta de que todas as vezes que imaginou Nicky e Katie como madrinhas de seu casamento, Rachel não era a noiva.

- Por que você continua estourando a minha bolha? – Alex perguntou em um tom de brincadeira, tentando espantar certos pensamentos.

- Liga para ela.

- Eu esqueci o meu celular no restaurante.

- Não seja por isso. – Rachel estendeu seu celular para Alex. – Ligue para ela.

Tomar café da manhã na lanchonete favorita de suas sobrinhas era mais uma parte do cronograma daquele fim de semana.

Nicky também havia sido convidada para tomar café com as três, portanto enquanto esperavam pelas panquecas personalizadas, a loira levou Chloe e Julie para pegar bexigas de animais que um palhaço fazia na entrada do estabelecimento.

O celular de Nicky tocou em cima da mesa.

Desconhecido.

Piper olhou para a porta de vidro da lanchonete, mas não conseguiu ver Nicky.

- Celular da doutora Nicole Nichols. – tratou de atender.

Não podia arriscar ser uma ligação da clínica ou da assistente social que estava acompanhando o caso de Nicky. Ela amava ligar e aparecer nos momentos menos oportunos.

Do outro lado da linha, Alex paralisou. Reconheceria aquela voz a uma galáxia de distância.

- Alôôôô. – estendeu seu “alô” para ver se assim a pessoa acordava para a vida e se situava que ela havia atendido ao celular. – Sinto muito se era a voz da Nicky que você queria ouvir, mas no momento só tem a minha.

Alex permanecia estática, nem respirava para não fazer qualquer tipo de som que Piper pudesse reconhecer.

- Se é alguma possível transa, não é a namorada dela que está falando, a não ser que seja aquela chata das reuniões, aí é a namorada dela aqui sim.

- Ah pelo amor de Deus, Piper? Com quem você está falando agora? – tirou o celular da mão da loira. – Eu não tinha te proibido de atender minhas ligações?

- Não. – Piper respondeu com convicção. Se tivesse tido uma conversa do tipo se lembraria, pois contestaria muito tal absurdo. – Era só alguém que queria ouvir sua voz. Só isso.

***

Alex estendeu o celular de volta para Rachel, devolvendo-o.

- Ela não atendeu. – disse um pouco desnorteada ainda por ter ouvido a voz de Piper.

- Mais tarde você tenta de novo. – Rachel sorriu. Alex tentou retribuir o sorriso, mas o máximo que conseguiu foi mexer as bochechas. – Está tudo bem? Se não quiser fazer isso não precisa, mas vocês são melhores amigas...

- Não, não é nada disso. – Alex sorriu mais convincente dessa vez. – Só fico pensando como vai ser quando ela atender.

- Conhecendo a Nicky, provavelmente ela vai fazer algum tipo de piada.

- Provavelmente. – Alex soltou um riso abafado. – Obrigada por me aconselhar a fazer isso.

- Ah... – Rachel sorriu, envergonhada. – Se não é para isso que servem as futuras esposas, para que elas servem então? – deu um beijo em Alex. – Quantos salões nós temos que ver ainda para decidir fazer o casamento no quintal de casa?

- Mais três.

- Boa sorte para gente.

***

A sequência do cronograma para o fim de semana que Piper havia feito era Chloe e Julie brincarem no parque com Julia. Jess e Caitlin também faziam parte do dia. Era o momento que as três podiam ficar sentadas sem terem que se preocupar com absolutamente nada.

- Se um dia eu disse que nunca seria mãe, eu não me lembro. – comentou Piper olhando as garotas fazendo todo o caminho de “barreiras” até o escorregador. – Olha que bens mais preciosos.

- A ironia está tão impregnada em você que muitas vezes eu tenho dificuldade em saber se você está falando sério ou se só está sendo irônica. – disse Caitlin.

- Ela está falando sério. – Jess constatou. – Mas também está sendo irônica. Bens preciosos?

Piper ergueu os ombros.

- Muito fácil querer filhos quando só passa um fim de semana com as sobrinhas. Quero ver passar todos os dias até os 18 anos. – disse Caitlin com um pouco de mal humor em seu tom de voz.

- Primeiro: - Piper contabilizou no dedo. - Você tem a guarda compartilhada, então não passa todo dia com a Julia. Segundo: O que sua filha fez para você estar odiando ela?

- Passei 22 horas em trabalho de parto para ouvir a ingrata dizer que ama mais a Jess do que me ama.

- Eu também amo mais a Jess do que amo você. – Piper esboçou um sorrisinho cínico. De qualquer forma, a declaração não passou despercebida por Jess que sorriu com doçura. – Em defesa a Julia, muito difícil não amar a Jess mais do que ama outras pessoas.

- É... Já estou vendo tudo. Quando Jess e eu casarmos vou perder minha filha para sempre.

- Quando... – Piper fez uma breve pausa, processando o que acabara de ouvir. Pela cara despreocupada de Jess, ela era mesmo a única pega de surpresa por aquele assunto. – Desde quando vocês estão conversando sobre casar?

- Não estamos. – Jess esclareceu. – Mas isso não significa que já não conversamos sobre o que esperamos de um relacionamento.

- Tem que ter coragem querer se casar de novo depois de já ter se divorciado. – disse Piper com deboche. – Sabe que eu venho no pacote, certo?

- Vou perder minha filha mesmo. – Caitlin deu de ombros. – Vamos ter que ter outro filho. Ele vai ser o meu favorito.

- E se ele não te amar mais do que ama a Jess também? – Piper provocou.

- Cala a boca, nojenta.

O celular de Piper tocou.

- Gloria, não! – Piper não deixou com que a chefe falasse uma única palavra do outro lado da linha. - Esse é o fim de semana com as minhas sobrinhas, você não vai me escravizar. Não vou permitir.

- Sabia que existem chefes que demitem por menos? – disse Gloria em um tom ameaçador.

- Se você me demitir, eu vou te processar. – retrucou Piper com o mesmo tom ameaçador. - Demitir alguém com um problema do coração deve ser a mesma coisa do que demitir uma mulher por ela estar grávida.

- Que bom que o seu coração está em perfeito estado. – Gloria ironizou.

- Mas ele não estava. Posso alegar que você me demitiu só agora por causa de todo o tempo que eu não trabalhei quando estava quase morrendo.

- Piper, você só não trabalhou as horas que dormiu depois do transplante.

- Porque eu tinha muito medo de perder o meu emprego. – fingiu um tom de voz ingênuo, oprimido. – Não está fácil encontrar um bom emprego hoje em dia.

- Eu não sei como... – Gloria balançou a cabeça em negativo. Podia se passar anos, ela sempre iria se indignar com o fato de cair nas longas conversas sem sentido de Piper. – A Maggie ainda não voltou do Brasil.

- Eu sei. Além de curtir todas as fotos que ela postou no instagram eu ainda comentei “se existisse a opção de discutir aqui, seria isso que eu faria em todas as suas fotos”. Por que você nunca me manda para o Brasil? O que de tão ruim eu te fiz todos esses anos que trabalhamos juntas?

Gloria abriu a boca, prestes a entrar em mais uma mudança de assunto de Piper. Se dando conta do que iria fazer, ela recuou. Tinha mais o que fazer, e se deixasse, Piper poderia fazer aquela breve ligação durar uma hora inteira se quisesse.

- Piper, foco! Maggie só volta daqui alguns dias, então vou precisar que você acompanhe a Laurel.

- Que eu acompanhe.... – Piper riu, incrédula. – Nem fodendo! Por que você não manda a Jess?

Jess, que estava distraída conversando com Caitlin, interrompeu imediatamente o assunto para encarar a melhor amiga com uma mistura de repreensão com confusão. O que ela tinha a ver com aquela conversa?

- A Jess tem mais o que fazer. – Gloria respondeu.

- E eu não? Nem jornalista eu sou mais.

- Desde quando? – Gloria indagou, colocando em palavras o que Jess estava pensando quando ouviu aquilo. A vontade da Lane da Chapman era de ouvir aquela conversa por completo, pois só ouvir as respostas ou perguntas da Piper estavam a deixando doida. – Pelo que eu saiba você aceitou ser editora somente por um tempo.

- Por que você está achando ruim? Não era você que quase implorou para eu me tornar editora?

- Piper para de mudar de assunto! – exclamou Gloria, um pouco sem paciência. – Não estou pedindo para você acompanhar a Laurel, estou mandando você ir. É só até a Maggie voltar.

- Por que você não vai?

- Porque eu tenho mais o que fazer também. – respondeu Gloria em um tom cínico. - E você está tão familiarizada quanto a Maggie sobre o assunto. A ideia foi sua, pelo amor de Deus!

- Nunca mais vou dar ideia nenhuma para absolutamente nada também. – resmungou, emburrada. – Obrigada por estragar o meu fim de semana. – completou com ironia, desligando o celular.

- Por que você sempre quer que eu faça os trabalhos que você não quer fazer? – foi a primeira coisa que Jess perguntou assim que Piper encerrou a ligação.

- Gloria quer que eu vá a Nepal com a Laurel. – revelou Piper sem um pingo de felicidade em seu tom de voz.

- Eu sou uma pessoa ruim por estar me segurando para não rir disso? – indagou Caitlin com um discreto sorriso em seu rosto, realmente se segurando para não rir daquela pequena desgraça de Piper.

- Não tão ruim quanto a mim. Eu estaria rindo se isso tivesse acontecendo com qualquer uma de vocês. – ela jogou todo o peso do seu corpo no encosto do banco de pedra. – Eu não posso ir para Nepal.

- Claro que pode. – afirmou Jess. – É o seu trabalho. A cidade é grande.

- Você não acredita mesmo nisso de “a cidade é grande”. Eu tenho certeza que assim que eu pisar na porra daquela cidade, vou esbarrar com ela igual acontece nas séries e filmes.

- Às vezes ela pode fingir que nem te conhece. – disse Caitlin. – Gostaria de ter esse privilégio. – direcionou um sorrisinho cínico para Piper. A loira revirou os olhos. – Se fosse a semana do casamento dela, você bem que poderia invadir e se declarar.

- Eu nunca mais vou a museu nenhum com você, Jess. – Piper se levantou do banco. – Olha as coisas que você arruma. – gesticulou, apontando para Caitlin.

Para não estragar o restante do fim de semana que havia planejado com as suas sobrinhas, Piper resolveu bloquear aquele infeliz acontecimento de seus pensamentos. Teria que lidar com o fato de que iria de qualquer forma a Nepal para fazer a matéria sobre o projeto de Laurel, mas não precisava lidar imediatamente com aquilo. Era muito boa em adiar a resolução de seus problemas, então continuaria usando isso ao seu favor.

Após o passeio no parque, as três mulheres levaram as três meninas à uma sorveteria para se encherem de sorvete e depois voltaram para o apartamento de Piper e Jess. Depois de quase virarem o apartamento de cabeça para baixo, Julie e Chloe ainda conseguiram convencer Caitlin a deixar Julia dormir com elas. Um fim de semana na casa de sua tia sem uma noite do pijama, não poderia ser considerado um fim de semana completo.

Passar boa parte da noite montando uma cabana e comendo hambúrguer com batata frita com as meninas fez com que Piper esquecesse mesmo do trabalho que teria no começo da próxima semana. Era impossível pensar em qualquer outra coisa que não fosse brincadeiras para tornar a noite daquelas crianças divertidas.

Mas uma hora as meninas teriam que dormir, deixando Piper sozinha com os seus pensamentos, então quando essa hora chegou, ela sentiu um peso tomar conta de todo o seu corpo.

Queria que Nepal fosse grande o suficiente para não ter a mínima chance de esbarrar com Alex, mas ao mesmo tempo queria esbarrar com Alex, talvez as coisas fossem diferentes dessa vez.

Riu de sua ingenuidade.

O que poderia ter mudado? Agora Alex iria casar com Rachel.

Seria melhor, caso se esbarrassem, que Alex fingisse mesmo que não a conhecia.

Mas seria melhor mesmo?

Piper já não sabia mais o que era melhor.

Na verdade, o melhor seria não ir para Nepal, mas essa opção não estava disponível.

Alex também passou a noite inundada por pensamentos. Vivia batendo na tecla de que havia superado, de que casaria com a mulher que sempre foi predestinada a casar, mas por que a voz de Piper no telefone lhe causou tanto incomodo?

Estava acostumada com a raiva sempre que citavam o nome da ex-noiva. Ela também estava acostumada com a magoa, com o sentimento de não valer uma única explicação decente, mas não estava acostumada com o frio na barriga. Não sentia isso fazia um bom tempo quando o assunto era Piper, então por que agora? Por que quando estava prestes a casar, Piper tinha que surgir novamente em sua vida nem que fosse somente por alguns segundos? O universo não cansava de massacrá-la não?

Para não acordar Rachel com toda sua inquietude, Alex foi até a cozinha. Ela encheu um copo com água e sentou no balcão da bancada. Não estava com cede, percebeu isso quando passou um bom tempo olhando para o copo de vidro em sua frente.

Soltou um longo suspiro.

Tudo isso por que cogitou voltar a ter contato com Nicky? Não culpava Rachel, muito menos a pequena motivação. Naquele ultimo ano pensou dezenas de vezes em ligar para Nicky, mas sempre desistia no meio do caminho por todos os motivos que disse a noiva mais cedo.

A verdade era que sentia falta de Nicky, queria mesmo tê-la em seu casamento, mas tinha medo do que uma conversa poderia fazer com as duas.

Mas o que ela tinha a perder? Já não mantinham contato mesmo. Pior não poderia ficar a relação inexistente das duas. Portanto ela pegou o celular, e sem nem ao menos se importar com a hora, ligou para Nicky.

- Que fuso horário é esse, porra? – Nicky atendeu ao celular, sonolenta. – Ou já é manhã? – ela abriu somente um olho. O quarto estava completamente escuro, sem sinal do sol atravessando a janela. – Não é manhã. Quem é?

- Sou eu. – Alex se limitou a responder, torcendo para que Nicky reconhecesse sua voz.

Todo o sono que Nicky estava sentindo desapareceu ao ouvir a voz de Alex. Ela se ajeitou na cama e esfregou os olhos, sem fazer a mínima ideia de como conduziria aquela conversa dali em diante.

- Alex? Está tudo bem?

Acreditava que só acontecendo alguma coisa ruim para a pessoa que costumava ser a sua melhor amiga ter entrado em contato.

- Não sei como responder a isso. – foi sincera. No geral estava tudo bem, mas naquela madrugada as coisas estavam bastante confusas. – Como você está?

- Bem. Sóbria. Ganhando 60 mil por ano.

Alex soltou um riso abafado. Como havia sentindo falta de Nicky respondendo tão naturalmente as coisas.

- Eu estou para ligar para você tem um tempo, mas ainda não estava pronta. – Nicky continuou. – Me resolver com você era uma das coisas mais difíceis de toda a lista.

- Por que?

- Por que? – Nicky riu de nervoso. – Não posso ter essa conversa por telefone. Minha madrinha me mataria.

- Eu vou casar. Podemos ter essa conversa na minha despedida de solteira.

- Normalmente tem strippers em despedida de solteiro, sabia disso?

- Como eu vou saber? Meus relacionamentos nunca foram tão longe. – Alex brincou, arrancando uma risada de Nicky. – O que você me diz?

- Nós não vamos conversar na sua despedida de solteira. – disse Nicky em um tom sério. Alex se entristeceu. Era isso que temia durante a conversa. - Quero estar muito bêbada na sua despedida de solteira. Podemos conversar antes.

Alex sorriu, feliz com o que ouviu. Tinha esquecido como em alguns aspectos Nicky era o ser humano mais fácil de lidar.

- Me desculpa, Nicky.

- Já disse que não vamos fazer isso por telefone. Você não quer mesmo arrumar confusão com a minha madrinha.

- Tudo bem. Nos vemos um dia antes da minha despedida de solteira, então.

- Até lá, Vause.

As duas desligaram o celular, ambas com um sorriso de felicidade no rosto. Elas tinham mesmo muita coisa para conversar olho no olho, sabiam disso, entretanto aquela ligação havia sido um grande passo.

- Essa foi a ligação que eu acho que foi? – Rachel abraçou Alex por trás e lhe deu um beijo na nuca.

- Eu acho que foi. – Alex encostou a cabeça no peito de Rachel. – Nós vamos conversar antes do casamento.

- Eu disse que a ligação não ia ser tão ruim assim.

- Sim... – Alex virou o corpo para ficar de frente para Rachel. – Você disse. – deu um beijo na noiva. – Obrigada.

- Pode me agradecer voltando para a cama.

- Voltando para cama? – Alex ergueu uma sobrancelha, maliciosa. – Que bom que não disse nada sobre dormir. – Alex ergueu Rachel em seu colo, arrancando um gritinho seguido de uma risada da morena. – Vamos voltar para a cama.

***

O domingo foi composto de um almoço feito por Jess e Caitlin e uma tarde no cinema, encerrando o fim de semana de Chloe e Julie com Piper.

- O que temos que fazer para você deixar a gente passar mais uma semana com a tia Piper? – perguntou Chloe.

- Entrar de férias ou fazer 18 anos. – Emily respondeu. – Isso significa que o fim de semana foi bom?

- O melhor de todos! – Julie respondeu. Ela abraçou Piper. – Nós realmente sentimos a sua falta, tia Piper.

- Também senti muito a falta de vocês. – ela deu um beijo na cabeça da sobrinha. – Nós vamos ter muitos mais fins de semanas como esse agora que a mãe de vocês vai lançar dois livros novos. Prometo.

As duas garotas sorriram, felizes com o que ouviram. Poderiam não serem fãs de morar em Nova York, mas amavam a tia e cada segundo que passavam com ela.

- Emily, eu recebi um email do twitter falando sobre as denúncias que recebi... – Piper deixou a continuação de sua frase no ar.

- Uma pena não terem suspendido a sua conta. – retrucou Emily com deboche.

- Se eu perder meu meio milhão de seguidores por sua causa a única irmã que eu vou ter é a Jess.

- Eu sempre quis ser filha única mesmo. – Emily deu de ombros. – Não fale mais do meu livro que vamos ficar bem.

- O seu livro sobre mim? – indagou com cinismo. - Eu posso te processar, sabia?

- Todo lançamento da Emily é a mesma coisa. – Jess disse sem paciência. – Da próxima vez escreva um livro sobre mim. Tenho certeza que não vou te irritar. – sorriu.

- Eu estava mesmo querendo conversar com você sobre um possível novo livro, mas achei que ainda era muito cedo.

Piper levou as duas mãos até a boca, abafando a risada. Jess encarou Emily, incrédula com a insinuação sobre o enredo do próximo livro. Ela não tinha limites?

- Viu? Muito cedo. – Emily constatou. – Podemos conversar sobre isso novamente daqui um ano. – sorriu, recebendo em resposta uma careta de Jess. Ela abraçou Piper. – Obrigada por cuidar delas.

- Para isso que as irmãs servem. – Piper sorriu de forma debochada. Emily riu. – Nos vemos em breve crianças.

As duas correram para abraçar Piper antes de deixarem o apartamento de vez.

- A tia Piper disse que não tem problema eu não gostar de meninas. – Chloe dizia enquanto a família caminhava até a escada. – Ela também disse que não tem problema eu não gostar de meninos. Que é o melhor que eu faço.

- Vejo que vocês tiveram conversas interessantíssimas esse fim de semana. – Emily olhou rapidamente para trás e sorriu para a irmã.

Piper retribuiu o sorriso e fechou a porta do apartamento.

Desde que mudara para Nova York nunca cogitou voltar para Boston. Amava a cidade. Morar em Nova York sempre foi um dos seus maiores sonhos, mas nunca ficava mais fácil se despedir das sobrinhas.

O celular de Piper tocou.

- Chapman da Lane.

- Quer dizer que, no final das contas, você vai mesmo para Nepal comigo? – Piper soltou um riso ao ouvir a voz de Laurel do outro lado da linha. – Você não precisa fazer isso se não quiser. Podemos fazer a matéria em outra cidade.

- O New York Times já se programou completamente para essa matéria, então... Não se preocupe com isso Laurel.

- Você vai ficar bem?

- Vai depender. – esboçou um fraco sorriso de canto de rosto como se Laurel pudesse ver que ela não estava feliz com a ideia, mas era o que tinha. – Uma coisa que eu sei é que não tem como ser completamente ruim. Vou estar na sua presença.

- Pensei que tínhamos decidido que não íamos mais transar.

Piper soltou uma gargalhada. Até que tinha demorado para a conversar entrar no assunto “sexo”.

- Eu não estava dando em cima de você.

- Precisa melhorar nisso, então. – Laurel respondeu com um tom de voz divertido. – Te vejo daqui dois dias?

- Com toda certeza.

As duas trocaram mais algumas palavras até a ligação ser encerrada. Piper jogou o celular em cima do sofá, e se jogou nele logo em seguida.

Novamente se sentia pesada. Acreditou que com o passar das horas ficaria mais fácil aceitar o fato de que estava mesmo indo para Nepal dentro de alguns dias, porém a cada hora que passava ficava mais difícil. Diversos cenários de sua pequena viagem passavam por sua mente e nenhum deles era bom.

- Piper, está tudo bem? – Jess perguntou após alguns instantes. Havia feito diversas sugestões sobre o que iriam jantar, mas por não ouvir uma única sugestão, reclamação ou contestação saindo da boca da melhor amiga, resolveu conferir se estava tudo bem.

- Não. – Piper respondeu sinceramente, mas ao mesmo tempo parecia que sua resposta não era nada demais. – Eu não fui totalmente sincera com você.

- Sobre o que? – indagou Jess um pouco confusa.

- Quando você me perguntou se eu não ia atrás da Alex por saber que tinha a chance de destruir o coração da Rachel por tabela ou por achar que ia acabar destruindo o meu coração, eu respondi um pouco dos dois, mas não é verdade porque eu já tive o meu coração destruído. Eu já fui atrás da Alex.

- Você já foi... – Jess sentou ao lado de Piper no sofá. Era muita informação. – Quando?

- Quando você foi na conferência em Chicago com a Gloria.

- E...?

Ta complicado sentir raiva e amar assim

Eu to achando que meu coração é bipolar

Ele quer te esquecer, mas ama te lembrar

Sei que não vou resistir se decidir voltar

- Coração Bipolar (Zé Henrique & Gabriel feat. Marília Mendonça)

 


Notas Finais


E...?

Até o próximo capítulo <3


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