1. Spirit Fanfics >
  2. Inferno em Nova York - Fillie Fanfic >
  3. Eu namoro, Finn.

História Inferno em Nova York - Fillie Fanfic - Eu namoro, Finn.


Escrita por: staddiction

Notas do Autor


[Atualização da Autora em 16/12/2022]
Em meados de 2017/18, criei essa fanfic pro fandom de Stranger Things no Spirit Fanfiction. Um tempo depois, resolvi transformar a história num original, isso significa que troquei os nomes dos famosos utilizados no enredo para nomes criados por mim e essa nova versão está disponível no WATTPAD.

A fanfic transformarmada em original em sua versão completa foi publicada como e-book na Amazon. Estou em processo de reestruturação da história para lançar a trilogia como LIVROS FÍSICOS (SIM, a fanfic completa gerou 3 livros) em 2023. Acompanhe as atualizações no ig autoraamandapillchard.
[//fim dos recados da autora]

Capítulo 8 - Eu namoro, Finn.


Wolfhard permaneceu olhando pra minha cara sem expressar uma reação decente. Simplesmente arqueou as sobrancelhas e franziu os lábios, estendeu a mão para mim e eu a apertei cumprimentado-o, como se nunca tivesse visto aquele rosto na vida, um dos dons da atuação.

— É um prazer — ele disse sorrindo finalmente. Eu não havia me esquecido de como ele era bonito. Por um momento me perguntei se ele não sentia frio, sem camiseta e com a neve caindo lá fora, mas aí lembrei que estou dentro de uma casa climatizada e percebi o quanto ele atordoa meus pensamentos.

— Meu nome é Millie Bobby Brown — me apresentei mantendo a dissimulação do nosso reencontro.

Não pude deixar de reparar que Finn estava um pouco mais forte agora, continuava esguio, mas mais definido, mais encorpado. Os cabelos cacheados continuavam bagunçados como sempre, e o rosto dele estava mais contornado, continuava liso, sem barba e as sardas ainda salpicavam suas maçãs do rosto e nariz, dando uma aparência singular á ele. O olhar continuava o mesmo: me prendia como um pássaro numa gaiola com a porta aberta, que sabe bem como é a liberdade, mas opta por continuar naquela zona de conforto. Me desprendi dos olhos dele e segui sua madrasta até a cozinha. Quando passei por ele novamente, senti seu perfume. Ainda era o mesmo.

Tentei prestar atenção no que Joanna me explicava, mas minha cabeça estava no mundo da lua. Eu só sorria e assentia com a cabeça, sem mais perguntas. Finn subiu minha bagagem pro meu quarto sem que Joanna pedisse e sumiu. Respirei fundo, aliviada por não ter que ficar mantendo a minha mente em profunda abstração de seus atos, por menores que fossem. Subi para tomar um banho e guardar minhas coisas. Minha cabeça estava uma confusão. Sentia a água morna caindo sobre meus ombros, tomando cuidado para não molhar meus cabelos presos num coque. Ali, sozinha e em silêncio, caí na real, ou tentei, e entendi que aquilo não era um sonho. Incrivelmente, me senti absurdamente angustiada por não ter certeza do futuro que me espreitava logo á frente. Ainda mais com Wolfhard por perto. Agarrei a toalha branca e macia depois de desligar o chuveiro. Meus pés molharam o tapete almofadado e emborrachado com desenho de uma coruja em alto-relevo. Ao observar minha figura simples e miúda em frente ao espelho, estalejei o pescoço e me satisfiz com o ruído emitente. A Millie menina, dependente dos pais, envolta numa bolha estava prestes a sumir e eu sentia isso com mais força agora. Abri a porta do meu quarto, inalei o cheirinho gostoso que o cômodo emanava e fui em direção a escada com intenção de ir para a cozinha a fim de me socializar. Ouvi ela conversando com Finn então parei nos degraus para não ser intrometida.

— Finn, você pode ir buscar Carly na escola? Tenho que terminar de colocar as roupas dela na secadora — Joanna pediu. O garoto permaneceu calado por alguns segundos e finalmente resolveu se levantar do sofá dando um suspiro tão alto que eu havia ouvido daqui.

— Eu vou chamar a Au Pair, tudo bem? Ela precisa conhecer o caminho até a escola e eu poderia aproveitar pra mostrar á ela — respondeu-a com timbre rouco que estava um pouco mais acentuado do que antes.

Fiz uma careta e sorri sozinha. Ele queria ficar sozinho comigo ou só me mostrar o caminho de verdade? Terminei de descer as escadas fingindo que não tinha ouvido nada, mentalizando sem parar "agir normalmente", "agir normalmente"...

— Millie, você pode acompanhar Finn até a escolinha da Carly? Ele vai te ensinar o caminho — Joanna pediu sendo bastante simpática.

— Mas é claro! — respondi sorrindo. Finn ficou me olhando enquanto vestia uma camiseta preta que estava amassada em cima de uma poltrona, dando um sorrisinho cínico enquanto me encarava, recebendo em resposta um posicionamento indiferente da minha parte. Wolfhard, petulante, revirou os olhos e saiu caminhando rápido, subiu as escadas e voltou ligeiramente segurando um sobretudo grosso, cachecol e luvas. Peguei o casaco felpudo e macio que havia pendurado atrás da porta quando cheguei. Ele era completamente fechado, com zíper e botões, então, imaginei que fosse o suficiente para sair andando nas ruas naquele clima hostil de inverno. Finn me guiou até a saída e fechou a porta da casa. Descemos os 4 degraus em direção a calçada e começamos a caminhar subindo a rua levemente inclinada, mas nem tanto, ainda em silêncio, até que ele decidiu interromper o conforto da minha quietude.

— Então quer dizer que você vai ser babá da minha irmã? — ele começou o assunto com a voz um pouco falhada.

— Você não me falou que tinha uma irmã — joguei no ar porque realmente ele nunca comentou.

— Eu não tinha, — respondeu-me rispidamente — assim que voltei do acampamento aquele ano, minha mãe descobriu que meu pai tinha tido uma filha com Joanna.

— Oh! Sinto muito — murmurei tentando confortá-lo de alguma maneira.

— Tá tudo bem. Joanna era amiga da minha mãe. Minha mãe trabalhava com a administração do acampamento aquela época, mas agora ela é diretora de uma escola. Ela se separou dele e então meu pai se mudou pra cá. Essa casa é da Joanna, minha mãe ficou com a casa em que morávamos juntos quando éramos uma família.

Observei Wolfhard encarando a calçada enquanto caminhava, e consequentemente, os próprios pés, chutando pequenos amontoados de neve acinzentada.

— Então você não mora aqui? — perguntei decepcionada e, ao mesmo tempo, torcendo para que a resposta fosse afirmativa. Parte de mim, havia ficado animada pela ideia de estar na mesma casa que Finn, mas sempre que eu me lembrava de Romeo batia um arrependimento. Além do mais, eu vim para trabalhar e estudar e isso estava incutido dentro de mim.

— Eu não moro aqui. Moro com minha mãe e meu irmão. Eu só venho aqui na porra dessa casa por causa da Carly. Ela não tem culpa de nada, ainda é sangue do meu sangue, — Finn pausou sua fala dramaticamente e parou de encarar seus passos. Ele me olhou de soslaio e suspirou — mas agora acabei de arrumar outro motivo pra visitá-la. — Finalizou desequilibrando meus sentidos.

Encarei Finn por um momento. Ele olhou de volta pra mim, agora fixamente, soltando uma risada alta e gostosa de ouvir.

— O que foi? — perguntou porque eu ainda o observava, perceptivelmente constrangida.

— Eu namoro, Finn — revelei.

A expressão dele ficou neutra. Notei que seu rosto perdia o sorrisinho malicioso devagar dando lugar a um de ironia. A neve fina quase não chegava até nós. Os flocos se derretiam antes mesmo de pousar nos nossos casacos. As poucas árvores da rua, sem folhas e com galhos acinzentados, acumulavam um pouco de gelo nas suas extremidades.

— Ama tanto o seu namorado que deixou ele pra trás pra vir morar em Nova York — Debochou voltando a dar um sorriso largo. Finn mordeu o lábio e me olhou novamente, como se procurasse uma confirmação — Não é isso?

Minha expressão foi de constrangida para austera. Quem ele pensa que é?

— Vim aqui porque fui aceita em Colúmbia, e eu precisava de dinheiro, só pra você saber. Eu não te devo explicações, mas quero ver esse seu sorrisinho imbecil saindo do seu rosto. Eu amo o meu namorado e assim que ele puder, vai vir pra cá me ver — Aleguei áspera. Ele arregalou os olhos e balançou a cabeça como fazia sempre que estava prestes a mudar de assunto.

— Quer dizer que você entrou em Colúmbia?

— Sim. Entrei. Graças a Deus por isso — respondi ainda irritada, encurtando minhas respostas ao máximo.

— Bom, então provavelmente vamos nos ver todos os dias porque eu também entrei — revelou me fazendo franzir o cenho. Disparei uma careta pro ar, surpresa e ao mesmo tempo, levemente desesperada.

— O que foi? Ficou surpresa? — Indagou Finn ao ver minha reação.

— Surpresa sim, mas não considere isso como uma coisa boa — Aleguei.

Chegamos na escola de Carly. Bem distribuída num prédio baixo, se comparado aos padrões Nova Iorquinos, de três andares, visivelmente antigo, cercado de árvores altas e de um parquinho gracioso e colorido, que estava interditado pela neve que havia começado á cair na cidade há pouco. A fachada do local, marrom, dava um ar sério ao lugar apesar de se tratar de um ambiente atulhado de menininhos e menininhas, mas os corredores conseguiam levar o visitante, — ou estudante — pra um mundo lúdico e mágico. Cheio de murais espalhados pelas paredes, desenhos pendurados por ordem de classe, pinturas, marcas de mãos infantis feitas com tintas coloridas propositalmente na porta de cada sala de aula...

Nós dois entramos juntos até a sala que ficava no final do segundo corredor a direita. A garotinha ainda falava tudo embaralhado, andava graciosamente com suas perninhas minúsculas de dois anos e era tão fofinha quanto nos vídeos em que a vi.

— Oi, princesa, — Finn cumprimentou a irmã se agachando na frente dela — essa aqui é a Millie.

Agachei ao lado dele e peguei na mãozinha dela sorrindo. Ela sorriu de volta deixando a mostra os pequenos dentinhos que tinha. Não haviam nascido todos ainda. O cabelinho castanho escuro e ondulado, como o de Finn, pendia sobre os ombros graciosamente. O irmão mais velho pegou as luvas dela de dentro da mochila e encaixou nas mãos delicadas da bebe, então enrolou um cachecol em seu pescoço e colocou um gorro na cabeça da criança.

— Oi, bebê, como você está? — perguntei admirando a beleza da garotinha. Carly, demonstrou-se tímida e abraçou o irmão escondendo o rosto. Ele a segurou no colo e levantou a menina abruptamente, mas ao mesmo tempo, parecia ter total controle do que estava fazendo, até colocá-la sentada sobre seus ombros largos.

Wolfhard saiu com ela naquela posição e parecia ser super divertido para ambos. Peguei a mochilinha dela do chão e comecei a segui-los, pois parecia que Finn ignorava completamente o fato de todo mundo estar olhando o jeito como ele levava a criança embora.

Observei que durante a caminhada epopeica dos dois, algumas professoras que passavam pelo corredor, trocavam olhares ou simplesmente admiravam o rapaz, analisando-o de cima a baixo, descaradamente, mesmo usando roupas pro inverno, que não deixavam a mostra nenhuma parte da pele de seu corpo. Na minha cabeça, não fazia o menor sentido porque elas estariam cometendo um crime desejando um menor de idade, mas minha percepção do mundo havia parado em 2015, quando o conheci com dezessete anos. Levava alguns milissegundos até meu cérebro processar que agora ele já é maior de idade e tá com cara de homem.

— Ei, você devia responder ela. Ela te fez uma pergunta — Finn disse incentivando a irmã a falar comigo. Eu sorri e ele também, como se fossemos cúmplices por um instante.

A menininha olhou para baixo, pois estava muito mais alta que eu nos ombros do irmão e finalmente dirigiu a palavra a mim.

— Como era a pergunta? — disse um pouco atrapalhada.

— Queria saber se você está bem — repeti. Ela balançou a cabeça dizendo que sim e levou as mãos ao rosto branco, ainda envergonhada.

— Millie é um nome legal — completou olhando para mim com as mãos em cima da boca, abafando o som da voz fina.

— Obrigada! Carly também é um nome lindo.

Finn desceu a garota dos ombros e a colocou no chão segurando em uma de suas mãos. Ela estendeu a outra mão para mim então caminhamos nós três, juntos, como uma corrente. Observei Finn durante todo o percurso, incentivando a garota a conversar e ensinando pra ela as palavras certas quando ela errava alguma pronúncia. Ele parecia ser um irmão adorável porque a menina queria imitar até o jeito que ele mexia em seus cachos escuros. Ao chegarmos na residência deles, o rapaz soltou a irmã assim que abriu a porta, e ela correu em direção a cozinha, onde sua mãe e seu pai, que provavelmente havia chegado mais cedo do trabalho, estavam.

— Vou nessa, — Finn despediu-se ainda parado na soleira porta — até amanhã.

Observei ele fechando a porta devagar como se estivesse esperando alguma atitude. Parei de hesitar e abri a passagem chamando a atenção dele, que já estava virando de costas prestes a pular um degrau da escada externa.

— Finn!

O garoto ficou parado esperando eu abrir a boca.

— Você pode ir à faculdade amanhã comigo? Não conheço nada ainda. Preciso entregar minha documentação antes de as aulas começarem — pedi a ele gentilmente deixando o orgulho de lado. Afinal, não fazia nenhum sentido eu ficar magoada ou tratá-lo com indiferença depois do que aconteceu, até porque naquela época, tivemos somente um romance de verão e não é culpa dele se eu saí apegada e completamente apaixonada.

Ele sorriu e mordeu o lábio, ajeitando os cabelos escuros antes de colocar o capuz do casaco sobre a cabeça.

— Passo aqui às sete e meia da manhã — Asseverou, virou-se de costas para mim e pulou os degraus indo embora, caminhando tranquilamente sentido contrário á escola.

Fechei a porta e fiquei parada do lado de dentro digerindo aquilo. Puta merda, o que está acontecendo? Balancei a cabeça para espantar os maus pensamentos, elucidando que aquilo não passaria de "um convívio social normal entre seres humanos equilibrados emocionalmente" e fui até a cozinha cumprimentar o pai de Carly, que eu não havia conhecido até então.

— Olá, senhor Eric, é um prazer conhecê-lo — Exprimi entusiasmo ao apertar a mão do homem tão alto quanto o filho.

Um pouco barrigudo, Eric sorriu para mim, mostrando dentes alinhados e brancos. Sua barba, cheia de pelos grisalhos, absolutamente sem falhas, contornava a lateral do rosto arredondado e cheio de linhas de expressão. Reparei que, por mais que o corte fosse diferente e bem mais curto, seus cabelos tinham as pontas levemente onduladas, o que me fez constatar que, caso Eric deixasse o cabelo crescer, ficaria como o de Finn. O homem ajeitou os óculos com armação preta e tradicional sobre o nariz e orelha e então agarrou uma taça de vinho, deu um longo gole saboreando a bebida e sinalizou para que eu fosse com ele e Joanna para a sala.

Passamos o resto da tarde e início da noite na sala. Conversei com eles sobre toda minha vida, ocultando a parte em que eu estive em Nova York alguns verões atrás e tive um lance com o meio-irmão de Carly no acampamento de férias. Eles demonstraram bastante interesse na história devido minha força de vontade e superação que me fizeram sair da Inglaterra sem o apoio dos meus pais e tentar a vida aqui, sozinha.

— Tenho uma amiga que está morando aqui há um ano, ela foi aceita em NYU — contei a eles.

— Nossa, que ótimo. Ela mora onde? — Joanna perguntou.

— Em Williamsburg — respondi.

— Ah, fica no Brooklyn, — Eric disse como se eu conhecesse — depois peça pro Finn para te levar até lá, ele pode te ensinar a usar o metrô daqui, o menino conhece tudo, anda pra cima e pra baixo.

Ótimo. Agora vão ficar jogando Finn pra cima de mim como um guia turístico. Terminamos de conversar e me dispus a ajudar Joanna a dar banho em Carly. Ao terminar, subi pro meu quarto, pronta para dormir. Liguei para Charlie e contei sobre meu dia, exceto a parte que eu conhecia o enteado da minha patroa, até ficar com sono e finalmente me render ao torpor.

No dia seguinte, abri olhos lentamente às cinco da manhã, nervosa, ansiosa e ainda afetada pelo Jet-Lag. Fiquei me revirando na cama até que o relógio virasse para às seis da manhã. Tomei um banho morno e vesti roupas quentinhas e confortáveis. Olhei pela janela e observei que não estava nevando hoje, mas havia muita neve acumulada nas ruas. Pelo que eu havia pesquisado, aqui costuma ter esse clima até o meio de março. Desci para tomar café da manhã com a família, mas fui surpreendida por um bilhete deixado em cima da mesa.

"Estamos levando Carly para a escola mais cedo, pois hoje tem reunião de pais. As 3 da tarde preciso que a busque. Fique a vontade. Café da manhã e almoço na geladeira :)".

Sorri sozinha ao ler o recado e olhei o relógio pendurado na parede: sete da manhã. Servi café em uma xícara e abocanhei waffles com xarope de bordô. Era a coisa mais fácil que tinha por aqui. Finn disse que chegaria às sete e meia então, eu precisava ser rápida, então comi mais rápido que consegui e saí. Joanna havia deixado uma cópia das chaves pendurada atrás da porta. Peguei minha mochila repleta de documentações importantes e conferi mais uma vez às horas: sete e meia. Me sentei em um dos degraus que estavam livres de neve e fiquei esperando Finn do lado de fora da casa, sentindo o vento gélido bater em meu rosto.

O frio aumentava assim como as horas avançavam. Não dava pra eu ficar parada ali. Oito da manhã e ele não tinha aparecido, que idiota! Não sei porque eu ainda pensei em dar alguma credibilidade a ele. Finn nunca fez questão de me iludir, mas nem precisava porque eu mesma fazia isso.

— Idiota, idiota... — repeti falando sozinha enquanto vagava rua abaixo. Digitei no celular o endereço da faculdade, e o mapa mostrava que havia uma estação de metrô há 500 metros onde eu devia pegar a linha "A" vermelha. Tive um pouco de dificuldade para acertar a entrada e o sentido do metrô, mas consegui chegar sã e salva. Caminhei mais alguns metros depois que saí da estação, observando atentamente a movimentação das pessoas caminhando pelas ruas como se o inverno daqui fosse a coisa mais suave do mundo.

Cheguei a Colúmbia e, como dizem por aí, quem tem boca vai à Roma. Sei que não é bem esse o ditado correto, mas era isso que significava pra mim agora. Encontrei a secretaria e fiz minha matrícula, tirei uma foto que ficou até agradável e em seguida, uma impressora tecnológica imprimiu minha carteirinha de estudante na mesma hora. Mandei uma foto do documento estudantil que recebi das mãos da funcionária simpática, para Charlie. Constatei que no fim das contas, foi até melhor Finn não ter me levado. Eu não queria ficar devendo nenhum favor a ele.

Minhas aulas estavam previstas para começar daqui a 15 dias. Peguei meu caminho de volta encarando o frio de novo. Era irritante porque cada vez que eu entrava num ambiente fechado e climatizado, tirava as luvas, o casaco, cachecol, gorro e depois tinha que colocar tudo de novo porque não dava pra permanecer nem dez minutos sem luvas. Fui trocando mensagens de texto com Sadie enquanto o metrô me levava de volta para o Upper West Side. Ela estava em Nova Jersey, na casa de uma amiga dela e assim que voltasse, ia me avisar para eu ir visita-la em seu apartamento.

Saí da estação seguindo o fluxo de pessoas, ouvindo Get it Right no meu Spotify, caminhei alguns metros e virei a esquina me surpreendendo ao avistar Finn sentado na escada, no mesmo lugar onde eu estava mais cedo enquanto esperava ele. Me aproximei balançando a cabeça, cantarolando outra música que começou a tocar, subi os degraus como se ele não estivesse ali, ignorando-o completamente, até que o rapaz se levantou na mesma hora em que coloquei minha mão na maçaneta.

— Mills, desculpa, eu perdi a hora — justificou-se entrando em casa logo atrás de mim.

Pendurei meu casaco e tirei meu cachecol. Fui até a sala recolher os brinquedos que Carly havia espalhado na noite anterior enquanto eu conversava com seus pais. Finn fechou a porta delicadamente, suspirando.

— Você não vai falar comigo? Eu dormi demais, eu ia te levar lá — Explanou.

Parei de frente pro garoto olhando nos olhos dele, munida de coragem para não deixar aquele olhar me estremecer.

— Você não precisa me explicar nada, Finn. Tá tudo bem — respondi sorrindo, cínica. Me virei de costas e subi as escadas levando os brinquedos da irmã dele comigo.

Ouvi a porta lá embaixo se batendo. Ele foi embora. Revirei os olhos tentando esmaecer a raiva dentro de mim.

Durante o resto da tarde, me mantive ocupada até a hora de buscar Carly na escola. Ao chegar com ela, brincamos até que ela se cansasse e a menina não parava de perguntar por Finn todo o tempo. Isso se repetia, dia após dia.

Os dias se passaram rápido. Até demais. Peguei o clima de funcionamento da casa e me adequei a rotina. De manhã, tomávamos café juntos, levava Carly para a escola e enquanto minhas aulas não começavam, eu voltava pra casa para cuidar das roupas e brinquedos da pequena. Joanna voltou a trabalhar. Ela e Eric saíam às oito rumo ao escritório de administração do acampamento, que ficava no SoHo. Encontrei Sadie duas vezes nesse período e parecia que nunca tínhamos ficado afastadas, o que me fez concluir que realmente, não importa o que acontecesse, eu e ela seríamos amigas para sempre.

Finn parou de visitar a irmã com frequência, fazendo a garota se tornar insuportável. Todos os dias, horas e minutos ela pergunta pelo irmão. O rapaz só visitava ela aos fins de semana ou a noite quando o pai estava em casa e mal trocava palavras comigo, o que era um alívio, pois assim eu não precisava fingir sanidade e força de reprimir meus pensamentos impróprios em relação a ele. Romeo e eu estávamos cada vez mais afastados, mas ainda insistimos no namoro a distância. Talvez Finn estivesse certo, eu não amo o bastante senão teria pensado antes de deixar Canterbury. Possivelmente, se eu amasse mais, teria pensado duas vezes e reconsiderado a ideia, mas eu nem sequer pestanejei e caí fora na primeira chance que tive.

O frio deu uma trela para os cidadãos Nova Iorquinos. O mês de março chegou e com ele, meu primeiro dia de aula. Finalmente. Eu sou uma fucking universitária.

Preparei meu material uma semana antes. Comprei caderno, canetas, marca textos e as apostilas necessárias para começar. Sadie me deu seu laptop antigo porque ela havia comprado um novo assim que chegou na cidade. A sensação que tive ao acordar sabendo que iria estar no lugar onde sempre quis estudar dentro de algumas horas, era deliciosa, e eu queria saborear isso e me satisfazer, pois, sentia no fundo do coração que efetivamente, pertencia á aquela cidade.

Enfiei todo material na mochila e saí porta afora, uma hora mais cedo, para me assegurar de que não ia me atrasar. Colúmbia estava quase livre do excesso de neve deixando a mostra pequenos pedaços do gramado verde. Porém, a grama era estranha, queimada pelo gelo. Tinham muitos estudantes espalhados pelo pátio principal. Procurei a entrada referente aos cursos de humanas, especificamente, de Artes Cênicas. Essa modalidade que eu havia escolhido englobava o Trágico, Dramático, Cômico, Musical e Dança. Haviam listas grudadas nos painéis e era difícil chegar até elas com tanta gente, mas consegui checar meu nome e minha grade horária.

Minha primeira aula era na sala 203. Inevitavelmente, comecei a me sentir muito deslocada. Era capaz que nessa faculdade aqui havia mais alunos do que habitantes em Canterbury.

Entrei no bendita sala, mas constatei imediatamente que não era uma sala de aula comum, parecia mais um auditório, com um espaço imenso, um palco lá embaixo, cadeiras dispostas em degraus, como formato de arquibancada. Tipo um cinema, talvez. Só que com as paredes brancas e iluminação forte de doer os olhos. Vários alunos se encontravam no local e mais um aglomerado foi chegando aos poucos. Me sentei em uma das cadeiras próximas ao palco. O professor, claramente homossexual pelo seu jeito de andar e vestir, entrou nos cumprimentando animado. Reynol é seu nome, e eu já gostei dele logo de cara. Ele explicou brevemente que daria aula de expressão musical e fez uma curta introdução sobre si mesmo e o assunto que seria abordado... Abri o caderno e já comecei a fazer algumas anotações quando observei um garoto chegando atrasado. O que fez mais da metade da turma olhar para a porta de entrada, já que ele cruzou-a com certa brutalidade. Para minha infelicidade, Finn Wolfhard.

— Que ótimo, — sussurrei encarando meu caderno, de cabeça baixa, deixando uma lufada de ar escapar pelos lábios como se estivesse carregando um peso imaginário — isso é uma grande merda.

 


Notas Finais


Não se esqueça de comenta o que vc achou. Vamos bater papo???


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...