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História Inside your heaven - Quando o medo se torna real


Escrita por: Verbenna

Notas do Autor


Olá!

Quero agradecer, mais uma vez, a todos que acompanham esta história. Volto a dizer que minhas palavras se tornam vivas pela imaginação de quem lê.

Quero agradecer a três pessoas que me ajudaram neste capítulo. Apoiando, tirando dúvidas e oferecendo ajuda. E é a eles que dedico este capítulo.

Assim, dedico este capítulo a três amigos maravilhosos: KdB, LuisaPoison e drygo.

Boa leitura.

Capítulo 15 - Quando o medo se torna real


Fanfic / Fanfiction Inside your heaven - Quando o medo se torna real

            Ela não acreditava no que estava vendo. Era Taylor! Então ele tinha voltado. Mas o que pretendia, por que estava fazendo isso com ela? O susto que levou e o medo a paralisaram. Ela estava confusa e tremia, enquanto seu primo olhava-a com a altivez característica. E continuava arrastando-a, enquanto ela buscava forças para se debater e ficar livre daquele homem. Ele falava:

            - Então, seu namoradinho não é quem eu pensava. Achei que ele fosse um empregado do seu pai. Eu o subestimei, reconheço. Mas, agora sei bem quem ele é. Não me esqueci do que ele me fez. Vamos rápido, tenho que levá-la antes que ele chegue aqui.

 

Flash-back Taylor

            Logo após ter sido expulso por Heitor, Taylor foi levado até o pequeno, mas movimentado porto, que ficava um pouco após o centro de Rodório. Lucas deixou-o ali, com sua bagagem e sua frustração. Após o retorno do empregado do tio, o ruivo olhou à sua volta e, sem muita opção, foi verificar se haveria alguma embarcação que pudesse levá-lo a portos maiores, de modo que alcançasse o norte da Itália ou, preferencialmente, o Nordeste da Espanha ou Sul de Portugal, estes últimos, mais propícios para um trajeto que lhe permitisse chegar a um ancoradouro, tomar um navio e chegar à ilha britânica.

            No entanto, àquela hora, não havia mais nenhuma movimentação que o ajudasse, então, a saída seria aguardar até o outro dia. Esse fato só fez um novo sentimento unir-se à frustração que o homem já sentia: raiva. Indicaram a ele uma hospedaria que ficava próxima dali. Ao chegar lá, no entanto, não havia lugar e ele não teria onde passar a noite. Assim, extremamente irritado, pediu se poderia deixar parte de sua bagagem ali, pelo menos até o dia seguinte e foi-se, sem rumo, de modo a tentar passar o tempo. Dormiria no dia seguinte, no barco que conseguisse para a viagem.

            Numa parte mais afastada, sentou-se sobre sua mala, encostou-se num resquício de muro e ali permaneceu, de olhos fechados. Ele estava cansado e dolorido. Por pouco não sucumbira nas mãos daquele homem. Como pôde subestimá-lo daquele jeito? Não acreditava ter cometido um erro tão primário assim. Lembrou-se da humilhação que sofrera diante daquelas pessoas e uma grande ira o acometeu. Ele derramou lágrimas, mas que expressavam sua raiva e desgosto, assim como sua inércia diante de tudo aquilo. Não haveria o que fazer. Não poderia dar o troco. Aquele cavaleiro lhe arrancaria a cabeça, pensava. O jeito seria voltar e encarar o destino. Assim como pensar no que fazer ante às situações que deixara pendentes.

            Porém, em meio às suas divagações, sentiu algo tocá-lo bruscamente, foi sacudido, na verdade. Ele abriu seus olhos, sendo arrancado de seus pensamentos, e olhou, assustado pela abordagem inesperada. Deveria ser um ladrão. Mas, sua surpresa e susto aumentavam à medida que a visão à sua frente ficava mais nítida, já que quase não havia iluminação. Ele caiu de sua mala, arrastando-se pelo chão, enquanto olhava para aquele ser. Parecia um homem, mas usava uma espécie de armadura, assim como Sísifo, mas esta era negra e assustadora. Aquela visão era medonha e ele ficou apavorado. O ser abriu um sorriso sarcástico e o mirou profundamente. Soltou uma gargalhada e disse:

            - Ora, ora! Veja só o que encontrei aqui! O almofadinha que deseja poder, mas é tão fraco que não pôde lutar contra um cavaleiro! Está tão frustrado, não é? Posso ver, seu passado é obscuro e sombrio, tantos erros.- Ele olhou para o lado e coçou o queixo. - Voltar para casa será difícil, provavelmente, você será morto por aquele homem que não conseguiu lavar a própria honra. Estaria pronto para um duelo? Hum, acho que não. Certamente, um fraco como você vai perder. Aquele espadachim só precisará de poucos segundos para acabar com você. Estou certo?

            Como? Taylor pensou. Aquele ser que se assemelhava a uma criatura das trevas conhecia sua mente e como, como poderia saber o medo de seu coração e da realidade que o aguardava? Como poderia saber sobre Sir William e de sua sede de vingança, por ter-lhe seduzido a esposa? Então, em meio ao medo, buscou forças para perguntar:

            - Quem, o que é você? Como, como pode saber tudo isso?

            - Para mim é fácil. Sou um espectro de Hades. Tenho esse poder. Mas, tenho uma proposta a lhe fazer. Será um meio de se vingar daqueles que o humilharam e feriram e de ganhar algo mais. Aposto que seus ferimentos estão doendo. – Ele tocou na barrida de Taylor, que gemeu ante aquele contato brusco. – Viu só? Aposto que carregar essa mala deve estar sendo bem difícil. Mas, estou aqui para levá-lo aos meus companheiros e lhe mostraremos como dar o troco àquele cavaleiro. Mas, deve se recuperar primeiro. Não lhe faremos mal, será nosso aliado. Venha comigo.

            Taylor pensou um pouco. Sua situação era tão crítica e estava tão dolorido e frustrado, seu coração queimava com a dor do orgulho ferido, cheio de sua própria empáfia. A proposta inicial parecia boa. Já estava na pior. Resolveu, então, acompanhar aquele ser e ver o que poderia vir dalí. Pelo menos, havia algo em comum entre eles: o desejo de vingança, que, agora, envolvia seu coração. Então, olhou para o espectro e balançou a cabeça, concordando com aquela proposta. O guerreiro abriu um portal e indicou que o ruivo passasse. Este pegou sua mala e seguiu o espectro.

           

                       Então, Taylor arrastou Violet até a entrada da vila, onde três seres, vestidos com armaduras negras, as sapuris, e emanando uma energia maléfica, que ela reconheceu como espectros, aguardavam. Taylor chegou logo e empurrou Violet, que caiu no chão, em meio ao medo e ao susto. Ele disse:

            - Aí está ela, como combinamos. A minha função foi bem executada. Agora quero o que me prometeram! Minha liberdade e meu ouro!

            Ela olhou para ele, incrédula. Estava sendo vendida a seres desprezíveis pelo próprio primo. Esse canalha. Então um dos espectros se aproximou e a pegou pelo queixo.

            - Ora, ora, mas o que temos aqui! Como é linda a peça da vingança. Ela é bela como uma deusa. Tenho de reconhecer que aquele cavaleiro tem bom gosto. E acho que nosso líder nos deixará aproveitar um pouco também.

            - Mas e o que combinamos? E o pagamento que me prometeram? – Taylor interrompeu.

            - Ora, seu inútil! Acha que cumpriríamos com aquilo? Tolo idiota. Fique feliz por deixarmos você vivo! – Ele se aproxima de Violet novamente e chega bem perto de seu rosto. – Mas obrigado pela entrega, nosso líder ficará satisfeito com ela. Agora, suma daqui, infeliz! E você, doçura, venha comigo! – Ele a puxou com violência e seu cordão cai no chão.

            - Não! Solte-me! – Ela gritou desesperada com aquela situação.

 

 

 

            Não distante dali, na praça, Sísifo procurava Violet e não a encontrava. Corria os olhos, atentos, pelas pessoas e não conseguia vê-la. Resolveu encontrar as noivas dos amigos, afinal, estavam juntas e, certamente, a amada estaria com elas. Mas, logo que teve a ideia, avistou as meninas chegando e, como ela não estava junto delas, perguntou se a tinham visto.

            - Ah, oi Sísifo. Claro que vimos. Ela deve estar vindo logo por aqui. – Ela olhou para trás e não viu a loira. -  Ora, onde ela está? Deveria estar aqui, ela estava só um pouco atrás de nós! Não sei aonde possa ter ido. – Luna disse.

            Depois dessa informação, um calafrio percorreu a espinha dele, junto de um mau pressentimento. Ele fechou os olhos e, por cosmo, chamou El Cid. Algo estava errado. Alertou, por cosmo também, todos os outros sobre um perigo iminente. Voltou a abrir os olhos e perguntou às meninas, com um semblante mudado e seriedade na voz:

            - Onde ela estava?

            - Na porta do orfanato! Disse que viéssemos na frente, pois estava se despedindo de Aura. – Saory explicou, um pouco nervosa, compreendendo que algo não estava certo.

            Não deu tempo de agradecer, ele arregalou um pouco os olhos, pois pôde sentir o cosmo dela em aflição. Ele correu dali na direção de onde o cosmo emanava suas vibrações, observando seu entorno, mas não a encontrava. Foi então que ouviu gritos não muito longe. Era ela. Então, correu para lá com medo do que poderia encontrar.

            Ela se debatia e gritava, mas era em vão. Aqueles espectros eram muito fortes. Estava longe do local da festa para que a ouvissem e se desesperou. Não conseguiria escapar. Já sabia o que pretendiam com ela. E ficou apavorada.

            Um dos espectros abriu uma espécie de passagem ao lado deles. Era um buraco escuro e a arrastavam para lá. Então ela começou a lutar mais e continuava gritando, em pânico. Um outro já estava irritado com aquilo e a atingiu com força no rosto. E ela caiu, desacordada.

            - Cale a boca e venha logo!

            - Agora ela desmaiou, seu imbecil! – Disse outro do grupo.

            - Ah, me esquece!

            - Ei, e quanto a mim? Não podem ir embora assim. Quero aquilo que prometeram! – Taylor ainda se manifestava.

            Um dos espectros o olhou e voltou alguns passos, pondo-se próximo dele. Olhou-o com desdém, deu uma gargalhada, e respondeu:

            - Ah, tudo bem, vou dar a você o que merece! Fale-me, do que seria digno alguém que trai a própria família? – E o espectro atinge Taylor com um forte soco e ele cai no chão, desorientado. – Vamos logo daqui antes que eles apareçam. – Olhou para a direção da rua que dava acesso ao lugar onde estavam e disse: - Droga! É ele. Vamos!

            Eles já começavam a passar pela abertura dimensional quando ouviram:

            - SOLTE-A!

            Era o cavaleiro de Sagitário, que encontrou logo a confusão a tempo de ver o que acontecia. Ele parou, diante daquela cena grotesca e aterrorizante, e era desesperador, pois, se lançasse um golpe, atingiria Violet também, o que deixava-o sem opção, já que havia três espectros ali. Era um risco que não podia correr e isso o afligia imensamente. Naquela hora, todo o seu poder não o ajudava em nada. Ele não sabia como poderia evitar aquilo e tirá-la de lá. Ciente disso, o espectro mostrou a garota, a quem estava agarrado. Ela estava inconsciente, com um hematoma no rosto e um filete de sangue que escorria do supercílio, o que desesperou Sísifo.

            - Adeusinho!- O espectro disse enquanto, junto com os outros, desaparecia com ela para um lugar desconhecido.

            - NÃO! – Foi a única coisa que pôde dizer.

A raiva e o desconsolo do cavaleiro eram palpáveis. Como aquilo foi acontecer? Falhara com ela. Achou o que de mais precioso poderia encontrar e lhe roubaram. Ele pretendia pedir a mão dela naquela noite, mas a arrancam dele. Céus, como era possível? Achou-se a mais inútil das criaturas, não percebendo uma lágrima que lhe descia, atrevida, liberando uma gota de dor, enquanto cerrava as mãos com força.

 El Cid logo chegou e imaginou o que poderia ter acontecido, dado o estado do amigo e os rastros de cosmo. Ele se aproximou e tocou seu ombro direito, num gesto mudo, mas cheio de empatia pelo amigo. Podia compreender os sentimentos de um guerreiro como ele quando é impedido de fazer o que pode.

            - Não pude fazer nada, Cid. Eles a levaram e usaram como escudo. E ela estava ferida. Eles a machucaram. Mas como isso aconteceu? Como aconteceu? Como pude falhar assim. Essa sensação, esse sentimento, só me lembro de tê-lo sentido uma vez, e nem foi nesta vida.

            El Cid já ia retrucar as colocações do amigo quando percebeu outra presença ali com eles. Ao virar o rosto, viu um homem caído. Resolveu perguntar e, assim, tirar o amigo daqueles pensamentos:

            - Ei, quem é aquele ali?

            Foi então que ele viu Taylor caído. Mas, atraído por um brilho no chão, Sísifo se aproximou e, abaixando-se, pegou aquela peça conhecida e achou muito irônico ela chegar às suas mãos assim, de novo.

            - Deve ter caído quando ela lutou. – Ele sussurrou, mais para si. Tomou a peça e colocou-a sobre a cabeça, ajeitando-a no pescoço, por baixo de sua armadura. – Vou guardar bem para te entregar de novo, me espere, já estou indo. – Ele sussurrou de novo.

            El Cid tentava acordar o primo enquanto Sísifo voltava a si e o olhou. Ele. Ele estava ali de novo e, não obstante o que fizera no passado, tê-lo desafiado a ponto de perder a cabeça, agora ele estava no caminho que levava à desgraça. Sentia uma grande vontade de eliminar esse fardo do planeta. Mas, talvez, se estava ali, poderia ter informações. Se levaram Violet, era porque queriam atraí-lo. Não fariam mal a ela antes de vê-lo pessoalmente. Precisava ter calma, ser forte, controlar suas emoções, montar um plano de ação. Faria esse desgraçado falar e seria agora.

            El Cid conseguiu fazê-lo sentar. Sísifo abaixou-se e olhou-o nos olhos, que demonstravam grande pavor ante a cena que presenciava. Aquele que ofendera gravemente e a quem desafiara, usando a mulher amada, estava frente a ele, mostrando quem realmente era vestido com sua imponente armadura, cujas asas, ironicamente, lhe causavam maior pavor. O cavaleiro respirou fundo, controlando-se ao máximo, e perguntou:

            - O que faz aqui? O que sabe sobre o que houve?

            Ao lado de Sísifo, o olhar de El Cid era ainda mais apavorante, pois estava irado com o que fizeram com a mulher amada de seu melhor amigo, que ele considerava sua amiga também. Isso não era bom. Taylor não conseguia formular nada. Como dizer a eles que tinha participação naquilo? Certamente o matariam. Sentia-se um perfeito idiota, como pôde ser tão ingênuo, confiando naqueles espectros?

            - RESPONDA! – O cavaleiro de Sagitário estava impaciente, despertando o homem para a realidade.

            - Ofereceram-me um bom dinheiro para que a trouxesse até eles. – Taylor conseguiu dizer, num balbucio, mas suficiente para ser ouvido.

            - Você... o quê? – O cavaleiro não acreditava no que ouvira. Ele começava a suar, tamanha a sua indignação diante daquela declaração. Mas o ruivo continuou:

            - Fiquei vigiando e, quando ela ficou um pouco para trás, longe das outras garotas, a puxei para um beco e trouxe até aqui.

            Aquilo era demais para se ouvir e acreditar. Aquele desgraçado merecia uma punição à altura, com certeza. El Cid estava confuso, então perguntou:

            - Quem é ele? – Mas, ao ouvir do Sagitário um rápido relato sobre a identidade e feitos daquele homem, o espanhol sentiu uma indignação tão avassaladora que mal podia se controlar. Como isso seria possível? Como ele poderia ter feito algo assim com a própria prima?

            - Deixe comigo, Sísifo. Eu mesmo darei cabo da vida deste infeliz.

            Sísifo já ia retrucar, mas, Taylor respondeu, desesperado:

            - Eu sei onde estão!

 Então, Sísifo viu que ele sabia mais do que aparentava e que teria mais respostas. Respirou fundo novamente e pediu ao amigo que se acalmasse. Voltou-se para o ruivo:

            - Sabe para onde a levaram?

            - Para o esconderijo. Eu fiquei lá com eles, enquanto me recuperava da surra que você me deu e eles esperavam oportunidade para agir. Fica numa vila mais ao norte. Eles disseram que Violet era uma isca para você, que a soltariam depois de te matar. E eu estava com muita raiva. Logo depois que meu tio me expulsou, eles me encontraram, me acolheram e fizeram a proposta. Achei razoável e como precisava de dinheiro, aceitei.

            - Seu idiota! Acha mesmo que eles vão soltá-la? Eles vão matá-la para se vingar de mim e do seu tio! E você a entregou desse jeito. – O Sagitário suspirou, controlando sua ira. – Cuidarei de você depois. Agora, vai me levar até lá.

            - Mas eles vão me matar por isso!

            - Isso não é problema meu. Vamos!

            O cavaleiro de Sagitário pegou Taylor pelo braço, forçando-o a levantar. El Cid queria acompanhar Sísifo, mas este não aceitou.

            - Cid, por favor, volte e conte tudo o que houve. Certifique-se de que Athena chegará em segurança ao Santuário, pode haver outros espectros à espreita. Mande visar ao pai de Violet o que houve e que estou indo buscá-la. Depois, venha me ajudar. Não poderei fazer nada direito se estiver preocupado com Athena.

            - Sim. Mas tenha cuidado. – O cavaleiro de Capricórnio, mesmo relutante, acabou concordando. O amigo tinha razão, havia o que fazer antes de ajudá-lo. - Ei, mas fez isso mesmo? – O Sagitário olhou para ele, mas não entendeu. – Deu mesmo uma surra nesse imbecil?

            Sísifo apenas balançou a cabeça, assentindo. El Cid riu de lado e levantou uma sobrancelha.

            - Ótimo, já foi alguma coisa. – Depois olhou o amigo e completou: - Não se esqueça de que é meu padrinho.

            - Pode deixar, amigo.

            E assim, foram. Cada um ao seu destino.

 

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            No esconderijo dos espectros, Violet foi jogada violentamente no chão, diante do líder. Ela gemeu pela dor da queda.

            - Ora, ora, depois de tanto tempo, nos reencontramos, mocinha! Não sei se lembra-se de mim. Mas, eu me lembro de você. Puxa, como você cresceu desde aquela ocasião. Tornou-se uma mulher tão linda. – Ele se aproximou dela, tomou uma mecha de seus cabelos e aspirou o perfume, acariciando-lhe o rosto e segurando seu queixo, enquanto falava. – Acho que não vou usá-la totalmente. Vou matar o cavaleiro e, depois, ficar com você para mim. Será mais divertido e você será melhor aproveitada.

            Ela arregalou os olhos. Não podia ser, era ele! E logo reconheceu a face daquele ser de cujo rosto jamais se esqueceria. E sua mente voltou àquele dia.

 

            Ela e sua mãe corriam para fugir do ataque daqueles seres. Todos os moradores sobreviventes tentavam se esconder, mas era em vão. Havia gritos, fogo e desespero por todos os lados. Elas tropeçavam em corpos, eram rostos conhecidos e Violet chorava desesperada. A mãe gritava para que ela corresse e seguiam na fuga, quando um deles apareceu bem na frente delas. Ela pôde ver o monstro com asas de morcego, rindo com aquela cara zombeteira. Sua mãe tentou voltar e, quando se virou, o espectro a atingiu pelas costas. Viu seu semblante de dor e os olhos se fecharem, o corpo caindo no chão, sem vida. Ela fechou os olhos e se preparou para o pior, que não veio. Abriu-os e um homem muito alto, com longos cabelos acinzentados estava à sua frente. Agora, ela o reconhecia como Hasgard de Touro. Ele a olhou nos olhos, por sobre os ombros, e disse que sentia muito por sua perda, que não conseguiu matar o espectro, mas ao menos salvara sua vida. Ele saiu logo dali, lutando contra os outros e salvando a vila. Então, ela sentou-se no chão, ao lado de sua mãe e chorou a terrível perda que sofrera. A dor que sentia na alma era terrível demais. Não compreendia o porquê de tanta maldade.

            Depois de reviver seu pesadelo por alguns segundos, Violet se desespera ao rever o assassino de sua mãe e, diante da terrível mistura de emoções, ela perde os sentidos. Então, é amarrada a uma coluna do grande salão daquela mansão abandonada, bem à frente da porta de entrada. Era um local amplo, sujo, com restos de móveis, cortinas rasgadas, num tom de vinho, teias de aranhas nas paredes por conta do abandono. Havia várias janelas enormes, com o que restava dos vidros que as compuseram, um dia. Uma grande porta de carvalho dava entrada para aquele recinto, que crescia retangularmente à esquerda, com outras aberturas internas que davam para outros cômodos.

            - Bom trabalho, companheiros, nossa vingança vai se realizar em algumas horas. Não toquem na garota. Quero que o cavaleiro a veja. E ainda decidirei sobre a vida dela, mas, se for morrer, serei eu a fazer isso com ela. – Ele olha para a porta lateral e vê outros espectros entrarem no salão. – Ah, vejo que nossos amigos já se juntaram a nós! Então, todos os sobreviventes estão aqui, pelo que vejo. Vamos acabar, juntos, com aquele cavaleiro que liderou nossa derrota. E posso sentir que ele está a caminho para encontrar sua morte. Ele vai se arrepender pelo que fez ao mestre Aiacos.

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            O cavaleiro de Sagitário chega à vila, não muito tempo depois, acompanhado por Taylor, que foi obrigado a mostrar o caminho e reclamava por terem andado tão rápido por tanto tempo. Sísifo o encarou e revirava os olhos. Aquilo o aborrecia muito. Não tinha tempo a perder.

            - Mostre o lugar. – O cavaleiro ordenou.

            Então, depois de andarem um pouco, param diante de uma enorme construção abandonada. Era um casarão muito antigo, parecia uma mansão abandonada e em péssimo estado. O cavaleiro já sentia a hostilidade dos cosmos dos espectros. Sabia que sua presença já fora descoberta. Então começou a pensar numa maneira de agir. Mas precisava entrar e descobrir onde ela estava. Sentiu seu cosmo e ficou um pouco mais aliviado ao saber que ela estava viva. Provavelmente, estavam esperando a chegada dele. Antes que pudesse fazer algo, ouviu gritos agudos de dor. Seu coração apertou e o sangue ferveu. Eram dela. Sabia que desejavam atingi-lo, tocando em seu ponto fraco.

            Tentava ao máximo se controlar e decidiu entrar e ver o que poderia fazer. Não podia deixar que continuassem fazendo aquilo com ela.

            Quando Sísifo entra no salão, dá de cara com uma cena que se mostrava dura demais. Violet tinha hematomas pelos braços, fora os que o vestido vermelho longo, certamente, escondia. Também havia marcas no rosto e sangue. Um espectro que, pelo cosmo, deveria ser de força inferior, a segurava, apresentando-a ao cavaleiro. Foi o suficiente para que o cosmo reagisse ao grande estímulo involuntário que recebeu. O cosmo do Sagitário se elevava, queimando intensamente, e uma forte luz dourada o envolvia. Ele se preparou para um possível ataque, mas a covardia do inimigo se revelou ao máximo quando levantou a garota pelo pescoço, que grunhia de dor e agoniada pelo sufocamento.

            Sísifo recuou. Era muito arriscado. Quando olhou em volta, outros inimigos estavam prontos e pareciam aguardar as ordens de alguém para atacarem. Então, um deles apareceu à sua frente e se apresentou ao cavaleiro:

            - Ora, vejam se não é Sísifo de Sagitário que veio ao nosso encontro! Parece que nosso convite foi aceito. Seja bem-vindo ao local de seu túmulo. Vou vingar a derrota que você infligiu ao nosso mestre. Você o humilhou e retirou sua dignidade quando o enfrentou por conta daquele barco maldito.

            - O quê? – O sagitariano respondeu, perplexo com o que o ser do submundo dizia. – Vocês são subordinados de Aiacos de Garuda? Mas, como estão aqui?

            O espectro riu de lado e respondeu:

            - Devemos isso a você, que apagou as chamas do barco de nosso mestre, mas, enquanto pensava estar salvando nossas vidas, estava fadando-nos à desonra por não cumprirmos as ordens dele. Você nos impediu de realizar nossa missão. Não pudemos lutar como deveríamos, mas, agora teremos outra chance. E vingaremos o senhor Aiacos destruindo você e tudo o quer proteger. Muito embora ainda não tenha me decidido sobre a garota. – Ele olha para Violet e ri de lado. Depois olha para o cavaleiro. - Talvez, fique com ela como despojo de batalha. Mas não me apresentei, sou Wimber de Morcego, a estrela terrestre da Premonição.

            Sísifo não acreditou no que ouviu. Era o mesmo espectro que foi morto por Hasgard naquela ocasião, mas que contribuiu para sua morte. Então ele estava no navio. Sabia como ele agiria. Precisava estar atento e pensar numa estratégia de batalha. Porém, acabou desviando sua atenção para a amada, pois viu que o outro maldito espectro a agredia de novo e seu erro foi baixar a guarda.

            O espectro de Morcego aproveitou a breve desatenção do cavaleiro e lançou seu terrível golpe.

            - Morra! Cavaleiro de Sagitário! “Nightmare Sonar”!

            Rapidamente, vários morcegos apareceram. Eles emitiam ondas ultrassônicas, que atacavam o sistema nervoso do adversário, privando-o de seus movimentos. Sísifo teve reação instantânea ao golpe do espectro, caindo ao chão de joelhos e com as mãos sobre os ouvidos, numa clara demonstração de forte abalo dos nervos cerebrais. Ele apenas conseguiu balbuciar, enquanto tentava, inutilmente, se livrar do golpe:

            - Não... acredito... Como... pôde... me ...paralisar assim? Ah, minha cabeça!

            Ele caiu com o restante do corpo no chão, enquanto os morcegos voavam sobre ele, continuando sua sinfonia mortal.

 

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            No haras, ninguém conseguia dormir ou sabia o que fazer ante aquela situação. Heitor andava de um lado para outro. Taís e dona Agnes rezavam. O cavaleiro de ouro de Touro estava lá para proteger a família de um possível ataque. Heitor lutava para não se desesperar ante aquele pesadelo e torcia para que o amigo pudesse trazer sua filha de volta, sã e salva.

            - Heitor de Sagita, confie em Sísifo. Eu o conheço bem e sei que não voltará sem ela. – Hasgard vê um quadro pequeno sobre uma mobília. – Quem é esta menina?

            - Violet, há uns oito anos atrás. – Heitor respondeu.

            Hasgard achou muito familiar aquele rosto. Não era uma face que alguém esqueceria facilmente. Mas de onde? O cavaleiro forçou a memória e teve um lampejo de memória.

            - Não pode ser, seria uma prova de que o mundo é mesmo muito pequeno. Mas, sim, é ela. Só pode ser essa menina. Eu vi quando tudo aconteceu há sete anos. Estava numa missão e presenciei o ataque à vila em que sua esposa morreu. Não pude salvá-la, mas consegui chegar a tempo de salvar essa menina. Tenho certeza. Mas não consegui matar o espectro. Se tivesse eliminado o infeliz, isso não estaria acontecendo.

            Heitor ficou estático por um momento. Sua filha dissera que viu um brilho dourado, então era uma armadura de ouro e fora Hasgard de Touro que salvou sua filha. Ele chegou-se ao dourado e o abraçou, em lágrimas. Era muita informação, fora tudo o que estava vivendo.

            - Obrigado! Tenho uma dívida com você. E não pense dessa forma. Também sou um cavaleiro e sei que nem sempre podemos controlar toda a situação. Serei eternamente grato. Você salvou minha filha amada. O que seria de mim se tivesse perdido as duas? Obrigado e vou chamá-lo de amigo.

            Hasgard ficou grato pelo consolo que recebeu. Agora, também tinha uma ligação com aquela família. Sísifo ia ficar sem palavras ao saber disso. Realmente, o mundo era minúsculo.

 

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            Taylor ouvia tudo encostado na parede da casa, do lado de fora. Estava assustado e com medo. Certamente, depois de matarem o cavaleiro, aqueles seres desprezíveis fariam isso com ele também. O ruivo tremia, a ideia da morte iminente o afligia sobremaneira. Suava e não conseguia controlar os movimentos involuntários de suas mãos ante aquele horror. Porém, quando tudo parecia desesperador demais, uma figura inusitada surgiu à sua frente.

            Ao ver aquela aparição, ele desceu as costas pela parede, agachando-se no chão. Como? Não podia ser! Isso não poderia ser possível... Esfregou os olhos, como para acordar de um sonho terrível. Seu coração ficou descompassado, sua boca, seca. Ao reconhecer a figura diante de si, a voz desapareceu. Não conseguia, sequer, balbuciar algo. Mas não era necessário, não era seu momento de dizer algo, mas de ouvir.

            A figura à sua frente abaixou-se, ficando à sua altura. Ironicamente, uma situação nunca imaginada ou esperada formou-se ao seu redor. Bem ali, diante de si, estava ela, linda, do jeito que se lembrava. Não, do mesmo jeito, não. Estava mais linda. Os cabelos loiros longos, os olhos azuis como o céu. E ela tinha... uma aura reluzente ao redor de si. Também tinha... asas? Foi quando ela, gentilmente, o chamou:

            - Por que me olha assim, tão desesperado, Taylor, meu pequeno Taylor, meu sobrinho tão querido? Não me reconhece? Posso estar um pouco diferente, mas sou eu, Nicole. Você é o meu sobrinho mais querido. Sempre foi.

            Taylor não acreditava na visão que tinha. Sim, era ela mesmo. Sua tia, a mais querida. Sempre lhe trazia doces, sempre o pegava no colo. Contava-lhe histórias ou consolava quando se machucava durante as brincadeiras de criança. Sua tia tão maravilhosa. Ela o fazia tão feliz. Até o dia em que ela... se foi. Morreu no lugar de sua prima. Perdera aquela que era seu lugar seguro numa morte estúpida. Que falta lhe fazia. Ele se acalmou e conseguiu balbuciar, de leve:

            - Tia... tia Nicole... Você, como? Como pode estar aqui? Você morreu...

            Ela sorriu para ele, dizendo:

            - Sim, mas agora tenho uma missão. Fui considerada digna e aqui estou. Meu querido, sabe o quanto o amei como a um filho. Porém, no momento em que mais precisei, você me traiu? Apunhalou-me pelas costas? Como pôde, Taylor? – Ele a olhava e entendeu o que ela queria dizer. Como dizer-lhe que estava errada? Como negar algo que ela, pela condição que parecia ter agora, poderia saber claramente? Mas a mulher continuou. – Fiquei triste de não poder mais compartilhar momentos terrenos com vocês, mas fiquei aliviada pelo fato de minha filha ter se salvado. Acho que a protegi, então, cumpri minha missão como mãe. Amei Heitor com toda a minha alma. Isso me deixou em paz. Mas você, como pôde fazer o que fez com minha filha? Logo você! Esperei que pudesse me ajudar, dando apoio a ela, protegendo-a. Mas, veja, veja como você me retribuiu! Desde antes... até agora. Se ela morrer ali, Taylor, a culpa será sua!

            Taylor olhava para a tia. Os olhos arregalados e o coração dispardo, o que acontecera ali? Aquela luz dispersada pela sua tia, que agora parecia um anjo, lhe perturbava os sentidos. Porém, ela o olhou e, com a mão direita, num golpe certeiro, penetrou-lhe o peito, lhe causando uma dor que jamais sentira, ela era tão aguda, tão real. Seu coração doía como se estivesse sendo esmagado por dentro. E o olhar dela, decepcionado, transpassava sua mente, podendo chegar aos seus pensamentos. Ele se sentia estranho. Aquela sensação inédita lhe assustava. O que era essa angústia, o que era esse receio, o que podia ser aquela chama que começara a arder dentro dele? Então, ela removeu a mão. E disse-lhe, com a voz suave, como falara o tempo todo:

            - Isso é remorso, meu querido. Você não conhece essa sensação. Sua mãe permitiu tudo a você e não percebeu o monstro que estava crescendo. Dei-lhe o meu amor, tentando impedir aquele mal, mas não tive tempo de fazer mais. E você usou de sua maldade com minha própria filha. Eu vi o que fez com ela. Como estou decepcionada. No que você se tornou, meu querido sobrinho?

 Taylor sentia que iria enlouquecer. O coração ardia em chamas, com uma dor que lhe roubava a respiração. A cabeça girava, sentia-se tonto e, como um filme, suas ações passavam por ali. Ele se via, se percebia e a dor aumentava. Aquele suplício chegou a um nível inesperado e ele achou que não conseguiria mais aguentar. Lágrimas desciam de seus olhos e um misto de sensações novas e indescritíveis tomaram conta dele.

            - Você vai ficar bem, querido. Já executei o que era necessário. Agora as coisas vão ficar bem. Não do jeito que você espera, mas da forma que terá que ser, como o destino já determinou. Porém, antes, pague o preço que deve. Vá lá e salve minha filha.

            - Não posso enfrentá-los, são muito poderosos.

            - Sim, mas há alguém lá mais forte que eles. Ajude-o. Faça o que estiver em suas mãos. Permita que ele ganhe tempo, pois o socorro já está chegando. – Ela parou e olhou para o lado esquerdo, como se visse algo. Depois voltou-se e continuou. – Faça o que suas mãos podem fazer, meu sobrinho. Mas saiba, ainda assim, eu ainda amo você.

            Depois destas palavras, a imagem sumiu. E Taylor tentava conciliar aquilo com a realidade. Respirou fundo e o ar entrava mais facilmente em seus pulmões. Descobriu uma força nova. Sim, o último pedido, realizaria o último pedido dela, a última coisa que ele mesmo poderia realizar. Assim, ele se foi, a fim de cumprir sua missão.


Notas Finais


Continua...


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