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História Indigo - Primeiros sinais


Escrita por: SmoothDelusion

Notas do Autor


Abram suas mentes antes de ler essa fanfic, vai ser necessário hahaha

Capítulo 1 - Primeiros sinais


O primeiro sinal foi a xícara.

 

Estou sentado na cozinha, a minha frente uma xícara repousa sobre a mesa enquanto eu a encaro. O contraste da porcelana contra a toalha azul é digno de ser registrado e eu o faço com mestria em meus pensamentos. A bebida quente borbulha enquanto pinceladas correm em minha cabeça detalhando cada curva do objeto. Meus olhos, naturalmente estreitos, parecem quase fechados enquanto eu me concentro.

Permaneço encarando a xícara por mais alguns segundos, até que ela se move rapidamente para fora da mesa e cai no chão. Um grito distorcido ecoa pelo cômodo mas eu não sou capaz de identificá-lo. Não há ninguém além de mim.

Talvez eu esteja imaginado isso tanto quanto imaginei minha pintura.

O líquido espalha pelo chão em meio aos pedaços da porcelana, próximo ao meu pé. Ignoro a sujeira, levanto-me e ando até o balcão próximo à mesa. Várias caixas de remédios estão jogadas de qualquer forma e eu as reviro até achar a que está marcada com uma tarja preta.

A condição para ficar em casa era tomar todos os remédios, mas eu não tenho certeza se o estou fazendo. Depois de algumas pílulas eu realmente não tenho certeza do que acontece.

Eu deveria estar acompanhado de uma enfermeira, mas todas que contratei pediram dispensa e eu não pude fazer nada além de aceitar. Agora estou sozinho em casa, pois já não sei mais onde procurar ajuda.

Engulo o comprimido a seco, enfio as mãos dentro do roupão felpudo azul e sigo caminhando lentamente para a sala.

A casa não é grande, a cozinha fica a apenas um cômodo de distância - a sala de jantar - da sala. O televisor velho no canto esquerdo chia quando eu aperto o botão para ligar e imagens embaralhadas surgem na tela. Não me importo. Sento na poltrona atrás da mesa de centro e encaro o aparelho.

As imagens dançam pela tela e eu realmente não sei dizer o que está acontecendo, mas há muito azul. Azul de tantos tons quanto é possível imaginar. Mas eu não sei quantos tipos de azul eu posso ver. Talvez existam muitos mais do que eu sou capaz de compreender, o que me faz pensar que eu também deveria registrar isso.

 

O segundo sinal foi o quadro.

 

Adormeço enquanto tento registrar a quantidade de azuis que sou capaz de ver na tela e só acordo horas depois ao sentir frio em minhas pernas. Abro os olhos com dificuldade e logo noto o motivo. Enquanto dormia achei que havia ido ao banheiro. Mas era só um sonho.

Agora estou sentado de forma desconfortável, fedendo a urina e com frio.

Faço força e levanto da poltrona. O estrago foi grande. Bem maior que o da cozinha. Certamente não poderei ignorá-lo caso queira usar a sala novamente, então seguro a poltrona pelo encosto e a arrasto pela sala, passando pela sala de jantar, atravessando a cozinha e saindo pela porta dos fundos.

Está frio fora de casa, minhas pernas tremem e eu fecho os braços ao redor do tronco tentando me esquentar, mas não faz diferença.

Eu observo a poltrona; não sei o que fazer para limpá-la, então apenas decido entrar pois está frio demais. Já me livrei da sujeira de qualquer forma.

Atravesso novamente os cômodos e sigo para a escada que fica entre as duas salas. É uma escada de dois lances que faz uma curva para a direita formando um angulo reto; ao longo dela, fotos e pinturas se intercalam. Eu sempre as ignoro, mas não hoje, pois noto que um dos quadros está torto. Paro em frente a ele e dou um toque leve na ponta superior direita que está mais acima, a fim de deixar o quadro alinhado. Observo com cautela se o fiz de forma correta e parece bom, mas quando começo a subir novamente os degraus, um rangido faz com que eu volte minha atenção e noto que o quadro está desalinhado novamente. Volto um degrau, dou mais toque no mesmo local e o encaro.

Estou cansado, preciso tomar um banho e trocar minhas roupas. “Você poderia colaborar comigo não é mesmo?” digo ao quadro, sem esperar por uma resposta. Eu sei que ele não vai responder. Eu prometi ao médico que não esperaria por respostas. Então volto a subir os degraus. Quando finalmente alcanço o final da escada escuto o barulho do vidro quebrado e madeira colidindo contra o chão. Encosto-me no apoio e observo o quadro próximo a porta de entrada. O vidro quebrado se espalha por todo o chão enquanto a moldura se divide em diversas partes.

“Ok, você não quer colaborar”, falo baixinho e entro no banheiro.

 

O terceiro sinal foi a toalha.

 

Tiro a roupa e a jogo em um canto. Terei que lavá-la depois, ou jogá-la junto da poltrona. Mas eu realmente gosto do roupão azul, então, acho que terei de optar pela primeira solução.

O banheiro é o meu cômodo preferido da casa. Todo decorado em diferentes tons de azul, apenas a banheira, o sanitário e a pia são brancos. É espaçoso e aconchegante. O sistema de aquecimento interligado da casa o mantém sempre na temperatura ideal, por isso não me importo de passar alguns minutos nu encarando meu rosto no espelho.

Meus olhos são realmente pequenos, praticamente dois traços em meu rosto. Meu cabelo está curto mas não tenho certeza se gosto dele assim, por isso costumo usar sempre toucas ou bonés - mas com o frio dessa época do ano, acabo optando quase sempre por toucas. Não há muito o que notar em meu rosto, por mais que eu passe horas observando. Sinto que sou uma pessoa comum.

Pego uma toalha no armário, próximo ao sanitário, e a deixo dobrada em cima da pia, para usá-la assim que terminar.

Giro o registro da banheira, sentando-me na borda enquanto aguardo que ela fique cheia. Depois de alguns minutos, quando o nível da água já é suficiente, entro e deito, encostando a cabeça na borda enquanto olho o teto. Adormeço mais uma vez.

Eu não deveria dormir na banheira, o médico também já disse isso. É perigoso, ainda mais quando estou sem supervisão. Mas é tão difícil evitar. O sono vem tão depressa e me envolve de uma forma tão sedutora, que eu simplesmente não sou capaz de resistir.

Não sei quanto tempo passei lá, mas ao acordar vejo que meus dedos estão enrugados e minha pele parece pálida. Pego o sabonete líquido, esfrego meu corpo rapidamente, abro o ralo para me livrar daquela água, levanto e tomo uma ducha.

Quando me viro para pegar a toalha, finalmente vejo que ela está caída no chão, perfeitamente esticada e alinhada aos traços do rejunte do piso. Eu não fiz isso, nem acordado, nem enquanto dormia. Tenho certeza.

De repente sinto frio, o que não faz sentido. A janela atrás da banheira está fechada e eu posso escutar o ruído baixo do aquecedor ligado. Olho para a toalha estreitando ainda mais meus olhos; não é normal. Alguma coisa está acontecendo. Não são os remédios.

Com cuidado, pulo a toalha estendida no chão e abro o armário para pegar outra. Me enrolo rapidamente e abro a porta do banheiro, correndo em direção a escada de forma desajeitada. O quadro está caído em frente a porta; o vidro estilhaçado está espalhado por todo lado. Desço os degraus e tento desviar dos cacos pois estou descalço, mas acabo pisando e cortando meu pé de qualquer jeito. Ignoro a dor e sigo para a cozinha: a xícara está em cima da mesa, inteira e vazia.

 

#

 

Minha mente oscila de forma brusca. A maior parte do tempo eu não faço ideia do que está acontecendo, mas em alguns momentos, como esse, eu recobro a consciência e as coisas parecem fazer mais sentido.

Fiz um curativo em meu pé. O corte foi razoavelmente grande e dói bastante, mas não quero ir ao hospital. Logo em seguida limpei os cacos e lavei as roupas sujas de urina. Sobrou apenas a poltrona que eu ainda não tenho certeza do que farei. Eu poderia simplesmente jogar fora e comprar outra.

Mas eu não fiz aquelas coisas. Não sei o que aconteceu, mas tenho certeza de que não foi minha culpa.

Olho para o relógio da cozinha enquanto espero a chaleira apitar indicando que a água ferveu. Já é tarde e eu não comi nada o dia todo, mas também não sinto fome. Apenas pego a água fervente e preparo meu chá para tomar junto dos remédios. São 4 comprimidos antes de dormir.

Sento na mesma cadeira, coloco a xícara no mesmo local e aguardo. Dessa vez não estou delirando e tenho certeza de que qualquer coisa que possa vir a acontecer não será minha culpa. Mas nada acontece.

Abro a mão e encaro os comprimidos coloridos: vermelho, verde, amarelo e laranja. Enfio todos de uma só vez na boca e tomo todo o chá em um único gole.

Dane-se. Eu não quero entender o que aconteceu.

 

#

 

Acordo assim que o sol nasce com a luz, fraca e parcialmente coberta por nuvens, adentrando a janela que esqueci aberta. Continuo deitado por meia hora virando para os lados, sem conseguir pegar no sono novamente, até que decido levantar.

Passo pelo banheiro para lavar o rosto e noto que a toalha não está mais no chão como a havia deixado antes. Abro o armário e a encontro dobrada.

Ao descer a escada também vejo o quadro pendurado na parede. É o mesmo quadro de sempre, aquele que eu joguei fora no dia anterior por ter quebrado. E ele está lá, perfeitamente alinhado como todos os outros.

Sento no degrau e levanto meu pé, usando as mãos para ajudar a virar a sola na direção dos meus olhos. O curativo continua lá, o machucado também.

Não faz sentido.

Levanto e termino de descer os degraus. Olho para a esquerda, na direção da sala e vejo a poltrona. Ela está de volta ao seu lugar de sempre. Me precipito em sua direção, passando as mãos pelos locais onde deveria estar molhada, mas está completamente seca. Por fim, aproximo meu rosto para cheirá-la e constato que não há cheiro de urina.

Enquanto analiso a poltrona, escuto um estalo e vejo que o televisor está ligado. As imagens embaralhadas aos poucos começam a se arranjar e eu começo a identificar o rosto de uma pessoa, mas não tenho tempo suficiente, pois logo em seguida escuto uma voz gritar:

- JooHeonie, o chá está pronto!


Notas Finais


Esse primeiro capítulo é uma espécie de introdução, por isso ele ficou curtinho, se tudo sair como planejado (e normalmente não sai, já vou avisando) os próximos capítulos serão mais longos.
O segundo capítulo já está quase pronto, mas, apesar de não gostar disso, dessa vez eu vou esperar pra postar, porque eu notei que quando eu posto tudo muito rápido (um capítulo por dia) ninguém comenta. Então pela primeira vez eu decidi que vou ser mais chata e egoísta, e esperar um tempinho até postar o próximo.
Espero que vocês tenham gostado e que voltem aqui pra ler o próximo, afinal de contas GunHeon é muito amor <3


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