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História Inevitável - Estrelas


Escrita por: Andrezadoll

Capítulo 13 - Estrelas


Ele a olhou por um longo período enquanto sua respiração se acalmava. Marinette apenas o observava com carinho, tentando deixá-lo o mais confortável possível.

— Meu pai sempre foi muito rigoroso comigo — ele começou a dizer. Não tinha mais receio que ela descobrisse sua identidade caso fornecesse alguma pista (mesmo camuflada), que ela eventualmente pudesse desvendar. Ele precisava desabafar. Prosseguiu. — Eu fui criado pra ser uma criança perfeita, aulas e mais aulas particulares de tudo o que você pode imaginar. Eu falo mais línguas do que alguém realmente precisa saber. E mais um monte de outras coisas que sequer fazem sentido — fez uma pausa antes de continuar. A garota não sabia onde ele queria chegar, mas ouvia tudo com atenção. Pela primeira vez estava realmente se abrindo para ela, por mais que ele não soubesse que aquela garota também era sua parceira de luta, a famosa Ladybug. — Eu nunca fui feliz. Eu nunca escolhi todas essas coisas, eu só queria que meus pais gostassem de mim, então sempre obedeci, sempre limitei meus gostos, minha opinião. Eu não precisava de nada daquilo, só queria sonhar como um garoto normal, com pais que se importassem com meus sentimentos e não apenas com as minhas notas. Era como se não fosse permitido sorrir.

Cat Noir virou o rosto para o lado, fugindo do olhar de Marinette, encarou a parede, guardando brevemente os lábios para dentro da boca, pensando com cuidado nas próximas palavras a proferir. Voltou a olhar para frente.

— Eu ainda não entendia muito sobre o mundo quando perdi minha mãe, acho que ela era outra que sofria diante da influência do meu pai, como se ele tivesse hipnotizado todos nós. As coisas pioraram quando ela se foi. Ele ficou ainda mais enérgico, se fechou mais pra mim, pra todo mundo. Eu era uma criança sem a mãe, meus compromissos só aumentavam, e tinha toda aquela pressão novamente pra fazer tudo perfeito. Não sei por que ele queria me manter tão ocupado...

Ele parou um momento. Havia percebido, finalmente, que uma das razões para tal afastamento era porque seu pai também era Hawk Moth, o grande vilão que Paris tivera no passado. Resolveu omitir essa parte. Prosseguiu o monólogo.

— Eu não menti quando te contei que era tímido. Sou bem introvertido sem a máscara, acho que porque nunca permitiram que eu pudesse ser eu mesmo, então me acostumei com isso, me acostumei a fingir que não me importava com nada, pra ver se eu conseguia realmente não me importar, pra ver se eu ia conseguir fazer aquela dor sumir.

Marinette se aproximou até que não houvesse mais nenhum passo entre eles, mas não ousou tocá-lo, não queria atrapalhar, permitindo, assim, que ele continuasse o monólogo.

— E quando eu me tornei Cat Noir eu pude fazer a diferença na vida dos outros, permitir que eles pudessem buscar a felicidade, mesmo que eu não tivesse a mesma sorte. A minha sorte tava exatamente em poder ser livre de alguma forma, por alguns momentos. Cat Noir sempre foi o extremo oposto da minha versão civil. Com ele eu podia extravasar, me divertir. E, sim, eu levo isso tudo muito a sério, mas a adrenalina faz isso com a gente, desperta a gente pra vida, Marinette. Só que também é uma vida limitada, uma vida que não define quem sou de verdade, não por completo; Cat Noir é só uma parte de mim. As pessoas sempre esperam que eu seja esse cara, como se me conhecessem só porque viram minha foto no jornal ou leram alguma matéria por aí. Ninguém nunca me conheceu de verdade, Marinette. Ninguém além de você.

Ela engoliu em seco, mas não falou nada. Ainda sem entender aquela linha de raciocínio. Estava mesmo se referindo a ela, que o conhecia havia poucos dias, ou teria ele descoberto a identidade de sua alter ego?

— Você nunca esperou que eu fosse perfeito, nem nada. Diante de você, eu não era a criança que cresceu solitária, também não era o super-herói. Você simplesmente me deu liberdade pra ser quem eu quisesse. Você descortinou o mundo pra mim quando me aceitou como eu era de verdade, sem o peso de uma expectativa. Eu senti como se eu pudesse falar qualquer coisa pra você, porque eu não seria julgado por isso. Você não sabia quem eu era, nenhuma das minhas duas identidades. E pela primeira vez na minha vida eu pude finalmente ser quem eu nunca fui capaz de ser: eu mesmo. Eram meus pensamentos na sua versão mais crua e real, era a minha alma gritando. Eu realmente senti como se... — ele parou de falar de repente.

— Como se o que...? – Quis saber, aflita, as lágrimas a brotarem de seus olhos, fugindo para as bochechas quando piscou.

— Como se eu tivesse nascido só para ter a chance de te encontrar naquela noite — falou de uma só vez. — Eu sei que tudo isso é demais, eu não espero que você entenda e...

Marinette puxou o rosto dele com ambas as mãos para selar um beijo em sua boca.

— Como pode pensar que eu não entendo se eu estava lá com você? — Ela manteve as mãos sobre a face alheia enquanto falava. — Eu vivi tudo aquilo junto contigo. Você não é o único que tinha sonhos aqui do lado de fora, ou temores, frustrações... nem a única pessoa com segredos no mundo. A gente se priva de tanta coisa nessa vida, até da própria felicidade, porque temos mais responsabilidades do que podemos lidar. Eu também me senti livre com você, Cat Noir... — sua voz começava a vibrar de forma diferente conforme as lágrimas lhe fugiam no rosto. Sentia confessar que o amava, finalmente, mesmo sem usar as palavras exatas. — Livre pra me deixar guiar pela dança que você conduzia, pelas palavras que faziam tanto sentido, mesmo quando a gente discordava. Aquela foi de longe a melhor noite da minha vida e eu nem esperava por ela, por nada do que houve, foi uma emoção atrás da outra, você me fascinou com o seu jeito, com tudo o que me fez sentir, cada arrepio, cada aperto que provocou no meu peito. Você me inspira de uma forma que causa um turbilhão de sentimentos dentro de mim, do tipo que eu só quero mais e mais e mais... — sua voz quis sumir conforme ela pronunciava. A fala seguia entrecortada. Os olhos azuis e verdes íntimos entre si, mergulhados uns nos outros. — Eu quero me jogar nisso, me perder nos seus braços. Eu sei o que você tá sentindo porque sinto a mesma coisa, essa... conexão que a gente tem que não sei se faz sentido, e que não me importa achar uma razão para sua existência. Só sei que... existe... e é a melhor sensação do mundo. Então deixa eu te tocar, deixa eu estar com você, ficar na sua vida, e te beijar até que um de nós dois enlouqueça, ou até que a gente enlouqueça juntos. Só me beija, Cat Noir... de novo e de novo. Porque esse desejo todo que a gente tá sentindo não vai se saciar sozinho.

Não foi necessário esforço algum para que suas bocas se encontrassem novamente; já estavam pertos o suficiente.

Ela o entendia, afinal, e o aceitava como era. Ele estava feliz. O beijo foi carinhoso, em alívio, para ambos. Marinette estava plena por ter finalmente conhecido o verdadeiro Cat Noir. E ela nunca se sentira tão apaixonada.

Em seguida, mantiveram os rostos em contato, ambos de olhos fechados, a assimilar tudo o que haviam confessado. Aquilo era absurdamente íntimo, estavam ambos expostos por palavras que não poderiam mais ser recolhidas.

Ela buscou a boca do herói outra vez, o beijo era quase doloroso, numa tentativa de eliminar qualquer vestígio de angústia daquelas almas sofridas. Tinha um sabor salgado por causa das lágrimas vertidas, lágrimas que já não mais brotavam.

— Mas talvez fosse melhor você ficar longe do meu pescoço — ela brincou.

— Isso não vai ser nada fácil...

Ambos sorriram, a brincadeira de fato havia quebrado parte da tensão que ainda existia dentro daquele quarto.

Aos poucos, o beijo acalmou suas expectativas, voltando a se entregarem um ao outro com sincera paixão. Os lábios já levemente inchados com as sucções. 

A garota deixou um gemido baixo escapar no meio dos beijos, afastando a boca momentaneamente. Mas Cat Noir logo a buscou outra vez, com ainda mais intensidade, desejando lhe arrancar outro gemido, que não demorou a surgir. Marinette permitiu-se ofegar, não tinha mais vergonha de deixar transparecer seus desejos reprimidos por tantos anos.

Apoiada nas pontas dos pés, a garota sentiu a perna direita tremer quando o tornozelo falhou o apoio, obrigando-a a soltar o beijo.

— Desculpa, é o meu pé.

O jovem passou um dos braços por trás das pernas alheias e a suspendeu no colo. Eles se olharam com cumplicidade. Ele só pensava no quanto a amava. Ela também. E nenhum dos dois poderia confessar isso naquela noite.

Ela olhou pra trás, procurando um lugar onde pudessem ficar confortáveis.

— Ali. Na cama — falou de forma inocente. Então logo percebeu o que aquilo poderia significar. — Oh, não, não, não... Eu não quis dizer... Não foi um convite pra...! Ai minha nossa — e escondeu o rosto com ambas as mãos, mergulhando a cabeça na curva do pescoço dele.

Ele aguardou um momento antes de se pronunciar.

— Já se acalmou?

— Não... — o som saiu com abafado por causa da boca tampada.

— Você confia em mim, Marinette?

Ela refletiu, tirando as mãos do rosto, mas não olhou pra ele, que ainda a mantinha nos braços.

— Sim...

Ele então caminhou, com cuidado, na direção da cama, e a deitou lá. A abraçou parcialmente, apoiando seu peso no colchão. Estavam cara a cara novamente. Ele, sério. Marinette, envergonhada.

— Eu seria incapaz de te tocar sem a sua permissão. Mesmo sendo mais forte que você.

Ela riu. Se estivesse com seu uniforme de Ladybug, certamente contestaria aquilo.

— Você tem medo de mim? — Ele continuou.

Medo? Não. Excitação? Certamente. Ambos pensavam exatamente a mesma coisa naquele momento, ela sabia disto.

Suas pupilas felinas a fitavam diretamente. As pernas de Marinette se moveram uma contra a outra, em reflexo pelo desejo.

— Não... — suspirou. Seu olhar estava hipnotizado no dele.

Houve um momento de silêncio.

— Seria estranho se um super-herói me deixasse com medo — ela tentou disfarçar, ainda envergonhada com a situação.

— Minha roupa não determina meu caráter.

— Não quis te ofender.

— Não ofendeu — respondeu de forma amável. — Fecha os olhos.

Ele buscou uma das mãos dela e a acomodou sobre seu rosto, onde não havia máscara.

— Não quero que me veja apenas como Cat Noir. Consegue me enxergar além da máscara, Marinette? — Ele fechou os olhos, absorvendo o carinho sutil que ela oferecia em sua pele, quando tocou-lhe os lábios com a ponta do dedo indicador. Havia uma pessoa real por trás do uniforme, e ela conseguia senti-lo.

Ainda de olhos fechados, beijaram-se. Abraçados sobre a cama de colcha cor de rosa, suas pernas se entrelaçaram naturalmente. O beijo manteve-se calmo, às vezes só brincavam de encostar os lábios sutilmente, recordando a textura e o sabor. Às vezes se entregavam de forma mais veemente.

***

A cabeça da garota jazia acomodada sobre o peito do herói enquanto ela lhe acariciava os cabelos dourados e ele, os fios azuis dela.

— Eu ia te dizer o meu nome. Na festa — a garota confessou.

— Então só estava me torturando? — Sua voz era doce. Ambos falavam em baixo tom, quase em cochicho.

— Tudo fazia parte do mistério, do meu plano pra te conquistar — ela se afastou do abraço para fitá-lo.

Seus olhos brilhavam como se mil supernovas queimassem ao mesmo tempo.

— Eu também ia te falar o meu.

Ela ficou séria.

— Eu ia saber a identidade supersecreta do ilustre Cat Noir?

— Você jamais descobriria essa parte.

— Certeza que conseguiria esconder uma vida dupla?

— Absoluta.

Ela sorriu. Esconder a vida dupla era exatamente o que Marinette fazia todos os dias.

O jovem procurou seu bastão para olhar as horas, guardando-o novamente nas costas.

— Vou te deixar dormir, já são mais de três horas da manhã.

A garota o apertou nos braços e fez um barulho tipo resmungo.

— Esqueceu que precisa trabalhar às 6, princesa? — Ele continuou.

Marinette emudeceu, afastando-se. Olhou para ele com uma expressão confusa, então sentou na cama.

— Como você sabe a hora que eu trabalho? Eu nunca te contei isso.

O herói congelou, aflito, sentando-se na cama também. Pela expressão no rosto dele, soube de pronto que ele escondia algo.

— Ontem não foi a primeira vez que você me viu sem a máscara do baile — ela afirmou, embora em tom de pergunta.

Cat Noir nada conseguiu fazer além de olhar para ela, em silêncio.


Notas Finais


Eu meio que chorei quando escrevi esse capítulo, a parte inicial. Foi bem forte pra mim tentar expressar no texto o que a Marinette estava sentindo em ambas as confissões, tanto que me emocionei junto. Estou ansiosa para saber o que vocês acharam do capítulo >_<

Agora, esse final... Gente, por que esse homem dá sempre com a língua nos dentes? kkkkk

NÃO ME XINGUEM MUITO POR FAVORZINHO AMO VOCÊS BEIJO ATÉ QUINTA

(Quando descrevi, lá na sinopse, sobre levar os sentimentos deles ao extremo, eu nem tinha este capítulo em mente. Estava me referindo a capítulos que ainda virão /lalala)

*joguei a bomba e saí correndo*


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