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História Inside your heaven: uma nova chance - Livre


Escrita por: Verbenna

Notas do Autor


Olá a todos!

Aqui estamos com mais um capítulo, que está cheio de muita emoção.

Quero agradecer às autoras @Draconnasti e @Katrinnae por me liberarem para usar algo que está numa de suas histórias: Saint Seiya: Sob o Segredo do Escorpião

Vou mencionar o que é nas notas finais, para manter a expectativa.

Obrigada a todos que acompanham a história, prestigiando o meu trabalho, seja como for a sua participação.

Boa leitura!

Capítulo 16 - Livre


Fanfic / Fanfiction Inside your heaven: uma nova chance - Livre

            Já havia alguns dias após a conversa entre Shion e El Cid, momento de esclarecimentos e revelações que trouxeram, de certo modo, mais tranquilidade ao capricorniano. No entanto, ele ainda buscava entender o que significavam algumas reações que percebia em seu interior e a relação delas com a senhorita Aiki.

Será que suas sensações eram reflexo de um sentimento verdadeiro, que já florescia em seu coração? Será que a sua forma radical de encarar a disciplina e as regras lhe trouxe uma seriedade tão inflexível que esta pudesse assumir a função de camuflar o seu juízo de valor sobre os sentimentos que, de alguma forma, o tornassem vulnerável?

Ele sempre se viu como uma pessoa obstinada, que entrega tudo por um objetivo maior, que se sacrificaria por aquilo em que acreditasse, sem pestanejar. Teria isso influenciado o cavaleiro a deixar de reconhecer emoções e sentimentos que fora obrigado a rejeitar, a sufocá-los até que se esquecesse de como eles eram, tornando-se inabalável, inatingível por sentimentos que pudessem ofuscar sua visão do objetivo, do alvo que poderia custar a sua vida?

A resposta parecia ser óbvia, após a conversa com Shion. A questão agora era descobrir se Aiki habitava em seu coração, mas era aprisionada por todas as muralhas que foram levantadas ali, por ele. Sentia ciúme, como havia compreendido, mas também sentia algo que poderia ser descrito como felicidade, quando estava ao lado dela. A sensação de acolhimento quando encontrava seu aposento tão bem arrumado e perfumado ou quando encontrava suas refeições preparadas com tanto capricho e, agora entendia, carinho, seria, então, mais do que contentamento?

Saber que era amado por ela trouxe algo novo a seu coração, assim como, apenas parar para observá-la subindo as escadas até Aquário, sem ser percebido, já era algo que se via fazendo, sem ao menos perceber. Era amor? Paixão? O que era aquilo? Onde estava escondido esse sentimento em seu coração, que não o identificava? Que tipo de tolo era ele que não conseguia se certificar de amar a mulher mais incrível que já vira no mundo? E isso o feria bem em cheio no coração.

Essa questão o consumia em pensamentos. Era tanto que não conseguia se concentrar nas atividades com Jason, submetendo-o então a exercícios físicos e atividades mais simples envolvendo o cosmo.

Sísifo já havia notado que o amigo estava estranho, podia sentir a agonia que ele mostrava, mas fazendo um enorme esforço para disfarçar. Ele poderia enganar a todos que o vissem, menos o Sagitário. Os olhos de Sísifo foram treinados para se abrirem ao que ninguém poderia perceber e ele notava a pressão que El Cid fazia sobre si mesmo, numa auto cobrança intensa, então, o cavaleiro decidiu que descobriria o que era.

Após treinar alguns discípulos que eram potenciais candidatos a armaduras de prata e bronze, Sísifo resolver subir a Sagitário, porém, observando que seu melhor amigo parecia encerrar o treinamento da manhã, decidiu esperá-lo. Quem sabe, aproveitando essa oportunidade, poderia observar o amigo mais de perto e, talvez, saber dele o que estava acontecendo.

Ao ver Sísifo aguardando, El Cid, que já havia liberado Jason, seguiu caminho, parando perto dele e dizendo:

— O que está fazendo aí?

Sísifo sorriu e disse:

— Esperando o meu amigo.

El Cid o olhou de lado, mas seu estado de espírito e o esforço para manter todas as emoções sob total controle eram um tanto desgastantes, então, apenas meneou a cabeça, numa aprovação silenciosa. Ele compreendeu a intenção do Sagitário, que, certamente, esperava para subir com ele.

Assim, andaram juntos até o monte zodiacal, procedendo a passagem pelas casas. Seguiam em silêncio, enquanto Sísifo observava, de soslaio, a expressão do amigo, que mantinha silêncio e a face concentrada na subida. Achou melhor não dizer nada ainda, afinal, sabia que El Cid não se abriria facilmente, muito menos daria chance para perguntas.

Seguiram assim até a nona casa, então, chegando quase ao seu patamar, viram Violet, que os aguardava na entrada, o que ambos os cavaleiros estranharam um pouco. Assim, chegando perto dela, Sísifo perguntou:

— Está tudo bem?

— Sim! Mas achei melhor esperar para que não perdesse o El Cid de vista. Ele vai almoçar conosco hoje!

El Cid olhou para Violet, não entendendo muito bem aquela situação. Então, disse a ela:

— Violet, sua convocação é uma alegria para mim, mas a senhorita Aiki já deve estar terminando de preparar minha refeição...

— Amigo, houve um imprevisto e isso não foi possível. Então, Sofia deu a ideia de você se juntar a nós, para auxiliá-la, pois ficou com as tarefas da Aiki.

El Cid não gostou muito das mudanças, mas queria colaborar com Sofia, que se dividia entre as duas casas, então, aceitou o chamado e entrou em Sagitário. No entanto, estranhou que Aiki também houvesse encontrado um outro imprevisto para o almoço daquele dia, pois não veio a Capricórnio no dia anterior.

Juntamente com o amigo, retirou sua armadura, sendo encaminhado por Violet para que pudesse lavar as mãos e o rosto, o que trouxe certo alívio físico ao cavaleiro.

Eles se sentaram à mesa, na área de refeições, sendo servidos por Violet, que aguardava Sofia. Assim, faziam suas refeições quando a serva chegou com um semblante fechado. A esposa de Sísifo percebeu e também mudou a feição, partilhando da mesma sensação da amiga e serva. Foi quando ela resolveu perguntar:

— E então, Sofia?

A serva suspirou, chamando a atenção dos cavaleiros, e respondeu:

— Ela não melhorou nada. Parece estar pior...

— Isso é péssimo — respondeu Violet.

Sísifo resolveu perguntar o que estava acontecendo, então, Sofia respondeu:

— É a Aiki, Sísifo. Desde ontem ela está doente, com febre alta. Fui até lá para vê-la, mas, mesmo com todos os cuidados, ela não melhorou, pelo contrário, piorou um pouco, já que não está conseguindo nem comer. Estamos preocupados.

A mudança no semblante de El Cid foi imediata, pego de surpresa por uma notícia tão inesperada. Ele entendeu a ausência dela no dia anterior, mas preocupou-se com o que acabara de ouvir. Ele baixou os olhos, deixando seu talher sobre o prato, incapaz de continuar a refeição.

Sísifo notou a mudança no cosmo do capricorniano, e, ao notar como ele estava, começou a compreender o que poderia estar acontecendo, pois juntou algumas pistas que percebeu durante algum tempo. Ele sentiu seu coração apertar com a reação do amigo, que era de pura preocupação e, embora escondido sob seus olhos, sofrimento.

O Sagitário percebeu que seu amigo se levantaria dali a qualquer momento, então, para poupá-lo dessa situação embaraçosa, levantou-se e olhou para Violet, que, vendo a forma intensa como era mirada, entendeu que deveria compreender o que Sísifo fizesse, pois também estranhou o comportamento de Cid.

Então, o sagitariano se levantou e falou:

— Bem, senhoras, estava tudo ótimo, mas teremos que retornar. Se tiverem notícias, peço que nos contem.

El Cid olhou para o amigo, percebendo que ele já havia compreendido o que estava acontecendo. Então, sentiu-se grato pela atitude de Sísifo, acompanhando-o de volta à arena de treino.

Violet e Sofia se olharam, surpresas. Elas chegaram a pensar que, um dia, El Cid chegaria a se afeiçoar mais profundamente a Aiki, mas nunca imaginaram uma reação daquelas vindo dele.

Eles desceram em silêncio, enquanto Sísifo ia sentindo como o estado do amigo, que já era ruim, parecia piorar. Ele queria perguntar o que estava acontecendo, mas faltava uma oportunidade adequada para isso. Então, esperaria um pouco mais, talvez no final da tarde.

Cid se reuniu com seu discípulo, mas, o falatório que se ouvia na área de treinos e a agitação dos novos aspirantes que chegavam irritavam o cavaleiro. Tinha coisas importantes para passar a Jason, mas não conseguia evoluir o treino. O pupilo notou que seu mestre fazia um enorme esforço para manter-se calmo e concentrado, então, conforme olhava para outras partes da área, percebia Sísifo olhando diretamente para eles, entendendo que a situação já fora captada por ele.

O pupilo passou a retribuir o olhar do Sagitário, fixando-se nele por alguns instantes e depois virando a cabeça na direção de seu mestre, tornando a mirar o mestre da nona casa em seguida. Sísifo ficou nessa por três oportunidades, quando entendeu o pedido silencioso do discípulo, que havia notado o estado de seu tutor.

Então, Sísifo aproximou-se daquela dupla, chamando pelo amigo:

— Cid, poderia me emprestar seu pupilo para a tarde? Tenho um grupo novo de aspirantes cheios de energia, então, seria interessante que outro discípulo conduzisse o treino deles, mostrando-lhes o que virá para frente. Não sei se estão acostumados a alguma rotina física.

El Cid olhou para o amigo com os olhos semicerrados, entendendo que Sísifo havia notado sua condição e que seria difícil escapar de uma conversa. Então, ele concordou, orientando Jason:

— Muito bem, sei que você está acostumado a observar os treinos iniciais dos principiantes. Assim, conduza-os de forma adequada, conforme Sísifo pediu.

— Sim, mestre. Vou deixá-lo satisfeito.

Jason ia saindo, quando ouviu de Sísifo:

— Divirta-se! Só não acabe com eles ainda.

Jason deu um meio sorriso, satisfeito com a confiança que recebeu. Então, foi à arena dedicada ao treino daqueles aspirantes novatos.

Enquanto observava o rapaz se afastar, Sísifo disse, à meia voz:

— Não imaginava que escaparia de mim facilmente, não é? Vamos, já sei onde poderemos conversar.

El Cid, que estava de braços cruzados, apenas suspirou, contrariado, seguindo o amigo.

Foram para perto de uma outra montanha, não distante, onde havia uma queda d’água que formava um belo lago, onde muitos iam se refrescar após os treinos, mas que, àquela hora, era ermo.

Sentaram-se sob uma árvore com uma generosa copa, que os abrigou do forte sol e do calor, ideal para aquela situação. Então, certo de que o amigo não abriria a boca tão cedo, Sagitário foi logo falando:

— Você acha mesmo que eu não perceberia? Não entendo por que não confiou em mim para algo tão sério, principalmente sabendo o quanto  lhe conheço.

— Eu não queria importuná-lo. Fora que eu não tinha nada o que falar com você.

— Hum, é mesmo? Então, chegar a mim e dizer que parecia gostar da senhorita Aiki e não conseguiu compreender isso não seria nada?

— Andou falando com Shion?

— O que Shion tem a ver com isso?

— Ah, esqueça! Bem, você está certo, a senhorita me encanta desde que defendeu Marion e passou a cuidar de minhas coisas. Fora que a beleza dela está muito acima da média e não consigo deixar de admirá-la, mas, daí a estar apaixonado, havia uma grande lacuna.

— Certo, contudo, eu vi a sua reação em minha casa, quando falaram do estado de saúde dela. Aquilo não é comportamento de quem apenas se encantou com alguém, amigo, é o mesmo que eu faria se fosse minha esposa. É o comportamento de quem ama, pode acreditar em mim. Mas... Ao que me parece, você não está certo disso, não é? Ou não estava?

— Tenho reservas sobre o que sinto. Quero dizer, eu já me afeiçoei muito a alguém, há muitos anos, e vivi uma situação parecida com esta, mas sempre julguei que aquilo fosse só amizade entre irmãos, pois minha mente me dizia isso. Mas agora é diferente e eu não consigo compreender de forma lógica o que eu sinto por Aiki.

— Acho que esse é seu problema, amigo. Nem sempre a lógica vai ajudar nessas situações, ou a mente vai lhe dizer o que está acontecendo. Veja por mim! Minha mente dizia que eu não encontraria uma mulher à altura do que sonhava, mas meu coração me mostrou quem Violet era! Meu coração me ligou a ela, convencendo minha mente da coisa mais extraordinária que a liberdade me permitiu. O que a sua liberdade lhe permite, amigo? Afinal, você bem sabe que é um homem livre, não é?

El Cid olhou para Sísifo, como se uma questão difícil tivesse sido explicada e começasse a fazer sentido. Então, Sísifo continuou:

— Primeiro, deixe sua mente em repouso, ela está trabalhando demais. Depois, seu coração tem tanto direito de resolver certas coisas como sua mente, você só precisa permitir. Quando silenciar sua mente, ouvirá seu coração. Agora, vou ajudar você, bem, se as respostas que me der forem, na maioria, sim, liberte seu coração, amigo!

El Cid tornou a olhar para Sísifo, atento. Então, seu amigo começou:

— Sente que o perfume dela é como uma mão que o impele a segui-la? Sente-se ansioso para saber se ela ainda está em sua casa, apenas para vê-la? Não se cansa de ouvir a voz dela, seja o que for que ela diga? Ela lhe parece linda, não importa o traje que vista? Ao chegar a sua casa e ver que ela já foi embora, sente uma certa angústia? Notar a atenção que ela lhe dedica atiça seu orgulho masculino? Vê-la exausta faz com que sinta vontade de carregá-la no colo? Sente curiosidade para sentir o toque dela? Fica imaginando como seria bom beijá-la? Não vê a hora de reencontrá-la no dia seguinte, pois a distância dói?

El Cid havia arregalado os olhos, sendo notado pelo amigo. Sísifo percebeu que suas palavras haviam atingido o Capricórnio. Tinha certeza absoluta de que Cid estava fazendo as contas enquanto ouvia, percebendo que todas eram sim, o que justificaria sua surpresa. Por enquanto, era o suficiente, então, o estimularia a continuar.

— Amigo, acho que já tem a resposta. Acredite nela e libere seu coração, abandone a prisão da sua mente e do seu superego. Agora, vamos voltar, acho que você precisa descansar um pouco. Tire uma soneca, suas ideias clarearão.

— Eu sabia que tinha escolhido a pessoa certa.

Sísifo ouviu, mas queria saber quem era. Então perguntou, e El Cid respondeu:

— Você. Você foi a escolha certa para ser meu amigo.

Após dizer isso, o Capricórnio virou as costas e fez o caminho de volta, enquanto Sísifo observava, orgulhoso, o melhor amigo ir embora, certo de que sua missão fora cumprida.

Chegando à décima casa, El Cid encontrou Sofia, que terminava de preparar o jantar do cavaleiro, após arrumar sua casa. Ele a observou, notando que, mesmo com um bom serviço, era Aiki que ele gostaria de ver ali. Sentia falta dela. Então, perguntou:

— Sofia, como, como ela está? Houve melhora?

Sofia o olhou, apenada, pois já percebia os olhares dele para Aiki, mas imaginava que ele demoraria a crer no que sentia, então, apenas respondeu:

— Não. Ela continua mal. O grande mestre mandou chamar o neto dele para ministrar algum tratamento, mas estamos com medo.

— Obrigado, Sofia.

A serva retirou-se, logo após, e Cid aproveitou para fazer o que o amigo dissera. Então, como a serva deixara a tina com água, aproveitaria para banhar-se e descansar. E assim fez.

Então, ao entrar em seu quarto, deitou-se na enorme cama e procurou relaxar. Sua mente tentava intimidá-lo, mas ele havia tomado a decisão de perceber seu coração, então, repensou as perguntas de Sísifo e começou a notar que as perguntas transformavam-se em afirmações que lhe vinham à mente, constatações óbvias de um coração apaixonado.

Contudo, as palavras de Sofia ecoavam em seus ouvidos: “ela está mal”, “estamos com medo”. Então, uma angústia o tomou, fazendo seu peito arder. Então, ele sentiu em si algo que raramente percebia: medo. Um súbito medo do que poderia acontecer a Aiki tomou seu coração, fora a sensação de que ela deveria estar sofrendo com a febre também o incomodou como não imaginava ser possível. Ele acabou adormecendo, em meio à exaustão que seu estado anterior, a conversa com Sísifo e as percepções de agora lhe causaram, considerando que não vinha dormindo bem durante a noite.

Possíveis quatro horas de sono fizeram com que o Capricórnio despertasse sentindo-se bem melhor do que antes. Sísifo tinha razão, ele pensava. Então, sentiu fome, pensando em comer o jantar que Sofia deixara ali antecipadamente. Assim, sentou-se à mesa e comeu, notando a diferença de sabor que havia entre os temperos das cozinheiras.

Após a refeição, sentiu-se bem melhor, então, vestiu-se adequadamente para sair, rumando para o alto do monte zodiacal. Ao chegar, ele notou a angústia dos cosmos que ali estavam, assim como o de Aiki, que parecia agitado e enfraquecendo. Isso o alarmou, mas não voltaria antes de vê-la, então, logo foi recebido, sendo levado até ela.

O cavaleiro precisou se apoiar no batente da porta ao vê-la, tal foi a comoção que sentiu. Ela estava deitada em sua cama, coberta do pescoço aos pés, em nítida angústia. Ele sabia como era isso, pois já sentira esse tipo de coisa antes. Então, respirou fundo e entrou no aposento, que tinha o cheiro de sua dona: jasmim.

Ele se sentou na cadeira ao lado da cama e observou como ela estava pálida. Também tocou de leve em seu rosto, notando a temperatura elevada. A serva que estava cuidando dela deixou seu posto para que o cavaleiro pudesse ficar à vontade, então, ele notou que ainda lutavam com a febre.

Ouviu um resmungo, observando que ela parecia desconfortável, então, para transmitir acolhimento, o cavaleiro levou uma de suas mãos aos cabelos dela, sentindo o quão eram sedosos, embora úmidos pelo suor. Foi quando ela resmungou de novo, abrindo um pouco os olhos e encontrando os dele. Ela sorriu de leve, dizendo baixinho:

— O senhor está aqui!

— Assim que soube, fiquei preocupado, então, vim logo que foi possível.  Quero que lute, está bem?

— Acredite, estou lutando.

— Boa garota. Posso ficar aqui mais um pouco?

— Seria maravilhoso!

— Vou segurar sua mão até que durma. Vamos, feche seus olhos e descanse, embora precise se alimentar.

Aiki assentiu, com um piscar dos olhos violeta, então, sentindo a calejada e forte mão de seu amado, ela relaxou um pouco, abaixando suas pálpebras e procurando descansar. El Cid sentiu um peso enorme ali, mas manteve-se firme, até que ela adormeceu. Então, ele acomodou a mão da jovem com cuidado, depositando um beijo nela, saindo logo depois.

Já era um pouco tarde, então, ao sair do alojamento, vendo que não havia ninguém por perto, El Cid se encostou à parede de fora da construção, fechando os olhos com força e sentindo seu coração se dilacerar. Foi quando o mais impensável aconteceu: o cavaleiro sentiu seu coração doer, como uma dor na alma, como se algo estivesse se rompendo ali, então, ele derramou uma lágrima furtiva, levando a mão ao peito e pensando:

— Então, é assim? Amar é assim? Esse é o sentimento que toma conta de mim e que eu não percebia antes. É como ser totalmente livre e eu sou. Sinto-me tão leve... a não ser por ela, temo por ela, desejo vê-la bem logo.

 

Defteros caminhava pelas ruas, pensando no que faria. Sua Sereia estava doente! E ele estava preocupado, mesmo que fosse algo sem gravidade. Então, imaginou que o dono do restaurante não o deixaria ver sua filha, então, teria que dar um jeito de fazer isso por sua conta.

Então, ele seguiu até o restaurante, observando que, no andar superior, ficava a residência do senhor Inácio. Se ele morava ali, então, poderia ser o caso de ver a jovem pela janela, mas onde seria essa abertura?

Ele elevou o cosmo até identificar o de Calisto, sorrindo ao ver que a janela ficava nos fundos do prédio, o que seria ótimo, já que não desejava chamar atenção. Então, ele observou bem o prédio e com o cosmo dela como guia, abriu uma porta dimensional, já que não havia ninguém por perto.

Calisto estava deitada, mergulhada em cuidados e puro tédio, contando as frações de segundos para ver o tempo passar. A mãe seguia a risca o que o médico orientou, então, nada de sair, deveria tomar caldos e sopas, além de ficar na cama por até mais dois dias, pois o repouso ajudaria o corpo a se recuperar.

Ela já tinha lido, desenhado, escrito em seu diário... A mãe não quis ficar com ela, receosa de cansar a filha, então, não havia com quem conversar. Nem o vestido do casamento de Thaís, de quem seria madrinha, poderia providenciar. Ela estava chateada com tudo aquilo.

Então, enquanto observava a janela, que permitia a entrada de uma brisa fresca e suave, viu quando uma luz estranha se abria diante de seus olhos. Ela pensou em gritar, mas ficou sem ação, então, mais estática ainda ficou quando viu que, de dentro dela, saía um homem, então, ela se preparava para gritar quando viu que era o senhor Defteros, que olhava para os lados, cuidadoso, tentando ver onde estava.

Ele olhou em volta e deu de cara com Calisto, que estava com os olhos arregalados e pálida depois do susto que havia levado. Ele sorriu, contente, pois seguiu o rastro do cosmo corretamente.

— Sereia! Que bom ver você, minha amada.

— Se-se-senhor Def-def-teros! O que faz aqui! Como, como fez isso? Quase me matou de susto!

Ele coçou a nuca, sem jeito, dizendo em sua defesa:

— Eu estava indo vê-la, mas a senhorita Thaís me contou como você estava, então, precisei ver sua situação. Eu trouxe algo para alegrá-la, veja!

Calisto se sentou na cama, movendo-se para os pés da mesma, onde Defteros havia colocado a caixinha marrom. Ao abri-la, viu alguns doces de sabores variados, um mimo delicado, cheio de atenção da parte dele.

Ela sorriu, sentindo-se grata por aquela chegada inusitada, mas triunfal, ela imaginou. Pensou como deveria ser viajar assim, então disse:

— Um dia, vai me levar para ter essa experiência? Digo, passar com o senhor por esse portal? Isso é incrível! Como faz isso?

Defteros riu e explicou:

— Claro que a levarei! Basta a senhorita melhorar. Bem, eu sou o cavaleiro de Gêmeos e essa é uma de minhas técnicas, caminhar por dimensões abrindo um portal. É um pouco complicado de explicar, mas é muito útil numa luta, tanto para escapar quanto para desaparecer com o inimigo.

Ela sorriu abertamente com o que havia escutado. Por sorte, ele falava bem baixinho, certamente, temendo que alguém pudesse ouvir. Ele gostou de ver o interesse dela e disse:

— Senhorita, diga-me, como está?

— Estou bem! Parece que há uma onda de resfriados e gripe, então, o médico veio aqui e disse que meu caso é brando, nada com que se preocupar.

— Ah, que bom saber! Estou bem aliviado!

— Que bom que o senhor está assim! Eu estou entediada com essa situação! Não posso sair daqui e minha mãe me vigia, me fazendo comer e tomar chás o tempo todo. Estou cansada disso! Eu me sinto bem.

— Eu poderia fazer alguma coisa para aliviar isso?

— Hum, quem sabe... Por que não me conta sobre você? Experiências de luta, viagens que fez... Pode ser qualquer coisa! É tão bom não estar sozinha neste quarto!

— Muito bem, não há nada de muito interessante, mas vou contar sobre algumas missões que realizei.

Então, Deferos contou algumas histórias a Calisto, que ouvia, fascinada, o que ele dizia. Quem poderia imaginar, no caso, ela mesma, que aquele homem simples e tranquilo pudesse fazer todas aquelas coisas, assim como derrotar inimigos perigosos. Sabia que ele era forte, mas não imaginava que sua capacidade fosse tão grande assim. Isso a instigou, pois passou a desejar conhecer mais sobre ele.

Após quase uma hora, Calisto ouviu a voz de sua mãe, que, em um tom alto, dizia ao marido para ver como a filha estava. Então, Defteros precisaria sair antes que o pai chegasse ali.

Ele sorriu com o receio dela, uma preocupação que o deixou intrigado, mas que foi divertido. Ele fez um gesto com a mão, como que jogando um beijo para ela e, tal como chegou, saía pelo portal luminoso que se abriu novamente. Três segundos após o portal desaparecer, o pai abria a porta do quarto, estranhando o sorriso enorme que a jovem ostentava. Ele riu e perguntou:

— Filha, filha, por acaso, viu um passarinho verde?

Ela olhou para o pai e disse, faceira:

— Eu vi, papai. Eu vi!

O senhor Inácio riu, achando que era mais uma brincadeira da jovem, indo preparar o remédio que ela deveria tomar.

Já Defteros chegava ao Santuário pelo portal, satisfeito com a rápida, porém extremamente proveitosa visita a Calisto. Travesso, ele já programava uma nova visita para o dia seguinte, para distrair sua Sereia, aquela que ocupava seu coração.

 

 

Rugonis despertou bem cedo, pois depois de tanto tempo, teria um treino com Albafica, que já preparava um chá e dispunha frutas picadas em dois pratos, desjejum leve e perfeito para as atividades que praticariam naquela manhã. Ambos se sentaram para a refeição, enquanto Albafica observava seu mestre degustar a comida.

— O que está olhando, filho?

Albafica riu.

— Estava apenas pensando como isso é maravilhoso. Quero dizer, ter o senhor aqui mais uma vez, depois de tudo...

— E eu penso o quanto é maravilhoso ver quem você se tornou depois de tudo. Não imagina o quanto meu orgulho aumenta, dia após dia. Desde que te encontrei naquela madrugada, sempre pensei como seria se você viesse a me suceder. E, olhe só, você está aqui.

— Eu fico feliz com seu orgulho, mestre, mas não deve imaginar o quanto eu me culpei pelo que aconteceu com o senhor, por tudo aquilo, o senhor sabe...

— Está falando do Elo carmesim, não é? — Rugonis retrucou com um ar pesaroso.

— Sim, mestre. Eu compreendo seu pensamento daquela época, mas não achei algo justo. Nem comigo, nem com o senhor. Desculpe-me, mas essa é minha opinião.

Rugonis abaixou o rosto, mirando a mesa, enquanto refletia sobre a fala de seu sucessor, então, respondeu:

— Você tem toda razão.

— O que está me dizendo, mestre?

— Você tem toda razão, aquilo não foi justo para nenhum de nós, mas, você venceu um dos juízes de Hades, não é mesmo?

— Sim, mas...

— E isso ajudou a vencermos a guerra, não é?

— Creio que sim, eu pereci naquela batalha.

— Então, nossas vidas não foram em vão, filho. Nem a minha, nem a sua, então, por favor, não vamos torturar nossas mentes com isso, está bem?

O cavaleiro de Peixes suspirou e sorriu, afinal, seu mestre era essa pessoa, aquela que doa a si mesmo e está muito bem com isso. Talvez, fosse mesmo o momento de pensar como ele, afinal, tudo havia passado, ele estava ali outra vez e o casamento do rapaz estava próximo. Deveria sentir-se grato, afinal.

Por falar em sentir-se grato, acabou dizendo a Rugonis:

— Eu estava pensando aqui que o senhor nunca me falou muito bem sobre a ocasião em que me encontrou.

Rugonis sorriu, respondendo:

— Ah, filho, aquele momento teve duas representações! A primeira, foi a visão daquela mulher caída, vitimada pelas rosas venenosas, depois, a de encontrar você, chorando, tão lindo enrolado naquela manta azul. Aliás, pobre mulher, tão bela, mas, ironicamente, seu vestido vermelho foi sua mortalha em meio ao rubro das rosas do jardim, foi triste que a mãe perecesse enquanto seu bebê resistisse àquela situação.

Albafica ficou quieto, pois seu mestre se emocionou com aquelas palavras. Mas, de repente, aquela referência trouxe-lhe à mente o relato de dona Agnes. Havia uma referência a uma roupa vermelha, mas estava tão emocionado que acabou se perdendo em meio ao relato dela.

                 — Eu tomei você em meus braços, bem enrolado na manta, pois tive medo que meu toque pudesse feri-lo, mas, algum tempo depois, vi que era desnecessário, já que você havia sobrevivido a algo muito mais perigoso, que era aquele jardim. Então, após te acomodar com segurança sobre a minha cama, já que havia dormido, fui tomar providências em relação à mulher. Eu a enrolei na capa preta que estava caída bem ao lado dela, aproveitando o capuz para ajeitar a cabeça, escondendo os cabelos cacheados e a coloquei em uma sepultura. Reportamos o ocorrido no dia seguinte, mas ninguém apareceu para procurá-la. Eu não entendi o que possa ter acontecido, afinal, não havia bolsa ou mala com roupas de bebê ou dela.

                 Rugonis respirou fundo e, balançando a cabeça negativamente, procurou afugentar aqueles pensamentos de sua mente. Ele falou, mais para si mesmo:

— Muito bem, chega de lembranças tristes, meu filho, presente dos deuses! Vamos treinar! Estou enferrujado e preciso de um oponente à altura para voltar à forma.

Ao ouvir as palavras de seu mestre, Albafica voltou sua atenção a ele outra vez, sorrindo e completando:

— Ah, sei que o senhor Ilias é seu contemporâneo! Poderia, perfeitamente, treinar com ele, afinal, seu toque ou proximidade não representam mais perigo algum.

— Hum, treinar com ele não seria má ideia, porém, prefiro matar as saudades de fazer isso com você, meu filho. Ande, vamos logo!

Albafica se levantou e seguiu seu mestre até a área de treinos que utilizavam.

O treino mais foi uma brincadeira, um retorno aos velhos tempos, que só não se perderam nas memórias daqueles dois. Era diferente lançar as rosas e, quando se esbarrassem, numa defesa ou contra-ataque, haver segurança para ambos. Parece que Athena estava lançando uma nova perspectiva para os futuros cavaleiros de Peixes.

Rugonis foi atingido duas vezes, tirando risadas de Albafica, que estava tranquilo por conta da imunidade ao veneno. O mestre não gostou de ser atingido, dando tudo de si nas investidas seguintes, obrigando o jovem cavaleiro a se esforçar para não ser atingido também.

Assim foram até o horário do almoço, quando resolveram retornar, já famintos após tanto esforço. Albafica disse ao mestre, enquanto caminhavam:

— O senhor não está tão enferrujado assim. Sua memória muscular está boa, assim como sua mira impecável.

— Ah, estou cansado. Treinar assim faz tempo que não consigo, apenas fazia o básico, exercitando corpo e mente. Quero melhorar minha condição física para acompanhá-lo melhor.

— Precisamos marcar um encontro formal entre o senhor, eu e minha noiva. Eu dei um prazo apertado a ela, que está aflita para conseguir cumprir. Acho que não agi muito bem nisso, mas eu estava tão ansioso para ficar com ela de uma vez por todas que soltei aquele prazo. Acho que vou reconsiderar e ver o que ela acha melhor, afinal, ela é a noiva!

— Acho que você está certo, filho. Esses assuntos são dominados pelas mulheres, que costumam fazer um excelente trabalho! Mas, em relação a nos encontrarmos, basta dizer quando e onde! Ela é uma mocinha adorável e muito bela, filho. Veja só! Serei sogro! Eu vivi para isso!

Ambos riram, então Albafica disse:

— Muito bem, pai, vou conversar com ela e ver o que será feito, então, vou avisá-lo. Bem, não vamos demorar, tenho que vê-la daqui a pouco!

Assim, mestre e discípulo seguiram para a refeição, felizes por um momento como o que tiveram.

 

Após comer e se arrumar adequadamente, Albafica seguiu para Rodório, onde iria se encontrar com Thaís, pois havia alguns dias que não se viam. Quando ele chegou à loja, o local estava com alguns clientes, que eram atendidos por Thaís.

Albafica sorriu, achou bonito o jeito que ela se desdobrava com os produtos de cada um enquanto o olhava de relance. Ele se encostou ao lado da porta, para não atrapalhar, enquanto, um a um, os fregueses deixavam o local com suas compras. Após a saída do último, A ceramista fechou a porta, suspirando após a agitação repentina.

Ela ia dizer algo quando se sentiu arrebatada por um braço impetuoso, logo estando de frente para seu amado, que a olhava sério. Ela primeiro se assustou, mas, ao se ver segura, logo sorriu, mas, ao ver os olhos sobre si, concentrou-se neles, como se fossem um mundo a desvendar.

Assim, ela não percebeu que estava acima do chão, presa pelos braços de seu amado, foi quando, ao notar isso, ela já ia dizer algo, quando foi silenciada com um beijo cheio de amor e de saudade, ao qual retribuiu com o mesmo sentimento.

Ela sabia que, em pouco tempo, eles usufruiriam de uma proximidade maior, mas, estar assim com ele fazia o mundo parar, como se apenas eles existissem. Ficaram assim por um tempo, quando ele murmurou:

— Se eu disser que a amo demais, você acreditará, não é?

— Se disser, em resposta, que também o amo tanto, ficaremos empatados e tudo se resolve!

— Eu gosto do jeito que você pensa, meu amor. Estamos bem conectados, não é?

— Você sabe que não estou no chão, certo?

— Você é como uma flor, super leve. Eu queria te girar, mas vamos quebrar tudo, não acho bom.

— Pura verdade. Bem, o que vamos fazer?

— Quero conversar sobre o casamento.

— Sim. O que quer falar?

— Estou preocupado com esse prazo que lhe dei. Analisando tudo, parece meio insano, tanta coisa em tão pouco tempo...

— Acho que não deveria se preocupar com isso. Eu e a senhora Agnes já estamos com tudo arranjado. Não vamos fazer algo grandioso, e eu nem me sentiria à vontade. Teremos algo lindo, com a simplicidade que a elegância pode fornecer. Não teremos muitos convidados, então, será algo mais intimista, o que eu acho ótimo.

Albafica beijou a noiva novamente, num abraço forte, carregado de carinho. Ele sentiu um grande alívio, pois temia estar pressionando a amada em relação a um capricho que não era tão importante assim. Porém, ver que tudo estava dando certo encheu seu coração de alegria. Afinal, parecia que, finalmente, ele e Thaís poderiam viver o amor que nunca puderam. Isso era maravilhoso.

— Você tem muito trabalho para fazer? Posso ajudá-la, se quiser.

— Não, está tudo em ordem. As encomendas da semana foram todas entregues e eu já ia fechar a loja. A Calisto está doente e não poderá fazer as artes que adornam algumas peças.

— Então, o que acha de sairmos, dar uma volta na praia.

— Oh, seria ótimo! Deixe-me pegar algumas coisas e...

— Eu trouxe uma pequena cesta com frutas e bolo. Há uma garrafa com água fresca. Só precisamos de uma manta.

— Preciso de dez minutos!

Depois de vinte minutos o casal de noivos saía, sorridentes como os apaixonados, a caminho da orla, onde a bela faixa da praia de Rodório daria um momento a sós merecido ao casal.

No caminho, encontraram com Defteros, que perguntou a Thaís:

— Boa tarde, senhorita! A jovem Calisto está em sua loja?

— Ela está doente, senhor Defteros. Pegou um resfriado e está de cama. Não é nada grave, mas o médico recomendou repouso.

Defteros ficou um pouco surpreso, pois ansiava por ver a morena. Mas agradeceu e, após cumprimentar Albafica, seguiu adiante.

Após caminharem um pouco, Thaís apontou um lugar de que havia gostado, então, seguiram para se acomodar ali. Forraram a manta e puseram sobre ela a cesta com as frutas, que passaram a degustar.

Albafica começou a contar à noiva sobre o treino que tivera com seu mestre:

— Sabe, meu amor, hoje foi um dia muito especial. Após tantos anos, treinei novamente com meu mestre. Foi incrível, embora ele esteja um pouco fora de forma.

Thaís sorriu, ela sabia o quanto aquilo significava para seu amado e o quanto a experiência foi boa. Vendo que o cavaleiro contava com alegria, ela acariciou o rosto dele, num gesto de carinho que dizia mais do que muitas palavras. Ele segurou a mão dela, beijando-a e pressionando-a contra seu rosto, numa tentativa de intensificar aquela carícia. Então, ele comentou:

— Falávamos do tempo que passou e ele me disse que se lembrava perfeitamente do dia em que me encontrou. Mas, eu não me lembrava muito bem de alguns detalhes, porque ele não contava muito sobre isso. Então, hoje ele me disse que a mulher que estava comigo, que deveria ser minha mãe, padeceu no jardim de rosas e se misturava a elas por conta de seu vestido vermelho.

— A mulher usava um vestido vermelho?

— Sim, por quê?

— Isso lembra muito o que dona Agnes contou. Ele disse algo mais?

Albafica pensou um pouco...

— Disse que a enrolou numa capa preta e que ela tinha cabelos cacheados. Por quê?

Thaís colocou a ponta do indicador no queixo, pensando sobre aquilo tudo.

— Eu penso que o mundo pode ser tão pequeno que chega a ser minúsculo. Você não percebeu nada em comum entre a fala dele e a de dona Agnes? As coisas batem, então, será que não possuem relação alguma?

— Thaís, você quer dizer que... eu... posso...

— Amor, eu não quis dizer nada ainda. Apenas estou juntando fatos em busca de uma explicação. Se cada um deles soubesse a data exata de quando isso aconteceu ou algum detalhe a mais...

— Acha que pode haver alguma relação entre mim e a história da dona Agnes? Não acha que seria precipitado pensar nisso? Eu mesmo tenho receio de criar qualquer expectativa.

Thaís olhou para ele com olhos compreensivos e respondeu:

— Muito bem. Vamos deixar isso de lado por enquanto, mas minha intuição não costuma falhar. Na hora certa conseguirei mais informações. Se eu pudesse falar com o senhor Rugonis...

Albafica se lembrou do que o mestre havia pedido e disse:

— Você terá essa oportunidade! Ele quer vê-la, para conhecer um pouco mais a nora. Poderá perguntar a ele o que quiser.

Thaís gostou muito do que ouviu, pois algo naqueles cálculos batia muito bem com a história de dona Agnes. Poderia ser apenas imaginação da ceramista, mas ela ainda queria tirar aquilo a limpo. Perguntaria sem qualquer coisa que pudesse fazer o senhor Rugonis desconfiar de suas intenções. Isso estava suspeito e ela queria resolver.

 

 

El Cid voltava para sua casa, porém, remoía, durante o caminho, a dor que sentiu ao vê-la daquele jeito. Então, percebeu que não conseguiria dormir, pensando no que poderia fazer. Teve a ideia de ir buscar Steven, mas, se o grande mestre já havia enviado uma mensagem, o rapaz estaria ali no dia seguinte, então, não havia muito o que pudesse fazer.

Quando passava por Aquário, viu Degel, que saía paramentado com sua armadura, provavelmente indo para a ronda noturna. Ao se aproximar, viu que ele se despedia da esposa, então, uma ideia lhe passou pela mente, faltando apenas Degel aceitar.

— Aquário, está saindo para a ronda?

Degel o olhou e meneou a cabeça, confirmando.

Então, El Cid propôs:

— Permitiria que eu fosse em seu lugar? Não proponho uma permuta, apenas gostaria de ir em seu lugar, por favor.

Degel olhou para El Cid e, após alguns instantes, concordou, desejando boa sorte ao irmão de armas. El Cid agradeceu, sendo informado, em seguida, que seguiria com Manigold. O Capricórnio suspirou, mas era melhor encarar o canceriano do que passar uma noite insone, relembrando o estado de Aiki a todo instante. Não que isso não fosse acontecer durante a ronda, mas, pelo menos, poderia se distrair um pouco, principalmente se o companheiro fosse Câncer.

            Chegando à quarta casa, após envergar sua armadura, El Cid encontrou Manigold, que o cumprimentou no estilo costumeiro:

— Ora, ora! Meu amigão! Parceiro contra as injustiças! Quer passar?

Cid suspirou, levando a mão até a têmpora esquerda e massageando-a, enquanto respondia:

— Boa noite, Manigold. Estou substituindo Degel na ronda. Já está pronto?

— Eu já nasci pronto, amigo! Aconteceu alguma coisa?

— Não se preocupe, será assim por hoje.

Até Manigold, que desdenhava do que fosse, quando quisesse, notou algo diferente no companheiro, que pesquisaria durante o trabalho da noite. Então, aquiesceu ante aquela resposta e seguiram pelo trajeto costumeiro.

Eles caminharam por entre o Santuário, saíram pelo caminho que levava a Rodório, percorrendo cada canto do vilarejo. Em meio a todo esse trajeto, Câncer notava o amigo, pois havia algo diferente em El Cid, então, após pensar muito, lembrou-se da conversa entre duas servas que ouvira, enquanto subia as escadarias. Elas falavam algo sobre a chefe estar muito mal ou algo parecido. Essa era senhorita Aiki, evidentemente. Foi então que o canceriano teve um insight sobre tudo aquilo. “Não!”, ele pensava. Então, será que...

Foi quando o canceriano testou sua suposição:

— Está sabendo que uma das servas está doente? Parece que é a chefe delas...

— O que tem isso?

— Está preocupado?

Cid parou e olhou para Manigold, que estancou também.

— Por que está me perguntando isso?

— Eu sei que falo demais, às vezes, mas percebo as coisas muito além do que se imagina. Não deveriam subestimar minha percepção, mas, fique tranquilo, amigo, seu segredo está seguro comigo.

El Cid bufou, procurando manter a calma, e seguiu caminho, deixando o outro cavaleiro para trás. Manigold logo o alcançou e respondeu:

— Opa, opa! Não precisamos dessa agressividade! Mas saiba que ela é uma moça fantástica e estou torcendo para que fique bem logo, entendeu?

El Cid o olhou de lado, ainda desconfiado, mas lembrou-se do episódio do namorado de Marion. Mesmo que ele parecesse inconveniente, agiu muito bem naquela ocasião, como também tiveram uma boa conexão. Então, suspirou e respondeu:

— Obrigado, Manigold.

— Imagine, amigo. É de coração! Aliás, vai me convidar para o casamento, não é?

— Cale a boca.

— Hum, vejo que está melhor! Muito bem, vamos continuar essa ronda!

El Cid deu um meio sorriso, aproveitando que Câncer estava uns três passos atrás de si. Entretanto, no caso dele, continuaria ouvindo sua mente.

 

No dia seguinte,Cid viu Steven chegando com Sísifo, iniciando o caminho para o alojamento. Ele sentiu-se esperançoso, buscando concentrar-se no treino de Jason, ou não conseguiria fazer nada.

No alojamento, Steven examinou a jovem. Já era o terceiro dia e os sintomas não davam trégua, a menos pela noite anterior, em que Aiki conseguiu dormir após a visita do senhor El Cid. O médico ficou preocupado, mas prescreveu a forma como deveriam tratá-la a partir dali, deixando um preparado com ervas que deveria fazer efeito ao longo do dia. A pneumonia era preocupante, mas faria o que pudesse para ajudar aquela senhorita.

Recomendou que fizessem sopas, na verdade, caldos suaves, mas nutritivos, para que o corpo pudesse se revitalizar e resistir à doença. Falou com o avô logo após o longo tempo que dedicou examinando a moça. Fez questão de frisar que estava preocupado, pois o quadro era sério. Disse que estaria à disposição, a qualquer momento, era só chamá-lo.

Sage agradeceu muito a ajuda do neto, orgulhoso pela oportunidade de vivenciar aquele momento. Esperava que Aiki pudesse melhorar, pois estava realmente preocupado com ela. Restava aguardar e reforçar os cuidados.

Quando Steven ia embora, viu o cavaleiro de Capricórnio e, após ser orientado por Sísifo, foi até ele para dar notícias de Aiki. O semblante de El Cid pesou mais uma vez, com sua preocupação sendo aumentada. Steven lamentou aquela situação, recebendo o agradecimento do capricorniano.

À noite, o cavaleiro foi visitar a jovem novamente. Ao entrar, percebeu que a janela estava entreaberta, de modo a garantir a ventilação. Era um cômodo simples, mas a presença dela em cada parte era tão marcante quanto a presença da própria jovem. Era tão feminino que El Cid sentia-se intimidado, mas, ao mesmo tempo, encantado com tudo. Imaginava o que ela acabaria fazendo na casa de Capricórnio se lhe dessem liberdade...

Ele sentou-se ao lado dela, como na noite anterior. Ela parecia do mesmo jeito, embora estivesse dormindo. Ele voltou a pegar a mão dela, acariciando-a, discretamente, com o polegar. Sentiu o calor que vinha dali, enquanto via a serva que estava cuidando dela naquela noite sair para pegar água fresca. Os remédios estavam sendo ministrados, então, só restava esperar e torcer para que ela melhorasse.

 

No dia seguinte, o quarto desde o início da enfermidade, o médico retornou, mas o quadro não regredira, preocupando-o mais. Foi informado de que a moça não conseguiu se alimentar, então, por mais que o remédio fosse forte e com boas chances de fazer efeito, se o corpo não respondesse com energia, nada adiantaria.

A preocupação de El Cid aumentou, como a de todos ali. Ele foi vê-la de novo, experimentando uma ansiedade poucas vezes sentida. Não aguentava mais ver aqueles olhos fechados, sentindo falta da tonalidade violeta que o olhava com carinho.

No dia seguinte, o quinto, Steven mal a olhou e pediu para ir ao seu avô. Então, lá chegando, ele disse:

— Vovô, eu temo muito pelo que poderá acontecer em dois ou três dias. Ela está indo, aos poucos. Compreende?

Sage se entristeceu, mas mantinha fé que a jovem poderia se fortalecer.

Ao saber sobre o estado da amada, Cid se irritou. Como assim nada surtia efeito? Algo precisava ser feito, pois, agora que sabia sobre seu sentimento, certo de era mesmo amor, não poderia considerar perder Aiki para uma febre. Não admitia perdê-la e foi tomar alguma atitude, embora não soubesse bem o que fazer.

Enquanto descia as escadas, algo inusitado veio-lhe à mente, mas ele não sabia como poderia fazer isso, ou se seria permitido. Entretanto, estava decidido a tentar o que fosse, mesmo que tivesse que tomar atitudes drásticas.

Resolver descer até a arena mas, ao passar pela sexta casa, lembrou-se das habilidades de Asmita, então, resolveu entrar e falar com ele, que, certamente teria uma solução.

Com a devida permissão para entrar, El Cid encontrou o cavaleiro de Virgem meditando sobre a flor de lótus, como era costume. Ao ver o companheiro diante de si, Asmita abriu os olhos, mirando El Cid.

— Então, irmão, o que deseja?

— Quero fazer uma pergunta.

— Sou todo ouvidos!

Após algum tempo de conversa, tendo Asmita ouvido pacientemente as curtas frases do Capricórnio, respondeu:

— O que você quer fazer? Não consigo acreditar nisso! Não sabe o quanto será perigoso?

— É a única alternativa que vislumbro!  É melhor pensar em como fazer isso, pois, caso contrário, vou procurar outra pessoa. Sabe como sou.

— Você não fica exausto?

— Fico. Mas sou assim.

— Está bem, então. Eu acho que sei como poderá dar certo, afinal, é um caso bem específico, mas, dadas as circunstâncias, acho que vale tentar.

— Excelente!

— Quando pretende fazer isso?

— Agora mesmo. Só vamos resolver outro detalhe.

— Eu não tenho alternativa, não é? Vamos!

 

No décimo terceiro templo, ouvia-se, em alto som:

— O que? O que pretendem fazer? Têm noção do que me pedem? Sabem que a possibilidade de dar errado é enorme? Não estamos falando de um cavaleiro! Sabem disso!

— Senhor, por favor, permita!

— Você anda estranho, El Cid! Deve ter sido picado por um bichinho que eu conheço. Asmita, o que me diz?

Então, com a calma quase inabalável de sempre, Virgem respondeu:

— Senhor, já temos o não, provindo das condições atuais. O prognóstico é péssimo, então, acredito que fará a diferença. Creio que não fará mal tentar, afinal, em pouco tempo ela pode entrar em coma...

Assim, vencido pelos argumentos apresentados, Sage não teve muita escolha:

— Muito bem, então. Eu autorizo! Mas sejam cuidadosos! Aliás, eu vou com vocês, pois supervisionarei isso pessoalmente!

El Cid estava satisfeito, pois havia uma chance. Não se perdoaria se perdesse Aiki agora que a encontrara em seu coração. Queria a chance de dizer isso a ela, então, não importava o que tivesse que fazer.

Saíram do décimo terceiro templo, os três, e foram até o alojamento. As pessoas que estavam ali se assustaram quando viram o cavaleiro de Virgem, El Cid e o grande mestre, pois não era algo que pudessem imaginar.

Algumas pessoas estavam com os olhos marejados, pois a febre havia se elevado mais um pouco, fora que os sinais de Aiki estavam cada vez mais fracos. Pediram que liberassem o aposento onde ela estava, ficando apenas os três visitantes.

Asmita, com sua tranquilidade quase imperturbável, orientou Capricórnio:

— Eu vou colocá-la no meu colo, segurando-a com meu braço esquerdo. Você pode se sentar mais para os pés da cama, onde tomará minha mão direita.

Assim El Cid procedeu, sob os olhos atentos do grande mestre.

— Muito bem, El Cid, está pronto? Ao meu sinal! Como orientei a você!

El Cid elevou seu cosmo, não coma força exigida para um inimigo, mas concentrando-o em sua mão para usá-lo numa doação, apenas transferindo um pouco de si mesmo para Aiki, a fim de fortificar seu corpo tão debilitado. Asmita também elevou o cosmo, mas de forma cálida e suave, servindo de filtro para que a intensa energia de El Cid fosse suavizada para ajudar Aiki, e não feri-la.

A operação durou alguns segundos, até que Asmita declarou:

— Muito bem, basta!

O grande mestre estava atônito, pois não imaginava que a louca ideia de El Cid, apoiada  por Asmita, pudesse ser segura quando utilizada com uma humana comum, que não tivesse preparo do cosmo e do corpo. A ideia foi genial e era possível ver o semblante de Aiki melhorando, assim como sua palidez fosse desaparecendo.

El Cid sentiu-se cansado, afinal, toda a concentração que precisou empregar naquela ação lhe exigiu muito, fora que a quantidade de cosmo não foi tão pouca como pareceu, mas estava satisfeito e ansioso, enquanto Asmita sorria, colocando a jovem novamente em seu leito. Então, levantou-se, ficando ao lado do grande mestre, enquanto Cid aguardava, sentado na cadeira ao lado da cama.

 Então, Aiki suspirou profundamente, abrindo os olhos, encontrando os de El Cid a encará-la. Ela sorriu, enquanto ele apenas conseguia dizer, pegando a mão dela:

— Saiba que a amo. Eu a amo!

 

 


Notas Finais


Bem, agora que todos já leram, rsrs, posso explicar que um personagem usa seu cosmo para auxiliar a cura de outro, mas ambos são dourados. A preocupação do grande mestre em minha história se dá por Aiki não ter condição física para esse tipo de ação, então, poderia ser perigoso, ainda mais por sua saúde estar debilitada daquele jeito.
Obrigada, meninas, @Katrinnae e @Daconnasti


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