História Incomplete - Flowers

Killian ficou quase a noite inteira me consolando. Eu já tinha motivos para odiar Rumple, mas agora o meu ódio tinha dobrado. Quando o Jones foi embora eu tentei adormecer. Dei voltas e voltas na cama, mas não conseguia pegar no sono por nada. Passei a noite acordada no meio do escuro até as minhas costas começarem a doer de tanto me mexer e decidir ir na varanda. A lua estava coberta por nuvens essa noite e o céu parecia ser uma mistura de cinza, preto e azul escuro. Com certeza de manhã iria estar tudo cheio de névoa, como no dia em que Neal morreu. Alias, hoje, sendo que eram umas quatro da manhã, era o aniversario da morte do meu irmão e, como eu fazia todos os anos, eu iria na ponte e iria lançar algumas flores ao rio.

Quando comecei a sentir uma movimentação no palácio, chamei a minha dama de companhia que me ajudou a vestir e lhe pedi que pegasse algumas flores e que fizesse um buque. Sem perguntas, ela saiu e eu me preparei para sair do palacete.

Ainda era muito cedo e Rumple, Baelfire, Belle e Graham (que Baelfire tinha convencido a ficar aqui enquanto eu também aqui estivesse para eles conseguissem controlar melhor os meus passos, mesmo eles dizendo que era apenas para eu ter companhia) ainda estavam dormindo.

Me cruzei com a minha dama de companhia na porta principal da casa já com um buque de rosas, que ela me entregou. Agradeci e sai dali, conseguindo passar despercebida pelos guardas, como sempre. Sério. Rumple precisava melhorar essa segurança.

O ar estava realmente frio e o vento que batia no meu rosto e nos meus braços me fez rapidamente arrepender de ter escolhido um vestido sem manga. O inverno na Floresta Encantada era desse jeito: uns dias estava tanto calor que parecia verão e outros nevava como se estivéssemos em Arandelle.

Quando cheguei no meio do caminho senti algo terrivelmente gelado cair na minha pele. Parei e olhei para cima. Neve. Alguns flocos caiam no meu vestido e o molhavam pouco a pouco enquanto outros caiam nos meus ombros e me faziam tremer até à alma. Felizmente a neve ainda era pouca e nem dava para cobrir o solo com um manto branco que tantos adoravam e eu odiava.

Eu tinha que chegar na ponte rápido antes que dessem pela minha falta no palacete, mas parece que quanto mais eu andava, mais tempo demorava para chegar no meu objectivo. Bom, agora que eu penso nesse ponto de "sentirem a minha falta" eu começo a duvidar, afinal, quando eu estive para morrer eles me largaram naquele quarto e a única pessoa que ficou do meu lado até ao fim foi quem eu menos esperava.

Depois de um tempo a neve mudou para gotas grossas de chuva. As gotas caiam no meu cabelo meio ondulado fazendo com que ele ficasse completamente encaracolado e volumoso. Sem perceber, apertei mais o buque nas minhas mãos e logo senti uma dor fina me percorrer, mas essa dor não era nada comparada com a dor que eu tinha no meu coração. Aquela dor doía muito mais do que qualquer tortura. Seria tudo tão mais fácil se esse tipo de dor sumisse tão rápido como a chuva some. Dizem que depois da tempestade vem o arco-íris. Sendo assim, eu estou no meio de uma tempestade em alto mar, sendo abalroada por ondas gigantes e ventos assassinos à mais tempo do que eu gostaria. Eu não posso fazer nada em relação a isso. Apenas posso rezar e esperar que o mar acalme, as nuvem desapareçam e o arco-íris apareça finalmente, se bem que eu acho bem impossível de isso acontecer comigo.

Quando dei por mim já estava na ponte e a chuva tinha terminado, embora a névoa continuasse ali presente, fazendo com que eu não enxergasse mais nada a partir de certa distancia. Eu termia de frio e não sentia as minhas mãos ou os meus pés, mas isso não me importava. Eu agradecia aos céus se eu congelasse aqui e meu pai me viesse buscar de uma vez para acabar com tudo isso.

No dia de aniversario da morte do meu irmão, eu e papai costumávamos vir aqui e passávamos horas recordando memorias felizes que vivemos com ele. Agora eu não tinha pai nem irmão e quem sabe quantos dias ainda minha mãe, meu filho, Ruby, Graham ou mesmo Killian viveriam? Quantos dias eles ainda estariam a salvo dessa maldição que sou eu? Tudo o que eu gostava morria, por isso era preferível que todo o mundo me deixasse sozinha.

Hoje fazia três anos que eu perdi umas das pessoas mais importantes da minha vida. Três anos de pura dor e sofrimento sem ninguém para me ajudar a passar por ela. Apoiei os meus braços no muro de pedra da ponte e senti uma lágrima gelada descer pela minha face direita. Fechei os olhos e suspirei. Quando que a minha vida começou a desmoronar?

Primeiro foi só uma lágrima, depois duas, depois três e rapidamente entrei num choro compulsivo que me fez cair de joelhos no chão enquanto sentia o meu corpo tremer com cada soluço. Encostei a minha cabeça no muro e abracei o buque como abracei meu irmão naquele dia no meio do rio, sem me importar com qualquer espinho ou dor que aquela ato me causasse.

Talvez Rumple tivesse razão. Se eu tivesse me comportado como uma dama desde o principio nada disso teria acontecido. Se eu pudesse voltar no tempo e mudar alguma coisa eu teria ido brincar com Neal e teria me comportado como uma dama desde o momento do meu nascimento e talvez assim meu pai estivesse vivo. Quem sabe?

No meio de tudo o que tinha acontecido ele era a única pessoa que me amava realmente. O único que sempre esteve lá, tentando fazer o melhor para mim e para a nossa família. Minha mãe me amava, mas não como ela dizia. Nunca percebi o porque, mas eu sempre fui uma desilusão para ela. Ela sempre preferiu Neal. Quando ele nasceu ela tinha um sorriso tão grande e bonito no rosto como ela nunca tinha tido. Sempre que meu irmão fazia alguma coisa, desde uma vénia a ganhar o papai numa luta de espadas, ela tinha sempre aquele mesmo sorriso brilhante no rosto enquanto eu...eu era a desgraça da vida dela. Ela sorria para mim também, mas eram sempre sorrisos fracos e apenas de encorajamento que duravam no máximo dez segundos. Neal era o filho perfeito, o príncipe perfeito, enquanto eu era a filha complicada e a princesa que não sabia se comportar como tal.

Quando não conseguia chorar mais, me levantei com algum esforço e me debrucei sobre o muro olhando a água correndo forte lá em baixo. Então uma ideia se passou pela minha cabeça. Porque não? Porque não pular dez metros e morrer no mesmo local que deveria ter morrido anos atrás? Porque não acabar com essa dor? Qual motivo eu tinha para continuar vivendo? Meu irmão estava morto. Meu pai estava morto. Minha mãe me via como um desastre. Graham iria encontrar uma mulher que o amasse verdadeiramente e que merecesse o seu amor. Rumple...Rumple nem se importava comigo. Baelfire era meu amigo, mas nada mais que isso, sobreviveria bem sem mim. Henry não me conhecia, para ele se eu morresse ou não seria a mesma coisa. Ruby ficaria triste, mas seguiria a sua vida como seguiu depois que o seu marido morreu. Killian...Ah Killian...Que grande nó na minha cabeça ele era agora. As suas palavras que ele pensava que eu não ouvira dançavam na minha cabeça uma valsa lenta e tortuosa. Seria verdade? Cada palavra que ele tinha dito era verdade? Sendo ou não, mesmo que eu sumisse ele iria viver a sua vida de pirata normalmente como sempre viveu. Rodeado de rum e concubinas. As únicas pessoas que eu tinha a certeza que me amavam estavam mortas. Daqui a algum tempo tudo o que eu seria para as pessoas à minha volta eram apenas imagens na sua memoria.

Porque não acabar com a dor? Eu queria uma solução? Ela estava ali à minha frente, ou melhor, de baixo de mim! Subi para cima do muro com alguma, muita, dificuldade e olhei o céu.

– Esse ano eu entregarei as flores pessoalmente, irmão. - Sussurrei e então...

Pulei.