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História INSTANT SHOCK - BakuDeku - Um céu sem estrelas


Escrita por: BAKUBRO

Capítulo 16 - Um céu sem estrelas


"Depois das primeiras vinte e quatro horas", o detetive responsável pelo caso explicou "as chances de a vítima estarem vivas diminuem quase até a metade. Cada minuto, hora e dia depois disso as chances se vão, até que nós estamos procurando apenas por um corpo para consolar o velório. Não há mais vida no esquecimento."

Izuku se lembrava dessas palavras. Eram amargas. Difíceis de aceitar. Machucaram seu coração. Enquanto ele assistia Angie tentar animar Cake para brincar, perguntava-se o que poderia ter acontecido.

Um mês inteiro havia se passado desde o desaparecimento misterioso e cruel de Zaraya. Como um toque de mágica: nas gravações das câmeras ela aparecia durante a madrugada. Descia as escadas e ia até a sala, ligava a televisão. Era possível ver o brilho da TV pelas gravações, mesmo que elas filmassem apenas o corredor principal. Vinte minutos se passavam e então Zaraya aparecia no corredor novamente. As luzes automáticas se ascendiam e ela atravessava o corredor até a cozinha.

Um, dois, três, quatro, cinco. Cinco segundos e, mesmo com o corredor deserto, as luzes ligavam novamente.

E Zaraya nunca voltava de lá.

Katsuki assistiu as nove horas e vinte e um minutos da gravação seis vezes nos primeiros dias. Ele repetia, acelerava a gravação, voltava algum detalhe, aplicava um zoom na tela, mas o resultado era sempre o mesmo: Zaraya não voltava.

Ela nunca saiu da cozinha.

Aquilo, é claro, levou todos a entender que, o que quer que tenha acontecido, aconteceu ali dentro. Havia alguém esperando por ela ali? Talvez um poder de teleporte. Se fosse essa a alternativa eles jamais teriam como saber.

A única pista era o colar com a pedra rosada que Izuku encontrou no chão, no dia seguinte.

Dia apos dia, durante todo o mês que se foi, Izuku encarou a pedra cor de rosa entre seus dedos enquanto se perguntava onde estava sua filha. Ela não podia abandona-lo daquela forma. Ninguém podia desaparecer e nunca mais ser encontrado, podia?

Após tantos dias, Izuku achava que sim.

// Katsuki //

O grito apavorado me acordou; sobressaltado, virei-me no sofá e subi as escadas até o quarto. Izu ainda estava dormindo, gritando enquanto batia os pés, preso em algum sonho ruim demais para acordar.

- Ei, ei - eu o chamei e segurei seus braços, afim de evitar que ele os batesse na cama como no outro dia. - Izu.

Os olhos verdes se arregalaram. Izuku se sentou com tudo na cama, ofegando, o suor escorrendo pelo rosto e grudando o cabelo na nuca. Ele olhou ao redor durante alguns instantes e pareceu se dar conta de onde estava. As lágrimas silenciosas deixaram seus olhos logo em seguida e eu suspirei, abraçando-o.

- Está tudo bem - eu o tranquilizei. - Tudo bem, amor. Eu estou aqui com você.

Izuku concordou e soluçou contra meu peito, as mãos segurando minha camisa enquanto ele chorava cada vez mais alto. Afastei seu cabelo do rosto e o beijei uma vez, apertando-o um pouco mais contra mim.

Eu me sentia um herói inútil sem poder salva-lo daquele medo. Sem poder resgatar Zaraya, onde quer que ela estivesse.

- Kacchan.

Distrai-me de meus pensamentos e afastei os braços para poder escuta-lo.

- Sim?

- Você... Você quer se separar de mim?

Eu o encarei.

Contei doze segundos antes de finalmente entender a pergunta.

- Me separar? De você? 

Ele concordou. Seu rosto todo estava vermelho e o cabelo uma bagunça. Estava longe do brilho e a maciez que sempre foi. Sob seus olhos as olheiras eram tão roxas que pareciam machucados. Izuku estava tão magro que eu poderia segura-lo com um só braço.

Ela estava desmoronando.

- E por que eu me separaria de você? - perguntei tentando manter a voz calma.

Izuku olhou para as próprias mãos e tocou a aliança ali.

- Eu não... Eu... Não sei se estou sendo exatamente uma boa companhia agora, ou um bom pai para a Kai  e...

- Isso é horrível de se pensar - eu o repreendi e segurei suas mãos. Meu coração estava partido em milhões de pedaços que latejavam e sangravam e escorriam como as lagrimas dele. - Eu nunca te abandonaria. Você é o melhor marido e o melhor pai do mundo todo. Você está sofrendo. Nós estamos. Mas isso não muda nada.

Izuku ergueu os olhos para mim e sua boca tremeu; eu pensei que ele iria chorar mais, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele me deu um pequeno sorriso. Eu não pude evitar de sorrir também. 

- Você quer descer? Vamos dar uma volta... Tomar um pouco de ar fresco - eu ofereci e ele concordou devagar. Agradeci mentalmente por ele finalmente ter dito "sim" para aquilo. - Kai está dormindo com sua mãe agora, então ela vai ficar bem. 

Izuku concordou em silêncio, acompanhando-me para o banheiro. Ele se virou e procurou uma blusa diferente da que estava vestindo. Era preta e simples. Enquanto ele trocava de roupa, eu o acompanhava com os olhos; Izuku sempre foi magro, mas, normalmente ele teria o quadril mais cheio e uma barriga bonitinha que costumava chamar de "meus lanches errados". Mas nada daquilo estava ali. Ao contrario, os ossos de suas costelas apareciam sem esforço contra sua pele pálida. Até as sardas de seus ombros pareciam pálidas. 

- Ei - eu o chamei de repente. Izuku se virou e me encarou curioso. - Eu comprei uma coisa para você. 

Curioso, ele me encarou enquanto eu abria a gaveta da cômoda do banheiro e tirava de lá um daqueles óleos de massagem que ele adorava. Quando percebeu do que se travata, Izu sorriu de novo:

- Quando foi que você comprou isso? 

- Já tem tempo - eu murmurei. - Sente aqui.

Izuku se sentou no vaso, de costas para mim. De repente, eu tinha medo de toca-lo. Ele parecia tão... Frágil. Como se pudesse quebrar se eu o apertasse com muita força. Espalhei algumas gotas pelas minhas mãos e as movi cuidadosamente por seus ombros. 

- Esse cheiro é bom - ele murmurou baixinho. 

- São flores da montanha - eu disse em voz baixa, me concentrando em seu pescoço. A corrente fina que tinha a pedra cor-de-rosa estava ali. Ela estava sempre ali. Me abaixei em direção a ele e deixei alguns beijos em seu pescoço, até sua bochecha. Izuku riu baixinho. 

- Eu gosto desse som - eu disse com um pouco mais de animação do que tive em semanas. - Eu quero ver você sorrir de novo. 

.

Passava de onze da noite quando nós saímos de casa para andar um pouco. 

Eu gostava de andar na praia durante a noite e sentia falta daquilo; eu podia imaginar como o som constante das ondas quebrando, uma depois da outra, ajudaria a substituir uma conversa naquele momento. 

Uma das mãos de Izuku segurava a minha e nós estávamos descalços sobre a grama do jardim. 

- Essas árvores me assustam - Izu disse baixinho, depois de alguns minutos. - Parecem monstros no escuro. 

Eu encarei as árvores. Não era difícil de entender o que ele queria dizer; não havia casas próximas o suficiente para acabar com aquela sensação. As luzes dos postes estavam longe, perto da pista vazia.

- É meio estranho - eu concordei. - Eu me pergunto quando foi que vir morar aqui pareceu uma boa ideia. Quer dizer, sério? Uma casa imensa no meio do nada...

Izuku quase riu. 

- Você que deu a ideia - ele resmungou. - "Precisamos de uma casa grande e com um jardim, amor" - ele me imitou de forma ruim. - "E sem muitos vizinhos por perto".

Nós paramos no meio do jardim e Izuku se sentou na grama, batendo no espaço ao lado para que eu me sentasse também. 

- Você ainda quer morar aqui? - eu perguntei assim que me sentei. Izu encarava o céu escuro em silêncio. 

- Eu... Não sei. Não sei se eu conseguiria ir para outro lugar - ele disse num sussurro. - Acho que ainda estou... Esperando ela voltar. 

Eu permaneci em silêncio. Novamente, eu podia entender com perfeição o que ele queria dizer. Sim, eu também esperava aquilo. Todos os dias ia até a sala dos investigadores da agência que estavam responsáveis pelo caso e perguntava-lhes sobre novidades; por isso, eu não tinha coragem de dizer que ela não iria voltar. 

"Cara" Gasp, um dos investigadores disse, certa vez. "Eu odeio ser aquele que diz isso, mas o caso da sua filha não tem provas. Não tem suspeitos. Não tem explicação, Zero" 

E aquilo era... Difícil. Bremon estava ao meu lado quando Gasp disse aquilo e eu pude escutar um soluço dele, em algum momento. 

"É um caso que vai ser arquivado em breve... Um arquivo morto".

Um arquivo morto. Exatamente como minha filha deveria estar naquele momento. 

- Nós podemos nos mudar se você quiser - eu disse com a voz rouca. - Não acho que... Ficar aqui possa nos ajudar a superar isso. 

Izu ficou em silêncio durante um longo tempo, até que, de repente, ele ergueu as sobrancelhas e me encarou:

- Você se lembra de quando nos casamos - ele disse devagar. - Na nossa lua de mel... Quando estávamos no cruzeiro... Pouco antes de você ver verde.

- Uhum...

- Havia duas moças conversando num elevador - ele disse e eu ergui uma sobrancelha. - Uma delas disse algo sobre alguém que vendeu a casa depois de alguma coisa acontecer.

- Como assim? 

- Elas estavam conversando - ele insistiu. - Falando sobre alguém. E a outra moça continuou dizendo que "eles" estavam tentando superar. 

Eu o encarei surpreso por ele ainda lembrar de um detalhe como aquele após anos. 

- Mas por que você está pensando nisso agora? 

- Eu... A forma como você falou me lembrou disso - ele disse e balançou uma das mãos. - Você acha... Acha que seria melhor nos mudarmos? Ir embora daqui? 

Foi minha vez de desviar o olhar. 

- Eu não vou dizer que prefiro... Porque se você preferir ficar aqui, nós podemos ficar. 

Izu se aproximou de mim e deitou a cabeça no meu ombro. Em seguida ele me abraçou e me apertou contra si. 

- Você também está sofrendo - ele disse. - Mas você não diz. E eu sei que você não suporta mais ficar aqui. 

Respirei fundo; eu não queria chorar naquele momento. 

- Eu posso aguentar qualquer coisa por você - eu disse, prendendo o choro. 

- Mas não precisa - ele disse e ergueu o rosto. - Nós podemos ir embora. Pode ser melhor e... Nós... Quem sabe nós podemos continuar as buscas sem estar aqui.

- Nós podemos - eu prometi. 

- Você quer voltar para o seu apartamento? 

- Nosso apartamento - eu disse, sentindo minhas lágrimas escorrendo.

Izu concordou com a cabeça e limpou meu rosto com cuidado. 

- Nós podemos ir pra casa - ele me prometeu. - E vamos continuar procurando pela Z, até podermos traze-la para casa com a gente. 

Eu concordei, começando a chorar contra o cabelo dele. 

E aquilo doía. Nenhuma surra havia me deixado tão machucado como aquilo; eu sentia falta de tudo sobre Zaraya, e estar naquele lugar piorava aquela sensação. O constante sentimento de me lembrar que ela havia passeado por aqueles corredores e agora não havia mais nada.

O silêncio absoluto nos engolia dentro daquela escuridão e eu não conseguia dizer palavras o suficiente para preenche-lo. 

- Nós vamos ficar bem - eu disse, soluçando. - Vamos ficar bem. 

//

// Izuku //

Cake me seguiu pela sala, escada acima, enquanto eu carregava uma caixa com alguns enfeites; eu não gostava de me mudar, mas presumia que a mudança daquela vez talvez fosse boa. 

Kacchan chegaria em breve. Ele precisou ir até a agência por um chamado especifico, onde precisariam de uma individualidade como a dele, provavelmente um resgate. 

- Aqui, bebê - chamei Cake quando entrei no quarto. Ela continuou parada no meio do corredor, encarando na direção do quarto de Zaraya. 

- Ela não está ai, amor - murmurei baixinho. Parecendo entender, Cake me seguiu para dentro do quarto. Deixei a caixa em cima da mesa e a abri para colocar alguns livros dentro. Enquanto Cake me observava, curiosa, escutei um murmurar baixinho atrás de mim. - Ah! 

Dentro de seu berço, deitada e mexendo as perninhas para cima, distraída, Kai me encarou quando cheguei perto dela. Eu sorri para seus olhos vermelhos e brilhantes que me encaravam com curiosidade. Eram idênticos aos de Kacchan: tinham a mesma cor brilhante e os cantos repuxados com longos cílios dourados. 

- Olá, gracinha - eu brinquei e a peguei no colo. Kai deitou a cabeça contra meu ombro, suas mãozinhas agarrando meu cabelo, fazendo-me rir. - Você está ficando forte! 

Passei algum tempo brincando com ela, sentado na cama, batendo as mãozinhas dela. Kai estava começando a ficar mais resistente, aprendendo a segurar o próprio corpo nos braços e segurar as coisas ou a se sentar. Por vezes ela caía de costas na cama, o que me fazia gargalhar e me apressar para levanta-la de novo. 

Cake também estava deitada na cama, seus olhos observando Kai e eu. De repente ela ergueu a cabeça e se levantou, descendo da cama depressa.

- O que foi, Cake? - chamei enquanto me levantava com Kai no colo.

- Amor? 

Eu sorri ao ouvir a voz de Kacchan. 

- Ei, bebê, você estava me esperando? - ele perguntou com carinho para Cake e logo em seguida escutei os passos dele pelo corredor, até aparecer na porta do quarto. Kacchan estava vestido, como sempre, com roupas sociais. O terno escuro dele estava aberto, mostrando sua camisa vermelha. Ele sorriu ao me ver segurando Kai e se aproximou de nós dois, me abraçando com cuidado e deixando um beijo no meu cabelo. - Como foi sua manhã? 

- Tudo bem por aqui - eu disse e ergui os olhos para encara-lo. Toquei o lábio inferior dele. - Está machucado. 

Kacchan ergueu as sobrancelhas e tocou a própria boca. O pequeno corte estava roxo e deixou sua boca um pouco inchada também. 

- Eu sei que você não vai acreditar nisso, mas eu só caí - ele murmurou com um sorriso. - Participei de um resgate hoje. Aconteceu um acidente de carro bem feio em uma ponte. 

- Se machucou em outro lugar? - perguntei preocupado. 

- Cortei uma perna, perto do joelho, mas eu passei no hospital antes de vir para casa - ele disse e apontou para a própria perna. - Então estou bem.

- Como está o pessoal do hospital? - perguntei curioso. - Dalton estava de plantão? 

- Estava. Foi ele que fez meu curativo - Kacchan disse e tirou o terno, deixando-o pendurado em um dos cabides. - Me mandou dizer para você voltar logo. Eji também. Eles estão sentindo sua falta.

Eu quase sorri. 

- Acho que... Talvez - eu murmurei. - Talvez eu possa voltar logo...

- Ah! - Kacchan exclamou. - Você se sente... Bem para voltar? 

- É, eu... Acho que sim. Eu preciso voltar em algum momento, de qualquer forma. 

Kacchan concordou com a cabeça e estendeu os braços para poder segurar Kai. Ele esfregou o nariz contra o dela, o que sempre a fazia gargalhar. Eles se pareciam cada vez mais. O cabelo dourado como o de Kacchan, seus olhos no mesmo tom de vermelho... Pelo menos ela tinha as mesmas sardas que eu. E seu rosto de fato se parecia com o meu... 

- Sua mãe ainda está aqui? - ele perguntou enquanto tentava pegar o nariz de Kai.

- Ela saiu agorinha há pouco - eu respondi. - Foi até uma loja de departamento buscar caixas, da pra acreditar?

- Caixas? Onde estão as outras que nós trouxemos? Você encheu todas?

 Eu desviei o olhar.

- Usei algumas para guardar as coisas da Z...

- AH! Claro! Mas eu acho que ainda temos algumas lá fora, amor - Kacchan disse como se não fosse nada demais e, no fundo, eu me senti melhor daquela forma. - Vamos dar uma olhada.

- Agora? 

- É, vamos - ele disse e saiu pelo quarto carregando Kai em um dos braços e me puxando pela mão. Eu ri comigo mesmo enquanto nós descíamos as escadas em direção a cozinha e abriamos a porta que levava para a varanda. - Eu deixei isso por aqui... 

Kacchan se virou  e me entregou Kai enquanto abria um armário do lado de fora. Ele tirou algumas coisas da frente enquanto resmungava sozinho.

-... Sério, estava por aqui - ele disse. - Eu deixei bem... Vamos ver...

- Olha só, filha, seu pai é um dono de casa bagunceiro - eu disse para Kai e Kacchan riu.

- Não é verdade, eu arrumei essas coisas aqui e... Oh! 

Kacchan se interrompeu quando abriu o armário menor e o encontrou vazio. 

- Que foi? 

Ele piscou algumas vezes.

- Você mexeu aqui? 

Eu o encarei confuso.

- Não, por que? 

- Está faltando... Algo - ele disse com uma expressão apavorada. - Tem alguma coisa que... Não está aqui dentro. 

- O que?

- A boneca! 

- Boneca?!

- Aquela boneca, amor! A boneca que... - Kacchan se levantou e me encarou com uma expressão de profundo pânico em seu rosto. - A boneca que se parece com a Kai. 

//

// Narração //

- Você tem certeza do que está falando?

- Tenho, tenho certeza. Ela era feita de pano, tinha os cabelos dourados e sardas pintadas nas bochechas - Katsuki disse depressa para Bremon enquanto ambos abriam as caixas empilhadas pelo quarto de Zaraya. - Não lembro a cor da roupa, mas...

- Kacchan - Izuku chamou em voz baixa, entrando no quarto também. Ele não queria remexer aquelas coisas. Não queria... Invadir todas aquelas coisas. 

- Por favor, não mexam nisso - ele pediu com a voz triste, assistindo o marido e o amigo olharem umas das caixas com alguns enfeites que estavam pelo quarto.

- Izu, nós estamos procurando a tal boneca - Bremon disse para acalma-lo.

Bremon havia chegado há dez minutos, junto com Sailow e Dalton. Os outros dois estavam procurando pelo resto da casa a boneca que Katsuki jurava ter algum envolvimento com o desaparecimento da filha. Aquilo não fazia sentido, eles sabiam, mas, após um mês inteiro de investigações que não levavam a lugar algum, acreditar naquilo era melhor do que nada. 

- Mas...

- Amor, eu juro, tem que estar por aqui - Katsuki murmurava enquanto abria uma nova caixa. - E eu... 

- ACHEI! - Bremon berrou de repente e tirou de dentro de uma caixa uma boneca de pano com cabelos dourados. 

- O que é isso? - Izuku questionou. - AH! É a boneca da Cake!

- Da Cake? 

Izuku entrou pelo quarto e pegou a boneca das mãos de Bremon. Ele a reconhecia. 

- Cake encontrou isso quando nos mudamos, logo no primeiro dia. Kacchan a guardou de volta porque estava suja, mas, acho que a Z a encontrou e...

- Quando foi que ela encontrou isso? 

- Ah, eu não sei, Kat - Izuku disse confuso. - Em alguma das tardes brincando com a Cake, provavelmente...

- Bem, nós achamos, mas... No que isso pode ajudar? 

Katsuki se levantou e pegou a boneca nas mãos; parecia ainda menor diante de seu tamanho inteiro. Ele encarou os olhos escuros e as sardas pintadas com tinta nas bochechas. O cabelo dourado estava mais claro, ela estava limpa. Ele a rodou nas mãos, procurando pela mancha de sangue em sua cabeça, mas não havia nada ali. 

- A boneca se parece com a Kai - Katsuki disse em voz baixa. - Logo depois que tivemos a Kai, Izu acordou no meio da noite e ela havia... Sumido. E quando ligamos a luz, estava lá. Cake tem estado estranha durante todo esse tempo aqui... Isso tem que ter alguma relação.

Sailow e Dalton se aproximaram do quarto; ambos prestavam atenção as palavras de Katsuki, mas não as entendiam tão bem. Era como se tudo estivesse, de alguma forma, distorcido, Sailow pensava.

- Acha que tem algo a ver com essa boneca, então? - Bremon questionou curioso. - Você deveria contar isso ao Gasp.

- Ele é um idiota - Katsuki grunhiu. - Não, eu não vou simplesmente levar uma boneca até o departamento dele e dizer que acho que minha filha sumiu por causa dela.

- Mas e... E se... Nós tivermos como saber? - Sailow questionou de repente e Katsuki se interrompeu, virando-se para ela:

- Como assim? 

- Eu tenho... Uma teoria - Sailow disse devagar, entrando pelo quarto. Izuku encarou a cena em silêncio, torturado demais para dizer qualquer coisa. - Acho que Angie pode nos ajudar com isso.

- Angie?! - Dalton e Katsuki perguntaram ao mesmo tempo. 

- Sally... - Bremon repreendeu. - Nós não sabemos se ela realmente saber fazer isso. E se ela disser algo só porque... Eu não sei, ela é um bebê, amor! 

- Do que é que vocês estão falando? - Izuku questionou irritado. Katsuki o abraçou pelos ombros para acalma-lo,  deixando suas mãos entrelaçadas. Ao menos aquilo ainda adiantava. 

- Veja bem, Zaraya disse uma vez que a Angie tem uma individualidade, lembra? No dia que nós a conhecemos, ela já sabia. E que a individualidade da Angie é como "outra pessoa" com ela, o tempo todo - Sailow explicou empolgada, apontando para a boneca. - Da última vez em que vocês foram para nossa casa, Angie escutou Bremon falando que talvez houvesse algo de errado.

- Mas onde Angie se encaixa nisso? - Dalton questionou confuso.

- Ela ouviu a conversa e disse que havia algo de errado na casa - Sailow disse por fim. Katsuki ergueu as sobrancelhas e Izuku ofegou. - Eu acho que Angie pode sentir isso. Por causa do... Bem, do demônio que está dentro dela. 

- Ela tem um demônio? Como o do Bremon? 

- Não - Bremon suspirou. - Eu sou o demônio, certo? Mas eu posso tomar forma humana e posso estar na minha forma normal. Eu me transformo. Angie, teoricamente, tem um demônio dentro dela. Um que é separado dela. Não é ela.

- Meu cérebro vai explodir - Dalton murmurou. - Então, no fim das contas, a Angie tem um demônio como melhor amigo e nós vamos dar a boneca para ela brincar? É isso?

- Não! - Izuku disse exasperado. - Se isso fez algum mal para a Zaraya, vai fazer para ela também! 

- Izuku, não! - Sailow disse depressa. - Angie vai nos dizer o que  há de errado aqui. 

Izuku piscou, tão surpreso por aquela ideia que nem teve tempo de impedir Sailow de sair pelo quarto com Dalton para irem buscar Angie na sala de baixo. O rapaz se sentou na cama de Zaraya, vazia, sem nenhum dos cobertores floridos ou bichinhos de pelúcia. Enquanto ele escutava os passos de Angie e Sailow percorrendo o corredor, sua coluna arrepiava. 

- Vem aqui, bebê - Sailow chamou e Angie entrou, acompanhando-a. Ela balançou as mãos pequenas para Dalton e Katsuki e, quando seus olhos negros encontraram Bremon, ela correu na direção dele:

- Dadaaa! - ela exclamava alegre. 

- Angie, papai precisa da sua ajuda - ele disse para ela. Fez sinal para que Katsuki entregasse a boneca para ele. Angie a encarou com curiosidade, os olhos acompanhando a boneca sem piscar. - Você quer ela? 

A garotinha concordou com a cabeça e estendeu as mãos para a boneca; enquanto assistia a afilhada encarando a boneca, Izuku prendia a respiração, nervoso. Ao seu lado, Katsuki encarava a cena em silêncio, esperando alguma coisa acontecer. 

O quarto inteiro estava em silêncio, todos os olhos voltados para a garotinha brincando com a boneca. 

- Mama - Angie disse de repente e balançou as pernas, indicando que queria descer do colo do pai. Bremon a colocou no chão e ela logo correu na direção de Sailow, que se abaixou para ficar na altura da filha. Angie encostou o rosto proximo ao ouvido de Sailow e sussurrou alguma coisa.

Suas mãos largaram a boneca no chão e ela logo voltou para Bremon.

- E então? - Dalton questionou tenso.

Sailow piscou os olhos,  a expressão surpresa, encarando a boneca.

- Angie disse que... A boneca era amiga da Zaraya - ela murmurou. - Mas pertencia a outra pessoa. 

- Outra pessoa - Katsuki repetiu. 

- De quem é aquela boneca, Angie? - Bremon questionou para a filha.

- Dela, dada - Angie respondeu e apontou para um canto distante no quarto onde a cadeira de balanço que Izuku e Katsuki haviam comprado para Kai. O coração de Izuku falhou uma batida encarando a cadeira vazia. 

- Muito bem, vamos ver - Gasp disse enquanto encarava o notebook de Katsuki, pouco antes do final da tarde, naquele mesmo dia. As oito ligações de Katsuki foram impossíveis de ignorar, então, ali estava ele. - Sua afilhada viu um demônio? 

- Nós não sabemos se foi um demônio - Katsuki grunhiu. - Mas ela viu algo.

- Quantos anos exatamente sua afilhada tem? 

Katsuki suspirou. Ele balançou a cabeça e saiu da mesa onde ele, Izuku, Bremon e Gasp estavam sentados. 

- Eu disse que não queria esse cara aqui - Katsuki resmungou sem se importar com Gasp. - Por que eu tenho que ter você na investigação da minha filha? Você não leva nada que eu ou meu marido falamos a sério.

- Não pense assim, por favor - Gasp pediu sem se abalar. - Eu faço meu trabalho. Mas ainda tenho dúvidas.

- Dúvidas? - Izuku repetiu, encarando o investigador.

- A garota que sumiu, Zaraya era o nome dela, certo? Ela era adotada, não é? 

- E daí? - Katsuki rosnou. Izuku se virou para encara-lo e se assustou ao notar como o marido parecia furioso. Seus olhos vermelhos brilhavam como se estivessem pegando fogo, sua aura estava completamente inflamada - como se ele pudesse explodir aquele lugar inteiro em segundos.

- Isso muda muita coisa - Gasp citou como se não notasse que Katsuki estava tão zangado. - Ela sumiu tempo depois de vocês conseguirem ter sua filha mais nova. Ela é, biologicamente, filha de ambos. Então... Por que precisariam de uma que não era?

 - O QUE VOCÊ ESTÁ INSINUANDO!? - Katsuki urrou, batendo as mãos na mesa com tanta força que criou rachaduras na madeira escura. Izuku pulou no lugar e se levantou para tentar acalma-lo. 

- Amor, fique calmo! Ele não est...

- Eu estou dizendo - Gasp continuou. - Quem temos um mês de investigações sem respostas e vocês foram os únicos a não terem sido colocados como suspeitos...

- Porque isso não faz sentido! - Bremon defendeu de forma calorosa, levantando-se para parar entre Katsuki e Gasp. 

- E por que não faria? - Gasp questionou. 

- Você por um acaso viu as gravações das câmeras?!  - Katsuki berrou. - Zaraya saiu da sala e entrou aqui sozinha! Não havia ninguém com ela! 

- A luz do corredor ascende, segundos depois de ela entrar na cozinha - Gasp disse. - Algum dos dois pode ter feito uma alteração nas gravações ou...

- Ou o que a filha do Sr. Del Hellsing viu faz total sentido - uma voz calma disse, fazendo Gasp se calar. Os quatro homens se viraram para encarar uma moça de cabelos brancos, vestida no uniforme cinzento dos investigadores. - Boa noite, rapazes. Sou a investigadora Holy Ghost, superior do Gasp. Alguém me avisou que estavam tendo problemas por aqui. 

Os olhos castanhos da detetive se desviaram para as mãos de Katsuki que sangravam. Depois, notaram as rachaduras na mesa; por fim, ela encarou Gasp.

- Espere no carro, Gasp.

- Mas...

- No carro, Gasp. Por hora, seus serviços parecem ter sido dispensados pela família - ela disse e deu um sorriso leve enquanto o rapaz deixava a cozinha em silêncio completo. 

- Com licença - a detetive murmurou e entrou na cozinha, sentando-se próximo a Bremon. - Sinto muito pelo transtorno causado pelo Gasp. Ele é um bom investigador, mas, é péssimo com o filtro das "coisas que não devemos falar". Eu estou aqui para ajuda-los.

Ouvindo aquilo, Katsuki sentiu-se relaxar. Ele suspirou e afagou os ombros de Izuku enquanto aceitava um pano que o marido estendia para que ele limpasse as mãos.

- Você está bem aí? - Bremon questionou preocupado. O melhor amigo concordou com a cabeça. - Vou deixa-los conversas a sós. Estou na sala com a Sally.

Katsuki voltou a se sentar e encarou a detetive em frente a si. Sua imagem parecia ser a de alguém calmo, mas, alerta.

- Então, eu sei sobre alguns detalhes da investigação pelas pastas. Vi as gravações e pude notar algumas coisas fora do comum nelas. As luzes do corredor tem algum defeito?

- Não - Katsuki respondeu com a voz rouca. - Achei que tivesse, há um mês atrás, mas o eletricista disse que está tudo perfeitamente bem.

- Mas...

- Eu sei. Elas ligaram depois que a Zaraya passou. Isso ocorre de vez em quando, não é, amor?

- É, principalmente durante a noite - Izuku concordou. - Ás vezes eu venho fazer uma mamadeira para a Kai e... Isso acontece.

A detetive concordou com a cabeça e puxou de um bolso do casaco um pequeno caderno de capa escura; era tão velho que algumas partes estavam descascando e suas páginas eram amareladas manchadas em alguns pontos.

- Suas luzes ligam sozinhas quando você passa com sua filha mais nova; normalmente durante a noite... Quando sua filha mais velha desapareceu, houve um intervalo entre o momento em que ela entra na cozinha, até o momento em que as luzes se ligam novamente. Como se houvesse alguém entrando ali também.

O casal se entreolhou. Katsuki estendeu a mão para segurar a de Izuku, que tremia.

- Sua afilhada viu alguém sentado na cadeira de balanço do quarto, não é? - ambos concordaram. Holy Ghost anotou mais alguma coisa. - Sua filha mais velha... Ela era telepata. Ela nunca disse nada sobre... Alguém na casa?

- Não - Izuku sussurrou. - Ela raramente falava sobre essas coisas. Z escutava vozes de vez em quando, mas... Ela tinha medo de contar sobre isso. Acho que...

- Sentia vergonha - Holy Ghost disse com uma expressão triste. - Telepatas tem, ainda hoje, certa... Dificuldade em ser aceitos. E isso gera um complexo terrível. Demora um pouco para se aceitar assim.

- A senhora é...?

- Ah, não, por favor. Pode me chamar só de Holy. Ou de Amanda, eu prefiro - ela disse com um sorriso para Izuku e Katsuki. - Eu descobri a profundidade de meus poderes pouco antes dos onze anos. Demorei muito tempo para entende-los e... Principalmente, aceita-los. Só decidi seguir carreira como investigadora depois dois vinte e um.

Katsuki pareceu impressionado. Ele já ouvira falar que Holy Ghost era uma das detetives mais talentosas da agencia. Não era atoa que havia se tornado chefe do departamento de investigação apenas dois anos depois de ter entrado lá.

- Eu posso... Sentir que tem alguma coisa aqui - ela disse por fim, olhando as paredes da cozinha. - Já tiveram a sensação de que estão sendo observados aqui dentro?

- O tempo todo - os dois responderam ao mesmo tempo.

Holy concordou com a cabeça.

- Existem energias, cada uma é única. Algumas são claras como o dia, normalmente pertencem a pessoas animadas, extrovertidas. Elas... Vibram.

Izuku ergueu as sobrancelhas. Ele se lembrava que, quando Zaraya estava pela casa, ele sempre sentia aquilo. Naqueles dias, sem ela, era como se faltasse algo. 

- Outras, entretanto, são pesadas, nos arrastam para baixo consigo. O que existe aqui, nessa casa, é... Impossível de ignorar. Eu não me surpreenderia se pudéssemos identificar fenômenos sobrenaturais puros, sem discrição alguma. Isso... Pode ter interferindo diretamente no desaparecimento de sua filha.

O casal em frente à detetive parou por alguns segundos, processando aquela idéia. Izuku repetiu consigo aquela frase.

- O motivo... O motivo pelo qual Zaraya desapareceu - Katsuki repetiu devagar. - Deve-se a... Uma coisa... Aqui?

Holy Ghost concordou. Ela estendeu as mãos para os dois homens a sua frente e afagou suas mãos livres. Aquele contato vindo de alguém como ela era reconfortante.

- Eu não posso, infelizmente, prometer que encontraremos Zaraya o mais rápido possível ou... Viva, talvez. Mas vamos encontra-las. Eu não vou deixar o desaparecimento de sua filha ser arquivado.

Katsuki soluçou ao ouvir aquelas palavras e concordou. Aquilo era reconfortante, como um abraço para juntar os pedaços dentro de si mesmo.

Os três conversaram por mais um tempo, contanto todos os detalhes que haviam notado. Falaram sobre a boneca esquisita que se parecia com sua filha mais nova e sobre o episódio onde Kai havia "desaparecido" bem na frente de Izuku; a detetive escutava tudo atentamente, com cuidado, fazendo perguntas e anotando-as com cuidado. Após algumas horas, Holy Ghost decidiu que tinha pistas o suficiente para manter o caso aberto e começar uma investigação onde o culpado poderia não "estar entre eles".

Ao final da tarde, ela se despediu de todos na casa. Enquanto Katsuki a acompanhava até o carro, sozinho, ela se virou para ele:

- Bakugo, eu posso pedir um pequeno favor para você?

- Claro, pode falar.

Holy parou em frente ao carro dela. Ali dentro, Gasp estava cochilando com um livro na mão, que Katsuki logo notou ser o relatório sobre o desaparecimento de Zaraya.

- Eu sei que você e seu marido estão muito abalados. Mas eu... Sinto que seu marido está lidando com isso de uma forma mais difícil. Fique de olho nele, tudo bem?

Katsuki concordou, mas uniu as sobrancelhas, curioso.

- O que isso quer dizer?

A detetive se virou para ele:

- Quando temos um caso como esse... Seja lá o que for que está na casa, é forte o suficiente para causar danos. E alguns danos são impossíveis de reparar. Quanto mais abertura existir no sofrimento, mais fácil fica de se tornar pior. Você entende?

Katsuki concordou. As imagens de como Izuku estava exausto e tão magro voltaram em sua mente.

- Eu vou cuidar dele. Muito obrigado pela sua atenção, Holy - ele disse de forma sincera e a detetive sorriu.

- Não há de quê. Eu darei novas notícias em breve.

Assistindo enquanto a detetive ligava o carro e acordava Gasp para irem embora, Katuski se sentia, de muitas formas, surpreso e assustado. Como herói, ele tinha medo de poucas coisas. Era forte o suficiente para aguentar uma boa surra, rápido o suficiente para não ser pego, inteligente o suficiente para entender muitas coisas.

Mas aquilo?

Um inimigo que poderia estar ao seu lado naquele momento e ele não faria ideia. Ou, ainda pior, que poderia estar rondando sua família e ele não saberia. Algo com quem era impossível discutir, lutar... Algo de que não se podia escapar. Aquela ideia era suficientemente assustadora para si.

Ele entrou na casa novamente e encontrou Izuku e Sailow em um canto da sala conversando em voz baixa, colocando Kai para dormir. Dalton e a mãe de Izuku estavam conversando com Angie, tentando convence-la a escolher um filme na TV. O rapaz percebeu que Dalton e sua sogra usavam roupas de dormir e aquilo o deixou levemente curioso.

Ele andou até a cozinha e encontrou Bremon sentado à mesa.

- E ai? - Bremon murmurou e ergueu os olhos para ele.

- Ela vai continuar a investigação- Katsuki respondeu e se sentou de frente para o melhor amigo.

- Bom, isso é muito bom - Bremon disse aliviado. - Nós vamos dormir aqui hoje. Sally e Dalton ficaram preocupados com a possibilidade de "algo" aqui.

Katsuki concordou, ainda sem reação. Aquilo era estranhamente entorpecente para si. Como se o impedisse de respirar direito. Ele sentia que poderia desmaiar a qualquer momento, mas, antes que sua visão começasse a escurecer, ele sentiu uma das mãos de Bremon apertar a sua.

- Está tudo bem. Respire fundo. Não vai acontecer nada com Izuku e Kai - Bremon prometeu com a voz calma. Ao ouvir aquilo, Katsuki respirou fundo algumas vezes.

- Tudo bem, tudo bem - ele disse para si mesmo. - Desculpe, eu...

- Você é humano, irmão - Bremon disse com carinho na voz. - Nós podemos terminar sua mudança amanhã. Eu liguei para o Volleman e ele disse que tem uns dois caminhões disponíveis na agência, se você quiser.

Katsuki quase riu.

- Volleman vai te dar as chaves dos caminhões da agência? Eu nunca nem entrei em um.

- Ele vai te dar as chaves. Eu so fiz a ponte - Bremon riu. - Sabe, ele está muito preocupado com você e Izuku.

Katsuki concordou com a cabeça e se recostou na cadeira onde estava sentado. Havia sido um dia e tanto. Ele podia começar a sentir dores nos lugares onde havia se machucado. Ele só precisava dormir...

- Eu vou ligar para ele amanhã. Acho que agora eu não tenho forças nem para subir para o meu quarto.

Bremon se levantou e andou até o melhor amigo, ajudando-o a levantar. Katsuki era bastante pesado, mas Bremon era forte o suficiente para aquilo. Ele apoiou um dos braços do amigo nos ombros e o ajudou a ficar propriamente equilibrado.

- Vamos sub...

- Amor?!

Katsuki despertou assim que escutou a voz de Izuku. Ele piscou os olhos vermelhos em direção ao marido e quase sorriu.

- O que é que ele tem? Está tudo bem?Está com febre?!

- Ele só está cansado, Izu - Bremon explicou. - E acho que a perna dele está machucando bastante. Ele levou uns pontos e tudo, então...

- Shhhh, minha perna está ótima - Katsuki grunhiu. - Eu so preciso dormir um pouco. Só isso.

Izuku deixou um pequeno sorriso escapar e ajudou Bremon a guiar Katsuki para o quarto deles. O rapaz se esticou na cama de casal e gemeu de dor enquanto se virava. Seu corpo inteiro parecia pesado demais para si mesmo.

- Acho que ele vai dormir até amanhã- Bremon disse com uma expressão preocupada. - Eu e Sally vamos dormir no quarto das visitas, tá bem? Acho que Dalton vai ficar no seu escritório e sua mãe no quarto da Zaraya...

Izuku concordou.

- Acho que ela provavelmente vai dormir com a Kai hoje, então eu vou tomar conta dele - Izuku suspirou. - Acho que seria bom levá-lo ao hospital amanhã. Ele está tão abalado... Ele nunca se machuca assim em missões de resgate.

Bremon concordou.

- Ele está muito triste, mas vai melhorar. Vocês dois vão - Bremon sorriu. - Boa noite, Izu.

- Boa noite, Brem! Obrigado por tudo.

- Não há de quê!

//

O silêncio total na casa causava uma sensação estranha em Izuku.

Ele se concentrava na respiração leve e rítmica do marido dormindo deitado em seu peito. Os braços de Katsuki o rodeavam de forma protetora, como sempre. E ele se sentiria perfeitamente seguro ali, se não fosse aquele maldito silêncio.

De alguma forma, Izuku podia jurar que ouvia sussurros vindo em sua direção.

Por mais que ele se virasse quando ouvisse aquilo, era como buscar por algo que não se pode alcançar.

Ele suspirou.

Devagar, tomando cuidado para não acordar Katsuki, Izuku se levantou e substituiu seu corpo com travesseiros para o marido abraçar.

A casa estava escura o suficiente para que ele não conseguisse enxergar o caminho a sua frente. Izuku tateou as paredes até a escada, devagar, escutando apenas aquele estranho vazio.

Enquanto cruzava os degraus até o corredor, sentiu seu pescoço arrepiar como se alguém houvesse suspirado ali. Ele se virou, minimamente, como se esperasse encontrar Katsuki ali. Mas não havia ninguém atrás de si. Estava sozinho.

As luzes do corredor se ligaram enquanto ele passava, iluminando o caminho. Izuku entrou na cozinha É abriu a geladeira, procurando algo para poder comer ali.

Izuku escolheu o pote de manteiga de amendoim e o abriu, pegando uma colher na pia para comer. Ele se recostou na bancada enquanto comia, devagar, mantendo a geladeira aberta para iluminar a cozinha. Ali, daquela forma, ele pensava o que Zaraya teria visto quando desapareceu ali dentro.

Enquanto pensava na filha, distraído, Izuku notou o pequeno buraco no piso de madeira, debaixo da mesa. Notara o buraco apenas porque parecia sair uma luz suave dele, como se houvesse ali dentro uma vela quase a se apagar.

Curioso, Izuku deixou o pote de manteiga em cima da pia e se abaixou, apoiando-se na mesa para ver o que havia no buraco no chão.

Ao que ele se aproximava, a luz parecia se intensificar mais ainda. Segundos se passavam enquanto Izuku encarava aquilo; não dava para identificar o que estava causando aquele brilho, era incandescente o suficiente para hipnotiza-lo.

Ele estava tão imerso naquele momento que mal percebeu quando estendeu uma das mãos para alcançar a luz.

E, de forma tão simples quanto um piscar de olhos, quando uma de suas mãos finalmente encontrou o espectro de luz que saía dali, Izuku foi levado para dentro.

Sua aliança dourada caiu no chão, ficando esquecida ali.


Notas Finais


BOMMMM DIAAAAAAA

DIGAM O QUE ACHARAM, LAVEM AS MAOS, BEBAM AGUA E NAO SAIAM DE CASA!!!!!


E NAO ESQUEÇAM DE SEGUIR LA NO TWITTER @BAKUBRO0 PRA GENTE CONVERSAR E EU PODER CONTAR ALGUMASSSSS NOVIDADES QUE VEM POR AI.

BEIJAO


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