Acabou que Peter e eu dormimos juntos. De novo. E pra falar a verdade , eu já estava me acostumando com isso e não sentia mais aquele desconforto que eu sentia antes. Pelo contrário , com Peter ao meu lado eu me sinto mais segura e tenho até minhas melhores noites de sono. Você pode dizer o quanto isso é clichê, mas depois que a gente acostuma com alguma coisa , fica difícil viver sem aquilo.
Muita gente vê malícia nesse ato de dormir juntos, mas como minha amizade com Peter é maior que qualquer coisa, já considero normal.
Era alguma hora da madrugada , não sabia exatamente qual, e eu estava no banheiro fazendo xixi enquanto Peter dormia confortavelmente na cama. Bom, era o que eu pensava até escutar batidas na porta.
- Vitória ?
- Oi Peter.
- Você tá passando mal aí ? Quer alguma coisa ?
- Não. - Ri. - Tô fazendo xixi.
- Ah. - Ouve um silêncio. Acabei meu xixi , lavei as mãos e voltei pra cama. - Fiquei preocupado quando acordei e não te vi na cama.
- Relaxa. - Sorri pra ele me deitando ao seu lado. - Ele tá de boa esses dias , faz tempo que não sinto enjoo.
- Será que vai ser ele ou ela ? - Ele disse se virando pra mim.
- Peter, isso não é hora. Está de madrugada..
- Você me fez perder o sono. - Revirei os olhos.
- Eu não sei. O que vier tá bom, vindo com saúde.
- É o que eu penso. Se vier um garotão eu vou ensinar a jogar futebol, brincar muito com ele.. e se vier uma princesa, eu vou mima-la , vou ser muito ciumento também.
- Coitada dela então. - Digo rindo. - Eu fico feliz que esteja aceitando tão bem essa gravidez.
- Filhos são uma benção do Senhor, é um presente pra nós.
- Verdade.
- Me desculpa por ter te tratado daquele forma naquele dia. Fui pego de surpresa e ..
- Tudo bem , Peter. Eu entendo você. Só de saber que agora você está feliz com isso e que nosso filho ou filha terão pais amigos, já me deixa feliz.
- Sim. - Ele junta nossas mãos. - Nosso filho será muito amado por nós .
- Vai mesmo. - Levei sua mão novamente a minha barriga e a acariciei com ela. Eu realmente gostei disso. - Boa noite, Peter.
- Ainda tô sem sono. - Ele resmunga.
- Não posso fazer nada.
- Pode sim.
- O que ?
Ele pegou minha mão e colocou em seu cabelo.
- Você tá me zoando. - Disse rindo.
- por favor ...
- Não acredito. - Ri, mas comecei a brincar com seus cachos. Peter se aproximou mais de mim, como se fosse aquelas crianças perto de mãe.
Continuei brincando com seus cachos, até meus olhos começarem a pesar e se fecharem por completo.
9 de maio
Quando eu acordei , Peter estava tão perto de mim que chegava a ser sufocante, mas eu gostava. Sua cabeça estava no meu peito e seu braço em minha barriga , com a mão parada exatamente lá. Meu braço ainda estava em sua cabeça e minha mão em seus cachos ,que agora estavam bagunçados.
O hálito desagradável da manhã estava se tornando meu pior inimigo, então eu não conseguia ficar mais que 3 minutos sem escovar dentes depois que eu acordasse. Me desfiz do " abraço " de Peter e me levantei da cama fazendo o mínimo de barulho possível.
Saí de seu quarto nas pontas dos pés, e fui pro meu , podendo enfim escovar os dentes e tomar um bom banho pra acordar.
Vesti minha roupa mais confortável e me deitei na cama , pegando o celular. Sorri ao ver que tinha mensagem de Allyce.
" Bom dia ! Espero que tenha dormido bem depois daquele jantar de ontem. Eu vi as fotos e vocês dois parecem até casal de verdade , tô começando a desconfiar.. Enfim, como está o nosso baby? Eu não sei como é o fuso horário aí, mas aproveita a manhã pra poder dar uma caminhada ou uma corrida. Lembre-se que você precisa disso. Me liga quando puder, bjos da sua mãezona. "
Revirei os olhos quando lembrei que precisava fazer exercícios. Eu não queria, a preguiça era enorme mas eu precisava.
Peguei uma roupa apropriada, calcei meu tênis e fiz um rabo de cavalo no cabelo. Conectei meu fone no celular e saí antes que a vontade de ficar na cama ganhasse.
Estava um tempo fresco e o sol de 9 da manhã não castigava quanto o da tarde , por sorte. Caminhei até uma loja para comprar uma garrafa de água e aproveitei pra pedir informação de onde tinha um parque para fazer a caminhada. Por sorte , era virando a esquina do hotel.
***
Sentei num banco pra descansar. Já fazia uma hora que eu estava andando pelo parque , já fui até o final e estava voltando agora quando o cansaço bateu e eu resolvi me sentar. Fiquei observando mais a minha frente , uma mãe que balançava o carrinho de seu bebê enquanto vigiava um mais velho brincar na areia.
O bebê começou a chorar e a mãe o pegou em seu colo , já tirando o seio direito pra fora para dar de mamar. Uma cena tão simples mas tão linda e que trazia um grande significado pra mim. Daqui uns meses serei eu com meu neném no colo , dando de mamar e olhando pro seu lindo rostinho que independente de quem puxar, será lindo.
Saí da minha caixa de pensamentos , quando tive uma sensação ruim.
Olhei ao redor e não vi nada de suspeito, mas mesmo assim resolvi me levantar e continuar a andar antes que meu sangue esfrie e comece as cãibras.
Mas quanto mais eu andava , mais presente a sensação ruim se fortificava. Me encostei numa árvore e procurei novamente , dessa vez encontrando três rapazes de moletom preto conversando entre si.
Forcei a vista quando percebi que os três usavam mochilas. Cheguei a pensar que pudesse ser alguns dos meninos da banda, mas não eram. Poderiam ser fãs, não sei.
O do meio abaixou a aba do boné e começou a andar , sendo seguido pelos outros. Sendo fãs ou não , eu não ficaria ali pra saber. Apressei meu passo, torcendo para que eles não estejam me seguindo. Olhei pra trás e estavam. Com medo , comecei a correr. Mas aquela corrida típica de exercícios , que era pra não chamar atenção deles mesmo.
Eu já estava suando frio , e meu coração estava acelerado. Meus pés estavam queimando , mas eu não tinha coragem de parar e muito menos olhar pra trás pra saber se eles ainda estavam ali.
Quando eu enfim avistei a saída do parque, e uma movimentação maior de pessoas eu tive a coragem de olhar pra trás. Eles não estavam mais lá. Respirei aliviada diminuindo o ritmo.
Mas aí uma gritaria desesperadora foi se ouvida lá dentro. Olhei pra trás novamente e tinha muita gente correndo. Eu sem entender corri também, dessa vez de verdade. Ainda dentro do parque , escutei tiros. Muitos tiros. A maldita saída que parecia perto, agora estava a quilômetros de distância e eu já não aguentava correr.
Senti meu rosto molhado e percebi que estava chorando. Medo , desespero.
Consegui sair. Mas continuei correndo, enquanto as pessoas abandonavam os carros no meio da rua , ou tentavam dar ré batendo nos carros atrás. Estava uma zona! Virei a esquina mais próxima , eu só queria sair daquilo logo. Uma explosão alta me fez me abaixar onde eu estava. As pessoas ao meu redor fizeram a mesma coisa. Tentei correr , ainda abaixada mas outra explosão me fez ficar parada novamente. Eu já estava chorando alto e minha barriga estava começando a doer. Eu já via o hotel, via a movimentação em frente a ele. Mas quem disse que eu conseguia sair do lugar ? Cansada , com dor e com medo , me sentei onde estava e coloquei a cabeça entre as pernas. Muita gente ainda corria na minha frente, mas estranhei quando alguém correu na direção contrária e parou na minha frente me puxando pelo braço.
- Vitória !
- Peter! - Me levantei o abraçando aliviada.
- Vamos ! - Ele me puxou pela mao. Atrás dele tinha alguns seguranças.
Fiz forças pra tentar ser mais rápida , mas eu não conseguia. Outra explosão fez com que Peter me empurrasse na parede, e me prendesse lá. Coloquei meus braços em sua cintura, me prendendo lá.
Me apertei contra ele enquanto os seguranças faziam um bolinho ao redor de nós.
- Vai ficar tudo bem. - Ele sussurrou.
- Vamos , rápido! - Um dos seguranças falou , e finalmente nos libertaram.
Reuni todas as forças pra correr os últimos metros até o hotel. Os meninos estavam lá fora, com alguns seguranças a sua volta também. Não paramos lá , entramos direto no hotel e subimos pela escada já que o elevador tinha uma fila enorme.
Nosso corredor ficava no 14° andar, mas parecia que era no 2° de tão rápido que subimos aquelas escadas.
O quarto de Peter era um dos primeiros então foi lá que entramos , logo trancando a porta atrás da gente.
Peter encostou na porta por alguns segundos enquanto eu estava parada no meio do quarto, sem reação e tentando recuperar o fôlego.
Peter saiu da porta e veio até mim , me dando o abraço que eu mais precisei na vida toda.
Me apertei nele, chorando em seu pescoço.
- Calma. Já acabou. - Ele disse. Nos afastamos , e ele segurou meu rosto. - Você tá bem? - Neguei com a cabeça.
- Eu estou apavorada. - Disse, com o pouco de voz que me restava.
- Eu estou também, mas já passou. - Ele me abraçou de novo. - O importante é que estamos salvos.
Ele foi me guiando até a cama, e nos sentamos lá. Peter pegou uma garrafa de água no frigobar e me entregou. Percebi o quanto estava tremendo quando peguei a garrafa.
Bebi quase a metade da água e entreguei novamente a Peter.
Ele se ajoelhou do meu lado e tirou meu tênis. Escutamos batidas na porta.
- Espere aqui , tá ? Eu já volto. - Ele pediu e eu assenti. Peter se levantou indo até a porta e eu fiquei encarando a janela do quarto.
Me levantei e fui até ela. Não dava pra ver o parque , mas dava pra ver a confusão que estava na frente do hotel. Não tinha mais ninguém correndo , o que me indicava que havia acabado. Mas ainda havia um pouco de gritaria misturado com sirenes de ambulâncias e carros de polícias.
Peter veio ao meu lado.
- está melhor agora ?
- Sim. - Disse o olhando. - obrigada, Peter. Se não fosse você eu estaria lá até agora .. - meus olhos se encheram de lágrimas quando lembrei do meu desespero lá.
- O que você estava fazendo ? Eu acordei e não te vi aqui , e depois começou isso tudo..
- Eu fui caminhar . - Digo voltando pra cama. - Eu preciso de exercícios na gravidez.
- Por que não me chamou ? - Ele disse se sentando ao meu lado.
- Você tava dormindo..
- Era só me acordar. - Suspirei. - Vitória, eu quase tive um troço quando te vi abaixada no chão. Eu te reconheci daqui do hotel.
- Eu não conseguia correr mais, meus pés estavam doendo muito e minha barriga também.
- Você quer ir pro hospital? - Ele perguntou preocupado.
- Não. Já to melhor agora. E eu acho que eles têm que dar prioridade pra outras pessoas.. - Me refiro às vítimas do ataque.
- Se você sentir alguma coisa você me fala.
- Tá bom.
E o silêncio, parcialmente porque tinha muito barulho de sirene na rua , foi predominante.
Senti Peter me deitando na cama , mais precisamente colocando minha cabeça em cima de seu abdômen. Ele acariciava meu cabelo , enquanto eu relaxava me sentindo protegida.
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