Era a primeira vez em tempos que eu sentia minhas bochechas arderem em brasas ferventes, afinal, era da minha calcinha e a falta dela que estávamos falando. A porra de uma peça íntima. ÍNTIMA. O nome já especificava claramente que o assunto não deveria ser tratado diante um bando de punheteiros de merda.
Depois da insistência de Enrique Madariaga para que eu fosse resolver meu problema, finalmente ele desistiu e voltou a se sentar em sua mesa solitária. Tudo o que eu não queria era atrair ainda mais atenção, tenha misericórdia, será que ele não percebia que eu estava terrivelmente constrangida com a situação? Algo raro de se ver, mas droga, eu também tinha meus momentos de fraqueza e esse era um deles.
Meu estômago se embrulhava em um misto de sentimentos confusos.
Vergonha. Angústia. Excitação.
Nós estávamos frente a frente, divididos por três mesas e dez metros de distância. Diego tinha uma Vick fogosa no colo sussurando em seu ouvido algo que imediatamente imaginei ser uma obscenidade. O rosto dela era pura malícia.
Minha vontade era entrar naquele meio com uma machadinha e esquartejar os dois. Eu não estava com ciúmes. Era raiva. Estávamos á poucos minutos tendo contato íntimo e os mesmo dedos que antes estavam dentro de mim, agora estavam segurando a cintura de Vick.
Minha dignidade dizia adeus.
Tudo que eu preguei contra o que Diego Bustamante fazia com as meninas do colégio estava indo ralo á dentro.
Cadê aquela Roberta que dizia que não era levada pelos encantos de homem cafajeste?
Definitivamente era o meu castigo, o qual poderia suprir pecados para toda uma eternidade.
Trabalho de dez páginas sobre um livro que eu não tinha a mínima noção de quando iria começar a ler? Risos eternos. Ser praticamente obrigada a ver Vick se esfregando no colo de Diego e o mesmo com os olhos fixos em mim, era, com toda certeza, minha punição por cair nos seus encantos.
— Por onde você quer começar? Pelo sermão do professor ou pelo modo que você e o Diego estão se comendo com os olhos? — Lupita questionou subitamente ao meu lado. Ela tinha os cotovelos apoiados na mesa e o rosto virado na minha direção.
— Vou começar por onde tenha respostas de como ler esse livro sem dormir. — Eu disse apontando para o objeto sobre a mesa — Alguma sugestão?
— Minha sugestão é que você se concentre nesse livro e não na mesa do Diego. — Minhas bochechas esquentaram por ter sido pega no flagra e eu abaixei a cabeça tentando inutilmente esconder isso da minha amiga. Não deu muito certo. Ela gargalhou alto. — Aí meu Deus, você tá afim dele!
— Quer um microfone? — Grunhi baixo.
Lupita arregalou os olhos.
— Então é verdade?
— Não, não, não, claro que não. — Respondi impaciente — Óbvio que não.
— Eu nunca vi você ficar envergonhada por homem algum, Roberta, nem com aquele carinha que você dizia estar loucamente apaixonada. — Lupita colocou a mão na boca, que, formou um pequeno o — Eu estou sem acreditar nisso.
Abanei com a mão menosprezando suas palavras.
— Você tá vendo coisas onde não existe.
— Eu te conheço como a palma da minha mão. — Ela gesticulou a mão direita — Você é péssima em esconder algo, Roberta, principalmente sentimentos. Está estampado na sua cara que você quer estrangular a Vick e o Diego.
Bufei.
— Eu quero te deserdar como amiga. — Rebati sem paciência.
Lupita me ignorou. Pôs as mãos no queixo e me encarou de lado como se eu tivesse um terceiro olho na testa.
— U.A.U — Exclamou desacreditada — Ele já sabe disso?
— De quê?
— Que você tá afim dele, oras.
Pigarreei e ajeitei minha postura. O olhar instigante de Lupita costumava me deixar nervosa em momentos assim, ela conseguia enxergar coisas que nem eu mesma fazia noção.
— Não sei e pouco me importa, não nasci pra ser escape de bonequinhos de plásticos...
Lupita ergueu os braços e sorriu gigante.
— Você nasceu pra ser a primeira dama Bustamante. — Ela gargalhou e eu lhe dei o dedo do meio.
— Cala essa boca, pelo amor de Deus.— Pedi, ranzinza.
***
No final do dia — pelo menos era o que o relógio do escritório informava, já que estávamos enclausurados onde sequer havia uma única janela — o professor retornou ao escritório com a expressão de quem havia ganhado na loteria. Eu sabia que vinha bomba. Principalmente quando avisou que os trabalhos — que eu quebrei muito a cabeça pra concluir — não valeria de nada.
Eu quis jogar meu chinelo na cabeça dele. Não só eu, pois tive que chutar a canela de um Joaquim prestes a lançar o caderno na direção de Enrique. A situação não poderia piorar ou perderíamos os últimos traços de confiança que possivelmente o professor ainda tinha sobre nós. Mas a vontade de espanca-lo tinha de sobra.
— Em relação ao castigo de vocês, eu pensei bastante e a solução veio em forma de uma ligação que recebi á pouco — Ele sorriu. Era o sorriso que Jack Estripador lançava antes de acabar com suas vítimas. — O conselho do Elite Way School está promovendo uma festa em comemoração aos cento e quarenta anos do nosso colégio, e, estão á procura de voluntários para auxiliar as equipes que trabalharão conosco nesse dia... — Ele ergueu a sobrancelha sugestivamente.
Mia deu um gritinho indignado do outro lado da sala.
— O quê?! Eu não vou lavar chão pós festa! — Exclamou com a expressão enojada.
— Não é assim que funciona, Mia. — Enrique negou com a cabeça — Quem se voluntariar não ajudará dessa forma, isso ficará por conta das equipes que contratamos, os voluntários ajudarão a monitorar a festa e auxiliar em qualquer coisa que nós, professores, diretores e o que qualquer outra pessoa precisar.
— E o que a gente ganha com isso? — Perguntei erguendo a mão.
— Uma não-expulsão — Afirmou — Coincidentemente a festa será no mesmo dia do feriado que se aproxima, daqui a dois dias. Vocês precisarão retornar ao colégio no dia, e, se por acaso todos estiverem de acordo a serem voluntários, vocês poderão voltar para essa casa e ter os últimos dois dias da viagem...
— Caso contrário... — Incentivei a continuar.
— Caso contrário a viagem será cancelada e todos retornarão a suas atividades normais no colégio. Assim como todos os pais e o conselho serão notificados do sumiço de vocês durante a viagem.
— Isso é apelação. — Giovanni queixou-se.
Madariaga o ignorou.
— Passarei uma ATA e os que decidirem a se voluntariar precisarão assinar.
Enrique se dirigiu até sua mesa e escreveu algo em uma folha de ofício. Enquanto isso, Joaquim distribuíu seu ódio na direção do professor, lançando-lhe os dois dedos do meio. Enrique voltou a minha mesa fazendo Joaquim recolher seus dedos e fuzilar com os olhos.
Professor Madariaga me entregou o papel.
Eu assinei com tanta força que quase rasgara o papel. Enrique sorriu e eu quis esmurra-lo.
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