História In Your Eyes (EraserMic) - Vinte e Um...

Quase um mês havia se passado desde o festival escolar e, ao contrário do que eu tinha imaginado, minha via só ficara ainda mais agitada. As provas finais chegaram e, na sequencia, os projetos de recuperação foram apresentados. Para a minha surpresa, Kaminari havia apresentado um trabalho excepcional, inegavelmente feito por ele. Até mesmo Hakamata tinha se impressionado e o garoto conseguiu as notas que precisava. Ele acabou se tornando uma presença constante em casa, já que meu filho sempre o chamava para brincar com Eri ou apenas para jogarem vídeo game juntos.

Meus encontros com Hizashi vinham se resumindo apenas em reuniões para corrigir provas e trabalho dos alunos, o que não era nenhum pouco romântico, mas que ao menos supria um pouco da necessidade de nos vermos com frequência.

Com o fim das provas e o início das férias de verão nossa rotina finalmente se acalmou e eu pude chama-lo para sair em um encontro de verdade.

Diferente do usual, desta vez eu estava esperando por Hizashi. A luz alaranjada do por do sol começava a dar espaço ao azul escuro da noite quando o loiro surgiu na saída da estação. Eu tinha escolhido deixar o carro em casa para aproveitar melhor a caminhada.

—Oi, desculpa a demora, esqueci de por o relógio para despertar. – Sorriu sem graça e nós começamos a caminhar lado a lado.

—Estava dormindo até agora?

—Ah, sim... os remédios dão muito sono, as vezes não consigo dormir a noite e acabo apagando durante o dia. – Ele coçou a nuca, claramente desconfortável em tocar no assunto.

Hizashi não gostava muito de falar sobre sua depressão, era óbvio que se sentia envergonhado por sua condição e eu procurava não pressioná-lo sobre o assunto. Limitei-me a sorrir-lhe a alcançar sua mão, tentando transmitir meu apoio. Nós caminhamos de mãos dadas em silêncio por um tempo, até que o loiro resolveu quebra-lo.

—Você não fica com vergonha? De andar de mãos dadas comigo? – Indagou, sem me olhar nos olhos, então seu rosto avermelhou. – Não que eu tenha, mas sabe como as pessoas são, né? Podem ver com maus olhos.

—Eu não devo satisfações a ninguém, nunca me envergonharia de dar as mãos a alguém de quem goste.

—Você é incrível Shouta. – Ele olhou para cima, encarando as estrelas enquanto nos aproximávamos da praça, onde acontecia uma espécie de feirinha. – Eu sempre tive tanto medo da opinião alheia... mas você se mantém firme independente do que os outros vão dizer.

—Eu só parei de me importar com isso. Se eu for me importar com tudo o que dizem de mim, acabo deixando de viver minha própria vida.

—É, tem razão. Eu preciso parar de pensar nisso também. – O loiro riu e coçou a nuca, puxando o cabelo para o ombro. – Quer dar uma olhada nas barraquinhas? Deve ter alguma coisa legal.

Nós seguimos pela feirinha, ainda com os dedos entrelaçados. Por algum motivo eu sentia que ele estava mais aliviado com a minha resposta e isso acabou tornando o passeio ainda mais leve e agradável. Os olhos do loiro brilhavam a cada barraquinha por qual passávamos, cheias de artesanatos, cada uma com sua peculiaridade. Eu sabia que ele gostava dessas coisas, amava qualquer tipo de arte e, cada pulseira de contas, origami ou escultura de arame fazia um novo sorriso surgir em sua face. Já carregávamos duas sacolas cheias quando chegamos nas barracas de comida.

—Ah, espera aqui, eu vou buscar alguma coisa para nós. – Ele me entregou as sacolas e sumiu em meio as outras pessoas que caminhavam pela feira. Suspirei e fui procurar algum lugar para sentar.

Definitivamente não tínhamos planejado nada para aquele encontro, mas até que estava sendo extremamente agradável apenas passear por aí, sem rumo. Fiquei observando as pessoas passando para lá e para cá: crianças correndo, casais sorrindo, grupos de amigos se divertindo, meninas vidradas em seus celulares, provavelmente a espera de seus namorados.

“Vocês estão juntos? Tipo, namorando?” A pergunta de Hitoshi voltou a minha cabeça. Como eu poderia definir nosso relacionamento se nem ao menos tínhamos conversado qualquer coisa sobre isso? Será que já era hora de pedi-lo em namoro ou ainda estaria muito cedo para isso? Eu queria muito dar mais um passo, sua presença me fazia falta nos dias que não conseguíamos nos ver e a cada dia eu tinha mais certeza de que nossa relação daria certo dessa vez. É, talvez estivesse mesmo na hora de definirmos o que éramos um do outro.

Deixei meus pensamentos de lado quando Hizashi retornou com duas bandejas de Takoyaki e uma raspadinha azul, com um enorme sorriso no rosto.

—Olha o que eu achei! É a sua favorita, não é? – Ele me entregou o copo e sentou do meu lado.

—Não sabia que ainda vendiam isso por aí. – Tomei um pouco, minha boca congelando e ofereci a ele em seguida.

—Acho que ainda faz sucesso, afinal.

Concordei, pegando o Takoyaki, tomando cuidado para não me queimar. Dividimos a raspadinha, comendo calmamente, afinal para nós era aquilo o que importava: O tempo que aproveitávamos juntos, independente do que estivéssemos fazendo. Vê-lo assim, feliz, dividindo seus sorrisos comigo aquecia meu coração de uma forma difícil de explicar. Definitivamente era algo que eu queria ver a todo instante.

—Hizash-

—Shouta-

Nós acabamos falando ao mesmo tempo, nossos olhares se encontraram em expectativa.

—Pode falar.

—Você primeiro.

O loiro se levantou e bateu as mãos na lateral do corpo, livrando-se dos restos de comida, então pigarreou, colocando-se em uma postura tensa.

—Bem... eu sei que muita coisa aconteceu... nos reencontramos, você me aceitou e agora estamos saindo... eu estou muito, muito feliz mesmo com isso... em que sonho distante eu poderia imaginar que estaria com você outra vez? – Fez uma pausa, rindo, seus olhos já marejados. – Eu sinto como se tudo isso pudesse acabar a qualquer momento, mas não quero que acabe de jeito nenhum. Sei que estou sendo egoísta, você merece muito mais do que um cara quebrado, cheio de problemas e complexos como eu. Mesmo sabendo disso eu não quero te deixar ir. É por isso que eu quero saber se você não quer namorar comigo...? – Ele puxou do bolso uma caixinha de veludo preta e a abriu, exibindo um par de alianças de prata, finas e discretas, tão linda quanto eu poderia imaginar. Fiquei um tempo sem ter o que responder, processando o que o loiro havia dito. – Ai, eu estou sendo brega não é? Olha, só esquece tudo isso, a gente finge que nunca aconteceu e-

—Cale a boca, idiota. Apenas coloque logo esse anel no meu dedo. – Respondi, segurando sua mão antes de fechasse a caixinha e rindo de sua reação exagerada. – É claro que eu aceito Hizashi. Eu já deixei bem claro antes o quanto você tem sido importante na minha vida. Não me importa se você está quebrado ou cheio de problemas. O que importa é que eu possa estar do seu lado, te ajudar a se recuperar e a resolver esses problemas. Quero você na minha vida, como nunca quis antes.

Suas lágrimas começaram a correr por seu rosto e eu amparei uma antes que pudesse cair, aproveitando para tocar seu rosto, admirando seus olhos verdes e colando nossos lábios em seguida, em um beijo calmo e rápido. Quando nos separamos ele finalmente pegou o anel, encaixando-o delicadamente em meu dedo. Suas mãos tremiam e ele quase derrubou a peça, mas eu fingi não ver para não piorar a situação. Depois eu mesmo coloquei o outro anel em seu dedo e o abracei pela cintura, apreciando seu calor mesmo naquela noite quente de verão.

—Obrigado Shouta... por me aceitar... – Disse, me envolvendo em seu abraço.

—Shh.. fique quieto apenas dessa vez. – Resmunguei. Era apenas disso que nós precisávamos: sentir um ao outro, entender nossos próprios sentimentos e no final perceber que, independente do que acontecesse ficaríamos juntos desta vez.