História Incontrolável - Agenda negra

Jungkook abre a porta do quarto, encontrando Jimin deitado na beira da cama, encolhido de costas para Hoseok, que por sua vez estava do outro lado da cama, ofegante. 
- E então? - Jungkook pergunta sem esperar resposta. 
Jimin o encara com frieza, seus olhos demonstram uma dor amarga, um brilho cego e sem vida. Uma lágrima rola em seu rosto mas ele logo á enxuga, desviando o olhar. 
Ele sente cada pedacinho de seu coração rachar com tal cena. Deita entre os dois, virando-se para Jimin e o abraçando carinhosamente por trás.
- Está tudo bem agora. - Alisa o seu braço.
- Esse é o seu “tudo bem”? Me deixar desse jeito? - Jimin não se move nem um pouco, sua voz é baixa e fraca.
Jungkook beija delicadamente o seu ombro.
- Desculpe. - Sussurra, virando-se para o outro lado. - Hoseok, acho melhor você ir embora. 
- Você não vai fazê-lo ir para casa á essa hora. - Jimin interfere, virando-se para ele.
- E qual o problema? 
- Você já viu que horas são? 
- Não me interessa que horas são. Quero que ele saia da minha casa.
- Tudo bem, não precisa brigar por minha causa. 
Hoseok está se levantando da cama quando sente alguém tocar em seu braço. Jimin o segura com força. 
- Você fica. Está muito tarde para ir agora.
- Eu sei me cuidar, está bem? - Hoseok sorri, afastando-se da sua mão. - Obrigado pela preocupação. 
- Jungkook, peça para ele ficar!
- Por que eu pediria isso se quero que ele vá embora?
- Por favor... - Jimin observa os olhos famintos de Jungkook. Inclina-se sobre ele, beijando-o. Depois se afasta apenas o suficiente para ver a expressão confusa em seu rosto. - Por favor, deixe-o ficar.
- Eu não quero que fique. - Jungkook responde prontamente, afastando Jimin. 
- Então você dormirá na minha casa, Hoseok. - Jimin diz em voz baixa, se levantando da cama.
- Quem disse que você está liberado?
- Mas que droga, Jungkook! - Jimin se altera, enrijecendo o maxilar - Então deixe-o ficar! 
Jungkook para, o observando em silêncio. A raiva de Jimin passa pouco á pouco, dando lugar ao medo do olhar frio de Jungkook. 
Hoseok permanece imóvel, variando o olhar de Jimin á Jungkook. Se abaixa lentamente para apanhar suas roupas quando é surpreendido pela voz de Jungkook.
- Hoseok fica. - Diz, sem retirar os olhos de Jimin. 
- Não precisa, eu posso pegar um táxi e...
- Eu mandei você ficar! - Jungkook vocifera, cerrando os punhos.
Jimin desvia o olhar.
- Obrigado. - Diz em voz baixa.
- Não me agradeça, você vai pagar por essa ousadia.
Jimin engole seco, piscando algumas vezes.
- Agora deitem e durmam, os dois, - Jungkook continua - não quero acordar tarde novamente.
Jimin obedece, deitando ao seu lado. Hoseok hesita um pouco, mas logo volta á deitar-se também. 
- Eu realmente não posso ir para casa? - Jimin pergunta, sem se virar para vê-lo. 
Não houve resposta, apenas o silêncio pesava entre eles.
Jimin abraça seu próprio corpo, afundando a cabeça no travesseiro enquanto olha de relance para Hoseok. Ele estava de olhos fechados, mas pela respiração acelerada Jimin constatou que ainda estava acordado.
- Por que fez isso comigo? - Jimin não consegue segurar as lágrimas e sua voz trêmula. - Isso não foi bom, Jungkook. 
- Do que você está falando? 
- Hoseok.
- Ele te tratou mal?
Jimin balança a cabeça em negativa.
- Apenas vá dormir. 
Jimin fita a parede á sua frente. A última coisa que ele queria fazer neste exato momento era dormir, então ficou contando mentalmente do número um até o sono vir. 
Contou até 2378 antes de sentir o sol morno em seu rosto.

A noite passou muito lenta para ele. Quando os primeiros raios de sol surgiram penetrando as cortinas da janela, Jimin se levantou da cama com todo o cuidado possível, verificando depois se os outros continuavam dormindo. Jungkook dormia silenciosamente, com a cabeça para o lado oposto a do Hoseok. Já Hoseok havia bagunçado todo o seu lado da cama, nesse momento estava coberto com o forro ao invés do lençol. Jimin observa os dois, ambos com corpos quentes e ágeis. Eram lindos, despertavam algo dentro dele, alguma coisa estranha que fazia seu membro... Ele engole em seco, espantando as ideias absurdas que vieram á mente.  
 Andou pelo quarto, passando os dedos distraidamente pelos móveis. Parou frente á escrivaninha, pegando o pêndulo nas mãos. 
- Foi por sua culpa. - Sussurra. - Seu maldito.
O põe de volta no lugar, notando algo atrás dos outros cadernos, bem escondido e prensado contra a parede pelos outros objetos. Olha para a cama mais uma vez: eles ainda estavam na mesma posição. Move algumas coisas para facilitar o acesso á essa “coisa”. Quando consegue, ele o puxa com delicadeza, soprando a poeira de cima dele. É um caderno de couro preto, apenas com um fecho de botão. 
- É uma agenda? - Jimin semicerra os olhos. 
Hoseok murmura algo e Jimin se vira rapidamente, respira aliviado ao percebe-lo dormindo, apenas havia mudado a posição do braço, lançando-o contra Jungkook. Jimin põe a agenda debaixo do braço e apanha alguma camisa aleatória no chão, saindo do quarto.
 Ele veste a camisa e vai até a cozinha, preparando um café forte. Se encosta no balcão e folheia o caderno, bebericando seu café. 
As folhas estão um pouco amareladas e a caligrafia é horrível, mas com um pouco de esforço Jimin conseguiu entender o que havia escrito na primeira página:
“ Meu nome é Jungkook e eu tenho doze anos. Eu não sei como todos conseguem escrever em uma folha, mas irei tentar por recomendação do meu psiquiatra. Ele falou para eu escrever tudo o que acontecia no meu dia-a-dia ou tudo o que me incomodava. 
Bom, hoje não aconteceu nada de interessante. Só houve o de costume: escola, brincar e voltar para casa. O papai disse que eu era muito inteligente, ele sempre me elogia quando volto da escola. Moro com ele, minha mãe e minha irmãzinha que ainda é muito pequenina.
Não sei mais o que falar, acho que por hoje é só. 
Até amanhã.
                                                                                                                                           Com amor, Jungkook.”

Não havia data nas páginas ou na capa do caderno, o que fez Jimin estranhar um pouco. Ele sentou perto da mesa e começou a ler as outras coisas, sorrindo. Até que chegou ao meio, nesse momento algo chamou sua atenção desfazendo o sorriso que havia em seu rosto:

“ Olá amigo, já estamos conversando há bastante tempo. Acho que você me conhece o suficiente para que eu conte um segredo: o papai vem no meu quarto quase todas as noites. Ele diz que sou um garoto muito esperto e que me ama muito, depois ele pede para eu tirar a roupa e faz aquele negócio com a boca que me deixa muito feliz. Só não gosto de fazer nele também, não consigo fazer da mesma maneira.
Ele pediu para eu fazer isso nele novamente hoje, mas eu não consegui e ele me bateu no rosto, depois disse que não gostava de mim. 
Ainda está doendo o que ele fez comigo. 
Ele me jogou na cama e enfiou minha cabeça no travesseiro. Eu quase não conseguia respirar. Depois eu senti alguma coisa entrando em mim e doía muito. Tentei gritar mas o travesseiro me impedia. Ele continuou a fazer isso e a dor era insuportável. 
Papai saiu daqui do quarto á algum tempo e disse que não era pra contar pra ninguém porque se não ele vai fazer de novo. Eu não consigo parar de chorar, está doendo muito. 
Acho que eu posso confiar em você, não é? 
Você é meu amigo. O único amigo pra quem contei isso. 
Agora tenho que dormir, mas ainda sinto aquela dor incomoda. Até amanhã, amigo.
                                                                                                                                         Com amor, Jungkook.”