História Instructions Not Included - Capítulo Três - Issues

.capítulo três -

;you don't judge me, 'cause if you did,

baby, I would judge u too

“Como foi na escola, meu amor?” Jungkook questionou Jinwoo, tocando os ombros da criança. Pai e filho caminhavam lado a lado, em direção ao carro escuro de Jungkook. Jinwoo não respondeu a pergunta do pai, fazendo Jungkook se preocupar. Jinwoo era uma criança que não falava demais, ele puxou a timidez do pai, mas mesmo assim ele sempre voltava extremamente falante da escola, contando tudo que aprendeu e experienciou na escola, para Jungkook.

O mais velho ainda podia sentir a tensão que a diretora idiota da escola do Jinwoo instalou em seus ombros, algumas horas antes. O sentimento pesado em seu peito estava o incomodando, e tudo que ele queria era os sorrisos de seu filho para levantar seus ânimos. Mas, Jinwoo não parecia muito animado também.

Jungkook sabia que aquele seria um daqueles raros dias onde Jinwoo estaria meio tristinho, e ele precisaria de atenção extra especial. Então, o pai pegou o filho no colo, que não protestou e deixou ser carregado até o carro. Jeon abriu a porta preta do carro, e colocou o filho na cadeirinha, antes de deixar um beijão estalado em sua bochecha. Jinwoo estava manhoso, e também deixou um beijo no rosto do pai. Jungkook se sentou no banco da frente, e suspirou. Odiava dias como esse, principalmente por Jinwoo nem sempre compartilhar a razão de sua tristeza.

“Woo, querido,” Jungkook chamou a atenção do filho, que o olhou pelo espelho retrovisor. “Conta ‘pro papai o que te deixou tristinho, por favor?” Nenhuma resposta. Eles respirou fundo. “Foi alguma coisa na escola?”

Bingo.

Jungkook acertou em cheio. Jinwoo desviou o olhar, tentando esconder como seus olhinhos se encheram de lágrimas. Mas, nada passava batido do olhar de águia do papai Jungkook. No mesmo momento, Jeon soltou seu cinto de segurança, e passou para o banco de trás, se sentando ao lado do filho de seis anos. Jinwoo tinha o rosto virado do lado oposto, impedindo Jungkook de ver suas lágrimas vergonhosas. O pai se aproximou, e soltou o cinto de segurança da cadeirinha, e trouxe o corpo pequeno de Jinwoo para seu colo.

“Meu amor, por favor me diz o que está acontecendo! Eu não quero te ver tristonho assim,” Jinwoo fungou, e agarrou a camiseta do pai.

“As crianças da minha escola falam que o papai Jimin é como o Papai Noel,” Jinwoo murmurou, o narizinho já escorria.

“Gordinho e barbudo?” Jungkook fez um bico, falando de maneira divertida, tentando arrancar um sorriso do filho. Sem sucesso.

“Eles falam isso porque nunca viram ele, pai. Eles falam que ele não existe.”

As lágrimas grossas que começaram a descer dos olhos de Woo, eram um tiro no coração de Jungkook. Ele apertou o filho mais forte, tentando o consolar.

Jinwoo estava cansado. Todos os dias ele tinha que passar pela provação dos seus coleguinhas que teimavam em o chamar de mentiroso, e o desmerecer por só ter um pai. Jinwoo protegia a imagem de Jungkook e Jimin com garras e dentes, mas isso tudo era tão cansativo, ele era apenas uma criança! Porque os outros não conseguiam simplesmente aceitar o que ele falava? Porque tinham que caçoar dele, e de todas as missões e atos de bravura do papai Jimin? Ele só queria que o seu outro pai voltasse logo de suas missões, assim ele poderia provar que não era um mentiroso!

“Eu não quero mais voltar ‘pra lá, papai!” Jinwoo soluçou alto, e o pai o abraçou mais forte. “Eles falam mal de você e do papai Jimin. Eles me chamam de mentiroso, me empurram nos corredores. Eles não gostam de mim,” a criança despejou tudo que estava guardando para si por tanto tempo, chorando como não chorava há muito tempo. Jungkook tratou de segurar sua vontade de chorar. O sentimento de ser responsável pela tristeza de seu filho, era sufocante. “Eu não quero papai, eu não quero! Não me leva mais pra lá, por favor,” Jungkook estava alarmado com a intensidade do choro de Jinwoo, o que aquelas crianças fizeram para o seu filho?

O Jeon tinha plena consciência da sua percentagem de culpa, na situação em que se encontrava. Ele não queria destruir os sonhos de Jinwoo, queria deixar a fantasia e inocência presentes na vida do filho, ele não tinha ideia de que a sua mentira faria Jinwoo sofrer tanto. Ou talvez soubesse, e ele apenas não estava pronto para a verdade. O pai também não se sentiu na posição de denegrir a imagem de Jimin, para o filho. Ele tinha todo o direito de tirar suas próprias conclusões em relação ao seu outro pai, sem a interferência de Jungkook. Ele queria que no fundo, Jinwoo amasse Jimin. E aquela decisão de mentir sobre Jimin não foi feita pensando em seu outro pai, mas sim no filho.

“Tudo bem amor, está tudo bem agora, sim?” Jungkook sussurrou, beijando o rostinho de Jinwoo, que abraçava o pai com força. “Eu estou aqui, e nada de mal vai acontecer com você enquanto eu estiver aqui, ouviu? Nada,” Jungkook sentiu lágrimas finas descerem de seus olhos. Jinwoo soluçava baixinho agora, e enrolava os cabelos do pai com os dedos, como sempre fazia.

“Eu te amo, papai,” Jinwoo soluçou contra o vão do pescoço e clavícula de Woo.

“Oh, meu amor, eu também,” Jungkook suspirou. “Você é minha vida inteira, sem você eu seria tão triste,” o pai declarou.

“Eu não quero viver em um mundo sem você,” Jinwoo respondeu, surpreendendo Jungkook.

“E você nunca vai, ouviu Woo?” Jinwoo assentiu levemente com a cabeça, com dificuldade.

“Mas, e se você tiver que viajar igual o papai Jimin?”

Jungkook arregalou os olhos.

“Não, eu nunca vou viajar sem você!”

“Promete, papai?” Jinwoo afastou o rostinho do peito do pai, olhando diretamente em seus olhos.

“Eu prometo de dedinho, Woo!” Jungkook levantou o dedo mindinho. Jinwoo abriu um sorrisinho e enlaçou o dedo do pai, com o seu dedinho. “Agora, o que acha de irmos tomar sorvete? E depois a gente podia ir no novo parque de diversões!”

Jinwoo parecia outra pessoa, sua tristeza foi totalmente esquecida, e um grande sorriso nasceu em seus lábios.

“Sim!”

✦

“O que o senhor está fazendo, papai?” Jinwoo apareceu no banheiro, subindo na cadeirinha que Jungkook deixava ao lado da privada assim o filho conseguiria enxergar seu reflexo no espelho, e alcançar pia do banheiro.

“Eu estou fazendo a barba, Woo,” Jungkook riu, passando a gilette com cuidado por sua bochecha.

“COM CHANTILLY?” Jinwoo fez uma carinha surpresa esbugalhando os olhos, e pulou para perto de Jungkook passando um dedo na bochecha do pai, colocando na boca o dedinho cheio de ‘chantilly’, na boca. “Ew! Não é chantilly!”  Woo fez uma careta, ao sentir o gosto amargo e cheiro forte do creme de barbear. Jungkook riu da expressão do filho, ele era tão fofo!

“É creme de barbear, seu bobo!” Jungkook gargalhou mais um pouco do filho, que tinha a cara de quem chupou limão.

“Posso fazer a barba também?” Jinwoo perguntou animado, já recuperado do gosto horrível do creme de barbear, e segurou o braço do pai. Jungkook fez uma pose pensativa, aumentando a ansiedade do menino.

“Vamos ver,” o pai se abaixou e segurou o queixo da criança com cuidado. Jungkook se aproximou e examinou o rostinho delicado do filho. “Você não tem barba, ainda!”

Jinwoo fez um biquinho.

“Ah!” a animação de Jinwoo murchou, e ele cruzou os bracinhos. Quando Jungkook estava prestes a lhe deixar um beijo no rosto, seu telefone tocou na sala de estar.

“Já volto, não apronte nada!” Jungkook avisou, antes de deixar o banheiro.

Ele procurou pelo celular com os olhos, e o achou em cima da bancada de mármore branco da cozinha.

Pegou o celular com os dedos, e torceu o nariz ao ver o que quem o ligava era um número desconhecido.

“Senhor Jeon, nós já temos os resultados dos exames,” a voz de algum funcionário do hospital, saiu do telefone de Jungkook.

Exames?

“Ahn, que exames?” Jeon franziu o cenho.

“Os exames-”

“Papai!” o som de Jinwoo o chamando, pareceu mais importante no momento.

“Me desculpe, mas eu estou ocupado agora!”

“Mas, senhor-” Jungkook encerrou a ligação, e partiu para o segundo andar do prédio, procurando pelo filho.

“Woo?” chamou pelo filho, estranhando o silêncio no apartamento.

Jungkook andou silencioso, pelo corredor, e arregalou os olhos ao ver o estado seu banheiro.

“JINWOO!”

Aparentemente, Jeon Jinwoo achou interessante brincar com o creme de barbear do pai. Jungkook até acharia fofo se ele tivesse apenas espalhado por seu rosto, mas não, Jinwoo não parou por aí. Fazer um moicano no cabelo com o creme de barbear também pareceu divertido, sem contar fazer várias tortas de “chantilly” pela pia, pra depois esmagá-las com as mãos! Jungkook chegou bem na hora que o filho levava a gilete que estava usando há pouco, pra perto do rostinho, e o seu grito acabou assustando a criança.

“Aaaaaah!” Jinwoo chorou quando a gilete cortou sua bochecha, e o creme de barbear fez o corte arder. Sangue sujou a espuma branca, e Jungkook se desesperou.

Ele entrou em um debate não sabendo o que fazer, a seguir. Foi só quando Jinwoo se desequilibrou da cadeirinha, e estava prestes a cair no chão, que ele agiu, aparando o filho.

“O que eu disse sobre não aprontar?!” Jungkook disse duro com o filho, que estava aos prantos agora. Sua bochecha ardia tanto! “Bem feito! Não quis me ouvir!” Jungkook pegou um pano umedecido, e tirou o creme de barbear do rosto filho, podendo finalmente ver o corte direito.

E Jungkook estava ferrado.

O corte era grande.

Ou ele seria preso por abuso infantil, ou Kim Taehyung o mataria antes.

“Papai, me desculpe,” Jinwoo choramingou, espremendo os olhos. “Tá doendo!”

“Vamos tomar um banho primeiro, pra tirar essa coisa do seu cabelo, e depois eu faço um curativo, está bem?” Jungkook pegou o filho no colo, e se dirigiu ao banheiro da sua suíte. Ele não queria ver o banheiro do corredor cheio de creme de barbear tão cedo.

“Ah, depois disso, você vai limpar aquele banheiro, ouviu?” Jungkook impôs, vendo o bico que se formou nos lábios do filho.

“Ah, pai!”

“Sem ‘ah’, nem ‘be’! Eu te disse para não aprontar, não disse?”

“Sim, papai,” Jinwoo abaixou a cabeça.

“Agora, cadê meu beijo, seu sapeca?” Jungkook fez cócegas em Jinwoo, fazendo outro  gargalhar.

Uma semana desde o episódio da conversa com a diretora da escola do Woo, se passou. E não, Jungkook não deixou Jinwoo faltar! Quer dizer, hm, não a semana toda. Ele sabia que Jinwoo precisava de rédeas firmes, e alguém que o mostra-lhe o que certo e errado, alguém para o fazer a melhor decisão, não a que mais lhe agradasse. Mas, era tão difícil ver o seu filho sofrer, e não poder fazer nada. Se a escola era a maior causa de seu sofrimento, como ele mandaria seu próprio filho pra aquele lugar?

Jungkook olhou de soslaio para o rosto do filho, na banheira. Jinwoo parecia tão vulnerável, enquanto seu pai lavava seus cabelos. Ele estava quietinho, e não parecia a fim de brincar com o Aquaman ou o patinho de borracha na banheira. Jungkook suspirou. Vez ou outra ele encontrava o filho desse jeito, encarando as paredes, meio tristinho. E isso quebrava seu coração como nunca. Ele não estava sendo um pai ruim? Não estava sendo o bastante para Jinwoo? Jungkook deveria saber, ele era muito novo para ser pai. Ele não tinha nem completado vinte e seis anos ainda, como ele estava criando uma criança? Não é a toa que Jinwoo parece tão triste.

“Papai?” a vozinha de Jinwoo ecoou pelo banheiro.

“Sim, meu amor?” Jungkook faz um carinho na bochecha esquerda do Woo, a que não estava cortada.

“Você me ama, não é?” os olhinhos brilhantes e inocentes de Jinwoo o encararam, de forma levemente assustada. Ele estava com medo de algo?

“É claro que sim! Como você ousa perguntar isso?” Jungkook brincou, fazendo cócegas no filho.

“E o papai Jimin,” Jinwoo começou baixinho. “Ele me ama, não é?”

Mais uma vez aquela facada no coração.

Um silêncio pairou sob o banheiro, apenas o som da água se movendo era ouvido; Jungkook tentava achar uma maneira de responder o filho. Ele suspirou mais uma vez.

“Sim, meu amor. Ele te ama, e é por isso que ele te manda cartas não é?” Jungkook disse de maneira serena, sua mão escorregava pelos ombros de Jinwoo.

“Sim,” Jinwoo abaixou a cabeça.

“O que foi, Woo?” Jungkook questionou, se aproximando e tocando o queixo do filho.

“É que, um menino falou que o papai Jimin não está comigo, porque ele não me ama,” a vozinha magoada de Woo chegou aos ouvidos do pai.

Jungkook não conseguia entender porque crianças falariam uma coisa dessas para o seu filho. Jinwoo era um amor, e ele lembrava que até um ano antes o menino tinha amigos. O que aconteceu durante esse período de tempo?

“Jinwoo, eu não quero que você ouça o que essas crianças dizem, tudo bem?” Jungkook disse firme. “Ela não sabem o que estão dizendo, e estão apenas com inveja que você tem os dois melhores pais do mundo!” Jungkook tentou fazer cócegas no filho mais uma vez, dessa vez ganhou algumas risadinhas.

“O que você quer fazer agora?” Jungkook perguntou uma vez que Jinwoo já estava seco, vestido, e adorável em suas roupinhas. Ele e o pequeno estavam no quarto infantil, repleto de brinquedos. O mais velho já tinha três músicas que ele tem trabalhado nos últimos meses, prontas, então ele podia aproveitar seu tempo com o toquinho de gente.

“Me ajuda arrumar as cartinhas do papai Jimin?” Jinwoo olhou para o pai, com um sorrisinho animado.

“Claro! Como você quer organizar?” Jungkook se aproximou, vendo o filho rodeado por envelopes coloridos na cama. Jinwoo guardava cada cartinha que o papai Jimin o “mandava” de suas missões, e Jungkook não sabia se achava bonitinho ou triste.

“Das mais velhas para as mais novas!” Jeon Jinwoo mostrou para o pai, como queria arrumar as cartas, organizando com cuidado.

“Okay, então! Mãos à obra!” Jungkook disse divertido, apertando o narizinho do filho entre o polegar eo dedo indicador.

Jinwoo parecia ter esquecido dos seus coleguinhas por agora, e Jungkook agradecia isso profundamente. Ele odiava ver o filho triste daquele jeito. De uns tempos para cá, essas crises de insegurança e tristeza vinham acontecendo com mais frequência. Eram sempre assim, iam e vinham. Jungkook não sabia o que fazer, ou o que sentir.

Porém, ver Jinwoo organizar e tratar com tanto carinho e delicadeza, aquelas cartas feitas por si, partia o seu coração. Jungkook ousava dizer que depois de Amarelinho, aquelas cartas eram o bem material mais prezado, por Jinwoo. Ou talvez estive enganado, e aquelas cartas eram o seu bem material mais prezado; elas eram a única conexão entre o pequeno e seu papai Jimin.

Mas elas eram falsas.

“Onde você quer que eu às coloque?” Jungkook perguntou ao filho, levantando a caixa onde as cartas de Jinwoo, estavam cuidadosamente organizadas.

“Ali!” Jinwoo apontou pra sua cômoda azul, no canto do quarto, decorada com brinquedos. Jungkook assentiu silenciosamente, e deixou a caixa em cima da cômoda.

O som da campainha soou.

“Porque você não começa a brincar de Homem de Ferro, enquanto eu atendo a porta?” o pai sugeriu, levando os bonecos preferidos do Jinwoo para sua cama. “Deve ser o dindo Tae,” divagou, deixando o quarto pra trás.

Ele caminhou preguiçosamente até a porta do apartamento, chutando brinquedos pelo caminho. Tudo parecia estar estranhamente acontecendo em câmera lenta, e Jungkook começou a duvidar sobre o que estava naquele suquinho de caixinha do Woo, que ele bebeu mais cedo. O som dos brinquedos sendo chutados parecia mais longo, e ele podia ouvir seu coração batendo forte. Quando chegou na porta, Jungkook estava começando a questionar sua saúde mental, mas nunca lhe passou pela sua cabeça que veria aquela pessoa a sua frente.

Era Park FUCKING Jimin!

Aquele desgraçado que abandonou seu filho há seis ANOS atrás, estava na sua frente. Jungkook ficou sem reação por um tempo, encarando aquele homem de maneira estática, como é que se respira mesmo?

Seu cérebro de repente parecia muito lento para raciocinar coisa alguma, e ele só encarou o Park. Tudo que seu cérebro foi capaz de processar foi como Park Jimin estava gostoso como nunca. Mas, aquele fato não o impediu de ter um surto a sua frente, momentos depois.

“Por que CARALHOS você está aqui na minha frente?” Jungkook gritou, mas Jimin nem sequer demonstrou alguma reação assustada. Ele parecia tão tranquilo, que Jungkook apenas se sentiu mais irritado.

“Eu quero ver o Jinwoo,” Jimin disse com tanta naturalidade e falta de sentimentos, que o Jeon sentiu vontade de o quebrar no meio.

“O cacete que você vai!” Jungkook explodiu. Ele se sentia cego de raiva, ao ver aquele homem. Park Jimin era a causa de todos os seus problemas, e a tristeza de Woo. Bom, ele tinha mentido pra Jinwoo sobre as missões, mas isso não teria sido necessário se Park Jimin fosse um pai de verdade!

“Ele é meu filho também, eu tenho direito de vê-lo!” Ah, mas Park Jimin estava pedindo pra morrer! Como aquele ser ousou dizer aquilo a sua frente? Ele que esteve ao lado de Jinwoo a sua vida inteira, e Jimin ainda queria argumentar que ele era pai, e tinha direito de vê-lo.

“Você pode muito bem ter dado à luz pra ele, mas quem o criou fui eu!” Jungkook cuspiu. “Eu que estive lá quando ele estava chorando, quando ele estava sorrindo! Eu sou o único pai verdadeiro do Jinwoo!” Park parecia finalmente ter sido atingido. “Você perdeu o direito de chamá-lo de seu, no momento que saiu pra pagar aquela merda de táxi, há seis anos!”

Jimin tinha os lábios comprimidos, e tentava segurar suas lágrimas. As palavras do mais novo o acertaram como ele nunca achou que pudessem. Como sempre, Jeon Jungkook complicou as coisas, e tirou a máscara que Jimin tentava vestir pra esconder como ele realmente estava. Ele estava destruído. Parecia tão patética a sensação de Déjà vu que o atingiu. Ele se lembrava como se fosse ontem, o dia que deixou seu bebê nos braços de um rapaz irresponsável, e perdido na vida como Jungkook. Ele levaria esse peso em seus ombros para sempre.

“Por favor, Jeon,” Jimin tinha a cabeça baixa, sentindo vergonha da situação, de suas ações. “Eu só quero ver o meu filho,” sua voz saiu tão chorosa e fraca, que por um minuto Jeon sentiu dó daquela criatura. Ele parecia péssimo!

Mas, Jungkook não podia esquecer do babaca que ele era, e como Jimin abandonou seu filho!

Jeon abriu a boca, pronto pra mandar o Park ir se foder, e criar vergonha na cara, quando uma vozinha infantil foi ouvida.

“Papai, quem é esse?” Jinwoo perguntou baixo. Ele ouviu os gritos do pai do seu quarto, e achou que ele estava brigando com o dindo Tae, de novo. Mas, não esperava encontrar um moço loiro, de jeans rasgados e com os olhos levemente vermelhos na porta.

Já Jimin estava boquiaberto. Jinwoo era o serzinho mais lindo que já tinha visto na sua vida inteira! Ele se lembrava muito bem da sua aparência de bebê, mas ele ainda se sentia chocado. Ele se parecia tanto com Jungkook! Ele tinha os ombros estreitos de Jimin, e o narizinho pequeno. O formato de seu rosto lembrava tanto o de Jungkook, mas era levemente arredondado nas bochechas. Sua boquinha era cheinha como a de Jimin, mas tinha o formato dos lábios de Jungkook. Seus olhos pareciam uma cópia do Jeon. Jinwoo parecia um mini Jeon Jungkook, com leves traços do Park. Ele cresceu tanto! Seu coração se apertou, ele perdeu tantos momentos e memórias com Jinwoo...

“Ann,” Jungkook cogitou dizer que Jimin era um cara qualquer que tocou no apartamento errado, mas ele já tinha mentido para Jinwoo uma vez, e ele jurou que nunca mais faria isso. A mentira sobre as missões já eram o suficiente para uma vida inteira de mentiras; o filho merecia saber que, por mais inusitado que fosse, aquele a sua frente era seu pai. Então Jungkook se ajoelhou, e tocou os ombros do seu eterno bebê.

“Meu amor, esse é seu outro papai,” Jungkook suspirou forte, esperando as consequências da bomba que soltou.

Jinwoo arregalou os olhinhos como nunca arregalou antes. Ele se virou, e encarou Jimin nos olhos, sentindo uma incrível onda correr por seu corpo. Seu olhinhos marejaram. Foi amor à “primeira” vista. Aquele era o seu papai Jimin? Ele era tão lindo! Jungkook não mentiu quando disse que ele era o mais bonito! Papai Jimin parecia tão legal, ele mal podia esperar para o perguntar sobre as missões.

“Papai Jimin?” Jinwoo chamou de maneira fraca, temendo que tudo fosse apenas um sonhos. Quantas vezes aquela mesma cena já se repetiu em seus sonho? O coração de Jimin se agitou ao ouvir a voz do seu bebê chamá-lo. Incapaz de dizer qualquer coisa, Jimin apenas assentiu silenciosamente, com lágrimas nos olhos. “Você voltou!” a voz chorosa de Jinwoo ecoou pelo corredor.

Não demorou muito para a criança correr e pular nos braços de Jimin, que há tanto tempo estavam prontos pra segurar o seu bebê novamente. Jimin o apertou forte, não controlando suas lágrimas. Jinwoo já soluçava de alegria, e apertava Jimin com muita força, temendo que ele sumisse. Ele era real! Papai Jimin estava a sua frente, o apertando em um dos abraços mais gostosos do mundo. Ah, como ele vem desejado esse abraço!

A criança encheu o rosto do loiro de beijos, fazendo Jimin apenas soluçar mais alto. Ele beijou as bochechas, a testa, os cabelos. Ele tinha que demonstrar o quanto amava o pai, e como sentiu sua falta. Jinwoo deixou um beijinho nos lábios de Jimin, e enterrou o rosto em seu pescoço, cheirando o se perfume com força. Como Jimin sentiu falta daquela pequena parte de si! Ter seu filho novamente em seus braços, era tudo que almejava, e agora ele apenas queria o apertar pra sempre.

Jungkook encarava a cena, com um semblante sério, enquanto sua mente estava pensativa. Era evidente o amor que transbordava dos dois, mas se Jimin amava Jinwoo tanto assim, porque o deixou, em primeiro lugar? Jungkook nunca iria conseguir ficar longe de Jinwoo! Ele se sentia feliz por ver o quão feliz seu filhotinho estava, e não pode impedir seu coração de se derreter, com o quão emocionante e comovente aquela cena era. Jungkook ainda não gostava do Park nem um pouco, mas se ele fizesse seu filho feliz, Park Jimin não era nada que Jungkook não pudesse suportar.

“Eu senti tanto a sua falta papai!” Jinwoo chorou animado, finalmente soltando Jimin por poucos segundos, para o apertar novamente depois.

“Eu também, meu amor, eu também!” Jimin não se impediu de chorar.

“Woo, deixa seu pai respirar!” Jungkook riu baixinho, tentando não demonstrar a sua raiva por Jimin na frente de Jinwoo.

O menino riu baixinho, e se afastou. Ele olhou para Jungkook com os olhos cheios de lágrimas, e desta vez pulou no colo do papai Jungkook. Este que o pegou com maestria, e balançou o seu corpinho.

“O que foi?” Jungkook perguntou um pouco mais sério, afagando as costas do filho.

“Eu estou tão feliz, papai, eu acho que vou explodir!” Jinwoo abriu os bracinhos, e se jogou para trás. Jungkook sorriu.

“Vai lá abraçar o seu papai Jimin, ele deve estar com tantas saudades.”

Não foi preciso dizer duas vezes, Jinwoo pulou do colo de Jungkook e pulou para o colo do Jimin, mais uma vez. Jinwoo encarou o rosto do pai, e afagou suas bochechas com as mãozinhas macias. Ele poderia observar o rosto de Jimin para sempre, e nunca se cansaria. Aquele era o papai Jimin!

“Você é tão bonito,” Jinwoo suspirou, deitando o rosto nos ombros do pai, e o abraçou com toda a força de um garotinho de seis anos. Tudo que Jimin pode fazer foi afagar as costas do filho, e se apaixonar mais uma vez.

“Você é mais!”

✦

“O que você faz aqui, afinal?” Jungkook perguntou ácido, olhando feio para Jimin que apenas suspirou.

O dia passou como um borrão feliz para Jinwoo. Ele mostrou para o papai Jimin todos os lugares do apartamento, e todos os seus brinquedos. Jimin se viu encantado com o pequeno ser que falava consigo de forma animada, e olhava para si com olhos brilhantes. Como era possível se apaixonar novamente? Ele lembrava vividamente dos meses que estava grávido de Jinwoo. Foi um dos períodos mais felizes, e mais difíceis de sua vida. Olhando para ele já grandinho o trazia tantas sensações esquisitas.

Depois de muitas brincadeiras com o pai Jimin, Jinwoo acabou adormecendo no colo do loiro, não antes de perguntar se o pai dormiria na sua casa, e dizer o quão animado estava para mostrar para as crianças da escola, o famoso papai Jimin. Foi oficial então, Jimin dormiria no apartamento de Jungkook.

Os dois pais estavam na grande sacada do apartamento agora, observando a cidade de Busan.

“Não me olhe assim, Jungkook,” Jimin disse com um tom cansado.

“Assim como?”

“Como se você me julgasse,” o Park olhou no fundo dos olhos negros de Jungkook. “Não me julgue, pois senão eu serei forçado a te julgar também.”

Jungkook bufou e revirou os olhos.

“Não fui eu que abandonei meu filho, com um completo estranho! Eu mesmo não confiaria um bebê a mim!” Jungkook atirou, esperando uma reação raivosa de Jimin. Mas, não. Lá estava ele, com a expressão limpa.

“Jungkook, eu tenho meus problemas, e você tem os seus-,”

“Jimin, você não tem ideia de como o Jinwoo tem sofrido por sua causa,” Jungkook jogou, olhando para Jimin de maneira afiada.

“Eu não quero jogar esse jogo, Jungkook! Eu já te disse, não julgue minhas decisões, quando você não conhece minhas razões!” O Park proferiu, um pouco mais sobressaltado.

“Eu não ligo pras merdas que você chama de razões, você abandonou o seu filho! Você sabe o quão arrasado ele tem estado, achando que você não ama ele!” Jimin espremeu os olhos. Jungkook era um cabeça dura. Ele queria jogar o jogo da culpa? Aquilo não ia mudar porra nenhuma!

“Eu não vou discutir com você,” Jimin virou as costas, preparado para deixar a sacada.

Jungkook não ia deixar Jimin escapar tão fácil, não com tantos anos de palavras não ditas. Por essa razão ele puxou o Park, pelo braço, fazendo o mais velho se chocar contra seu peito. Jimin olhou para Jungkook, sua respiração um pouco mais ofegante.

“Você vai ter que me ouvir, mesmo assim!” Jungkook disse firme, perto do rosto do Park. “Aquela criança é tudo o que eu tenho! Ele é minha vida, Park! Eu não posso lidar com ele triste toda vez que sentir sua falta, porque você não é homem o suficiente para ser pai!”

A tensão entre os dois, era quase palpável. Seus olhares eram tão mortais como facas afiadas.

“Eu não sou o monstro que você imagina, Jungkook,” Jimin proferiu de forma baixa, seus olhos de repente não eram mais agressivos, eles pareciam machucados. “Eu amo Jinwoo mais do que a mim mesmo, desde que descobri que estava grávido dele,” o Park tocou os braços de Jungkook com seus dedos, e se desprende deles. “Eu só queria uma vida melhor para ele, uma vida melhor do que a minha, e você se tornou minha única opção,” o mais velho olhou para o chão, e jogou os cabelos loiros para trás. “E você cuidou muito bem dele, ele é um ótimo garoto,” Jimin olhou no olhos de Jungkook, e o mais novo apenas bufou.

“Nossa, muito obrigado! Que bom que eu não te decepcionei!” Jungkook disse sarcástico.

Jimin bufou, se sentindo cansado de tudo, cansado de sua vida, cansado de suas decisões, cansado de Jungkook e sua atitude.

“Quer saber, eu vou dormir que eu ganho mais,” Jungkook estava prestes a protestar  quando Jimin o interrompeu. “Quando pretende contar a verdade pra ele?”

Jungkook respirou fundo e coçou a nuca.

“Eu não sei,” Jungkook fechou os olhos imaginando a reação de Jinwoo ao saber que seu pai mentiu pra ele. Ele ficaria arrasado! “Não acho que eu tenho coragem.”

“Você também tem os seus problemas, e eu tenho os meus,” Jimin começou baixinho. “Você tem mentido para o Woo por bastante tempo, e nem por isso eu te julguei, principalmente porque não me vejo no lugar de julgar as maneiras que você criou o nosso filho,” Jimin engoliu seco, talvez ele também não estivesse no lugar de chamar Jinwoo de “nosso filho”.

“Woo se tornará seu filho, apenas quando você provar que realmente é um pai, até lá ele é meu filho.” Jimin não protestou, e apenas abaixou a cabeça, e deixou o ar frio da sacada, e Jeon Jungkook para trás.

Seus problemas estavam apenas começando.