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História Incondicional - Verdadeiros vilões


Escrita por: sahsnape

Capítulo 6 - Verdadeiros vilões


É impressionante como as coisas funcionam tão bem quando estão na nossa cabeça e saem completamente distorcidas quando são postas em pratica. Até virar a esquina da rua onde morava o mais velho, Harry estava muito confiante, de peito estufado, com um discurso perfeito e bem articulado pronto para sair de sua boca. Era lindo, emocionante, envolvente. Pois bastou ver a casa há poucos metros de distancia, para tudo isso murchar como uma bexiga de aniversário quando soltam a boca e o ar escapa de uma vez só fazendo com que ela voe alucinada pra todos os lados.

Ele parou na metade do caminho, veio um frio louco na barriga, o intestino deu reviravoltas constrangedoras de quem precisa urgentemente de um banheiro, a garganta deu um nó, as mãos suaram. E sobre o discurso? Que discurso? Onde ele estava com a cabeça? Por que Liam o encorajou a fazer tal coisa? Para começo de conversa, como explicar que há pouco mais de um ano sabia onde Louis morava porque o seguiu como um stalker psicopata, e que mais de uma vez ele fez isso?

Deu meia volta. Foi uma ideia estúpida. E se o pai do garoto fosse mesmo um escroto, ficasse bravo com a presença de um estranho batendo na porta deles e descontasse em Louis? Não dava para levar mais essa pra sua conta.

Dois passos e mudou de ideia de novo.

Se não fizesse agora, faria quando? Três dias depois? Na escola? Ah não! Não tinha ido tão longe para voltar atrás agora!

Respirou fundo, estufou o peito mais uma vez e virou na direção da casa. Vamos lá, Harry! Você consegue! Ele dizia para si mesmo. Algumas luzes estavam acesas, dava para ver alguns vultos pelas janelas anunciando que tinha gente ali. A única forma de distinguir a casa de Louis era pelo número, ele morava naquelas vizinhanças onde todas as casas eram iguais e não podiam ser feitas mudanças na fachada. Pelo menos eram adoráveis construções espaçosas o bastante para famílias de classe média. O cacheado se encaminhava para tocar a campainha, mas hesitou logo que parou em frente a porta e ouviu uma briga bem exaltada. A curiosidade o obrigou a continuar ali, apesar da falta de educação e o perigo de ser flagrado.

Louis não voltou para casa no dia que apanhou e levou a suspensão. Muito menos no final de semana. A ideia era ficar fora até que os hematomas sarassem. Encontraria abrigo temporário no bordel; a cafetina responsável permitia que os meninos dormissem por lá quando tinham alguma emergência desde que pagassem pela estadia. No caso de Louis, não era a primeira vez que precisava dos “favores” daquela senhora. Eventualmente, quando Troy estava de namorada nova ou quando reatava com Elisabeta - mulher que tinha um relacionamento tempestuoso de idas e vindas e que Louis odiava com todas as forças - ele expulsava o filho para transar em todos os cômodos da casa, inclusive no quarto do garoto, sem ser interrompido. Quando era Elisabeta, ela mesma expulsava Louis depois de uma discussão acalorada sobre quem manda e quem obedece na casa.

Mas, quando havia dinheiro envolvido, Troy abria mão até da mulher mais gostosa do mundo para ter a mão cheia de notas gordas conquistadas pelo filho. O homem tinha pleno controle dos programas que Louis fazia e funcionava assim: 30% ficava com o bordel, 60% com Troy e 10% ia para Louis, isso quando Elisabeta não roubava parte do dinheiro dele para comprar cigarros, maquiagem e apliques pro cabelo. Todos os ganhos de Louis deviam ser repartidos, sem exceções e quando se tratava de um programa mais caro, Troy engordava os olhos e sua obsessão não passava até ter sua parte nos bolsos. Tudo o que Louis conseguiu foi adiar o pior. Passou o final de semana inteiro no bordel; quando Troy ligou perguntando por ele, mentiu dizendo que tinha três programas aquela noite e um fim de semana com todas as horas ocupadas e este aceitou a mentira. Quanto mais dinheiro melhor!

Mas, na segunda feira o celular não parava de tocar. Louis teve de mendigar programas das formas mais humilhantes, inclusive nas ruas e guetos da cidade cheios de pubs, bares e boates LGBT. O dinheiro que levou da noite com Harry não seria bastante para sustentar sua mentira, ele precisava de mais, muito mais. Entretanto, poucos clientes gostavam de garotos com hematomas no rosto e os que pagavam bem queriam para ter um rostinho perfeito e imaculado de garoto inocente.

Foi sem sombra de duvida um dos piores finais de semana dele. Teve os piores clientes, daqueles que xingavam, batiam e humilhavam o garoto de programa para sentir tesão. Alguns depois de aceitarem o programa, se diziam hetero, afirmavam que só aceitaram aquilo para puni-lo e nem pagavam no final. Estavam bêbados ou drogados em sua maioria, mas tudo bem, Louis também estava do contrario não suportaria mais de dois programas antes de cair no choro ou desejar a própria morte mais uma vez. No final Louis tinha uma mixaria no bolso, um celular tocando sem parar, um rosto marcado e o terror latente do que o esperava assim que atravessasse a porta daquela casa e enfrentasse seu pai.

Troy não tolerava mentiras; ficava possesso quando Louis lhe entregava sua parte na conta errada, mas acima de tudo isso, o homem ficava louco de ódio quando Louis aparecia com marcas de briga. Ele sabia que marcas daquele tipo eram ruins para os negócios e pior: sabia que Louis não revidava quando apanhava por causa de um programa. O próprio Troy já havia presenciado uma esposa traída espancar seu filho pouco antes de ele entrar em um carro e o garoto apenas se encolheu enquanto levava socos, chutes, tapas e afins até que alguém afastasse a mulher. A propósito, o salvador de Louis naquela situação não foi seu pai, mas dois dos garotos de programa que passavam no local - porque a briga estava perturbando a clientela - pois o homem no carro simplesmente arrancou com o veículo e Troy permaneceu observando a cena com muito ódio de seu filho frouxo. Mais tarde, conversando com a cafetina e os outros garotos, o pai descobriu que as surras eram recorrentes, às vezes bem violentas, nem sempre eram mulheres as agressoras e Louis tinha sempre uma reação passiva, nem mesmo pedia socorro ou gritava de dor; não seria de se admirar caso soubessem que ele mesmo atraía os cônjuges para descobrirem a pulada de cerca de seus parceiros. “Parece que ele gosta de apanhar. Ou que faz de propósito.” Diziam muitos deles, atiçando a raiva de Troy.

Louis só esperava pelo pior e foi o que aconteceu. Logo que abriu a porta, deu de cara com o pai, alto, calvo e com muitos traços inegavelmente iguais aos dele, com semblante endurecido sentado em sua poltrona velha e puída, encarando a porta como se tivesse passado o dia inteiro daquele jeito – e Louis não duvidava nada que tenha sido isso. O cinzeiro de vidro sobre a mesinha de canto estava coberto de guimbas do cigarro fedido de má qualidade a qual o homem era viciado, sobre a mesma mesa estava uma garrafa quase vazia de gim. Ele se levantou cambaleante e avançou em direção ao filho. Raivoso com o atraso, por suas ligações não atendidas e bastou ver o lábio cortado, o roxo no olho direito, a bochecha inchada e o nariz marcado para puxar o garoto pela gola da camisa, sacudi-lo raivosamente e começaram os xingamentos aos gritos:

- O que significa essa porra, seu viadinho?? Apanhou de novo? É isso? – gritou empurrando o garoto contra a parede.

Louis bateu as costas contra a parede com toda a força, sorte que a mochila em suas costas amorteceu um pouco da pancada. Sentiu o bafo alcoólico do pai lhe embrulhar o estômago. Troy era mais alto e mais forte do que ele. Poderia quebrá-lo num só golpe.

- Apanhei mesmo, e daí? Ócios do ofício, sabe? – gritou ele de volta. As costas doíam infernalmente, mas ele não daria ao pai o gostinho de saber que lhe causou dor tão rápido assim.

- Não responda o seu pai, moleque inútil! – gritou Elisabeta surgindo da cozinha.

Ela usava uma odiosa peruca de cachos ruivos, batom vermelho vivo nos lábios finos e um robe de cetim preto sobre o corpo. Provavelmente estava nua debaixo daquilo e isso era mais nauseante para Louis do que a presença dela em sua casa. O garoto a olhou com desprezo estampado no rosto.

- Trouxe o dinheiro pelo menos, bichinha? – perguntou ela dando um trago em seu cigarro tão fedido quanto o de Troy. – Melhor que a resposta seja sim, porque até eu irei te bater se esses hematomas não tenham rendido pelo menos mil libras.

Louis odiou cada palavra que saia daquela boca, odiou o apelido desdenhoso que recebeu e odiou que a madrasta se sentia no direito de perguntar sobre algo que não lhe dizia respeito.

- Se você quer tanto, por que você não vai lá e faz no meu lugar? – atreveu-se o garoto – Ah é, ninguém vai comer puta velha e pagar bem por isso!

O tapa que levou no rosto por seu pai veio muito antes que o garoto pudesse se vangloriar da resposta bem dada.

- Eu não admito que você fale assim da minha mulher, seu verme imundo! – Troy quase gritou. Em seguida puxou Louis pelo queixo, forçando-o a olhar para ele – Onde está meu dinheiro! E é bom que você tenha muita grana aí ou não respondo por mim!

Louis colocou a mão nos dois bolsos. Antes de ir para casa ele havia separado sua parte e a parte de seu pai, guardando uma em cada bolso para adiantar as coisas. Não podia boicotar o homem, pois no dia seguinte ele perguntaria a cafetina quantos programas foram feitos, se o dinheiro não batesse com o serviço, Louis estaria condenado. Havia uma frágil esperança de que se Troy estivesse de bom humor, aceitaria o ganho modesto daqueles dias. Entretanto, o garoto de olhos azuis aprendeu a escolher bem suas batalhas, abriu mão de sua parte, entregou os dois bolos de dinheiro ao pai e esperou que isso bastasse para encerrar o dia.

Foi nesse breve silencio que se deu enquanto Troy contava o dinheiro que Harry se aproximou da porta e pôde ouvir o que aconteceu em seguida:

- Quinhentas libras? – perguntou o homem visivelmente aborrecido - Isso é tudo que você tem pra mim? Passou três dias fora PARA VOLTA COM ESSA ESMOLA? – jogou as notas no rosto do filho. – QUE ESPÉCIE DE PALHAÇO VOCÊ PENSA QUE EU SOU?

Mesmo tremendo de medo, Louis respondeu:

- Foi o que eu consegui, tá legal? - ergueu a voz dando a resposta enervada - Desculpa, mas é o que tem!

- Insolente! – estapeou-o mais uma vez – Maldito seja o dia em que eu gozei dentro da vagabunda da sua mãe!

O homem tomou o cigarro de Elisabeta, que tinha se aproximado para catar as notas caídas no chão, e deu uma longa tragada

– Eu devia ter te jogado no orfanato quando tive a chance! Burro fui eu de ter te aceitado na minha casa quando nem aquela puta te quis, garoto inútil!

- Sou tão inútil que é o meu dinheiro que paga as suas contas. – rebateu ele.

- Até parece que é um sacrifício muito grande pra um viado ser pago pra chupar piroca e ser comido como uma mulherzinha. – olhou o filho de cima abaixo com desprezo.

Louis respirava pesado, trancou os dentes para não permitir que os lábios tremessem. Os músculos estavam contraídos e os punhos cerrados. Ele não desviou os olhos do pai nem por um segundo, mas Troy apenas deu um risinho debochado.

- Que é? Perdeu as palavras? – o homem chegou mais perto e deu um tapa mais leve só de provocação – Ou será que vai me bater? – deu mais um – Não tem coragem de bater na rua, mas tem de bater no seu pai, é isso? Vamos lá... bate! Bem aqui olha – apontou para a bochecha mantendo o sorrisinho provocador – Honre suas calças. Defenda essa escória que você pertence. Limpe a moral da vadia da tua mãe e me bate, vai...

Louis não se mexeu. A vontade era grande, não podia negar, mas o garoto simplesmente não moveu um músculo contra o pai.

- Sabia. – o homem mexeu os ombros vitorioso – Se você não tivesse a minha cara e se eu não soubesse que aquela vagabunda só trepava comigo até eu a dispensar pediria um teste de DNA antes de te dar abrigo na minha casa. Você sabe que não serve para nada. É um lixo e sempre será. Aliás, você é menos que lixo, você é um nada, um verme, frouxo, covarde nem seus avós te quiseram. – o homem soltou outro riso cretino – Nem a sua mãe! Nem a sua mãe te quis, garoto.

Elisabeta já ia subindo as escadas quando Troy se voltou para ela.

- Mulher, eu sei exatamente quanto tem aí! Não ouse me roubar!

- Eu não sou ele, docinho – respondeu a mulher apontando com o queixo para Louis.

- É melhor mesmo!

- Termina logo com essa perda de tempo. Temos coisas mais divertidas a fazer hoje – disse ela, fazendo um gesto obsceno com a língua.

O homem deu um sorriso depravado e respondeu:

- Pode me esperar pelada na cama. Já estou indo.

Louis quis vomitar presenciando aquilo. Queria ter saído de uma vez, mas Troy ainda o segurava com firmeza pela camisa. Logo que Elisabeta desapareceu no andar de cima, Troy voltou a encarar o garoto.

- Eu ia gostar que você aprendesse comigo como ser um homem de verdade, mas você é um caso perdido mesmo. Pra que perder meu tempo? – disse com voz mais calma.

Apenas com uma breve olhada para baixo, Louis percebeu um volume na bermuda de seu pai. As coisas ficavam mais nauseantes a cada minuto.

- Coloca isso na sua cabeça: você é nada. Eu sou um bom samaritano aqui. Você tem uma boa casa, boa comida e ainda te deixo uma gorda mesada, dependendo do seu bom trabalho, é claro. Garotos como você são expulsos de casa, tornam-se putos baratos, estuprados, cuspidos, torturados, mortos e enterrados como indigentes porque ninguém se importa com eles. Merecem tudo isso, é claro. Quem manda ser viado com tanta mulher no mundo? – declarou. – Até te deixei voltar com os estudos, mesmo que isso seja uma perda de tempo pra você. - Louis quis responder, mas também não queria levar outra tapa e no fundo, ele concordava com muitas coisas. – Não fica se sentindo porque ganha dinheiro. Ao contrario, seja humilde e grato porque você tem mais sorte do que merece.

Soltou a camisa do garoto, endireitou a bermuda caída e estalou o pescoço.

- Agora saia da minha casa e só volte quando essa cara feia de mulherzinha estiver apresentável. – Harry sentiu que essa era sua deixa para ir embora dali antes que Louis saísse, mas o que Troy disse em seguida o fez continuar - Foi o moleque virgem que te bateu? Aposto que foi. Você deve ter arrombado aquele projeto de viadinho e ele veio se vingar, não é?

- Você nem o conhece! – disse Louis entre dentes - Não fale do que não sabe!

- Ohhh ganhou voz de repente? O que foi, ele é sua namorada? Tá misturando negócios com prazer? – não houve resposta. O sorriso de Troy desapareceu, voltando ao desprezo de antes – Fora! – rosnou.

Louis abriu a porta bruscamente, saiu e a bateu atrás de si com toda força. O ato repentino não deu tempo de Harry sair antes de ser visto. Os garotos se encararam com distintas expressões de surpresa. A de Harry era misturada com o constrangimento de ser pego em flagrante bisbilhotando, a de Louis com curiosidade e confusão.



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