História Inexplicável - Uma irritante verdade

Quando o despertador soou naquela manhã Draco abriu os olhos e imediatamente uma sensação boa se apoderou de seu corpo, sua garganta ainda tinha gosto de vinho de supermercado e sua boca ainda se lembrava da sensação da boca de Hermione na sua, um gosto doce que envolvia vinho e algo a mais que por algum motivo completamente inexplicável era inebriante, lembrou-se da sensação dos dedos da mulher percorrendo seus cabelos enquanto ele segurava-a pela cintura e o espaço entre seus corpos era praticamente inexistente. O despertador soou novamente, aparentando estar mais estridente que nunca e arrancando-lhe os pensamentos bons, ele bufou e desligou o mesmo, pensando seriamente se devia ou não jogá-lo na parede por ter cortado seus pensamentos, bons pensamentos. Levantando-se para seguir sua rotina matinal ele bagunçou os cabelos ainda mais e com um suspiro foi ao banheiro.

Enquanto abotoava a camisa social branca, colocava a gravata vermelha e clássica, o suéter preto e por fim o terno da mesma cor tentava ocupar sua mente com essas funções ele só conseguia evocar o dia anterior e em como sua vida tinha mudado drasticamente por um beijo.

Ele percebeu que estava sorrindo e parecendo feliz de mais quando Hollie entrou no quarto carregando consigo roupas limpas que haviam acabado de chegar da lavadora para colocar em seu closet abarrotado de mais roupas. Ela pediu licença e ao vê-lo sorrindo e parecendo tão radiante em plena manhã como não o via há muito tempo ergueu a sobrancelha, com seu instinto materno parecendo apitar e saber exatamente o que tinha acontecido, ela sempre tinha razão, aquilo era muito irritante, não que ele quisesse esconder algo dela, nem se tentasse conseguiria

– Então... O senhor Falou com a Srta. Granger, eu imagino.

 Draco suprimiu um sorriso.

– E por que acha isso Hollie querida? – perguntou piscando lentamente em uma tentativa bem falha de parecer inocente.

– Está rindo e com cara de bobo e não é sempre que consigo vê-lo assim, imagino que a conversa tenha sido agradável– respondeu dando ênfase na ultima palavra.

Draco fingiu não ter ouvido e virou-se novamente para fingir ajeitar suas abotoaduras atrás de si quase podia sentir Hollie revirando os olhos para ele.

– A senhorita Granger parece ser uma ótima garota e eu fico feliz por vocês, por favor, Draco não deixe que seu passado volte a te assombrar, sei que a Srta. Greengras fez muito estrago ai dentro... Mas por favor.

Draco se virou e encarou a mulher a sua frente, Hollie estava com os ombros baixos e o olhar distante, ela havia deixado o as roupas na cama de Draco e lhe lançava um olhar suplicante, enquanto esfregava as mãos, parecia frágil aquele momento, ele sabia exatamente do que ela estava lembrando. Aquela mulher havia enfrentado a pior fase de Draco e mesmo assim ainda estava ali e não havia se afastado como todos os outros, pelo contrário, parecia sofrer mais que ele por isso.

– Você está certíssima Hollie, não vou deixar meu passado me atormentar mais, acho que já sofri o suficiente por ele, obrigado por sempre estar ao meu lado – ele se aproximou puxando a governanta em um abraço–  Você é a melhor mãe adotiva que eu poderia ter tido durante todos esses anos.

Ele ouviu a mulher fungar enquanto envolvia-lhe com seus braços robustos, ele se permitiu fechar os olhos por um momento e aproveitar o momento raro de carinho, apesar de ser sua governante e tecnicamente trabalhar para ele, Draco levava mais bronca da mulher do que da própria mãe, não que sua mãe estivesse muito presente ultimamente.

– Depois vai me contar mais sobre a senhorita? – perguntou ela depois que se afastou do abraço.

Ele assentiu.

– Posso contar agora um pouco mais se quiser. – Hollie concordou– Conheci Hermione Granger em Hogwarts, ela era uma irritantezinha sabe-tudo e eu a odiei durante muitos anos da minha vida e também odiava seus amigos...

– Ela por acaso não é aquela garota que o senhor vivia reclamando quando estava na escola?

– Isso mesmo! – ele balançou a cabeça lembrando– meu pai me fazia engolir livros e mais livros por causa dela e eu sempre conseguia ser superado mesmo assim.

Hollie sorriu.

– O destino é mesmo extraordinário não é? Por fazer você se apaixonar por ela.

Draco corou.

– Eu não estou... – Ela ergueu apenas uma sobrancelha, desfiando-o a completar a frase– Tem razão Hollie, eu estou apaixonado por Hermione Jean Granger.

Ele se espantou ao dizer tais palavras em voz alta, ele não havia dito isso nem mesmo para a dita cuja e espantou-se ainda mais espanto por ver a certeza gritante nelas. Até alguns anos atrás seu lema era não se apaixonar por ninguém. Draco Malfoy era um conquistador, uma espécie de Don Juan do século XXI, não que ele se orgulhasse do seu passado ou de ter perdido a conta de quantos corações abalou durante esse periodo. Talvez, ele tivesse merecido toda a vida amorosa complicada que teve depois de abandonar essa parte da sua vida, ele havia sido uma espécie de canalha de marca maior e havia intencionalmente ou não machucado muitos corações ao longo dos anos. É claro que depois daquilo que aconteceu com sua ex noiva e de ter sentido na propria pele ele desistiu de vez disso e sabiamente escolheu não se envolver com nenhuma pessoa. Ele sempre imaginou que quando e se isso acontecesse seria um processo lento e demorado, mas não, Hermione Granger havia entrado em sua vida e imediatamente começado a fazer diferença. Ele não havia demorado para ficar um tanto obcecado em mostrar a ela que tinha mudado, por que pela primeira vez ele estava se esforçando para alguém gostar dele e no processo acabara se apaixonando por ela.

Hollie sorriu ao ouvir como a frase que havia saído com muita facilidade da boca de seu pupilo, deu alguns tapinhas carinhosos na bochecha dele e recolheu a roupa, cantando baixinho uma melodia conhecida. Draco não pode evitar sorrir analisando a cena. Com um ajuste final de gravata ele desceu para encarar seu dia.

Entrar na empresa e sentir aqueles olhares em cima dele não o machucavam mais, ele havia se forçado a se acostumar. E exatamente como Hermione lhe falara, as pessoas não lhe olhavam mais apenas com medo, um que de curiosidade parecia intrigar a todos, a oportunidade que Draco abrira ali era boa e eles sabiam disso e se ele próprio havia criado o projeto não podia ser tão mal assim.

Ele sorriu para os atendentes da recepção, incluindo aquela que ele havia “botado para correr” algum tempo antes, um tempo que parecia ter sido a uma eternidade. Entrou no elevador recebendo surpreso alguns comprimentos. Ele não pode evitar de sorrir com deboche, as pessoas eram compradas com tão pouco, depois balançou a cabeça para si mesmo.

Chegou a sua sala e observou o local de Peter Ward vazio, ele provavelmente estava trabalhando com Hermione para fazer o primeiro projeto deles dar certo, o que era bom, mas também significava que ele precisava falar com Alice e pedir alguém para ocupar o cargo, é claro que eles não estavam se falando e ele preferia não encontrá-la, não depois da ultima conversa deles com ela prometendo que ainda tentaria lutar por ele.

Entrou em sua sala começando a trabalhar imediatamente. Fazer algo rotineiro ocupou sua mente o suficiente para que ele esquecesse momentaneamente os problemas, como fazia quando era mais jovem, diante dos da empresa uma discussão aqui e ali não era nada.

Por volta da hora do almoço ele se levantou e foi até a sala de Hermione Granger, ainda era estranho para ele, chamá-la apenas pelo primeiro nome, mesmo que em pensamento. Bateu na porta da sala e entrou. Ela estava atrás da sua pequena mesa, os cabelos amarrados e uma caneta atrás da orelha, olhando revista e anotando informações.

– Toc toc– ele falou com ironia para que assim pudesse ser notado.

Ela levantou o olhar e sorriu ao vê-lo ali.

– Draco– fala e ele percebe que ela também estranha ao chamá-lo pelo primeiro nome, não pode deixar de sorrir ao perceber que a sensação era parecida para os dois. – Pensei que tivesse muito trabalho hoje, não esperava vê-lo tão cedo.

– Claro – ele assentiu– Muito trabalho, mas a empresa se virava bem sem mim aqui então eu tenho quase a plena certeza que ela consegue lidar com minha falta enquanto tiro meu horário de almoço.

– Certo... Venha aqui, por favor – pediu organizando os papéis em cima da mesa

Ele caminhou até a mesa dela e se sentou na cadeira a sua frente pacientemente, ela terminou de organizar as folhas e tirou a caneta de gel de trás da orelha.

– É incrível que uma ação tão simples, porém significativa da empresa teve um resultado tão bom. Mas a impresa não esta chocada com isso –ela apontou para as revistas– e sim com você, porque você finalmente saiu de sua caverna. Estão te tratando como o Batman ou como um vampiro, eu não posso julgar, você se encaixaria bem com qualquer um dos dois.

– O que? – ele perguntou sem entender a animação dela.

– Bem, o Batman é um empresário famoso que depois de um confronto some por alguns anos, Bruce Wayne continua um ricasso poderoso, mas também se afasta de sua empresa preferindo viver em sua propria mansão ou caverna e se escondendo do mundo, um belo dia ele resolve sair...

– Hermione– ele fala– eu conheço a trilogia do cavaleiro das trevas... Mas o que em nome daquilo que você acredita tem a ver comigo?

Ela encolheu os ombros como se desculpando pela comparação.

– Bem, você é um homem rico e poderoso, basicamente uma celebridade apenas por ter dinheiro, as pessoas te seguem e querem saber quem você é. Te recolocar de volta nas mídias nesse momento tão tecnológico foi bom, as pessoas ficarão de olho em você. Parabéns Draco Malfoy, você é basicamente uma Kardashian.

Ele riu, não consegiu evitar, Hermione o encarou muito séria e ele segurou a risada.

– Okay, eu sou o Batman, um vampiro e agora uma socialite? O que falta? Daqui a pouco estou recebendo produtos e fazendo divulgações.

Ela revirou os olhos.

– Você não enxerga como isso é bom? Durante anos as pessoas só sabiam quem você era por causa do escândalo de corrupção da sua família e te julgavam por isso, agora você apareceu um pouco e todos querem saber quem é você. As comparações foram apenas para simplificar tudo – ela indicou as revistas– eles não sabem o que pensar de você ainda, então daremos coisas boas a eles, aos poucos. A confiança é algo que demora a ser construída.

Ele assentiu concordando com ela.

– Você não vai ficar livre do carma do nome da sua família, mas pelo menos pode construir seu próprio caminho sem se prender muito, temos que aproveitar esse momento– ela repitiu– e pensar no nosso proximo passo... Talvez o abrigo?

Ele recuou um pouco na cadeira.

– Sei que suas intenções são as melhores, mas não estou preparado para mostrar aquele lugar ainda, nem sei se um dia estarei. É meu ponto de refugio, meu santuário por assim dizer, eu mostrei a você e nós dois somos os únicos que precisamos saber.

Ela deu um sorriso mínimo e escreveu em seu caderno.

– Tudo bem, eu preciso pensar em algo, que não fique muito na cara que você esta querendo aparecer como bonzinho na mídia e ao mesmo tempo pareça que você está tentando– ela bateu a caneta na testa.

 – O que?

– Desculpa... A grande maioria das revistas falou bem de você ou pelo menos não te detonou, no entanto, essa tal de Rita Skeeter e essa revista péssima de fofocas voltou a falar um monte de mentiras sobre você! Isso me deixa com tanta raiva– ela apontou para revista de fofoca realmente corando um pouco pela raiva.

– Abutres. –comentou ele.

Hermione arregalou os olhos ofendida.

– Desculpe, às vezes eu esqueço que você já foi jornalista também, mas você é muito diferente dessa Rita sei lá das quantas.

– Nem tanto, nunca falei mentiras sobre você, mas te pressionei a contar seus segredos e isso foi tão errado quanto.

– Hermione – ele falou levantando-se e dando a volta na mesa, para tomar as mãos da mulher na sua – eu aprecio seu trabalho e como está se dedicando a ele, mas eu não vim aqui para falar de revistas seja ela de fofocas ou não, quero sair para almoçar com você e passar um tempo juntos, antes que eu seja arrastado para uma reunião ou algo do tipo e não possa mais vê-la hoje.

– Desculpa– fala sincera– não sei se podemos fazer isso.

Ela desvia o olhar dos olhos extremamente inquisidores de Draco.

– Foi o que falei sobre repórteres? Se for isso eu peço desculpas de novo.

– Não é isso Draco – ela encolhe os ombros– é claro que eu fiquei ofendida, mas isso é o de menos. Primeiro, não quero esfregar em Alice que conquistei um patamar que ela não, ela ficaria ofendida e magoada com nós dois e além do mais, não quero que agora que você está de volta na jogada seja taxado como um mulherengo ou algo assim.

– Por que eu seria tachado como mulherengo?

– Bem, eu trabalho para você, essa não lhe parece a relação mais clichê possível?

Hermione se levanta alisando a saia.

– Eu quero passar um tempo com você, quero te conhecer mais, eu quero beijar você, por deus como eu quero fazer isso, mas também não quero ser tachada como uma aproveitadora ou algo assim. Vamos manter nossa relação em segredo por enquanto, por favor.

Ele se afastou um passo com um suspiro, ela estava certa. Mesmo assim, ele não podia deixar de se incomodar com isso.

– Eu disse que a confiança demora a ser conquistada, fazemos isso por um tempo, colocamos você na mídia e depois você apenas mantém com a minha ajuda, mas fora daqui.

– Fora daqui?

– Pense Draco, quando estávamos apenas tentando ser amigos já era muito estranho para mim estar na sua folha de pagamento, agora que somos algo mais... –  ela não terminou a frase.

– esta dizendo que pretende pedir demissão. – Ele afirmou.

– Sim, mas não agora... Dei entrada com um pedido de vaga em uma faculdade, se tudo der certo dentro de um mês ou dois eu irei destrancar minha faculdade de direito e quando fizer isso posso conseguir um estágio bom. – ela sorriu parecendo sonhadora– quando nos encontramos nessa sala pela primeira vez você me disse que eu deveria comandar uma dessas, não pretendo ser uma grande empresária, mas eu me interesso nos direitos humanos e acho que eu poderia fazer diferença trabalhando com casos como da escravidão moderna.

Ele sorriu ao ver a animação dela, seu semblante sonhador parecia transformar o ambiente da sala.

– Você é incrível Hermione Granger, quando acho que não pode me surpreender mais você me vem com essa – ele cocou a nuca– Tudo bem, vou respeitar seu tempo e sua vontade, faremos do jeito que você quer.

– Obrigada Draco, você não sabe o quanto isso é importante para mim.

– Eu sei que é. Você vai conseguir o que eu achava impossível, vai entrar na faculdade e ser ótima atuando na área que quer. É capaz de qualquer coisa eu tenho certeza.

Ela abriu a boca num “O” assustado e seus olhos encheram-se de água, mas rapidamente ela piscou e o brilho desapareceu tão rápido quanto havia aparecido.  Ele atravessou a distância que não permitia que os corpos de ambos estivessem colados.

– Respeitarei tudo isso... –   ele sussurrou em seu ouvido, passando levemente o nariz em seu pescoço e sentindo a mulher tremer levemente–  mas hoje ao menos seja minha companhia de almoço.

Ela concordou suavemente com a cabeça e antes que pudesse dizer mais alguma coisa ele tomou-lhe a boca em um beijo caloroso e apaixonado.