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História In My Heart - Por que o Natal existe?


Escrita por: brunacezario

Notas do Autor


Resposta: Pra comer até entrar em coma alimentício.

Ótima leitra!

Capítulo 22 - Por que o Natal existe?


Quem foi que disse que pra tá junto precisa tá perto?

- Pense em Mim (Darvin)

O Natal é um feriado capitalista.

É isso que a maioria dos que odeiam o Natal usam como desculpa para odiar o Natal, certo? Mas, que feriado – ou alguma data comemorativa – não é capitalista? Dia das mães, dia dos pais, dia das crianças, dia dos namorados e, até mesmo, os 365 ou 366 dias do ano em que sempre tem pessoas fazendo aniversário pode ser considerado uma data capitalista. Entretanto, só quem recebe o ódio eterno de grande parte da sociedade é o Natal.

Fora a desculpa do capitalismo existe todo aquele problema da família. Nem todo mundo tem uma família que te deixa ansioso para o feriado. E, quando se é mais novo, não tem muito escolha sobre onde passar o Natal, então a data se torna mais uma obrigação do que uma comemoração.

É uma pena porque todo o intuito da noite de Natal é que ela seja mágica, caso contrário, qual o intuito da árvore, dos piscas-piscas e da mitologia do Papai Noel?

Por favor, não digam capitalismo.

O intuito da noite de Natal também é reunir todas as pessoas que se amam em um único ambiente e, se todos levassem isso ao pé da letra, provavelmente o número de quem odeia o Natal iria cair pela metade.

Família não é somente todas as pessoas que compartilham do mesmo sangue que o seu, existem vários tipos de família, muitas delas tem mais amor do que a família “original”. Por isso que se todos começassem a passar o Natal com as pessoas que amam – ou pelo menos com boa parte delas -, todos começariam a ver a magia do Natal, todos sentiriam a energia da época porque não existe nada mais prazeroso do que passar algumas horas com as pessoas que você ama somente comendo e jogando conversa fora.

Esse sim é o verdadeiro espirito natalino.

Esse sim deveria ser o verdadeiro motivo para o Natal existir.

- Adivinha quem chegou? – Piper e Jess falaram juntas, entrando na casa.

Assim que largaram as malas no chão, foram recepcionadas com duas meninas pulando em seus pescoços e as apertando em um abraço. Essa, sem dúvidas, era a melhor forma de serem recebidas após terem sobrevivido ao voo de Nova York para Boston em uma véspera de Natal.

- Cadê nossos presentes? – Chloe perguntou ao ver as mãos das tias vazias.

- Nós temos cara de Papai Noel, por acaso? – Piper colocou a sobrinha no chão. – Presentes só na manhã de Natal, esqueceu?

- Então por que vocês perguntaram o que a gente queria de Natal? – foi a vez de Julie perguntar e, diferente da sua irmã, ela estava tão grudada no pescoço de Jess que seria muito difícil a morena conseguir coloca-la no chão pelos próximos minutos.

- Nós perguntamos para poder fazer os pedidos para o Papai Noel. – explicou Jess. – Se vocês foram boas meninas durante o ano inteiro eu tenho certeza que ele vai entregar o presente de vocês. – deu um beijo na bochecha de Julie. – Vocês foram boas meninas?

- Você sabe que nós sempre somos, tia. – Chloe respondeu, impaciente. – Se vocês duas passassem mais tempo aqui iam ver como somos as meninas mais comportadas da galáxia.

- Se as duas passassem mais tempo aqui, elas iriam querer passar menos tempo aqui. – disse Carol, arrancando risadas das duas filhas. – Eu não acredito que vocês finalmente estão aqui. – apertou as duas em um abraço, na verdade, as três, pois Julie continuava no colo de Jess. – A Alex não veio mesmo? Você me falou...

- Está tudo bem, mãe. – respondeu, com um largo sorriso só de lembrar o quanto estava realmente bem o namoro das duas. – Ela tem a família dela, assim como eu tenho a minha. – passou seus braços pelos ombros de Chloe, apertando a sobrinha em um abraço por trás. – Nós estamos bem.

- E a Nicky?

- Ela foi passar o Natal com o pai. – respondeu Jess. – Mas ela disse que o ano que vem não perde o Natal da família Chapman por nada nesse mundo.

- Ano que vem. – Carol repetiu a frase, quase suspirando de felicidade. – Eu amo ver minhas meninas apaixonadas. – continuou, arrancando um largo sorriso das duas filhas.

- Mãe, o cheiro está bom demais. – elogiou Piper. – Você tem certeza que quer nossa ajuda? Não queremos estragar toda a sua comida.

- Piper Chapman, sempre querendo fugir dos trabalhos natalinos. – Emily entregou as sacolas que estavam em suas mãos para Nolan e correu para dar um abraço bem apertado na irmã, enquanto o marido deixava as sacolas na cozinha. O abraço demorou mais do que o costume, essa era a forma de não dizer em palavras o quanto ela estava feliz por ver que Piper estava bem. – Você sabe o quanto amamos o seu molho.

- Vocês amam reclamar do meu molho. – resmungou. – Como se vocês fizessem um molho para o peru melhor do que o meu.

- O Nolan faz um molho melhor do que o seu. – provocou Jess, após se separar do abraço que trocou com o marido de Emily.

- Mas a salada de batata dele é mil vezes melhor. – disse Piper, naturalmente. Somente isso já causou estranheza em todos. Sem comentários sarcásticos, irônicos e que deixariam Nolan sem graça durante o restante do dia? – Desde quando eu não ganho um abraço, Nolan? – Piper abriu os braços.

Todos continuaram olhando para Piper sem entender absolutamente nada. O que estava acontecendo? Desde quando ela havia voltado a tratar o Nolan bem?

Nolan olhou para os lados. A procura de outro Nolan, talvez? Ele era o mais confuso entre as outras três mulheres. Por um segundo a Piper em sua frente lembrou a Piper do passado, aquela que o tratava bem antes da Emily anunciar a separação.

- Se minha irmã resolveu te dar outra chance quem sou eu para não te dar, certo? – resolveu acabar com todos aqueles olhares confusos que estava começando a incomodá-la. – Eu dei uma chance até para o amor, então... Vem aqui! – puxou o cunhado para um abraço.

De começo, Nolan ainda ficou um pouco receoso. Vai que aquilo era algum tipo de pegadinha? Mas não demorou muito para que ele retribuísse o abraço. Não queria começar aquela segunda chance com o pé esquerdo. Apesar dos pesares, ele gostava de Piper.

- Eu sabia que o amor mudaria essa menina. – comentou Cal que assistiu toda a cena. – Amém Alex Vause!

- Amém Alex Vause! – todos repetiram.

Piper ficou vermelha, morrendo de vergonha. Era engraçado como só o fato de citarem o nome da Alex fazia com que ela sorrisse que nem uma adolescente em sua primeira paixão. O que na verdade não era totalmente errado, Alex não podia ser a sua primeira paixão, mas ela era o seu primeiro e, com sorte, único amor.

- Isso porque vocês não sabem da última. – disse Jess, ganhando os olhares curiosos de todos. – Ela e a Alex vão começar a morar juntas no ano que vem.

- Como...? – Carol estava perplexa com a novidade, mas não tanto quanto os outros que não conseguiam nem formular uma frase. – Isso é verdade? Você e a Alex vão morar juntas? – Carol abriu um largo sorriso. – Meu bebê. – abraçou Piper, orgulhosa.

- Eu vou, - tentou se separar dos abraços da mãe, mas sabia que qualquer tentativa era em vão. Carol só iria soltá-la quando ela tivesse certeza que expressou muito bem em um único abraço toda a felicidade que ela estava sentindo. - mas parece que Jess não recebeu a notícia muito bem, caso contrário teria me deixado contar na hora do jantar como eu disse que faria.

- Eu recebi a notícia muito bem. – tentou não passar ironia em seu tom de voz, mas tinha certeza que havia falhado. – Nós não temos um jantar para terminar? – resolveu mudar de assunto por causa da forma que todos estavam a olhando. – Adivinha quem vai fazer a torta de abóbora que vocês também amam? – pegou nas mãos das meninas, caminhando com elas até a cozinha. – Quem vai me ajudar?

- Ela não recebeu a notícia muito bem. – Emily disse o óbvio. – Acho melhor você ficar longe dela quando ela tiver com faca na mão. – passou o braço pelos ombros da irmã. – Não queremos passar o Natal em um hospital.

***

Alex podia montar quantas árvores de Natal quisesse em Nova York para trazer um pouco do clima de Natal, mas ela só conseguia senti-lo absolutamente no momento que colocava os pés dentro da casa de seus pais. Ela não sabia explicar o que diferia essa data comemorativa das outras, afinal sempre que ela chegava em casa encontrava Katie e Rick na frente do videogame. Normalmente, a única coisa que mudava era o jogo que eles estavam jogando por causa dos lançamentos que acontecia durante do o ano. Mesmo assim, ela se sentia bem, se sentia em paz, se sentia feliz, da forma que todos deveriam se sentir em uma data tão bonita quanto o Natal.

- Meu paciente disse que esse jogo só vai lançar o ano que vem, então... – lançou o jogo para que ele caísse no tapete, atrás de Katie. – Divirtam-se.

Antes que pudesse ouvir as reações da irmã e do primo sobre o jogo, Teddy correu em sua direção, fazendo uma tremendo festa com a sua presença. Ela não pensou duas vezes antes de se agachar para ficar da altura do cachorro e retribuir toda aquela felicidade em lhe ver fazendo muito carinho no bichinho.

- Se foi por causa desse jogo que você não veio para caso ontem... – Katie fez uma pausa, analisando a capa do jogo em sua mão. – Você está mais do que perdoada. Eu amo quando você salva a vida de pessoas que tem contatos. – entregou o CD para Rick. – Coloca lá, vamos estrear esse jogo logo e postar várias stories no instagram. Conheço muita gente na faculdade que vai morrer por causa disso.

- Eu pensei que você ia esperar a neve interditar a estrada para vir. – disse Diane caminhando em direção a filha. Alex abriu os braços, pronta para receber o abraço da mãe, mas ao invés disso, Diane olhou através dela, a procura de alguém. – Ela não veio mesmo? – perguntou, desapontada. – Eu pensei que você não estivesse falando sério.

- Eu não disse? – Samantha, uma das primas de Alex, soltou um riso debochado. – Já terminaram.

- Nós não... – o celular de Alex começou a tocar. – Nós não... – pegou o celular, sorriu ao ver que era uma vídeo-chamada de Piper. – Nós não terminamos. – atendeu. – Oi, Pipes. Estão vendo? – mostrou Piper no visor de seu celular para todos os presentes na sala. – Nós não terminamos.

- Oi, Samantha. – acenou para a prima de Piper. – Pode ficar despreocupada, nós não terminamos. Al? – voltou a ver o rosto da namorada no celular, sorriu. – Chegou bem?

- Eu cheguei...

- Piper... – Diane quase fundiu o seu corpo com o de Alex para aparecer na vídeo-chamada, também, interrompendo a resposta da filha. – Eu sei que a Alex avisou que você não vinha, mas eu estava te esperando.

- Você está conversando com a Alex? – perguntou Carol, interrompendo a resposta da filha. – Alex, eu... Diane! – Carol exclamou, animada. Tanto Piper quanto Alex olharam aquela cena com estranheza. Desde quando as duas se conheciam? – Eu estava mesmo querendo te conhecer. – arrancou o celular da mão de Piper, deixando a filha sem reação nenhuma.

- Eu também estava louca para te conhecer. – disse Diane, também arrancando o celular da mão da Alex, deixando a filha sem reação. – Nós precisamos marcar alguma coisa, reunir a família...

- Eu estava falando com a...

Diane nem deu atenção para Alex, continuou andando em direção a cozinha com o celular dela, como se não tivesse atrapalhado a conversa que ela estava tendo com Piper.

- Tudo bem. – disse um pouco perdia ainda com o que tinha acabado de acontecer. – Dá para jogar com quatro pessoas esse jogo, não dá? – pegou dois controles na estante. – Sabe jogar, Sam? – a prima deu de ombros. – Se eu sentar do seu lado você vai tentar me agarrar?

- Vai se foder, Alex. – disse Samantha, sem paciência. – Eu já te superei. – pegou o controle da mão da morena. – Pelo visto é sério mesmo isso com a Piper, então... Eu estou feliz por você.

- Obrigada. – respondeu, sinceramente.

- Se forem ficar com sentimentalismo é melhor irem ajudar lá na cozinha. – fez um gesto com a mão, como se tivesse expulsando as duas. – Aqui é um lugar sério que não tem espaço para essas coisas.

- Isso mesmo. – concordou Rick. – Aqui só tem espaço para tirar com a cara da Katie toda vez que ela perde.

Entre risadas, Alex ergueu a mão para que Rick lhe desse um high five. O menino cada dia que passava estava melhorando mais suas provocações.

***

Normalmente, quando as pessoas chegam para passar o Natal com a família, elas são pegas no aeroporto, na rodoviária ou vão até a casa dos familiares de táxi ou de Uber. No caso de Nicky, que deixou de ter uma família convencional desde o dia que sua mãe morreu, ela estava parada em uma estrada no meio do nada, sentada em sua mala, a espera de seu pai ir busca-la. Dessa vez ela resolveu que não iria sozinha atrás da cabana que ele morava, estava começando a nevar, ela já estava toda encolhida de frio, então caso caísse em um buraco novamente, era bem capaz de não conseguir sobreviver por dois dias, independente do quanto de comida e água tivesse em sua mala.

Os dez minutos que ficou aguardando o seu pai não passou um único carro sequer. Ela poderia dizer que a ausência de pessoas na estrada era porque todas estavam nas casas de suas famílias preparando a ceia de Natal, mas ela sabia que o pai havia escolhido o lugar mais deserto para morar mesmo. Então, se normalmente não passava carro em dias ensolarados, em dia que estava nevando a ponto de algumas estradas estarem interditadas, não iria passar carro mesmo.

Nicky ouviu uma buzina. Imediatamente se levantou da mala, se fosse algum louco querendo lhe oferecer carona por bem ou por mal, ela estava preparada para correr. Surpreendeu-se ao ver que quem estava atrás do volante daquele carro velho era o seu pai. Pelo que se recordava, Michael não usava carro nenhum quando resolveu ir morar sozinho no meio do mato. Era impossível usar um carro, não tinha por onde passar com ele por causa de todas as árvores.

- Você finalmente resolveu me sequestrar? – perguntou Nicky entrando no carro. Jogou sua mala no banco de trás, era mais fácil do que colocar no porta-malas, pois não iria ficar mais nenhum segundo naquele frio. – Tem até ar-condicionado. – colocou as mãos na frente do ar-condicionado, tentando esquentá-las através da chuva. – Desde quando você passeia de carro por aí?

- Eu tinha esperança de você vir me visitar algum dia. – respondeu o homem de cabelos grisalhos e uma barba mal feita. – Mesmo que não devesse depois da última vez.

- Por que não? Eu perdi os fogos do 4 de Julho, mas até que não foi uma experiência tão ruim assim. O importante é que você me achou. – bateu de leve seu cotovelo no braço do pai, com um sorrisinho.

Michael riu.

- Você vai me dizer agora por que resolveu vir me visitar? E não venha com a desculpa de que quis passar um Natal comigo.

- Que pressa é essa? Se eu te contar tudo agora nós vamos conversar sobre o que na ceia? – olhou de relance pela janela e percebeu que estava chegando a cabana. – Porra! Você deu um jeito mesmo nisso aqui, hein?

- Eu tive algum tempo de sobra. – estacionou o carro ao lado da cabana. – Eu não queria mesmo que você caíssem em outro buraco caso resolvesse vir me visitar. – pegou a mala da filha no banco de trás. – Eu estou até pensando em fazer uma piscina na parte de trás da casa. – saiu do carro. – Fazer uma espécie de pousada aqui.

- Sério?

- Claro que não, Nicole! – abriu a porta da cabana. – Não sinta-se como se você estivesse em casa porque eu ainda não te quero aqui morando comigo. Você tem muita talento para desperdiçar se escondendo no meio do mato.

- Como que você sabe que eu tenho talento? – disse, tirando o cachecol. A cabana estava muito bem aquecida. – E se eu vim aqui dizer que estraguei completamente a minha carreira?

- Você jamais faria uma coisa dessas com a sua mãe. – respondeu, olhando o forno. Nicky fez um positivo com a cabeça, concordando. Jamais faria mesmo aquilo com o sonho que Marka compartilhou junto com ela. – Você ainda come frango, né? Não entrou nessa moda de virar vegetariana não?

- Deus me livre! – sentou-se no sofá, de frente para a lareira. – Deixa esse povo ser vegetariano o quanto eles quiserem é bom que sobra mais carne para mim.

Michael riu.

- Eu pensei em fazer um peru, mas somos duas pessoas, não vamos comer um peru inteiro.

O celular de Nicky tocou.

- Oi, amor. – atendeu a vídeo-chamada com um largo sorriso ao ver Jess em seu visor.

- Graças a Deus você não está caída em nenhum buraco. – disse Jess, aliviada. Estava tendo pesadelos com a namorada perdida dentro de algum buraco desde o dia que ela havia dito que iria passar o Natal com o pai. – Está tudo bem? Seu pai não virou nenhum canibal?

- Eu não suporto pessoas, então você acha mesmo que eu vou perde tempo as comendo? – respondeu Michael que continuava agachado no forno, colocando algumas batatas no frango. – Eu prefiro comer plantas venenosas pelo resto da minha vida que nem seria tão longa assim caso eu começasse a comer plantas venosas.

- Por que você não me disse que seu pai estava aí? – perguntou Jess em um sussurro, completamente envergonhada. – Oi, senhor Nichols. Me desculpe, eu não...

- Está tudo bem. – fez um gesto com a mão dizendo para deixar isso para lá, mesmo que nenhum dos dois estivessem se vendo. – Provavelmente Nicky já deve ter ouvido coisas piores sobre sim.

- Eu só liguei mesmo para ver se você estava bem. – abriu um sorrisinho, mas não tão iluminado quanto os seus sorrisos normais.

- Está tudo bem, Jess?

- Coisas de melhores amigas. – disse, dessa vez abrindo um sorriso mais feliz. – Não se preocupe comigo. Curta o Natal com o seu pai... Que não é um canibal. – resolveu completar, somente para ver se assim a vergonha passada era menor.

Michael fez um positivo com o dedo, mesmo que um continuasse sem ver o outro.

- Qualquer coisa pode me ligar, viu? – avisou Nicky. – Não sei o que meu pai fez, mas o sinal pega melhor aqui do que na cidade.

- Nada que umas latas velhas não pudessem resolver. – respondeu Michael. Continuava no fogão, mas dessa vez preparando algum molho para o frango. – Hoje em dia eu vejo como nós gastávamos dinheiro com bobagem.

- Ele não virou um canibal, mas virou uma daquelas pessoas que acha que pode construir qualquer coisa com as coisas que a natureza dá. – disse Nicky em tom brincalhão, arrancando uma risada de Jess. – Se resolva com a Piper e curta o seu Natal, Lane. Eu te amo.

- Eu também te amo.

- Você veio me entregar o convite de casamento? – perguntou Michael, sem rodeios.

- O que? – Nicky jogou seu celular no sofá. – Não! Pelo menos não ainda. – coçou a nuca. – Eu disse que só voltaria aqui com um convite de casamento, não disse?

- Disse. – confirmou. - Único jeito de você conseguir me levar de volta para a cidade, pelo menos por algumas horas. – jogou alguns legumes em uma outra panela que estava no fogão. – Essa vinda tem a ver com ela, então?

- Também. – respondeu, acatando os sinais que o pai fez pedindo para que ela cortasse algumas batata para que ele pudesse fazer o purê. – É complicado. Na verdade, não é complicado, mas eu queria conversar com você sobre isso. – Michael só assentiu. Se Nicky disse que conversaria sobre isso na hora da ceia, ela conversaria sobre isso na hora da ceia. – Vai querer que eu faça o purê?

- Desde quando você sabe cozinhar?

- Eu aprendi algumas coisas com a Jess. – disse, orgulhosa. – Ela fez essa matéria sobre culinária, então toda semana ela resolvia cozinhar algo para ver se entendia a cabeça dos chefes de cozinha.

- Com tanta mulher no mundo você foi arrumar logo uma jornalista?

- A única que soube lidar comigo até hoje. – respondeu, lembrando de todos os momentos extremamente importantes que tinha passado com Jess. – E, antes uma jornalista do que a menina do RH. Aquela lá sim era louca ou eu a deixei louca. – deu de ombros. – Então...?

- Pode fazer. Só não me mate, tudo bem?

***

- Então, não vai nos contar mais nada sobre sua decisão de morar com a Alex? – perguntou Carol enquanto cortava algumas cenouras.

- Eu também estou louca para ouvir mais sobre a sua decisão. – disse Jess, amassando a massa da torta mais do que ela deveria ser amassada. – Você deu um chaveiro escrito Vauseman para ela, não foi?

- Ela tinha dado a ideia, eu pensei... – ergueu os ombros. – Por que não? Ela tem toda essa história de casar, ter filhos, então se eu for mesmo considerar isso preciso ver se dá certo nós duas morando juntas.

- Eu acho que precisamos de mais vinho. – Jess soltou a massa na bancada. – Vamos comprar vinho comigo, princesas? – pegou a chave do carro de Carol no chaveiro. – Nós já voltamos.

- Mas eu comprei vinho que dá para três Emilys beberem em... – Nolan não concluiu o que estava dizendo por Jess já ter deixado a cozinha com suas duas filhas. – Ela está muito puta com você.

- Eu pensei que ela não ficasse mais puta com você desse jeito. – comentou Cal, dando uma mordida em uma cenoura crua.

- Você não comentou mesmo com ela que estava pensando em morar com a Alex? – perguntou Emily. Piper continuou mexendo em sua panela, sem dar nenhuma resposta para a irmã, pois nem precisava. – Por que? Estava com medo dela dizer que foi uma decisão precipitada?

- Claro que não! Ela sabe que não foi uma decisão precipitada. Olha... – desligou o fogo, voltando sua atenção para todos na cozinha. – Eu posso ter começado a amar ontem, mas eu não sou louca. Eu ainda não faço as coisas sem pensar e eu pensei muito bem sobre a proposta da Alex. Eu só... – soltou um suspiro. Já tinha se dado conta do que tinha feito, mas agora a realidade estava pesando em seus ombros. – Eu só não conversei com ela durante todas as horas que eu achei que a ideia estava sendo precipitada. – soltou um riso, se achando a pessoa mais idiota do mundo. – Eu nem a chamei para comprar os chaveiros comigo. Mas a culpa é dela também! Até agora ela não me contou o presente de Natal que comprou para a Nicky.

- Sério mesmo que você está comparando um presente de Natal com morar com a sua namorada? – Carol cruzou os braços, repreendendo aquela atitude. – Piper, ela é sua melhor amiga, sua irmã...

- Eu sei, eu sei. – respondeu, sem paciência. – Eu vou conversar com ela antes do jantar, tudo bem? Eu não quero ser a pessoa que vai estragar esse Natal.

***

- Eu pensei que você ia fugir da cozinha esse ano também. – comentou Lee dando um abraço na filha. – Isso que a Katie tem está cada dia mais contagioso. Você conseguiu gritar mais do que ela.

- Acho que quando eu terminar meu estudo clínico sobre células-tronco, eu vou me juntar com a Lolly para inventar tratamento para gritaria em frente ao videogame. – deu um abraço em Clara. – O cheiro está delicioso, como sempre, vovó.

- Sua namorada não veio mesmo? – perguntou Clara, decepciona. – Eu gostei daquele menina. Sua melhor namorada, Alexandra.

- E a Nicky? – Lee jogou alguns legumes dentro da panela. – Eu chamo ela de má influência, mas eu gosto dela. As festas da família Vause não são mais as mesmas sem ela.

- Ela foi passar o Natal com o pai.

- Jesus, Alex! – exclamou Diane, preocupada. – Você já falou com ela? Ela chegou bem?

- Ela não caiu em nenhum buraco. Pode ficar despreocupada, mãe. – pegou seu celular em cima do balcão. – Você e a Carol conversaram muito? Trocaram números para parar de roubar o meu celular e o da Piper? – perguntou, sarcasticamente. – Já estão preparando o nosso casamento?

- Vocês duas vão casar? – perguntou Tommy, perplexo. – Não me diz que você fez outro pedido de casamento clichê?

- Toda reunião de família esse assunto. – reclamou Katie, chegando na cozinha. – Não... – interrompeu o pai que estava prestes a dizer algo. – Eu não vim ajudar na ceia. – abriu a geladeira. – Sou uma estudante de direito que merece todo o descanso do mundo quando está em casa. – tirou três latas de Coca-Cola de dentro da geladeira. – Respeitem meu momento de lazer.

- Quando você não está em seu momento de lazer? – perguntou Mercedes, esposa de Tommy.

Katie deu de ombros.

- Eu não fiz nenhum pedido de casamento clichê. – Alex resolveu voltar no assunto. – Na verdade, eu ainda não fiz nenhum pedido de casamento, mas nós duas vamos morar juntas.

Todos ficaram encarando Alex com a maior cara de “Que?”. Hoje em dia era normal os casais começarem a morar juntos, mas não era algo que estavam acostumados a ouvir Alex dizendo. Desde sempre a morena era completamente seu pai quando o assunto era relacionamento sério.

- Meu comentário pode ser um pensamento muito antigo, mas o que vocês tem com isso de morarem juntos sem casar? – a pergunta partiu de Tommy, quebrando o silêncio. – Isso já não é um casamento?

- Tio, você está precisando se atualizar. – disse Katie. – Morar juntos é um ensaio para o casamento ou um jeito das pessoas realmente não casarem. Você sabe como é caro um divórcio? É mais fácil só juntar as escovas de dente mesmo, pronto e acabou. Depois de um semestre inteiro sobre isso eu decidi que só vou morar junto, não vou casar mesmo.

- Será que você pode nos contar uma novidade, Katie? – indagou Diane. – Nós sabemos que você não vai casar porque você vai morar pra sempre comigo e com o seu pai.

- Eu amo uma mãe que conhece muito bem a sua filha. – abraçou Diane de lado, lhe dando um beijo na bochecha. – Agora eu vou ser obrigada a ouvir você e a Piper fazendo sexo sempre que eu for te visitar? – fez uma careta, desanimada. – Você não me ajuda mesmo a te amar Alex.

- As paredes do meu prédio são a prova de som ou você acha mesmo que os vizinhos até hoje não reclamaram de você porque eles são legais? – mandou um sorrisinho cínico para a irmã.

- A mãe estava certa. – Katie deu um abraço em Alex, demonstrando todo o seu apoio naquele novo passo, ainda mais por saber que era um enorme passo quando se tratava da Piper. – É ela. – pegou as Cocas em cima do balcão após se separar do abraço. – Aliás, a mãe sempre está certa, ela acertou que ia ter uma filha lésbica.

- Eu deveria ter colocado mais em fé em você também Katie, desculpa. – disse Diane, com falsa chateação. – Prometo que vou torcer pelas minhas netas.

Katie de um beijo na bochecha da mãe, rindo e deixou a cozinha. Não ia correr o risco de ficar mais tempo do que o necessário ali porquê da última vez que havia feito isso todos a colocaram para cozinhar também. Tinha sido divertido, como tudo em sua família, mas não queria que as pessoas tornassem isso rotina. Os jogos de videogame não iam se salvar sozinhos.

***

A ceia de Natal na casa da família Chapman estava quase pronta. Carol, Jessica, Chloe e Julie colocavam a mesa, enquanto Emily, Nolan e Cal engatavam em uma animada conversa.

Os Natais em família eram sempre assim depois que Carol reergueu sua família após o difícil divórcio. Ela não queria que os filhos fossem daquelas pessoas que cresciam odiando Natal, pois não havia necessidade disso. Eles eram uma família que se amavam, se davam bem e mereciam comemorar o Natal com a felicidade e união que a data propunha.

Pensando nisso, Piper pegou uma garrafa de vinho em cima do balcão da cozinha e duas taças. Ela não queria que Jess passasse a ceia de Natal chateada com ela. Isso implicaria em toda a felicidade e união que sua mãe sempre quis manter na data. Ainda mais que sua melhor amiga, se fosse olhar para toda a sua história, não tinha motivo nenhum para se sentir animada em feriados como esse, mas todo ano ela sempre era a pessoa com o sorriso mais iluminado da sala.

Jess poderia não dizer com frequência por ter certeza que todos ali sabiam como ela se sentia, mas ela era grata por ter sido acolhida por uma família que a amava como se ela tivesse mesmo o sangue deles correndo por suas veias. Se não fosse por eles, provavelmente ela seria mesmo uma dessas pessoas que odeiam o Natal.

- Será que vocês duas podem emprestar a tia Jess para mim um minutinho? – disse Piper, já direcionando Jess para longe da mesa de jantar. – Será que podemos...? – apontou com a cabeça para a saída da casa.

Sem dizer uma única palavra, Jess caminhou até a porta da casa, pegando seu casaco no cabideiro antes de sair.

Piper a seguiu, também em silêncio. Ela sabia que a melhor amiga não diria uma única palavra enquanto ela não tomasse a iniciativa, afinal, ela que era a errada da história mesmo, então Jess não tinha obrigação nenhuma de tentar resolver a situação das duas.

Ela pousou as taças em cima do parapeito da varanda e serviu um pouco de vinho para as duas. Usou esses segundos para pensar mais um pouco em tudo que iria dizer.

- Me desculpa. – foi a primeira coisa que ela disse enquanto entregava a taça de vinho para Jess. – Eu sei que ultimamente eu tenho sido uma péssima melhor amiga.

Jess não lhe respondeu absolutamente nada. Até o momento, Piper só estava dizendo o óbvio.

A loira respirou fundo e se encostou no parapeito da varanda. A melhor amiga estava mais chateada do que ela imaginou e, dessa vez, não tinha nem como tirar a razão dela. Na verdade, na maioria das vezes, nunca tinha mesmo.

- Eu deveria ter te contado, eu deveria ter perguntado a sua opinião, eu deveria ter perguntado até se você queria que eu fosse morar com a Alex porque caso você falasse que não, eu não teria nem comprado aqueles chaveiros.

- Por qual motivo você acha que eu ia falar que não quero que você more com a Alex? – perguntou, indignada. Será que estavam se conhecendo tão pouco assim ultimamente? – Eu quero que você seja feliz, Piper. – olhou para a taça de vinho em sua mão, sentia as lágrimas se aproximando, mesmo não querendo. - Eu só não quero que você comece a me excluir das coisas enquanto está sendo feliz. – completou, com a voz embargada.

- Você sabe que eu nunca faria isso! – disse, direta. – Você é minha melhor amiga, minha irmã, uma das pessoas mais importantes da minha vida.

Jess soltou um riso, debochado. Ultimamente não parecia.

- Você comprou um presente de Natal para a Nicky que até agora eu não faço a mínima ideia do que é! – retrucou o riso debochado, mesmo sabendo que não deveria.

- Sério mesmo que você está comparando o presente que eu comprei para a Nicky quando você resolveu fugir do que estava sentindo pela Alex com você ter resolvido morar com ela sem nem ao menos me avisar? – estava tão indignada que frisou todos os “você” existentes na frase. – Piper, o que está acontecendo? – apoiou a taça em cima do parapeito. – Você é daquelas amigas que trocam as amigas por namorada e eu não fazia ideia? – cruzou os braços.

- Não é nada disso, Jess! – soltou um longo suspiro, tentando alinhar os seus pensamentos. – Eu tive medo de conversar com você e chegar a conclusão que eu estou fazendo isso por todos os motivos errados. – soltou um riso de nervoso. – Eu tenho um problema no coração, então o certo seria eu nem levar esse namoro para frente.

- Piper, Piper, Piper... – repetia o nome da melhor amiga, balançando a cabeça em negativo e fazendo um sinal de negativo com a mão. – Pode parando por ai. – segurou nos braços da loira para ter certeza que ela estava a olhando. – Nós não fizemos aquele acordo de não te tratar como doente para você começar a se tratar como doente, você me ouviu? Você não está fazendo nada disso pelos motivos errados. Você ama a Alex, não tem motivo mais certo para decidir morar com ela do que esse.

- Você tem certeza? – perguntou, receosa. Em resposta, Jess só inclinou a cabeça. Ela tinha certeza absoluta daquilo. – Me desculpa. – abraçou a melhor amiga. – Eu prometo que não vou te excluir de mais nada. – apertou mais ainda Jess em seus braços, tendo a certeza que a melhor amiga já estava com os olhos todos marejados. – Demora muito mais tempo entrar em um acordo com a minha cabeça quando eu não tenho você me ajudando.

Jess riu, se separando do abraço.

- E eu não sei disso? – limpou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. – Você demorou 13 dias para aceitar que estava amando a Alex, então... Eu não acredito que Chapman e Lane não vão mais dividir o mesmo teto.

- Lane e Chapman vão continuar dividindo o mesmo teto, até a Lane estar mesmo preparada para se mudar.

- Até a Lane estar preparada? – Jess cruzou os braços, com um sorrisinho divertido. – Você está com medo do que Piper?

- De Lane e Chapman perderam a sintonia, de descobrir que eu e a Alex não temos nada a ver quando morarmos juntas, essas coisas. – respondeu, tentando transparecer que aquilo não era nada demais.

- Chapman e Lane nunca vão perder a sintonia. – disse Jess, tranquilamente. – Vocês já moram juntas praticamente, isso não vai acontecer. Pelo contrário, é capaz de você ganhar uma aliança.

- Qual o problema de vocês com alianças? – balançou a cabeça em negativo. – Eu nunca vou entender. - tomou um gole de seu vinho. – Nós estamos bem? Ou vamos estragar a ceia daqui a pouco?

- Nós estamos bem, mas se você fazer alguma coisa parecida de novo, nós não vamos ficar bem nunca mais, você me entendeu?

- Nunca mais é muito tempo Lane. – Jess a encarou com um olhar de reprovação, ela estava falando sério. – Tudo bem. – ergueu os braços em forma da redenção. – Eu preciso ganhar algum crédito aqui, fazia tempo que eu não fazia esse tipo de coisa.

- Você é ridícula! – Piper ergueu os ombros como se dissesse “O que eu posso fazer se nasci assim?”. Jess riu e puxou a melhor amiga para um abraço. Estava tudo bem entre as duas mesmo, finalmente. – Você quer saber o que eu comprei de presente de Natal para a Nicky? Eu tenho certeza que ela vai ficar insana.

- Quem vai ficar insana sou eu se tiver que esperar mais cinco minutos para saber o que é.

- Vocês já se entenderam? – perguntou Emily somente com a cabeça para fora da casa. – Caso não tenham se entendido, tragam a briga aqui para dentro porque nós estamos morrendo de fome e a mamãe está louca para colocar vocês duas sentadas no sofá até se entenderem.

- Quando foi a última vez que ela fez isso? – indagou Piper entrando na casa com o braço entrelaçado no de Jess. – Foi aquela vez que você não me contou que tinha uma entrevista de emprego em Los Angeles, não foi?

- Isso não foi há uns três anos atrás? – questionou Emily, confusa. – Eu não acredito que mesmo depois de todos esses anos a mãe tem mesmo que colocar vocês duas sentadas no sofá.

- Eu já estava me preparando para hoje. – disse Carol, amolando a faca de cortar o peru. – Muito obrigada por se entenderem antes.

- Sempre que quiser, mãe. – respondeu Piper com um sorrisinho. – Será que podemos comer? Discutir com a Jess sempre me dá uma fome.

Como de costume, a ceia de Natal da família Chapman foi extremamente animada. Todos compartilharam histórias, fossem atuais ou do passado, que faziam com que todos rissem. Eles eram uma família feliz e, em uma data como o Natal, só fazia com que essa felicidade ficasse mais evidente porque eles não precisavam de muita coisa para se divertirem ou apreciarem a companhia um do outro.

***

Aproveitando o silêncio que se instalou por causa das mastigadas no jantar, Nicky empurrou uma ficha vermelha de pôquer pela mesa até o seu pai. Sem entender absolutamente nada, Michael pegou a ficha na não e ficou a encarando por alguns segundos.

- Completou quatro meses que eu estou sem jogar, mas agora eu só ganho uma ficha nova com seis meses.

- Você... – Michael pousou a ficha em cima da mesa, assimilando o que tinha acabado de ouvir. – Porra, Nicole! – coçou a nuca. – Eu fiz isso com você?

- Não, não, você não fez nada pai. – negou em um tom ameno. – Você me ensinou como jogar, eu usei isso ao meu favor durante todos esses anos. Acho que foi meio um acordo que eu fiz com o cara lá. – olhou para o alto, referindo-se a Deus. – Eu pedi que ele me deixasse ganhar até eu conseguir me mantar sozinha, ele acatou o meu pedido, só que depois eu descobri que não sabia mais como parar.

- É uma boa ideia dar ficha de pôquer para viciados em jogos? – foi a pergunta que Michael fez. Ele sempre dizia coisas aleatórias ou fazia perguntas sem muita importância quando ficava sem reação. – Por que você está me contando isso? Você ficou pobre e agora tem que morar comigo? O que aconteceu? Nenhum viciado se da conta que é viciado antes de alguma coisa ruim acontecer.

- Eu perdi 700 mil dólares. – confessou. – Só que eu não tinha como pagar porque a maioria do meu dinheiro está em investimentos e a outra parte foi bloqueada porque o banco não estava acostumado comigo gastando tanto dinheiro assim sem conversar com o gerente antes. Por sorte, minha pensão também está bloqueada até eu ter 50 anos ou perder o emprego, senão eu teria perdido ela também. Eu tive que ligar para a minha chefe e implorar que ela pagasse a minha dívida, caso contrário, eu não sei se sairia com vida daquele cassino. – soltou um longo suspiro, por mais que fosse o seu pai ali na frente, estava sendo difícil contar aquela história que ninguém conhecia. – Ela pagou a minha dívida, mas com a condição de que eu fosse para “África” – fez as aspas com o dedo. – Eu passei quatro meses internada em um clínica que era somente para eu passar 45 dias porque eu sempre arrumava uma forma de jogar. Eu sempre estava fazendo apostas com outras pessoas internadas, era como se eu precisasse daquilo para viver, mas então eu percebi que não podia ficar lá para sempre, pois eu estava sentindo falta do meu emprego, dos meus amigos, então eu consegui ficar os 45 dias sem jogar. Só que, no dia que eu voltei para o meu emprego, quanto eu estava a 50 dias sem jogar, eu conheci a Jess e suas apostas...

- Você está namorando alguém que faz com que você tenha recaídas? – Michael perguntou, perplexo.

- Não. – reforçou sua resposta com um balançar de cabeça. – Ela não sabe que eu sou uma viciada. É por causa dela que eu estou há quatro meses sem jogar. – pegou a ficha, admirando-a. Sentia-se tão orgulhosa de si mesma. – Eu a troquei por um jogo de dominó e eu perdi mil dólares nesse mesmo jogo. Provavelmente foi Deus me enviando alguma mensagem de que eu já tenho tudo que eu pedi e que não preciso de mais. Ele está certo. – pousou a ficha em cima da mesa. – Eu tenho uma carreira, uma conta bancária cheia de dinheiro e a mulher da minha vida. Ela é diferente, sabe pai? Todas as outras mulheres que eu namorei não aguentavam quando eu dava desculpas esfarrapadas por causa de jogo e tudo terminava tão mal, ela não. Nesse dia que eu a troquei por um jogo de dominó, ela achou que eu era viciada em drogas e disse que ia me ajudar.

- Mesmo assim você não contou a verdade para ela?

- Eu fiquei com medo. – passou a mão pelos cabelos loiros. – Mas, ela merece a verdade. Se eu quero ter mesmo um futuro com ela, eu preciso ser sincera.

- Nicky... – Michael pousou sua mão na mão da filha. – Se ela te ama da mesma forma que você a ama isso não vai ser problema nenhum para vocês duas continuarem juntas. Ainda mais que ela está sendo o motivo para você permanecer sem jogar, certo? – Nicky assentiu. – Você é uma excelente mulher. – deu três tapinhas na mão da filha como forma de encorajamento. – A Jess tem sorte em ter você na vida dela. Eu tenho sorte de te ter na minha vida, mesmo depois de ter te abandonado.

- Você não me abandonou. – disse em tom complacente. – Você esperou que eu fosse para a faculdade e se mudou para o meio do mato. Eu sempre soube onde te encontrar. – fez uma pausa, recordando-se das vezes que visitou ou tentou visitar o pai. - Mais ou menos.

Os dois riram.

- Você é o meu maior orgulho, Nicole. – mandou um sorrisinho para a filha. – Não vejo a hora de receber o convite desse casamento.

Nicky sorriu para o pai e voltou a comer. Ela estava feliz por ter tirado aquilo do seu peito. Antes de contar para Jess, precisava contar a verdade para alguma outra pessoa que não fosse a Sophia. Ainda não estava preparada para contar para Alex, achava mais fácil a namorada entende-la do que sua melhor amiga, pois ela não tinha nenhuma tatuagem por causa de suas apostas. Contar para o seu pai foi somente um ensaio para tudo que ia dizer para Jess e também um modo de não ser julgada. Não gostava da forma que seu pai se culpava por tê-la “abandonado” depois que sua mãe morreu, mas ele sempre soube escutá-la quando ela precisou, mesmo estando morando no meio do nada, então os ouvidos dele sempre eram muito bem-vindos.

***

A casa da família Vause estava uma algazarra só por causa do Just Dance. Katie tinha conseguido arrastar boa parte da família para dançar em uma espécie de campeonato, os que não estavam dançando, estavam torcendo como se estivessem mesmo em algum reality show.

Em meio a gritaria por causa de mais uma dupla que havia perdido, o celular de Alex tocou. Ela sorriu ao ver o nome de Piper no visor, levantando-se do sofá. Precisava de algum lugar silencioso para falar com a namorada, pois na sala não teria a menor condição.

- Feliz Natal. – desejou assim que atendeu o celular. Estava na varanda, na parte exterior do casa.

- Feliz Natal. – retribuiu com um imenso sorriso. – Como está a sua madrugada?

- Eu e a Samantha estávamos arrasando no Just Dance. – contou, divertida.

- Você e a Samantha? – fingiu desconfiança. – Isso era algo que eu gostaria de ver.

- Vem pra cá, Pipes. – pediu, do nada.

- Eu iria, caso não estivesse em Boston. – respondeu tranquilamente, achando que aquilo era alguma brincadeira de sua namorada. – Ou se eu fosse a sua vizinha.

- Eu estou falando sério. No ano novo só sou eu, Katie e os meus pais. Minha avó sempre faz um cruzeiro com as amigas para algum lugar quente e o resto da minha família cada um passa o ano novo em um canto, então...

- Eu não sei... – disse, receosa. Ela olhou para sua família que brincava de Banco Imobiliário, todos se divertindo. – Essa é a semana que eu passo com as minhas sobrinhas...

- Traz elas também. Eu tenho certeza que elas vão amar trocar mais um pouco de juízo com a Katie. Por favor, Pipes. – o tom era manhoso. Piper conseguia ver até os olhinhos de cachorro pidão de Alex. – Vamos realizar o sonho das nossas mães de se conhecerem.

- Al... – soltou um longo suspiro. Como ia dizer não para um pedido daqueles? Ainda mais quando ela sabia que não ia aguentar passar tanto tempo longe de Alex. – Emily, Nolan, o que vocês acham de uma segunda lua de mel nesse ano novo? Vocês pagam a viagem, claro. Eu só fico com as meninas.

- Você vai cuidar das meninas enquanto a gente viaja no ano novo? – Emily perguntou, em dúvida se tinha ouvido mesmo a proposta de sua irmã. – O que aconteceu com minha irmã? Você pode me contar ser que tomou o seu corpo?

- Isso é um sim? – perguntou, sem paciência. – Vou entender como um sim. – respondeu a própria pergunta, ela sabia que era um sim. – Mãe, você e a Diane vão se conhecer no ano novo, pois nós vamos para Naples.

- Tudo bem... – Carol respondeu, em dúvida. Estava perdida com o que estava acontecendo.

- Pronto! – voltou a falar com Alex. – Eu vou passar o ano novo com você, Vause.

- Eu te amo, sabia? – disse Alex, com um enorme sorriso.

Ela não fazia ideia do que iria fazer caso Piper não tivesse aceitado o seu convite, pois já estava morrendo de saudade da loira. Ter a aceitação do seu convite a deixou extremamente feliz, em poucos dias mataria a saudade de sua namorada.

- Eu também te amo. – respondeu, também com um enorme sorriso.

Quem disse que o Natal era um feriado capitalista, com toda certeza não tinha ninguém que iluminasse o seu Natal, deixando seu coração cheio de luz e amor. Porque, como eu disse, é disso que a data se trata.


Notas Finais


Olá plot da Nicky (Jecky). Tudo bem? Seja muito bem-vindo! Carol (Allen), você não sabe o quanto eu esbocei quando você mandou a real sobre o plot da Nicky <3

Vauseman morando juntas amanhã, pois Jess disse tudo bem, amém!

Próximo capítulo vamos parar com esse segredo ai sobre o presente de Natal da Nicky (risos). Tinha outra coisa pra falar, mas eu esqueci porque sou doida, então acho que é só isso mesmo.

Até lá <3


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