Calum estacionou a viatura no pátio da delegacia, e abriu a porta traseira segurando Luke pelo braço ajudando-o a descer do veículo e caminharam até a sala principal.
— Sente-se aí. – apontou um banco onde Hemmings fez o que foi pedido. – Pode dar uma olhada nele por mim, John ? – pediu a outro oficial que assentiu.
Hood seguiu apressado até a sala do delegado, deu dois toques na porta e entrou.
— Tenho um interrogatório para você Richard.
— Resumo do caso. – ajeitou-se na cadeira apagando o resto do cigarro num cinzeiro.
— Luke Hemmings está aqui.
— Luke do caso Clifford ? O namorado ? – o mais velho prestou mais atenção, apoiando as mãos sobre a enorme mesa de madeira escura.
— Ele quase matou Alec Mitchel. Estava passando por uma padaria quando encontrei os dois brigando na calçada.Precisei separá-lo a força ou ele estrangularia Alec.
— Vamos ver o que ele tem para contar. – disse sorrindo e seguindo até onde o loiro esperava.
— Sr. Hemmings, nos acompanhe por favor.
O loiro suspirou e seguiu os dois homens, tendo a certeza de que sua antipatia por Hood havia aumentado consideravelmente.
Richard sentou-se novamente em sua cadeira. Calum tirou as algemas do loiro que sentou-se á frente do delegado. Hood ficou em pé ao lado do mais velho, cruzou os braços e encarou Luke que estava de cabeça baixa e com o mesmo olhar inexpressivo de quando entrou na viatura. O detetive ainda não tinha provas concretas mas seu faro de investigador lhe dizia que Luke escondia algo.
— Sr. Hemmings, está detido em flagrante por tentativa de homicídio.
O loiro arregalou os olhos pela primeira vez, encarando o delegado.
— Homicídio ?
— Bom, eu vou deixar que me conte o que aconteceu.
Ele suspirou novamente e ficou em silencio, observando os dedos brincarem sobre a mesa.
— Eu vou te ajudar. Pode começar a contar de onde conhece Alec ?
— Ele estuda com meu namorado. – respondeu com a cabeça baixa.
— E o que você fazia na rua com ele ?
— Eu não estava com ele. Fui na padaria comprar algumas coisas e o encontrei por lá.
— E o motivo da briga ?
— Ele tem perseguido meu Michael. – falou desviando o olhar para Hood.
— Perseguido como Sr. Hemmings ?
— Não sei explicar senhor. – soltou um longo suspiro, encostando-se na cadeira.
— Então você agrediu Alec sem um motivo concreto ?
— Não ! – aumentou o tom de voz. – ele estava me provocando também e eu o vi conversar com o pai do Michael. Eu sei que ele quer algo com ele. – o loiro passava as mãos sobre o rosto, demonstrando nervosismo.
— Acalme-se Luke. – o delegado pediu.
— Você devia ter trago ele também. – apontou para Calum.
— Não me diga o que fazer Hemmings. Quem deve obedecer aqui é você ! – Calum respondeu sério
— Luke, há algo mais que queira nos contar ? – o loiro apenas maneou a cabeça negativamente. – Nesse caso, você passará uma noite aqui por resistência e desacato ao detetive Hood. Tem direito á uma ligação.
(...)
Michael observava pelo vidro da cozinha que estava embaçado devido a garoa que caía no momento. A televisão estava ligada em um canal de noticiários onde ele esperava ter alguma pista da razão pelo qual Luke estava desaparecido.
Desde que voltou da consulta não consegue contato com o namorado. O celular não atende, as mensagens não são respondidas. O porteiro informou que o loiro saíra mais cedo e até agora não havia voltado.
Clifford estava preocupado, principalmente pelo seu comportamento nos últimos dias. Com a demora, o colorido já pensava em ligar para Calum em busca de ajuda, quando seu celular recebeu uma ligação de um número privado.
— Michael ? – ele ouviu depois de dizer alô.
— Luke ! Onde está ? O que houve ?
— Estou na delegacia. – respirou fundo.
— O que ? Por que ? O Calum está aí ? Vou falar com ele.
— Foi ele quem me trouxe para cá.
— O que ? Eu estou indo para aí. – encerrou a ligação sem esperar uma resposta.
O de olhos verdes calçou seus coturnos e pegou um casaco, colocando as chaves e a carteira dentro do bolso do mesmo, e saindo apressado pela porta.
(...)
Calum estava em sua sala, ajeitava seus relatórios para enfim ir para casa. Pegou o celular que não conferia há algum tempo, e entre as mensagens que haviam chegado, a de Ashton foi a primeira que leu.
Ele discou o número do psicólogo e esperou até que o mesmo atendesse, com a voz de quem provavelmente estava dormindo.
— Desculpe ligar á essa hora. O dia foi corrido.
— Tudo bem, como você está ?
— Estou bem. – respondeu sorrindo, feliz com a preocupação do outro. — E você ?
— Eu também. Eu te mandei uma mensagem, descobri algumas coisas.
— Sim, eu vi. Eu também tenho algumas coisas para te contar, então passarei amanhã na sua casa para fazer isso abraçado á você no seu sofá. - ouviu o outro rir do outro lado da linha. — Agora volte a dormir, boa noite.
Hood encerrou a ligação, ouvindo alguém discutir enquanto a voz ficava cada vez mais perto.
— Por que fez isso ? — Clifford abriu a porta de repente, com John tentando contê-lo.
— Tudo bem, pode deixá-lo aqui. – o oficial assentiu, fechando a porta ao sair. — Sente-se Michael.
— Calum, o que está acontecendo ?
— Luke agrediu Alec hoje, ele não o soltou quando pedi e tive que detê-lo. – o de cabelos verdes lhe encarava extático. — Eu sinto muito, talvez ele não seja bom para você.
— O que ele fez exatamente ?
— Vou deixá-lo te contar.
Hood levou o outro até a cela onde Luke estava. Enquanto se aproximavam, podiam ouvi-lo falar sozinho, parecia discutir com alguém, embora sua voz revelasse um tom assustado.
O loiro estava encolhido num canto da cela. Tinha as mãos sobre a cabeça e a testa apoiada nos joelhos.
— Luke ? – Michael chamou enquanto Calum destrancava a grade.
— Mike ! – levantou-se rapidamente, abraçando o outro fortemente.
— O que você fez ? – a voz do colorido era triste.
— Eu bati no Alec.
— Enforcou e quase matou. – Calum interferiu.
— Eu estava nervoso Michael, me desculpe. Eu não ia matá-lo eu juro. Eu só estava com raiva, eu não quero perder você. – o desespero estava refletindo na voz do loiro.
— Calum, deixe-me levá-lo. Por favor.
— Ele tem que passar a noite aqui.
— Eu vou passar a noite aqui também, então.
— Você não pode Michael.
— Eu devo cometer algum crime ? É isso ? – empurrou o detetive. – Pronto, agora me prenda por desacato.
— Michael, você precisa se acalmar. – Hood pediu tranquilamente.
— Me deixe levá-lo, por favor Calum. – o moreno desviou o olhar para Hemmings e balançou a cabeça negativamente. – Ele não vai fazer mais não é Luke ?
— Não Mike. – respondeu baixo.
— Tudo bem, mas porque já está tarde e você não vai voltar sozinho para casa. Mas da próxima ele ficará detido por muito mais tempo, e em uma unidade prisional.
Michael assentiu e agradeceu. Assinaram alguns papéis e ele pediu que Luke entrasse no carro, sentando-se no banco do motorista.
— Você está saindo do controle Luke. Eu estou começando a ficar assustado. É isso que você quer ? – o colorido disse, mantendo o olhar na rua escura.
— Me desculpe Mike. Eu não quero me afastar de você.
— Mas você está conseguindo isso. Eu voltei a ter pesadelos com meu sequestro, eu achei que tinha melhorado, que minha vida seria melhor depois de te conhecer Luke. Agora, eu já não sei o que esperar. Você sabe o que eu passei ? Sabe o quanto era horrível ficar preso com aquela coisa, dopado, sendo abusado? Eu vivi com medo, eu nunca mais fui o mesmo Luke ! Eu não quero viver num inferno de novo. – ele gritava, enquanto as lágrimas escorriam em abundancia.
— Eu sinto muito, eu quero curar você. Eu sei que estou errado, é tudo minha culpa. – ficou em silencio por algum tempo. – Eu preciso te contar uma coisa.
Clifford pediu que o outro aguardassem até chegar em casa. Desceram do carro e seguiram para o apartamento de Hemmings. Michael fechou a porta e pediu que o outro falasse.
— Eu não te falei antes, porque eu não tinha coragem, eu não queria te perder.
— Fala logo Luke. — o de cabelos verdes ainda estava de pé.
— Eu ouço vozes Mike. Elas falam o tempo todo. Falam que você está me traindo, falam que o Calum quer tirar você de mim. E agora o Alec apareceu, e elas dizem o mesmo dele. Eu não quero perder você. — dessa vez era Hemmings que chorava copiosamente.
— Hey Luke. – o mais velho se aproximou, puxando o outro para seu peito. — Eu não vou te abandonar, está me ouvindo ? Mas você tem que se cuidar, ir ao psicólogo...
— Eu já vou ao psicólogo. Eu ia te contar isso também.
— Então amanhã você vai conversar com ele. Vamos resolver isso juntos, e vai dar tudo certo mas você precisa confiar em mim. Eu não vou trocar você por ninguém, não quero ninguém. Eu te amo Luke ! – deixou um beijo na testa do outro, que envolveu ainda mais os braços em sua cintura, encolhendo-se no sofá.
— Eu também amo você Mike. Amo muito.
(...)
Na manhã seguinte, Michael faltou a aula. Ficaria ao lado de Luke, até que este acordasse, para que o lembrasse de ir ao psicólogo. O de cabelos verdes sabia que havia algo errado com o namorado, mas ao saber o que de fato acontecia ficou de certo modo aliviado.
Não que fosse algo á toa, mas era menos grave do que ele pensava, ao menos era essa a ideia que ele tinha.
Quando Luke abriu os olhos, Michael teve a certeza de que ele era apenas vitima de si mesmo, e não um psicopata que pudesse lhe causar mal. Deixou um beijo em sua testa desejando bom dia, e permaneceu ao seu lado enquanto afagava seus cabelos.
Passaram algum tempo falando sobre os detalhes do sequestro de Michael e Luke lhe passava todo conforto que podia.
— Mas depois que te conheci, as coisas tem melhorado. – deu um sorriso verdadeiro.– Agora, me conte sobre você.
— Bom, eu nasci nessa cidade e minha família sempre foi pobre, e eu digo pobre em todos os sentidos. Meu irmão mais velho era o único que cuidava de mim, enquanto meu pai estava no bar gastando todo nosso dinheiro, e minha mãe fumava na calçada á espera dele. Assim que chegava, começavam as brigas, os gritos, os espancamentos... de todos nós. – engoliu em seco. – Um dia ela se cansou, e foi embora. Eu tinha 8 anos e meu irmão tinha 13. Tínhamos que trabalhar para dar dinheiro á ele. Íamos á escola de manhã, e a tarde vendíamos algumas coisas nas ruas, voltávamos a noite e as vezes nem jantávamos. Um dia fomos levados á um abrigo, eu não entendia muito bem o porque, nem o que estava acontecendo, mas de certa forma fiquei feliz em ir para lá. As vozes sempre estavam comigo, sempre me dizendo o que fazer, me dizendo que as outras crianças não gostavam de mim, que eu era uma aberração. Então eu ficava afastado. Meu irmão fez 18 anos e precisou sair de lá. Foi na época em que eu comecei o ensino médio, e na época em que te conheci, na verdade eu me apaixonei desde a primeira vez em que te vi Mike.
O colorido sorriu deixando um beijo carinhoso nos lábios do outro. Ficaram num silencio agradável, aproveitando apenas o abraço e perfume um do outro, até Michael levantar e buscar um café da manhã para o loiro e posteriormente seguir até o estacionamento com ele.
— Posso ir com você ?
— Não que seja necessário Mike. Eu prometo que não desvio do caminho.
— Vou fazer uma faxina no seu apartamento. Não que seja necessário,mas quando voltar você terá mais tempo para mim.
O loiro sorriu e deu um ultimo beijo, se despedindo.
(...)
Ashton dirigiu até sua casa, atordoado com as informações que conseguiu nos últimos dias. Mal podia esperar para encontrar Calum e lhe contar tudo, e claro, poder curtir sua companhia.
Ao chegar, teve uma surpresa, já que a viatura estava parada em frente á sua casa, e um detetive sorridente aguardava encostado no capô. Irwin desceu do carro e assim que se aproximou, foi puxado para um abraço seguido de um beijo que lhe tirou o ar.
— Saudades detetive ?
— Só um pouco. – falou dando um último selinho e entraram em casa.
— Vou só tomar um banho e podemos conversar. Tem comida de verdade hoje, só preciso esquentar. – puxou o outro pelo braço enquanto subiam as escadas.
Era a primeira vez que Hood estava naquela parte da casa. Haviam dois quartos e um banheiro pelo que Irwin explicou. Seu quarto era o maior e havia uma enorme cama com lençóis brancos, que combinavam com os tons claros dos outros móveis.
A janela ainda tinha uma sacada que dava para a entrada da casa. Irwin deixou o outro ali e seguiu para o banheiro, não demorando a sair de lá exalando o seu perfume característico.
— Quer tomar um banho também ?
— Acha que estou precisando ? – o moreno fez cara de ofendido.
— Não, eu só ofereci... – Ashton tentou se explicar, vendo o outro sorrir e percebeu que não estava levando a sério.
— Talvez mais tarde eu tome um banho aqui, antes de dormir. – envolveu novamente a cintura do outro.
—Está se convidando para dormir aqui ?
— Sim, eu já fiz isso antes não lembra ?
— Oh sim, você vai dormir na sala de novo. – respondeu em tom de brincadeira.
— Se você quiser que eu durma por lá... – encostou-o contra parede. — Mas eu acho que como seu namorado, eu devia dormir com você.
— Namorado ?
— Se você aceitar.
— É uma proposta irrecusável. – sorriu unindo os lábios.
Os dois desceram as escadas, seguindo para a cozinha onde jantaram e puderam contar as novidades. Ashton contou sobre o que Michael revelou a respeito do ciúmes do namorado, e ainda que descobriu que Luke é um de seus pacientes. Contou brevemente sobre o histórico do loiro, e das vozes que o mesmo ouvia.
Calum também contou sobre a prisão de Luke, e ainda que havia seguido Alec, descobrindo que ele e Daryl mantém contato. Contou sobre a ida de Michael á delegacia para buscar Luke, e do quanto estava preocupado com o relacionamento.
Discutiram sobre o caso, unindo as informações que sabiam e montaram algumas teorias e hipóteses. Hood sentia-se feliz em poder ter um parceiro como Ashton, sentia-se bem em discutir casos com alguém como ele, estava cada vez mais envolvido apesar do pouco tempo.
— Eu estou mais confiante agora. Nós vamos resolver isso juntos.
— Eu apenas vou ajudar Cal. O mérito é todo seu. – Irwin afagou a mão do outro sobre a mesa.
— Posso tomar meu banho agora ?
— A casa é sua. – Ashton respondeu sorrindo.
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