Estava acomodado na banheira. Uma música clássica no fundo, a taça de vinho do lado junto a garrafa de pinot noir quase vazia, o cheiro gostoso e agradável dos sais de banho se desmanchando na água quentinha. Era perfeito, o conforto era perfeito.
Sasuke gemeu de satisfação. Devia estar ali a uns quarenta minutos, apenas acompanhando o som do violino e quase dormindo na banheira – nunca deixando os goles generosos de vinho.
Ouviu um barulho no andar debaixo, apenas um som baixinho e grave, provavelmente a casa se reacomodando em suas estruturas. Tudo bem...
Então escutou, com clareza. Uma tosse seca e um balbuciar. Abriu os olhos, olhando diretamente para a porta. Shion miou.
Alguém estava na cozinha.
Na minha cozinha. Sasuke pensou.
Tomou o último gole de vinho e puxou o roupão negrume com violência, se fosse Naruto iria acabar com ele – claro só maneira de dizer, não iria falar muito menos fazer algo, mas Naruto realmente gostava de lhe tirar a paz de qualquer jeito que fosse.
Bateu os pés no tapete e secou as pernas, enfiou os pés na pantufa para descer as escadas aos pulos, o corrimão escorregando pelos dedos mornos. Chegando na cozinha, encontrou as costas largas e a cabeleireira loira, ele estava bebendo água.
Folgado.
O moreno cruzou os braços.
— E aí.
— Você me assustou.
— Desculpa, toquei a campainha meia hora atrás, mas acho que você estava dormindo.
— Estava tomando banho.
Ele murmurou "banho demorado" e Sasuke revirou os olhos. Reclamão. Os olhos azuis desviavam toda hora para qualquer canto da casa, foi então que sentiu um calafrio no ombro descendo pelo corpo. O nó mal feito do roupão desmanchou e agora estava quase nu, na frente do inquilino.
Sasuke sentiu o rosto queimar.
— Subi pelo porão, espero que não seja problema.
— Não tem problema, já disse que pode subir quando quiser. — andou até a pia, enchendo o copo que Naruto estava. Por que estava ficando nervoso perto dele toda hora? Era Sakura e Neji lhe enchendo de ideias improváveis, por isso. Mas era um psicólogo bem estudado e inteligente, tinha que saber driblar esses sentimentos bosta de atração.
Se bem que fazia quase dois anos que não tinha contato com ninguém... Foco, Sasuke.
— Tô procurando um estilete.
— Estilete?
— É, desses de cortar papelão.
Sentiu o pescoço ficar molhado. Então se lembrou que estava com os cabelos molhados do banho, quase ficou sem graça, devia estar horrível. Fugaku sempre dizia que parecia um gato arrepiado.
— Procurei debaixo da pia e naquela gaveta perto do telefone.
— Tem no depósito lá de cima. — subiu as escadas de novo, com Naruto atrás. Abriu a porta do closet, de soslaio percebeu o loiro apoiando o ombro no batente. Estava um breu, o espaço estreito e fundo fazia aquilo parecer um sótão. A caixa de ferramentas que o pai usava ainda estava ali, intacta na prateleira.
Abriu a caixa e vasculhou.
— Ali — passou o dedo pela lâmina – bem afiada – e depois apontou para Naruto pegar. — Cuidado.
— Não vou cortar você.
Ele pegou.
— É você que eu não quero cortar. — diz com certa graça. Sasuke sentiu um leve prazer em ouvir aquelas palavras.
— Pra que quer isso?
Puxou a cordinha para apagar a luz. Naruto não saiu do lugar, ainda estava olhando, agora no escuro. Sasuke de roupão e ele com o estilete. De repente, se deu conta de que nunca esteve tão próximo dele, poderiam até se beijar. Qual cena de crime ou sexo poderia acontecer ali? Nada de sexo, Sasuke.
— Vou ajudar uma pessoa com uma parada aí. Abrir umas caixas, guardar, essas coisas.
Voltaram para a cozinha. O chão estremeceu nos pés, alguém lá embaixo – no porão – ligando o chuveiro. Olhou para Naruto, a sobrancelha arqueada e quase sorrindo. Mais uma?
Ele crispou os lábios.
— Volto mais tarde.
A intenção era voltar para o vinho, para o banho ou algum remédio que fizesse dormir pelo resto do dia, mas Sakura apareceu, em suas calças jeans claras que iam acima do calcanhar e blusinha leve social. O cabelo rosa preso em um coque bem armado.
Sasuke fez careta.
— Nada de cara feia, pode ir vestir uma roupa. — ela abriu a geladeira como se a casa fosse dela. Folgados. — Naruto deixou a porta aberta pra mim.
Enfiou uma uva na boca e depois de mastigar continuou:
— Ele tá cada vez mais gato? Onde isso vai parar?
— Acho que você devia tentar alguma coisinha com ele. — subiu para o quarto e a fisioterapeuta foi junto. Iriam bater um papo, ótimo, isso seria uma boa distração e logo depois, a dor dos ossos deslocando.
— Não vou furar seu olho!
Sasuke tombou a cabeça de jeito dramático, olhando-a com tédio. Sakura gargalhou.
— Ele está com visita lá embaixo. — bateu o pé de leve. — Ouvi o barulho do chuveiro e ele estava aqui em cima, ficou sem graça.
Haruno arregalou os olhos de um jeito dramático e cheio de animação. Estava super curioso, logo nunca sabiam nada de Naruto, além de ele ser bonito e pegador, apenas isso. Não sabiam o que ele fazia, do que trabalhava, do que gostava, era curioso e homens misteriosos são... excitantes.
— Será que ela é bonita? — terminou de vestir a roupa. Desceram para a sala.
— Feia não deve ser. — Sasuke murmurou.
Gostaria de saber como era... lá, no porão. Se ele tinha mudado a decoração apesar de não ter muita opção. Se tinha algum instrumento, às vezes escutava uns acordes de violão – talvez fosse coisa da cabeça, não sabia bem o que era real ou não, coisa dos remédios – ou se ele era um cara organizado.
Bem, ele era bem limpo, sabia disso pois sempre estava com um cheirinho bom de sabonete e a roupa com cheiro de amaciante.
Quem sabe um dia Sasuke não desce lá para ver.
— O dia está lindo hoje. — Sakura colocou o peso na lombar do homem. — Que tal abrir uma janela?
— Sem chance.
— Você está perdendo.
— Muito mais do que se pode imaginar.
Uma hora depois, já ofegante, suado e dolorido, Sasuke fica de pé com a ajuda da amiga.
— Quer tentar o truque do guarda-chuva?
Fez que não com a cabeça.
— Hoje não. E não é um truque.
— O dia está perfeito para esse exercício. Um solzinho delicioso.
— Não estou me sentindo muito bem.
— Você está de ressaca.
Quando ela falou pareceu meio chateada. Sasuke se sentiu culpado.
— Também...
— Você tentou com o psiquiatra essa semana?
— Sim. — mentiu.
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