1. Spirit Fanfics >
  2. Intersex - A história de Emma - G!P >
  3. Cap 12

História Intersex - A história de Emma - G!P - Cap 12


Escrita por: KikyoArtemis

Capítulo 12 - Cap 12


Estava sentada no estúdio tocando uma valsa ao piano, sentindo cada nota, tentando esquecer cada pensamento. 
Os ritmos agitados já não me agradavam mais, apenas os lentos me entendiam. 

Guardei todos os meus discos, escondi meus sentimentos e guardei todas as minhas palavras e elas já estavam me sufocando. 
Guardamos sentimentos e palavras demais com o intuito de usá-las depois, no entanto tudo que acontece é excesso. Excesso que não permite a entrada de mais nenhum sentimento e deturpa as novas palavras

 

"Valse triste de Sibellus" David sentou ao meu lado no banquinho, não percebi quando ele entrou no estúdio, o local onde ensinei Regina tocar piano. "Não imagino um casal dançando uma valsa tão triste assim." 

 

"O casal não dança uma música, dança uma emoção. Afinal não reparamos na letra quando estamos nos braços de quem gostamos." Respirei fundo "E essa valsa é linda. A melhor de Sibellus."

 

 "O fato dela ser linda não abstrai a tristeza que ela transmite." tocou em algumas teclas aleatoriamente, piano nunca foi seu forte.

 

"Ouvimos o que estamos. Se estamos tristes, queremos uma melodia calma e que a letra reflita o que estamos sentindo. Aquela sensação de saber que alguém nos entende, que há alguém no mundo que está sofrendo tanto quanto nós. E se estamos alegres, apenas colocamos uma música alegre e dançamos de forma epilética."  

 

"Já faz quatro meses Emma, acho que você já deu tempo o suficiente, ainda não conversou com Ruby? Não quer nem saber os motivos dela?" 

 

"Não sinto raiva dela, se é o que você quer saber." 

 

"Você sabe por que ela fez aquilo?" tocou meu braço

 

"Não me interessa." 

 

"Ou então porquê Regina fez o que fez?" 

 

Senti meus olhos arderem, um filme em minha mente. "Não me interessa também."  

 

"Se realmente não te interessasse, você sairia de casa, você iria se divertir. Você faria algo além de trabalhar e cuidar do Neal." passou a mão nos meus cabelos. "Não te interessa que já faz quatro meses que Regina não aparece no teatro? Ela apenas me ligou pedindo a quebra de contrato. E nunca mais deu noticias. 

 

Notei que minha respiração estava rápida e minhas mãos suavam. "Deve ter achado algo mais brilhante e com caminho mais rápido a fama." 

 

"Acho que ela desistiu da carreira, ao menos aqui em New York. Não vi contrato dela com mais nenhum lugar."  deu de ombros

 

"Você cobrou a multa por quebra de contrato?" perguntei enquanto brincava com um semi-ton do piano, David me olhava com um sorriso.

 

 "Eu sabia que você não iria aceitar, então quebrei o contrato, assim nós pagamos a ela a multa. Sei que era isso que você iria querer mesmo." 

 

Meu amigo realmente me conhece. Notei que David queria me dizer algo, esfregava suas mãos uma na outra. "Que foi David?" 

 

 "Você sabia que eu estava afim de vender minhas ações, pois é. Vendi as ações da MDA e da produtora entre Ruby, Killian e August. Eles são seus sócios agora." Notei como ele estava tenso. "Mary e eu vamos nos casar Emma." Me olhou gentil. "Vamos ter um bebê e eu não quero ser um workholic, família é importante." 

 

 

"Meus parabéns." Foi tudo que consegui dizer. David me abraçou

 

"Sei o quanto você queria aquela criança Emma e que Regina estaria fazendo sete meses agora. E sei que você não quer falar a respeito, mas você precisa falar. Não se prenda em seu mundo de novo, foi muito difícil te tirar de lá."

 

 

"O que você quer dizer com isso?" Levantei a cabeça e o encarei. Notei como ele respirou fundo e desviou o olhar.

 

"Emma, não apoio o que a Ruby fez, foi infantil e de certa forma até cruel, mas ela não fez isso pra te machucar."Aguardei enquanto ele organizava seus pensamentos. "Ela fez um acordo de uma noite com Regina, mas em nenhum momento imaginou que vocês duas fossem se apaixonar."

 

 

"Nós duas?sei que é besteira, mas fiquei feliz ao ouvir isso de outra pessoa

 

 

"Sim. Talvez por isso Regina desistiu e foi embora. Se apaixonou por você, mas mentiu, não da pra construir uma relação em cima de mentiras. Ela pagou um preço alto demais."

 

 

"Até quando você ganha você perde, Regina me falou isso na última vez que a vi."

 

 

"Frase profunda. E ela perdeu Emma,  perdeu você, perdeu a carreira. Não muito sobre ela, só posso supor, é claro." respirou fundo e pegou minha mão, colocando-a em seu colo. "Sei que por mais que você fale que não, sei que você ainda esta magoada com Ruby, mas ela não fez por mal. Só quis te mostrar que você pode ser aceita sendo quem você é. E olha quão longe você foi ao saber que alguém realmente aceitava você. Você enfrentou seu pai, e olha que até eu tenho medo dele!Fez uma pose dramática que me fez sorrir."Emma, você tem a custódia do Neal e ele nunca foi tão feliz como agora que vive com você." David me olhou sério. "O acordo foi Regina ficar apenas uma noite com você, te aceitar como você é. Ela sabia sobre você, assim como sabia que você era insegura e não hesitou, ela realmente te aceitou. E todo o resto partiu de vocês duas."

 

"Da manipulação dela você quer dizer." Sorri sarcástica

 

"Os amigos dela já haviam conseguido um bom papel na peça e contrato com a MDA e com outra agência, não precisavam de você. Não minto que Regina foi bem stalker pra se reaproximar de você, mas sei lá..." abraçou meus ombros. "Acho que meio louquinha e bem stalkear, mas não acho que seja um pessoa toda ruim." 

 

 

"Mas Graham ficou abraçando a Regina pra me fazer ciúmes e Ariel veio falar comigo na boate. Isso é armação dela, é manipulação, então, pela lógica é maldade." Tirei o braço dele do meu ombro, folgado.

 

 

"Graham sempre abraça todas as garotas, se você visitasse todas as dependências das suas empresas e filiais você saberia disso. Ele fez algo além de abraçar? Passou a mão na bunda ou algo assim? Porque era algo que eu faria.

 

"Não." falei envergonhada, ombros escolhidos e olhei para o chão.

 

 

"Olhe além dos seus ciúmes Emma. Você estava na boate e beijou muitas garotas por lá que eu sei, então quer dizer que você estava bem solta e aproveitando "todas" que davam em cima de você" fez sinal de aspas com os dedos. "Então Ariel deu em cima de você, e você depois pensou o que? Que Ariel foi lá a mando de Regina? Você acha que você solta do jeito que estava precisava alguém ser mandado até você? Você ao menos sabe sobre a relação delas?"

 

 

"Que relação?" O olhei assustado e ele gargalhou.

 

 

"Dá pra ver que aquela morena te conquistou mesmo heim.  Ciumenta." Cutucou meu ombro com o ombro dele "Regina e Ariel possuem uma relação de ódio épica. Da até pra fazer uma peça de teatro maravilhosa com isso." Sorriu de forma teatral, acho que ele está passando tempo demais no teatro. "Ariel tentou te conquistar, ou melhor, te roubar de Regina, já que não era segredo os sentimentos da morena por você. Mas os sentimentos quando realmente existem, sempre vencem o desejo. E isso foi motivo de muita fofoca no grupinho."

 

Seria essa a conversa que eles estavam tendo no restaurante? Eu era o prêmio, eu fui a garota "testada", o assunto era eu?

 

 

***

 

Um mês passou após minha conversa com David. E durante esse mês eu visitei religiosamente o teatro e as outras filiais, mais as  dependências da produtora. Tantas pessoas trabalhavam para mim e me conheciam, e eu, aérea a tudo não percebi o quanto estava perdendo.

 

 

As vezes perdemos tempo demais sentindo nossa dor que esquecemos que há vida além disso, que há outras dores. Que o sol não pára de brilhar porque você se decepcionou. E infelizmente isso acontece, confiar nas pessoas atrai decepção. E decepção faz parte da vida, temos que viver com isso, não dá para se fechar em uma caixinha de vidro e fingir que nada acontece ao redor. Que nada nos transforma. A caixinha de vidro te protege, mas também te sufoca.

 

Durante esse mês visitei mais parques e cinemas com Neal e algumas vezes tive a companhia de Ruby, estamos começando do zero, não era simples como passar uma borracha, tivemos um caminho meio tortuoso no começo.

 

Primeiro tivemos uma árdua conversa. Palavras duras foram trocadas, farpas machucaram, no entanto, com recipientes vazios nós estamos começando de novo, uma amizade nova, é como se estivéssemos no conhecendo, nos reconquistando. Algumas pessoas acreditam que perdoar é esquecer, mas não. Perdoar é tirar as mãos do pescoço do outro, abdicar a raiva, esquecer jamais.

 

Nunca esquecerei o que Ruby me fez, mas mesmo assim dei uma segunda chance a ela, todos merecem uma segunda chance, eu mesma já precisei de tantas. É muito mais fácil julgar quando não estamos no banco de réus.

 

 

Fui ao apartamento de Regina com o  intuito de entender o lado dela, ouvir sua versão, mesclar opiniões, merecíamos isso. E recebi a triste notícia que ela havia mudado. Na verdade todos haviam saído dali. A irmã, o cunhado e os móveis, estava tudo vazio.

 

Andar por aqueles cômodos sem vida me fez perceber o quanto eu sentia a falta daquela mulher, o quanto o calor de Regina bastava para me aquecer por completo. E aquela casa revelou o quanto eu estava vazia.

 

Regina nunca me pediu nada e eu só fiz mal a ela. Fiz ela parar de tomar remédios que não podia parar e que eu nunca soube para o que serviam. Eu nunca a entendi realmente, apenas a julguei por meus próprios argumentos. Fazemos muito isso, não é? Usamos a desculpa que "um bom jogador julga os outros por si mesmo" e simplesmente achamos que a pessoa é assim e acabou... Sem chance de entende-la, de decifra-la.

Para ficar, namorar ou casar, queremos que a pessoa já venha moldada para nós, que se encaixe na correria que é nossa vida. Mas não tiramos um tempo para aprender o idioma dela, escutar suas necessidades. Se está ruim apenas pulamos fora do barco e pronto, desistimos sem lutar. É sempre mais fácil fugir que lutar. E vivemos fugindo, depois reclamamos que nunca encontramos a pessoa certa.

 

As pessoas te tratam de acordo com o que você aceita delas.

...

E as pessoas te julgam de acordo com o que você dá a elas.

...

 

Jamais esqueçam isso meninas e meninos, usem minha experiência e levem isso para suas vidas. Eu perdi a pessoa que amava simplesmente porque tinha medo de me machucar, e olha no que deu. Me machuquei.

 

Machuquei uma pessoa possivelmente boa por medo dela ser ruim. Não fiz as perguntas nas horas certas por medos das respostas. E fiquei sem perguntas e sem respostas. Se algo te incomoda no seu relacionamento, pergunte, explique, não tenha medo de uma briga, simplesmente não tenha medo.

 

O amor une as pessoas, mas não mantem elas juntas. As vezes ouvimos coisas e escutamos como queremos, e é ai que as coisas dão mal. As vezes nossas expectativas são frustradas e por orgulho não damos uma segunda chance ao outro, a nós.

 

De uma coisa você ter certeza, a pessoa que você está agora, ou a pessoa que você ainda terá vai te magoar, assim como você a magoará. E vocês precisam resolver isso antes que ela vá embora. Antes que seja tarde demais e tudo que você encare é um apartamento vazio com marcas nas paredes.

 

 

Entrei no meu loft e voltei a tocar a valsa triste de Sibellus. Sempre gostei dessa composição, sempre a tocava quando não conseguia chorar. 
E há uma historia por trás dessa valsa. O compositor adormeceu sobre o piano, sonhou com a madrasta que ele tanto amava, o espirito dela veio a ele em sonho e nesse momento Sibellus a sentiu tão viva! Infelizmente chegou a madrugada e ele precisou acordar, e ela, a madrasta, precisava voltar para onde quer que eles vão. Para onde aqueles que você perde vão. Eles precisam ir pra algum lugar, não é? Meu bebê foi para algum lugar e eu não pude fazer nada. Não era meu corpo e não pôde ser minha decisão, meu... era apenas um sonho.

 

A campainha tocou, não esperava por Killian, mas não negaria sua companhia.

 

  

"David já levou todas as coisas pessoais da produtora." Killian me falou quando lhe entreguei uma taça de Chardonnay chileno. Ele estava sentado de frente a mim no balcão da minha cozinha.

 

"Nem me fale sobre isso, tenho vontade de chorar." Beberiquei da minha taça.

 

"E faz muito sentido"

 

"Faz?" empurrei o prato de muçarela de búfala para ele que fez uma careta negando com a mão.

 

"Você está vivenciando uma grande perda hoje. Trabalhou por 15 anos em algo com ele, e ele agora se vai de repente. Você precisa lamentar isso, mas como pode fazer isso? Pois nem terminou de lamentar a perda anterior?"

 

"Eu não sinto que eu mereça lamentar." Levantei e peguei um Brie na geladeira. "O corpo era dela, foi a decisão dela, não havia nada que eu pudesse fazer." Cortei o queijo enquanto algumas cenas de uma família feliz passava em minha mente. "Na época, eu nem imaginava que sentiria o que sinto agora." Empurrei o Brie para Killian que o devorou em segundos.

 

"Você pensa muito nisso? Sobre o que perdeu?"

 

"Eu fiz Regina ir naquele quartinho, ela estava sozinha, talvez muito assustada. Eu não a impedi, ela entrou no carro e eu não fui atrás. Ela me informou o endereço, me falou tudo, e eu simplesmente virei as costas." Comi um pedaço da minha búfala, o gosto tão único e forte, parecia agora papelão molhado.  "Talvez quando Regina estivesse se vestindo de novo após tudo, ela sabia que quando passasse pela porta ela estaria deixando uma parte da alma dela que jamais, jamais teria de volta. O que não sabia é que ficou uma parte da minha alma também para trás. Nem eu sabia disso."

 

Cortei mais um pedaço de brie para Killian. "Sabe, eu fico olhando esse loft e fico imaginando como seria se tivessem brinquedos espalhados ao invés... disso" Abri meus braços mostrando todos os móveis ao redor, tantas coisas caras e inúteis. "Do que adianta tudo que tenho se não tenho o que preciso?"

 

"Regina estaria com oito meses agora." Killian disse pegando mais um pedaço de queijo.

 

Passei minhas mãos sobre meus cabelos, depois peguei minha taça e fui à sala sentando numa poltrona, me entregando a um choro compulsivo, desde o dia que Regina saiu da minha vida isso tem se tornado algo comum.
Lágrimas e mais lágrimas, tudo que me resta agora.

 

Killian me abraçou "Você já ouviu falar da síndrome pós aborto?"

 

"Não era meu corpo." Falei limpando as lágrimas e bebendo mais um pouco

 

"Mas era seu filho." Sentou a minha frente "Dificuldade pra dormir. Dificuldade de ter relações. Entrega ao trabalho. Não conseguir relaxar. Não conseguir criar vínculos com crianças ou novos parceiros. Dificuldade de sentir algo. E isso permanecer por meses, 2, 4 ou oito meses. As vezes por anos." Colocou a taça sobre a mesinha de centro. "E esses são todos os sintomas que você tem."

 

"É um preço que você paga." Coloquei minha taça ao lado da dele.

 

"Não, é a consequência de uma opção que fez. Não é uma punição de Deus." Levantou e foi até o balcão pegando mais brie.

 

"Você precisa conversar, realmente se abrir. E é preciso perdoar. Você pede o perdão e você perdoa." Encheu a boca com mais alguns pedaços. "Emma, o que eu acho é que há muito tempo atrás você criou muros ao seu redor e você não consegue demolir, escalar, só consegue escrever nele. E cada música que você escreve é um pedido de socorro, está na hora de você pedir socorro."

 

Abriu a carteira e colocou um papel ao lado de sua taça na mesinha. "Esse é o telefone da Zelena, ela é realmente muito bonita, e ficou melhor estando solteira." Piscou para mim e então entendi porque eles se mudaram do apartamento. Peguei o papel e  ouvi a porta bater devagar, eu estava sozinha de novo, e minha casa parecia grande demais. Joguei o papel sobre a mesinha, foi Regina que foi embora, não ao contrário. Foi ela quem desistiu.

 

Sentei ao piano e deixei as teclas falarem por mim, criando minha própria valsa triste, minha própria composição.

 

"Deixe-me partir em duas e dar uma parte a você.

Não posso tratar isso dia após dia.

Engoli nosso pecado, minha tristeza me silencia.

Concebido sem desejo, liberto sem qualquer graça.

Esta barriga vazia jamais será preenchida.

Venha.

Sente-se à mesa

E compartilhe essa terrível comunhão que fabricamos.

Este é seu corpo, esse é meu vinho,

Diga as palavras, experimente o sangue

E terminemos esta refeição.

Permita que me sente perto da lareira

Para embalar essa tristeza invisível até dormir.

Até que as chamas morram

E as faces das tristezas se esvaiam."

 

 

Terminei a música e olhei o papel, eu precisava encontrar Regina, não foi culpa dela, eu a abandonei, não lutei por ela, só pensava em mim e no quanto minha vida era triste.

Nunca dei a ela a oportunidade de compartilhar sua dor pois eu estava ocupada demais sentindo a minha. Precisava encontrar Regina, e logo



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...